terça-feira, 16 de novembro de 2021

Leitura - Robinson Crusoé (II) - Daniel Defoe



Refeitório Cultural

Estou no início das aventuras de Robinson Crusoé. Li os 3 primeiros capítulos e vou ler agora o 4º. Já sei quem é o personagem. Um jovem filho de classe média, nascido em 1632 em York, interior da Inglaterra. Seus pais queriam que ele tivesse uma vida tranquila dando sequência aos negócios da família. Mas ele tinha um impulso incontrolável de sair pelo mundo através dos mares.

Engraçado... eu tenho um impulso incontrolável de escrever o nome do personagem como "Cruzoé"... vai entender! Talvez seja porque o nome dele de família em seu condado seja Robinson Kreutznaer, como ele mesmo explica no começo "mas por corrupção de vocábulo, muito usual na Inglaterra, chamam-nos Crusoé...".

Ele saiu de casa se aventurando ao mar com 19 anos e desde que se lançou ao mar as coisas só dão errado. Quase morreu na primeira saída, mas conseguiu chegar a Londres após o naufrágio do navio em que estava. De Londres, partiu em outro navio para Guiné. Foi feito escravo por piratas. Ao conseguir fugir, começou a se dar bem no Brasil, sim!, no Brasil colônia do século XVII. Foi ser plantador de cana-de-açúcar e tabaco, com direito a escravos.

Após virar proprietário de terras - já fazia 8 anos que havia saído jovem da Inglaterra - tinha tudo para prosperar no Brasil, agora com 27 anos, mas... se aventura de novo em navio ao aceitar uma proposta de ir buscar escravos na África e... o navio afunda e todos morrem, menos ele, que chega a um lugar ainda desconhecido.

É nesse ponto que retomo a leitura e o 4º capítulo.

Depois completo esta postagem com o que veio de novidade na vida desse personagem cuja Providência só age em desfavor do indivíduo. Segundo ele mesmo, ora a Providência, ora o azar e a casualidade agem contra ele.

---

CAPÍTULO IV

Robinson Crusoé dormiu em cima de uma árvore, por medo de ser devorado por alguma fera. Ao acordar, passou a se inteirar do local onde estava. Era uma ilha e pelo que pôde perceber, estava sozinho nela.

O navio naufragado estava lá no monte de areia. Crusoé nadou até a embarcação e passou a resgatar para a ilha tudo que fosse possível e útil pra ele. Alimentos, armas, ferramentas, roupas etc. Após o resgate, uma tempestade seguinte desapareceu com os destroços do navio.

Em terra, a preocupação do náufrago foi construir um abrigo que o protegesse de homens e de feras. Construiu quase uma fortaleza. E tudo isso, sozinho ao longo do tempo.

Tem um momento no qual Crusoé encontra dinheiro na cabine do capitão do navio e ele reflete sobre a inutilidade daquilo ali onde está. Me lembrei de uma camiseta que usava quando era jovem com uns dizeres em defesa da natureza: que o homem só iria perceber a cagada que fez quando visse que não seria possível comer dinheiro, ao não ter mais água, plantas e animais.

-------------

"A vista do dinheiro fez-me sorrir e provocou-me esta apóstrofe:

- Oh! vaidade das vaidades, metal embusteiro, tens atualmente aos meus olhos um preço vil. Para que me serves? Na verdade, nem vale a pena estender o braço para te apanhar! Uma só destas facas é mais apreciável que os tesouros de Creso. Dispenso a tua inútil intervenção; fica por isso onde está, ou melhor, vai para o fundo do mar como indigno que és de ver a luz do dia!" (p. 62)

--------------

(mas se arrependeu a tempo e levou o dinheiro para terra firme rsrs)

Nosso personagem segue alternando momentos nos quais ora culpa a Providência pelas desgraças que lhe acontecem (por desobedecer aos pais, por exemplo), ora o acaso e a sorte, incontroláveis e responsáveis por eventos não previsíveis ou sem motivações causais do tipo "punição" a ações humanas.

"(...) e às vezes deplorava também comigo mesmo que a Providência determinasse assim a ruína de uma sua criatura, negando-lhe qualquer socorro, calcando-o com a sua mão e inutilizando-o tão completamente, que lhe eliminava da alma o sentimento da gratidão." (p. 67)

---

O narrador Crusoé se explica ao leitor de suas memórias:

"Agora, visto que devo expor em cena, à face dos leitores, a representação de uma existência triste e melancólica, como não houve outra ainda neste mundo, vou fazer uma espécie de razão de ordem desde o princípio, para a continuar com mais regularidade." (p. 68)

Ele nos conta, então, que colocou um grande poste na praia com o seguinte registro:

"CHEGUEI A ESTA ILHA EM 30 DE SETEMBRO DE 1659"

No inventário das coisas de Crusoé, soubemos também dos seus pertences de cultura:

"De tudo lancei mão a esmo, sem me dar o trabalho de examinar se teriam ou não algum préstimo. Achei mais três esplêndidas Bíblias que tinha recebido no Brasil juntamente com os artigos que me expediram da Inglaterra, e que na ocasião dessa minha viagem meti dentro da minha roupa no baú, além de alguns livros portugueses, entre outros dois ou três de orações segundo o rito católico romano; e muitos ainda que tive o cuidado de conservar." (p. 69)

UM CÃO COMO COMPANHEIRO FIEL

"Havia a bordo três gatas e um cão, cuja história famosa deve ter o seu lugar nesta para lhe dar relevo. As gatas trouxe-as comigo; o cão, esse saltou do navio para o mar, e veio procurar-me em terra no dia seguinte àquele em que transportei a primeira carga. Foi durante muitos anos o meu serviçal zeloso e companheiro fiel; ia buscar todas as coisas de que era capaz; empregou as aptidões e finuras do instinto em fazer-me boa companhia; a única coisa que não pude conseguir dele, apesar de muito a desejar, foi que aprendesse a falar." (p. 69/70)

Para finalizar o capítulo IV, repleto de informações, soubemos que a construção de sua fortaleza levou mais de um ano para ser concluída. 

Ele traçou um quadro comparativo baseado na razão, segundo ele, para que pudesse seguir adiante quando lembrasse seus infortúnios. O quadro se dividia: em uma coluna "O MAL", na outra "O BEM". De um lado a informação negativa, do outro a positiva, do tipo: "Estou numa ilha horrorosa" e do outro "mas estou vivo" etc.

POR FIM, UM DIÁRIO...

"Principiei então a fazer um diário de todas as ocorrências - entretenimento que não pude encetar mais cedo, atormentado como estava, não tanto pelo trabalho, mas pelas canseiras do espírito; se o tivesse feito nessa conjuntura e com as piores disposições, sairia com certeza recheado de conceitos e incidentes sem graça e insípidos, como os que vou referir." P. 74)

A seguir ele cita momentos de desespero vividos por ele no começo de sua estadia na ilha. Gritava estar perdido, chorava e chorava etc.

Faz então seu pacto com o leitor a partir daquele momento:

"O princípio há de parecer fastidioso aos leitores, que até agora têm me acompanhado; mas a exatidão força-me a repetir algumas particularidades, que já ficam relatadas." (p. 74)

---

É isso, leitor William. É isso, leitores do blog do William. Agora, vamos seguir com os diários de Robinson Crusoé...

William


(ver aqui a postagem anterior)


Bibliografia:

DEFOE, Daniel. As aventuras de Robinson Crusoé. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.

Nenhum comentário: