terça-feira, 18 de maio de 2021

Zumbis digitais biológicos



Refeição Cultural

"Se a perspectiva de uma taxa de desemprego maior que 50% não chocou você, como reagiria ao saber que, ao chegarmos a esse momento, uma porção ainda maior da humanidade talvez tenha se convertido em nada mais nada menos que meros zumbis digitais biológicos, não descendentes orgulhosos e portadores dos genes e da tradição cultural milenar criada pelos primeiros membros do clã Homo sapiens; aqueles que, apesar das humildes origens, depois de sobreviver a toda sorte de desafios mortais, de glaciações intermináveis a fome e pestilências endêmicas, viveram para prosperar e, no meio-tempo, criar o seu universo humano privativo, valendo-se apenas de um punhado de gelatina neural feita de substância cinzenta e branca em 1 mero picotesla de magnetismo." (NICOLELIS, 2020, p. 334) 


Ao ler mais um capítulo do livro do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, fiquei bolado, pensativo, cismando a respeito de tudo. Fiquei também acabrunhado, desacorçoado, descabriado. O capítulo 12 fala sobre "Como o vício digital está mudando o nosso cérebro".

Contradição é o que somos... O homo sapiens é o resultado de milhões de anos de evolução animal e o homo sapiens pode regredir enquanto espécie por causa de suas próprias criações mirabolantes.

Avalio que desde muito jovem tive aquela curiosidade filosófica de busca por sentidos e compreensão da existência, mesmo quando o cansaço do trabalho braçal me consumia como faz com os milhões de seres humanos que vendem sua força de trabalho para a sobrevivência diária.

Minha busca por sentidos continua. Ao ler o livro O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos (2020), de Miguel Nicolelis, penso que várias respostas se abriram para mim neste momento de minha existência. Não encontrei a sonhada "paz" que buscava há décadas, mas eliminei mistificações e mitos oriundos de abstrações humanas que não cabem mais nos sentidos das coisas.

Minha formação das últimas décadas me fez uma pessoa mais preocupada com os seres humanos (humanista?) e com a coletividade em oposição àquele olhar mais egoísta que temos em pensarmos em nós mesmos. Sendo assim, meu olhar de mundo mudou bastante nos últimos vinte e poucos anos. A leitura deste livro de Nicolelis me esclarece diversas questões em relação aos seres humanos e, consequentemente, ao comportamento humano e às organizações humanas.

Parte do que Nicolelis apresenta de forma científica e como hipóteses a serem estudadas, eu já tinha leitura de mundo no mesmo sentido que ele como, por exemplo, a ideia de estarmos nos tornando meio zumbis, marionetes nas mãos de manipuladores da sociedade humana. Mas o neurocientista coloca sua hipótese no papel após mais de uma centena de páginas de explicações anatômicas, funcionais e biológicas do cérebro humano.

Enfim, não vou fazer postagens com diversas citações porque não é o caso, meu blog não é mais pra isso, meu lugar de fala hoje é de um quase ninguém, escrevo pra mim mesmo, como diário de reflexão. Mas se fosse ainda um dirigente da classe trabalhadora eu encaminharia propostas de estudo sobre as teses do professor Miguel Nicolelis sobre o risco de estarmos caminhando para uma nova espécie humana, o homo digitais, com capacidade cerebral inferior ao homo sapiens, que tem um cérebro analógico e criativo, e o que virá terá um cérebro mais digital e semelhante aos computadores que criamos, tarefeiro e não criativo.

É isso.

William


Bibliografia:

NICOLELIS, Miguel. O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos. São Paulo: Planeta, 2020.


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