Refeição Cultural
Osasco, 25 de março de 2024. Segunda-feira.
As imagens e ideias que circulam pelos meus neurônios neste momento de escrita são tantas e tão diversas que fico com dificuldade de escolher temas para registrar nesta reflexão diária.
RACISMO
A entrevista do jovem jogador Vini Jr. falando para dezenas de jornalistas sobre o racismo que tem enfrentado na Espanha é uma das imagens que não saem da cabeça da gente. Que desgraça essa questão do racismo!
Só depois de muito tempo de vida adulta é que consegui pensar com um pouco mais de atenção o que deve ter sido a vida de minha irmã neste país violento e racista desde sua invasão. Nunca saberei o que ela passou e ainda enfrenta hoje por causa da cor de sua pele! Nunca saberei!
Quando estou andando pelo bairro onde moro, à mercê do poder discricionário de uma das polícias mais letais e violentas do país, e agora sob um governo fascista no Estado, eu não tenho como imaginar o que uma pessoa negra sente e ou sofre. Minha pele é branca. Só fui compreender essa verdade depois de me politizar. A maioria nem pensa a respeito do racismo. Isso é foda!
MARIELLE FRANCO
Foram mais de seis anos para avançarem as investigações sobre o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido em 14 de março de 2018, quando seu carro foi metralhado no Rio de Janeiro. No atentado faleceu também Anderson Gomes e sobreviveu a assessora da vereadora.
Na minha leitura o crime não está solucionado. É a minha opinião. São muitas questões ainda sem explicações. A prisão dos irmãos Brazão e do delegado do caso à época, Rivaldo Barbosa, foi um passo importante. Não me surpreendeu saber que a principal autoridade de polícia estava envolvida. Isso é uma sociedade dominada pela milícia e a máfia.
As investigações só avançaram porque o povo brasileiro elegeu Lula em 2022. Não tenho dúvidas sobre isso. Fosse a continuidade daquele regime miliciano que colocaram no poder central em 2018, nem teríamos solução para o assassinato de Marielle e nem teríamos direito de opinar a respeito, pois as coisas teriam piorado muito com o bolsonarismo no poder de todas as estruturas do Estado.
GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO
"A índole e a escala do ataque israelense contra Gaza e as destrutivas condições de vida que desencadearam revelam uma tentativa de destruir os palestinos fisicamente como grupo", é o que afirma Francesca Albanese, a relatora das Nações Unidas sobre os direitos humanos. (site de CartaCapital, 25/3/24)
Na era da instantaneidade da vida, tudo filmado e imediato, o mundo assiste ao genocídio de um povo ao mesmo tempo em que ele ocorre. Os palestinos vinham sendo assassinados lentamente há muito tempo. O regime sionista do Estado de Israel ocupou as terras dos palestinos e passou a fazer com os colonizados o que se fazem com colonizados há séculos no mundo: inviabilizar a vida daquele povo. Até que os palestinos reagiram e agora estão sob ataque para que mais de dois milhões de pessoas deixem suas terras.
Até o momento, toda a estrutura física da Faixa de Gaza foi destruída após mais de 5 meses de bombardeios. É um exército contra um povo desarmado. Mais de 30.000 mortos, sendo a maioria de crianças, mulheres, idosos e civis. Se o governo de Israel obtiver êxito total na expulsão de 2.000.000 de palestinos de suas terras, o "case" pode ser a referência para os demais casos de potências ricas e com armas querendo ocupar terras e expulsar seres humanos de suas terras ancestrais.
CUBA BLOQUEADA HÁ DÉCADAS
Após ir a Cuba duas vezes e depois de me interessar mais pelo país socialista e a história extraordinária de luta de seu povo pela liberdade e autonomia em relação a qualquer país agressor, compreendo um pouco melhor o quanto é injusto o que Cuba sofre por causa do bloqueio criminoso e também genocida imposto pelo imperialismo norte-americano. Inviabilizar a vida de um povo é uma das formas de genocídio que se conhecem.
A hipocrisia que recheia a vida cotidiana dos seres humanos é algo que envenena diariamente corpo e mente das pessoas que têm um pouco mais de consciência e formação política. É duro passar o dia lendo, vendo, ouvindo merdas que pautam os nossos dias e a nossa agenda de vida! É duro! E o que são essas máquinas de produção em escala de mentiras e desinformações retransmitidas através das mídias (meios) dominadas pelas big techs? São vírus informacionais, vírus para minar a saúde da sociedade humana.
Por trás da Guerra com a Rússia, tendo a Ucrânia como bucha de canhão; por trás da Guerra de extermínio do povo palestino por parte do governo sionista de Netanyahu; por trás da miséria material imposta ao povo cubano há mais de seis décadas; por trás dos golpes de Estado no Brasil em 1964 e 2016... por trás dessas merdas todas estão sempre eles, sempre eles, aqueles que definiram de suas cabeças que o mundo é um quintal deles, que as Américas todas são para o bel-prazer e exploração deles...
Quanta hipocrisia e quanta ignorância temos que ver, ler, ouvir diariamente na sociedade humana! Viva os Estados Unidos e os idiotas que idolatram essa forma destrutiva de sociedade humana! Foi uma ironia... que se fodam eles e aqueles que idolatram eles!
SEM PERTENCIMENTO
Ainda não encontrei uma solução para me libertar do cárcere no qual estou acorrentado. A sensação psicológica é de agonia. Não consigo radicalizar uma solução porque não sou mais radical. Hoje sou cerebral. Isso te faz uma pessoa que calcula, que não age por instinto. Isso te faz conviver com a dor, com o incômodo. E te faz preservar portas cerradas, mas não inacessíveis para sempre. Ilusões.
Em alguns momentos, a coisa que queima por dentro, te faz pensar em voltar a ser como antes, e liberar todos os impulsos que o animal ferido tem. Já vivi meus tempos de fúria. Foram terríveis! Não gostaria de reviver aquilo.
Percebo, no entanto, que a coisa está me dilacerando. Algo precisa ser feito. Talvez devesse me desfiliar de todas as instituições que me vinculam ao passado que me traz dor. Sindicato, partido, associações. Talvez devesse ter coragem de me desfazer de tudo que me lembrasse minha história de décadas. Aí vem o cálculo e me põe na dúvida se isso é justo. E sigo no limbo.
Hoje, estou como o personagem Bill, do terceiro episódio da série The Last Of Us, que me inspirou no texto de ontem (ver aqui). Gostaria de viver num mundo onde pudesse ter vínculos com muito mais coisas que as relações pessoais com pessoas que amamos ou que precisam da gente. Gostaria de ter um motivo para seguir caso o acaso me tirasse os meus. Não vejo um mundo assim neste momento.
O meu liame com a vida são pessoas que amo. Que elas tenham vida longa!
William
(dias atrás, me senti útil naquilo que posso ser útil. Depois disso, me deu um vazio terrível... quase afoguei em meus oceanos internos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário