terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Livro: Cassems 15 anos - autogestão em saúde: um sonho possível



Refeição Cultural

Reli o livro comemorativo dos 15 anos de existência da Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul. Eu o ganhei do presidente da autogestão, o dr. Ricardo Ayache, em 23/08/17, quando visitei o Hospital Cassems Campo Grande. Naquela data, estava cumprindo agenda como diretor de saúde da nossa autogestão dos funcionários do Banco do Brasil, a Cassi (ler aqui).

Antes de 2017, eu já vinha acompanhando a Cassems por estudar sistemas de saúde, sobretudo os modelos de autogestão. Os servidores de Mato Grosso do Sul criaram a Caixa de Assistência em 2001, pois o Previsul havia falido e os servidores estavam sem plano de saúde. A sugestão e o incentivo foram do governador à época, Zeca do PT, e de Gleisi Hoffmann, que trabalhava em seu governo (ler aqui).

Um dos motivos para reler o livro sobre a história da autogestão dos servidores de Mato Grosso do Sul foi voltar a ter algum contato com as lideranças sindicais do Banco do Brasil e tomar conhecimento das questões em debate relativas a autogestão dos funcionários do BB, a Cassi. Uma das pautas debatidas pela comunidade de associados ativos e aposentados e o patrocinador é o déficit atual e alternativas de custeio. O tema é recorrente na Cassi desde sua criação há oito décadas.

Quando participei da gestão da Cassi, como diretor de saúde eleito, entre 2014 e 2018, o déficit do Plano de Associados era uma das questões centrais no dia a dia da autogestão e do funcionalismo do banco. Ao estudar a história de nossa Caixa de Assistência, vi que a questão sempre esteve presente na agenda.

Como gestor da Cassi, tratei de estudar o mercado onde as operadoras e autogestões atuam e passei a conhecer como funciona o setor de saúde, inclusive conheci um pouco a respeito de nosso Sistema Único de Saúde (SUS) e as regulações vigentes.

A Cassems surgiu em 2001 após o Previsul ter falido e os servidores de Mato Grosso do Sul ficarem sem plano de saúde e de previdência. O livro conta detalhes da história da autogestão. 

Uma das questões que mais me chamaram a atenção quando era gestor da Cassi e ainda hoje, quase uma década depois, é a opção das direções da Cassems pela verticalização, por investir em estruturas próprias de saúde para enfrentar o agressivo mercado privado de venda de serviços de saúde - a chamada "rede credenciada" -, nome mais conhecido pelos usuários de planos de saúde.

Enfim, é sempre bom reler livros que nos trazem novos conhecimentos e que nos fazem refletir sobre as coisas. A Cassems e seus associados acertaram muito com suas escolhas em relação a criarem estrutura verticalizada de saúde. 

A autogestão vai completar 25 anos em 2026 e pelo que percebo estão no caminho correto. São quase 200 mil beneficiários, em números contidos no livro. É muita gente! São 10 hospitais e uma estrutura robusta de atendimento em saúde.

Autogestões como a Cassi e outras entidades de saúde de trabalhadores deveriam estudar a história de sucesso da Cassems, que, aliás, se inspirou na Cassi para ser criada.

É isso! Sigamos lendo, estudando e diminuindo nossa incompletude.

William

23/12/25

Instantes (9h41)



Refeição Cultural


Opinião


O imponderável 

Em duas décadas de política brasileira, meus blogs registraram momentos da história do país através do olhar de um personagem da classe trabalhadora, um bancário sindicalista da Articulação Sindical da CUT. Aquele cidadão escrevia com o sentimento dos acontecimentos em sua vida, na sua categoria profissional e em seu país. E no mundo, que é um só e redondo.

O blogueiro vivenciou e registrou os melhores e os piores momentos dos governos do Partido dos Trabalhadores, e os melhores e piores momentos da classe trabalhadora brasileira, que foi beneficiada pelos governos do PT e prejudicada com a queda do partido. 

Viu Lula eleger sua sucessora em 2010, após ter mais de 80% de aprovação. Viu as manifestações de 2013 e tudo começar a mudar. Viu um sujeito do STF impedir Dilma de nomear Lula seu Ministro de Estado. Viu tudo que aquele juiz inepto e sua quadrilha fizeram a partir da República de Curitiba. Viu tudo que a Globo fez.

