Refeição Cultural
Aos poucos, vamos conhecendo a obra poética de Cecília Meireles. Li mais um livro da poeta - Morena, pena de amor, de 1939. Foram 130 poemas nesta publicação, 129 numerados e uma abertura que dá início aos poemas.
Agora, já li e conheço Espectros (1919), Nunca mais... e Poema dos poemas (1923), Baladas para El-Rei (1925), Cânticos (1927), A festa das letras (1937) e Morena, pena de amor (1939).
Somando os 130 poemas aos 129 das outras 5 publicações, agora conheço 259 poemas dessa grande poeta e intelectual brasileira.
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MORENA, PENA DE AMOR
"Queria só um sorriso.
Mas deram-me um beijo.
Perdi metade do juízo
e fui dar ao Paraíso.
São Pedro, vendo-me a cara,
dizia: 'Mas que pequena!
Com uma estrela tão clara
numa boca tão morena!'
(Qual seria esse tesouro?
Seria o teu beijo?
Seria o sorriso?
Ou apenas o ouro
do meu dente siso?)" (p. 191)
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Assim começam os poemas desse trabalho poético de Cecília Meireles.
"1
Me chamam Morena
por ser minha cor.
Mas meu nome é Pena,
Pena de Amor."
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Selecionei alguns momentos muito sonoros e prazerosos da obra.
"5
Não perguntes nada,
não perguntes, não.
Tenho uma espada,
enferrujada,
atravessada
no coração.
Como está quebrada,
não se põe a mão." (p. 192/193)
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"15
Os meus morenos suspiros
por morenos campos vão,
dentro de morenos rios,
por morena solidão.
Ai, morena sorte
da vida terrena,
ai, morte morena,
ai, terrena morte..." (p. 195/196)
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"26
Choro de pena,
choro de alegria,
me chamam Morena.
Sou Melancolia." (p. 200)
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"32
Chamei Deus - e estava ausente,
ou fez-se desentendido.
Não há nada que atormente
como um chamado perdido." (p. 202)
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O próximo poema é muito legal. Basta lembrarmos que Drummond já tinha nos apresentado seu poema "Quadrilha", em Alguma Poesia (1930).
"34
Eu estou sonhando contigo,
tu estás sonhando com ela,
e ela com o teu amigo,
e ele comigo ou com ela...
Tudo sonha e oscila
nas ondas do mundo:
em cima, a lua tranquila,
tranquila, a morte, no fundo." (p.202/203)
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"40
De dia, te andei buscando,
de noite, a buscar-te andei.
De tanto andar procurando,
perdi-me e não te encontrei." (p. 205)
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"48
Semeei plantas de amores,
nasceram ódios de espinho.
Não foi da mão nem das flores,
foi condição do caminho." (p. 207)
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Anotei diversos poemas que me tocaram ou que são muito expressivos para mim. Seria muito trabalhoso postar muitos deles.
Fecho a seleção com o poema que fala da solidão.
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"62
Bateram na noite escura,
fui abrir com precaução.
Perguntei: 'Quem me procura?'
Disseram-me: 'A Solidão'.
Entrou-me pela vidraça
um vulto de escuridão.
Perguntei: 'Mas quem me abraça?'
Disseram-me: 'A Solidão'.
Viverei com alegria
e sem outra condição
que a da companhia
desta Solidão..." (p. 214/215)
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CONHECENDO AOS POUCOS CECÍLIA MEIRELES
Hoje vi uma palestra muito interessante na internet a respeito da obra Cânticos (1927), ministrada pela professora Lúcia Helena Galvão, num canal chamado "Nova Acrópole Brasil". A palestrante destaca as mensagens místicas em sua interpretação dos 26 poemas. Outra parte interessante da palestra foi a biografia de Cecília Meireles.
Enfim, sigo avançando na leitura dos poemas da poeta, professora, pintora, educadora, poliglota e tradutora e grande intelectual brasileira Cecília Meireles.
O próximo livro de poesias dela é premiado, vou ler a seguir Viagem (1939).
William
Bibliografia:
MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Coordenação André Seffrin. Apresentação: Alberto da Costa e Silva. 1ª edição - São Paulo: Global, 2017.
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