sexta-feira, 7 de maio de 2021

070521 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Sexta-feira nublada e fria em Osasco, São Paulo.

Sigo na leitura do livro do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis - O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos (2020). Ontem à noite cheguei à página 298 e agora vou começar o capítulo 11 - "Como abstrações mentais, vírus informacionais e hiperconectividade criam brainets letais, escolas de pensamento e zeitgeist". As teses e argumentações do cientista têm feito com que eu pense muito a respeito da vida e das coisas do mundo.

O livro e as teses de Nicolelis abordam questões que parte de nós pensa a respeito há muito tempo: conceitos de tempo e espaço, o que é a vida, o que seria a verdade, qual o significado das coisas, o que é realidade e o que é imaginação, o que é o ser humano, o universo etc. Quando olho para trás vejo que essas questões me incomodam desde que me entendo por gente. Passei a vida em busca de respostas a perguntas malfeitas ou sequer pronunciadas, mas sentidas dentro de mim. 

Ler ciência é diferente de ler literatura, de ler história, de ler filosofia, de ler poesia. É e não é diferente das outras leituras. Após a leitura de Nicolelis o olhar para as coisas do mundo ficou diferente ou ficou mais claro para o que sou neste instante de minha curta existência. Eu senti algo dentro de mim quando estudei anatomia e outras disciplinas biológicas nos anos noventa. De novo sinto algo diferente ao ler sobre o cérebro humano, o criador de tudo. (parei o texto e fiquei pensando, mas bateu um cansaço danado...)

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Estou cansado. O cansaço nunca é o mesmo. Me lembro do cansaço dos dias de trabalho na Cassi. Eu trabalhava tanto que achava que iria morrer. Já nos primeiros meses, sozinho em Brasília, achava que o corpo não aguentaria aqueles 48 meses de mandato. Agora sinto um cansaço ao ver a Cassi sendo desfeita pelo poder que lá está...

Mas também me lembro dos cansaços das greves que nós fazíamos na categoria e que éramos responsáveis por aqueles milhares de colegas trabalhadores. Um cansaço incorporado na história de luta da classe trabalhadora. É um cansaço quase santificado, se santificação houvesse. É história humana, das boas!

Nestes dois casos, o cansaço era do peso do mundo em nossas mãos, a vida de dezenas de milhares de pessoas em nossas mãos. Passado não é nada quando não há registro, mas liderei e lidei com milhares de pessoas um dia em minha curta existência.

Lendo sobre o cérebro humano, e compreendendo ele, sou capaz de lembrar do cansaço de trabalhar 3 dias sem dormir naquela lanchonete do Itaim Bibi, o New Dog. 

Me lembro do cansaço das entregas de remédio que fazia de bicicleta em Uberlândia, eu era tão menino e achava que iria morrer de cansaço ao atravessar a cidade gigante para cima e para baixo entregando encomendas da Med Jato Drogarias.

Estou cansado da pandemia. Da banalidade do mal do bolsonarismo. De bolsonaristas filhos de chocadeira que estão ao nosso redor. Cansado de entrar em rede social e na internet. E cansado das notícias. Mas sou legião, todos estamos cansados. (cansado de usar máscara e talvez nunca mais deixemos de usar... que preguiça de sair assim pro mundo)

Não abro mão do existir. Mesmo cansado. Com a ciência aprendi que tudo muda, mudança é o instante que passa. Mesmo que nossa percepção entenda o viver como rotina... não há rotina. O animal que acabou esta postagem não é mais o mesmo.

Hoje sei que meu cansaço não importa. Sou um ser vivo e existir é oportunidade de vida e risco de morte. Não há mistificações. 

Ainda pensando o mundo a partir das explicações do neurocientista Miguel Nicolelis, os bilhões de seres humanos que já passaram pelo planeta participaram de uma espécie de construção coletiva do cérebro que temos hoje. Registros individuais e coletivos, interações coletivas. Brainets. Nossos cérebros são computadores orgânicos que atuam para o corpo sobreviver no meio em que está inserido.

Os registros ficam em nossos corpos, através das interações que ocorrem nos ambientes em que vivemos e que influenciam novamente os cérebros humanos, nossos computadores orgânicos. (fico pensando nos registros humanos que eu possa ter deixado para essa coletividade...)

Fim.

William

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