Nos blogs estão os relatos e sentimentos daquele trabalhador bancário sindicalista, as dores do processo injusto do impeachment da presidenta Dilma. As dores das prisões ilegais de figuras históricas como Dirceu e Genoino. Da prisão do Vaccari. Depois as dores da prisão absurda do presidente Lula. 

Nos textos dos blogs perpassam todas as dores indescritíveis dos "governos" do traidor, o da "ponte para o futuro". Todo o sofrimento daquela longa noite de terror do governo Bolsonaro, o genocídio do povo brasileiro durante a pandemia sob governo de um inepto. Ineptos fizeram o que quiseram e tudo começou "com o Supremo com tudo".

O personagem dos blogs sempre falou sobre os imponderáveis que podem mudar tudo, da noite para o dia. Uma morte de ministro do STF de avião que cai. Um lunático que dá facada em alguém etc.

Estamos terminando o ano que antecede 2026 com a máquina midiática de nossos inimigos de classe - os donos do poder (que também são fascistas e extremistas de direita) - apontada para o sujeito da suprema corte apontado até pelos meus colegas de classe como responsável por salvar a república durante a nova tentativa de golpe de Estado em 2023. 

O motivo de eventual queda do sujeito: dinheiro e poder, mel e melado que lambuza gente que gosta de mel e melado.

Na política brasileira, tudo é circunstancial. Pauta e agenda definem a realidade do país em benefício sempre dos privilegiados da casa-grande. Bilhões de dinheiros roubados podem não dar em nada, e um chocolate ou tapioca podem mudar o destino de alguém. Um pedalinho ou uma cota de cooperativa habitacional, idem.

O ano de 2026 para todos nós - todas todxs todes - é completamente imprevisível neste momento, na minha modesta opinião de ex-dirigente político da esquerda brasileira. 

William 

23/12/25

domingo, 21 de dezembro de 2025

Instantes (18h18)



Refeição Cultural

Voltei de uma pedalada pelas ruas do Parque. O cansaço que sinto pode ser de vários tipos. Pode ser o psicológico pelo fim do ano no calendário. Pode ser pela leitura da minha realidade. A impotência claustrofóbica de não conseguir mudar o cotidiano. Caminhei décadas pelo mundo, experimentei muita coisa, conquistei coisas que são consideradas para medir sucesso ou fracasso na vida. Coisas. Tenho muitas coisas. Mais coisas do que preciso. No entanto, olho para trás e vejo que tinha o que talvez quisesse hoje: uma casinha de pobre com pouca coisa, mas limpinha. Um corpo que pudesse sair ao domingo para um trote de 10K. O cansaço que sinto pode ser de vários tipos. Não posso fazer pelos outros algo que eles mesmos não queiram pra si. Não posso. O ser humano é uma espécie animal complexa. Cansaço. Cansado do cotidiano. Cansado de não achar solução para mudar o cotidiano-gaiola.

Post Scriptum: 18h32

Cansado...

21/12/25

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Instantes (20h15)



Refeição Cultural

LEITURAS

"O 'populismo', como noção para explicar a política brasileira de 1930 a 1964, tornou-se uma das mais bem-sucedidas imagens que se firmaram nas Ciências Humanas no Brasil. O ano de 1930 seria o início do 'populismo na política brasileira'; 1945 marcaria rearranjos institucionais que teriam permitido a sua continuidade na experiência democrática; 1964, finalmente, significaria o seu colapso." (Jorge Ferreira, na Introdução de "O populismo e sua história: debate e crítica", 2001)


Li o texto de Jorge Ferreira de introdução aos artigos reunidos no livro "O populismo e sua história: debate e crítica". Achei interessante a abordagem e apresentação de Ferreira aos artigos reunidos em 2001. 

O texto estava em minhas pilhas de papéis velhos. 

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LULA NÃO É POPULISTA 

Aí fui reler um excerto de uma entrevista da professora filósofa Marilena Chaui, em meu blog; entrevista concedida à Revista Cult n° 133, de março de 2009 (excerto aqui).

A filósofa explica o uso inadequado do conceito de populismo ao se referirem a Lula, e me encantei mais uma vez com Chaui. Ela é demais!

Leiam o excerto para entenderem.

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O tema populismo foi tratado por Jorge Ferreira e articulistas em 2001 e por Marilena Chaui em 2009.

Imaginem hoje, 2025, após governos como Milei, Trump et caterva, o quanto o populismo poderia ser estudado e debatido para ser combatido por nós, que não somos populistas.

É isso! Sigamos lendo para sermos menos ignorantes.

William Mendes 

16/12/25


domingo, 14 de dezembro de 2025

O sentido da vida (16)



Servir ao próximo e ao planeta Terra

Acompanhar o pai em um procedimento cirúrgico. Acompanhar a esposa num procedimento cirúrgico. Zelar pela vida de entes queridos. Ajudar de alguma forma as pessoas.

Tentar de alguma maneira sistematizar e preservar a história de sua classe, mesmo sendo só alguma coisa de uma imensidão de histórias de lutas, preservar até por amor e por dó de ver tanta coisa bonita se perder, ser apagada.

Fazer um esforço grande e disciplinado para preservar a si mesmo, para poder fazer as coisas que entende que devem ser feitas, por ética e até por amor.

Buscar sentidos até para se manter vivo e assim fazer o que entende ser correto fazer, mesmo vivendo meio que em função das coisas que entende serem necessárias. 

O sentido da vida... tomara que o acaso e a natureza sigam favoráveis à sua existência. E que a sorte lhe traga um fim digno quando chegar a hora

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sábado, 13 de dezembro de 2025

Vendo filmes (XXXIII)


O grito de Crisóstomo.


Refeição Cultural


O DIVERSO É O COMUM

Certa vez, quando era adolescente, cheguei numa madrugada, vindo da rua, e dei um longo grito no quintal de minha avó, onde morávamos, e assustei muita gente. Foi um ato insano. Foi um grito de dor. Não deveria ter feito aquilo, mas fiz. Devia estar numa deprê impossível de suportar.

Ao assistir ao filme "O filho de mil homens" me lembrei na hora desse episódio de minha vida ao ver Crisóstomo gritar em frente ao mar para aliviar sua dor e sua solidão.

Vi por esses dias três filmes que me deixaram pensativo, filmes cuja temática central diria ser as idiossincrasias desse fantástico animal que somos, os seres humanos, únicos na natureza enquanto espécie que cria abstrações que dominam os criadores e únicos no comportamento mesmo sendo bilhões de indivíduos da mesma espécie. 

Os filmes "O filho de mil homens" (2025), "O pior vizinho do mundo" (2022) e "Papai" (2023) se interligaram em minhas reflexões ao me fazerem pensar nas complexidades das relações humanas, nas violências dolorosas dos preconceitos humanos e nas possibilidades de mudança contidas em cada um de nós, enquanto seres incompletos e biologicamente preparados para as adaptações aos ambientes aos quais estamos inseridos como seres vivos e tentando sobreviver. 

Crisóstomo (Rodrigo Santoro), Otto (Tom Hanks), Clark (Sean Penn) e as personagens com as quais interagem e convivem ou por um curto espaço de tempo ou por toda uma vida refletem a questão que me deixou bolado nesses dias: o quanto somos diversos e o quanto a solidão de alguma forma marca a vida de boa parte da sociedade humana, muitas vezes pelo fato de não nos encaixarmos naqueles padrões violentos impostos a nós por outros.

O rapaz que gritou no quintal de casa numa madrugada lá nos anos oitenta sentia uma dor impossível de suportar no peito. Crisóstomo grita quando precisa aliviar a dor que sente no peito. A solidão nesses casos não era solitude, era incompletude. 

Otto encontrou certo dia a cor em sua vida, o motivo de seguir adiante. Depois sua vida ficou cinza, opaca. O rapaz que não se encontrava na vida, que vivia a esmo num mundo cinza, encontrou a cor nas veredas que trilhou, depois encontrou sentidos nas coisas que lhe destacaram para fazer.

Na conversa entre Clark e a jovem Girlie vemos os acasos do destino que definem as vidas de todos nós, fuck esse papo furado de controle da situação... controle o cacete! Ninguém controla nada! Assim foi minha vida também... de vereda em vereda...

Quando vi, estava fora de casa. Quando vi, brigava com todo mundo, queria viver, queria morrer, queria amar. Quando vi era pai, aventureiro, sindicalista, tinha emprego fixo quase sob tortura de um governo desgraçado.

Acho que Crisóstomo nunca foi condutor. Otto nunca foi condutor. Incrível, mas Clark não conduziu sua vida, o acaso a definiu. Nunca conduzi minha vida. Ela foi indo, indo, a esmo. Só fiz foi tentar fazer o correto da jornada.

Concluí muita coisa da existência. Vejo o diverso a cada olhar ao redor... Vejo muita dor e solidão também... Queria poder aliviar a dor de muita gente...

Hoje nem gritar eu posso...

Como nos ensina Rubem Alves em seu texto perfeito "O nome" (ler aqui), vivemos numa gaiola, o nosso nome, e já se esperam tudo de mim, e de Crisóstomo, e de Otto, e de Clark, e de cada um de vocês.

O que nos salva das gaiolas dos nomes são os imponderáveis que a existência nos apresenta a cada amanhecer e anoitecer. 

Enfim, as histórias das personagens desses filmes, suas dores, as violências e preconceitos que viveram, os encontros e as descobertas, as relações humanas pelo simples fato de existirem, me fazem encerrar de forma otimista as reflexões.

Amanhã será outro dia, por muito tempo ainda. Não só para mim, um personagem do mundo, mas para todos nós, viventes desse mundo cheio de diversidade. 

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FILMES


O filho de mil homens (2025) 

Direção: Daniel Rezende. Roteiro: Daniel Rezende, Valter Hugo Mãe, Duda Casoni. Com: Rodrigo Santoro, Miguel Martines, Juliana Caldas, Johnny Massaro, Rebeca Jamir, Grace Passô e elenco.

Sinopse (Netflix):

Em uma pequena vila, um pescador solitário (Crisóstomo) com o sonho de ter um filho se conecta, de forma extraordinária, a um grupo de pessoas e seus segredos.

Comentário: 

O filme retrata de forma surpreendente as questões complexas ligadas às relações humanas, abordando o quanto a violência e as diversas formas de preconceitos podem afetar a vida das pessoas, alterando o curso de suas histórias.

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O pior vizinho do mundo (2022)

Direção: Marc Forster. Roteiro: David Magee Com: Tom Hanks, Mariana Treviño, Rachel Keller, Manuel Garcia-Rulfo, Cameron Britton, Juanita Jeannings, Mack Bayda.

Sinopse (Netflix):

Decepcionado com o mundo e cansado da dor do luto, um aposentado rabugento planeja pôr um fim nesse sofrimento, mas tudo muda quando conhece uma família cheia de vida.

Comentário:

Filme muito bom! Otto é o vizinho ranzinza que gosta das coisas certas e das regras respeitadas em seu condomínio de casas, algo muito difícil de se ver. Ao longo da história, vamos conhecendo as particularidades de Otto e fica mais fácil entender como cada um de nós é diferente e único no tecido social chamado sociedade humana.

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Cena do filme "Daddio"

Papai (Daddio), de 2023. 

Direção: Christy Hall. Com: Sean Penn e Dakota Johnson.

Sinopse (Wikipedia):

Após aterrissar no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, uma jovem toma um táxi para regressar ao seu apartamento em Manhattan, Nova York. Durante a corrida, e o trânsito intenso por causa de um acidente, ela e o taxista Clark conversam sobre diversos temas, inclusive os relacionados à vida pessoal deles.

Comentário:

Poderia parecer uma história sem verossimilhança o nível da conversa entre a jovem passageira e o motorista se não tivéssemos o hábito de pegar táxi ou aplicativo e de repente começar a ouvir as histórias mais absurdas ou até mesmo contar a um estranho questões de foro íntimo. Gostei do filme e fiquei pensando também sobre as idiossincrasias de cada ser humano.

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É isso! 

Essa foi mais uma postagem da série sobre filmes.

O texto anterior pode ser lido aqui.

William

domingo, 7 de dezembro de 2025

O sentido da vida (15)


Letras - USP


Compartilhar conhecimento de forma gratuita


Ainda antes de ser sindicalista, havia conhecido o prazer da cultura ao assistir aulas de literatura na USP como ouvinte. 

O convite veio de seu amigo Sérgio, quando trabalharam juntos no Banco do Brasil. 

O prazer daquele alimento espiritual o marcou para sempre. As salas de aulas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas eram verdadeiros refeitórios culturais. 

Anos depois, virou aluno da FFLCH-USP, da Letras. E criou um blog para compartilhar de forma gratuita tudo que aprendesse com os mestres das Letras e com seus estudos e vivências políticas e sindicais. 

Talvez esse seja o seu propósito de vida, o sentido de sua vivência única: partilhar a cultura que teve oportunidade de adquirir.

Agora quer sistematizar seus textos na forma de livros e compartilhar esses registros. De forma gratuita! 

Sua intenção é jamais receber um tostão que seja por seus textos. As veredas que trilhou na vida lhe permitiram viver com seu benefício de fundo de pensão. 

