Refeição Cultural
Lendo algumas passagens dos pensamentos de Mariátegui (ler sobre ele aqui), citados no livro de Leila Escorsim, fiquei surpreso com a maturidade do intelectual em afirmar os benefícios civilizatórios advindos do sistema capitalista, mesmo sendo um ícone da esquerda.
Neste debate ideológico entre esquerda e direita, capitalismo e socialismo, as coisas são muito apaixonadas e maniqueístas, de modo que dificilmente vemos nos intelectuais orgânicos estas franquezas a respeito do lado adversário do embate.
"O socialismo pressupõe a técnica, a ciência, a etapa capitalista e não pode implicar no menor retrocesso na aquisição das conquistas da civilização moderna - pelo contrário: tem de implicar na máxima e metódica aceleração da incorporação dessas conquistas na vida nacional" (excertos de Mariátegui no livro de Escorsim).
Aqui, ele faz comentários a respeito de pensar o socialismo no Peru sem deixar de observar a realidade objetiva dos anos de 1920:
"Ele (Valcárcel) quer que repudiemos a corrompida, a decadente civilização ocidental. [...] Nem a civilização ocidental está tão esgotada e putrefata, como Valcárcel supõe, nem - uma vez adquirida a sua experiência, a sua técnica e as suas ideias - o Peru pode renunciar misticamente a tão válidos instrumentos da força humana para regressar, com áspera intransigência, aos seus antigos mitos agrários. A Conquista, perversa [...] foi um fato histórico. Contra os fatos históricos, pouco ou nada podem as especulações abstratas da inteligência ou as concepções puras do espírito. A história do Peru não é senão uma parcela da história humana. Em quatro séculos, formou-se uma realidade nova. Criaram-na os aluviões do Ocidente. É uma realidade frágil. Porém, é, de toda a maneira, uma realidade. Seria excessivamente romântico decidir-se hoje a ignorá-la" (Mariátegui)
Bibliografia:
ESCORSIM, Leila. Mariátegui - Vida e Obra. Editora Expressão Popular. 1a edição Rio de Janeiro, 2009.
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