quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Baladas para El-Rei (1925) - Cecília Meireles



Refeição Cultural

"Os galos cantam, no crepúsculo dormente...
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
a solitude nebulosa e irreal do ambiente...

(...)

E silenciosos, como alguém que se acostuma
a caminhar sobre penumbras, mansamente,
meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma..." ("Suavíssima", p. 121/122)


E aos poucos vou conhecendo Cecília Meireles. Nesta manhã, li seu 3º livro - Baladas para El-Rei - publicado em 1925. Agora conheço 80 poemas das primeiras 3 obras da autora.

É interessante como os ensinamentos do professor Ariovaldo Vital (FFLCH-USP) não falham quando se trata de leitura de poesia. Ler o poema a primeira vez, depois ler uma segunda vez. Buscar no dicionário as palavras que não se conhece. Ver se há alguma referência externa ao poema que possa ajudar na análise e interpretação de sentidos - vida da autora, questões de época etc. Sugestões básicas para uma boa leitura de poema.

Na leitura de hoje, pesquisei a palavra "solitude" e eu não tinha uma noção boa sobre o sentido. Solitude é um isolamento voluntário e com um sentido mais positivo, enquanto solidão é um isolamento que pode causar algum tipo de dor ou tristeza, algo mais negativo no sentido.

E para fazer esta postagem revi a questão do uso da palavra "poetisa" ou "poeta" para o gênero feminino. Em termos de dicionário e Língua Portuguesa padrão, ambas estão corretas. No entanto, ideologicamente, fico com o termo "poeta" para dizer a poeta Cecília Meireles. É o termo preferido em relação às lutas de gênero.

Outra pesquisa que influenciou no entendimento de um dos poemas foi saber que a personagem "Pedrina" do poema "Para a minha morta" foi a babá de Cecília Meireles, criada com a avó materna desde os 3 anos de idade.

"PARA A MINHA MORTA

(...)

Pedrina minha, és a mais doce das memórias
para a minha alma, a vida inteira alma de criança,
amando sempre o encantamento das histórias

de Barba Azul, de Ali Babá, de um rei de França...
Pedrina minha, és a mais doce das memórias...
" (p. 124/125)

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A leitura dos poemas de Cecília Meireles, até o momento, me trouxe uma identificação grande com o Eu-lírico. Os poemas e a autora me lembram de uma fase da vida na qual eu cria em todas as formas de misticismo.

Além disso, a poeta cria imagens magníficas em seus versos. Seus poemas encantam pela beleza das construções. Veja abaixo um exemplo de imagem poética, do poema "Oração da noite", ainda de um livro anterior dela - Nunca mais (1923):

"Acendi luzes, desdobrando espaços," (p. 54/55)

É lindo demais!

No poema "Dos pobrezinhos" (p. 117) o Eu-lírico fala para as nossas vítimas da pandemia de Covid-19 e para seus entes queridos.

"DOS POBREZINHOS

Nas tardes mornas e sombrias,
de céus pesados, mares ermos,
e horas monótonas e iguais,

eu penso logo nos enfermos,
na escuridão de enfermarias
tristes e mudas de hospitais...
" (p. 117)

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Finalizo a postagem citando um excerto do poema que mais gostei de Baladas para El-Rei. Pensa nessa imagem contida em um dos versos do poema: "Anda em choro a folhagem..." ao falar sobre o outono.

"DO MEU OUTONO

O outono vai chegar... Neva a névoa do outono...
Perdem-se astros sem luz... Anda em choro a
                                     [folhagem...
Há desesperos silenciosos de abandono...

O outono vai chegar... Neva a névoa do outono...
E eu sofro a angústia irremediável da paisagem...
" (p. 114/115)


É isso!

Tem valido a pena conhecer a poeta Cecília Meireles.

William



Bibliografia:

MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Coordenação André Seffrin. Apresentação: Alberto da Costa e Silva. 1ª edição - São Paulo: Global, 2017.

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