Andou pensando numa forma de arrecadar alimentos para grupos sociais em dificuldades ou medicamentos para o povo cubano com seus livros, mas precisa burilar melhor a forma de fazer isso.

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sábado, 6 de dezembro de 2025

Instantes (12h56)



Refeição Cultural

LEITURAS 

"E assim é o caminho da vida, não é o que a gente planejou... [eu trabalhar] na Belgo Mineira." (p. 38)

João Paulo Pires de Vasconcelos: metalúrgico sindicalista e deputado constituinte por MG

Ao ler a entrevista do companheiro João Paulo fiquei pensando muitas coisas sobre a vida da classe trabalhadora. 

Já no início, refleti sobre a citação acima: sobre os caminhos da vida, muitas vezes sem planejamento. 

Quando vi, estava no Banco do Brasil da era FHC, quando vi estava brigando ao lado dos colegas contra as desgraças das demissões, assédios, suicídios. Quando vi era sindicalista cutista...

A entrevista é esclarecedora sobre o que somos, nós militantes da maior central sindical das Américas, a CUT. 

As contradições sobre diversos temas são naturais e o debate é sempre necessário para se definir a melhor estratégia para a classe trabalhadora. 

João Paulo nos conta sobre as difíceis decisões sobre defender ou ser contra a CLT, ser contra ou a favor de imposto sindical e outras grandes questões no mundo do trabalho. 

"Eu falei: 'escuta aqui, vocês de São Paulo estão em uma realidade diferente. Vocês não podem enxergar só o próprio umbigo' (...) 'olha, lá em Monlevade, a empresa ameaça o trabalhador na hora da admissão dele dizendo que ele não pode se filiar ao sindicato...' (p. 45)

Como metalúrgico mineiro, a fala sobre nós de São Paulo foi na veia, me lembrei na hora de minhas tarefas de convencer companheir@s de outras bases - Nordeste, Sul, Centro Norte - sobre a campanha unificada entre bancários de bancos públicos e privados assim que Lula (PT) foi eleito em 2002.

Eu era do maior sindicato de bancários do país e com base hegemonizada por bancos privados e dialoguei com muitas lideranças defendendo que a campanha com mesa única e CCT para todos era o melhor para nós de bancos públicos federais.


Agradeço de coração a toda a equipe do projeto de entrevistas que gerou o livro "A geração que criou a CUT" (2023). Esses registros são a nossa história que precisa ser preservada e estudada.

O companheiro João Paulo faleceu no ano passado, aos 92 anos de idade. 

Por causa do livro, pude conhecer a história que ele nos contou. 

William Mendes

06/12/25 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Instantes (12h23)



Refeição Cultural


LEITURAS 

"E a minha chapa, me botaram em uma chapa - quer dizer, me botaram em uma chapa, que eu nem sei porquê! - Mas acho que é porque eu era uma pessoa, digamos, não comprometida com nenhum grupo político, e a nossa chapa ganhou!" (A geração que criou a CUT. Enid Diva Marx Backes, p. 23)


Ao ler a entrevista da companheira Enid para o excelente livro "A geração que criou a CUT" (2023) fiquei pensando em várias coisas de nossa história de militância política. 

Eu virei sindicalista por acaso, no início dos anos dois mil. Isso é muito comum: quando menos se espera, a pessoa indignada com injustiças já é militante de alguma causa. 

Nos anos noventa, talvez por instinto de sobrevivência, eu era mais um entre os milhares de lutadores do BB que brigavam com os gestores do banco contra os absurdos da era FHC. Era o contato do Sindicato nos locais de trabalho. Um delegado sindical sem estabilidade alguma. 

Assim com nos conta Enid, eu não era militante orgânico de corrente política alguma. Era só um brigador, um indignado. Aliás, foi nessa condição que me reuni com umas quatro pessoas numa salinha da Letras, na FFLCH-USP em 2002, para decidirmos iniciar a maior greve da história da USP, greve de 104 dias com a conquista de quase uma centena de novos professores. 

Anos após ter entrado na direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região é que fui compreender as concepções e práticas sindicais da geração que criou a CUT. E juro a vocês, procurei seguir essas concepções e práticas enquanto representei meus colegas bancários e a classe trabalhadora. 

Reli no livro "Memórias de um trabalhador politizado pelos bancários da CUT" o capítulo 12, sobre a história da PLR na categoria e depois no BB, e senti uma leveza em minh'alma por ver que alguma coisa aprendi dessa geração fantástica que criou a nossa Central Única das e dos Trabalhadores. 

William Mendes 

04/12/25