terça-feira, 19 de março de 2024

Não podemos esquecer o 31 de março de 1964


Texto e ilustração publicados em RBA.

Refeição Cultural

Apresentação do texto "Papo cabeça no MSN", de José Roberto Torero.


Estamos nos aproximando do dia 31 de março e por incrível que pareça o nosso governo do campo democrático e popular, o governo do presidente Lula (PT), determinou que a data neste ano seja esquecida, que não seja um dia de reflexões e manifestações por marcar os 60 anos do golpe de Estado no Brasil. Avalio que esse seja um dos maiores equívocos de nosso querido líder e companheiro Lula em muitos anos de vida política. Avalio ainda que há tempo para que essa determinação errada seja corrigida.

O texto do escritor e jornalista José Roberto Torero é espetacular pelas características que traz em si. Nós usávamos o texto em curso de formação sindical. O texto foi publicado na Rede Brasil Atual, uma aposta que fizemos em veículos de comunicação alternativos às mídias dos donos do poder. Eu estava como dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região quando debatemos o projeto com outros sindicatos e políticos à época.

O que será de nós se realmente prevalecer a tese de que não se deve mais estudar o passado e aprender as coisas boas e ruins que fizemos ou que sofremos enquanto classe trabalhadora e povo explorado pelos poucos donos de todos os meios, os donos do poder? 

Vivemos numa nova era, a era das redes sociais e meios virtuais concentrados nas mãos de poucos humanos e suas corporações, a era do incentivo à ignorância por parte dos negacionistas e extremistas de direita, para facilitar o domínio das mentes e comportamentos dos animais humanos.

O bate-papo entre os dois jovens foi uma sacada incrível do escritor, antecipou muito do que iríamos vivenciar anos depois. É isso, vamos ao texto. 

Presidente Lula, é importante que haja um grande momento de reflexão nacional neste dia 31 de março de 2024. E que o povo brasileiro esteja preparado para que nunca mais ataquem a democracia e imponham ditaduras no Brasil.

A tentativa de novo golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 quase nos jogou naquele período que alguns segmentos querem apagar ou reescrever, mentindo sobre a história. A começar por chamar de "revolução" o que sabemos ser um golpe patrocinado por traidores da pátria com apoio do imperialismo norte-americano.

William

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Papo cabeça na internet

Por: José Roberto Torero


Fê: E aí?
Dado: Firmeza. E aí?
Fê: Show de bola. Fez o homework?
Dado: Que homework?
Fê: O que a profe pediu.
Dado: Putz, caraca! A de história, né?
Fê: Só.
Dado: Que saco, esqueci! Qual que era a bagaça mesmo?
Fê: Espera que eu vou ver.


Dado: Achou?
Fê: Espera, pô! Ah, tá aqui: diga por que o dia 31 de março mudou a história do nosso país.
Dado: Tem ideia?
Fê: Nadica.
Dado: Então a gente se fala tipo daqui a pouco. Bj.
Fê: Bj.

(Meia hora depois.)

Fê: E aí, foi no Google?
Dado: Fui. E vc?
Fê: Total.
Dado: Matou a charada?
Fê: Matei.
Dado: Então fala aí, gata, por que o 31 de março mudou a história do nosso país?
Fê: Se liga: no dia 31 de março de 1889 a Torre Eiffel foi dedicada à cidade de Paris.
Dado: Bizarro. Mas o que isso tem a ver tipo com o Brasil?
Fê: Ah, sei lá! Antes não tinha a torre, entendeu? Aí os brasileiros não entravam numas de ir pra fora, conhecer o mundo. Fez a torre, aí abriu pra ir, visitar e os caras começaram a viajar. Por isso que tem tanto brazuca lá fora, tá ligado?
Dado: Louco.

Fê: Você achou algum treco?
Dado: Uma pá de coisa!
Fê: Fala uma.
Dado: Tipo, eu achei que nesse dia, em 1492, uns reis lá expulsaram os judeus da Espanha.
Fê: E aí? Onde que o Brasil entra nessa?
Dado: É que aí os judeus tiveram que ir pra Alemanha, o Hitler caiu em cima dos caras e eles vieram pra cá.
Fê: Pra Higienópolis?
Dado: Tudo a ver.

Fê: Sabe, cara, tô achando que pode ser outra coisa.
Dado: Tipo o quê?
Fê: É que eu também achei isso, ó: no dia 31 de março de 1900 saiu o primeiro anúncio de carro da história. Era uma firma da Filadélfia, meu, e eles publicaram o anúncio num jornal que chamava Saturday Evening Post. Vai ver é isso, porque aí os brasileiros acharam o anúncio o maior chique, começaram a comprar carro e acabou dando esses congestionamentos.

Dado: Sei não, nada a ver… Eu estou numa de que é uma coisa mais… sabe?, um troço mais zoado.
Fê: Mas, meu!, o quê?
Dado: Sei lá, um treco tipo guerra, entende?
Fê: Nadica.
Dado: Eu li num lugar aí que teve uma revolução aqui.
Fê: Aqui? No bairro? Xi, agora só vou sair na rua de capacete.
Dado: Pô, gata, é sério!
Fê: Rs, rs, rs, rs.

Dado: Olha só: parece que teve uma revolução mesmo, tipo um negócio com general.
Fê: Se liga, vc acha que teve guerra aqui?
Dado: Pô, de repente teve, sei lá…
Fê: Com esse negócio de espião, granada, metralhadora? Você pirou! Daqui a pouco vc vai dizer que torturaram neguinho no Brasil.
Dado: Pode ser. Que nem fizeram no Iraque. Eu vi no YouTube.
Fê: Ai, meu, sei lá… pra mim isso é viagem sua.

Dado: Pô, a gente fica com o que, então?
Fê: Paris, meu. Relaxa que é aquele lance da Torre Eiffel.
Dado: Tá bom, vou na sua. Me atacha a sua pesquisa que eu colo no arquivo.
Fê: Tá indo… Tá indo… Foi.
Dado: Valeu. Agora eu vou jogar umas duas horas de Mortal Annihilation.
Fê: E eu vou dar um rolê
no Shopping. Blz?
Dado: Blz.

Fonte: ilustração e texto da RBA (04/04/2013)

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