Refeição Cultural
Artigo: Como evitar o fim do mundo? de P. A. Lima Filho. Revista Fim do Mundo, Marília, São Paulo. Revista nº 13, jan/jun de 2025.
Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias
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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.
Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.
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Ideia central do artigo: sendo o capitalismo e os capitalistas o que são, é necessário pensar formas de educação, produção e consumo para que as novas gerações interfiram (em) e alterem a tendência acelerada de fim do mundo numa luta emancipatória sem quartéis.
Palavras-chave do artigo: Colapso climático, emancipação humana, Transição civilizatória.
Introdução ao tema do fim do mundo
O texto começa destacando que os Estados Unidos e suas empresas estão numa empreitada decisiva, ainda a revolução tecnológica, que é ao mesmo tempo uma contrarrevolução, para conter os BRICS e seu significado emancipatório do imperialismo estadunidense.
Segundo o autor, vivemos uma crise inescapável do capital e sua ordem mundial.
Lima Filho tomou emprestado a Krenak o conceito das ideias para adiar o fim do mundo. Temos que fazer algo agora, já, para interromper e reverter as consequências do que está ocorrendo.
Cumpre elaborarmos ideias para impedir o fim do mundo
Reconhecer a ideia de destruição do mundo já é um bom começo e a partir daí temos que forjar armas que nos permitam lutar contra a consumação do fato.
O que fazer antes do fim do mundo e como evitá-lo
O autor nos lembra de processos históricos nos quais diversas civilizações foram dizimadas - o fim de seus mundos -, com invasões de outros povos como os colonizadores europeus destruindo mundos no continente africano e nas américas.
Como chegamos até aqui, no Brasil?
De retrocessos em retrocessos por parte dos donos do poder: após um período de relativos avanços industriais e sociais - entre os anos 1930 e 1960, vem em seguida um retrocesso, como no golpe empresarial-militar de 1964, e depois de alguns anos de democracia conservadora após 1988, outro golpe em 2016...
O que vemos no momento, em pleno ano 2025, é um Brasil avançando ao período pré-1930, um país exportador de commodities para o mundo industrializado.
Estamos dentro do fim do mundo
O autor nos aponta que o mundo todo está na mesma situação, por causa das conexões e dependências globais.
"Hoje, todos os rincões do planeta, todo o tempo cotidiano em todos os países do globo estão sob o império das forças do fim do mundo. Somos todos navegantes das moderníssimas caravelas do fim do mundo. Estamos sendo levados sem que tenhamos forças para contrarresta-lo. Estamos transitando docilmente à auto extinção. Navegamos impertérritos ao cadafalso coletivo, ao final dos tempos. Fatalisticamente."
A situação da ideologia social
"O processo das catástrofes, agora transitado em colapso, é uma bomba social em ação ininterrupta. Objetivamente estão dadas as condições sociais para uma revolução social, mas se apossou da humanidade uma letargia fatal."
Ao ler a descrição feita por Lima Filho me lembrei dos textos do professor e neurocientista Miguel Nicolelis a respeito de uma provável espécie humana substituta da homo sapiens - uma espécie de homo digital - mais acomodada e menos criativa para enfrentar as questões colocadas a seu tempo.
O sentido histórico da cisma política estadunidense
O novo governante Trump rompe com todo o arcabouço político e comercial construído após a 2a Guerra. Quer ser o novo imperador do mundo, deixando de lado o disfarce chamado "democracia".
"Desse modo a crise política mundial do capital se manifesta em três processos concomitantes e contraditórios. O declínio dos EUA, polo dominante, de longe ainda bélica e economicamente o mais poderoso, a reorganização da Europa em moldes continuístas da velha ordem negada agora pelos Estados Unidos e a emersão do novíssimo bloco de forças capitalistas sob a liderança da China, o BRICS+. Três processos concomitantes em sentidos contraditórios."
Os blocos que se organizam no momento serão os atores da disputa hegemônica global.
"O colapso climático, na realidade, é o colapso da relação, da reprodução capitalista mundial de uma forma histórica de produzir (mercadorias, é claro), de uma determinada civilização capitalista. Não é somente um ecocídio, mas um civilizacionicídio. Trata-se do colapso da civilização do capital."
É interessante a lembrança do autor de que mesmo o BRICS+ é da mesma ordem dos outros, é capitalista. Não há diferença na questão central sobre a destruição do mundo pela produção e comercialização de mercadorias.
a. A desfuturização
"À desfuturização se agrega a demanda por uma volta ao passado de pleno poder imperialista mundial que nada mais é do que uma real declaração de guerra a um presente pleno de contradições insolúveis."
b. As razões do capital e o colapso climático: a conflagração da reprodução social mundial
O capital vem desde o início destruindo as fontes de vida na terra - água, ar, terras, recursos naturais -, até que chegamos ao atual capital financeiro.
"Até aqui à voragem natural da relação capital associou-se o taylorismo, o consumismo e o complexo industrial militar como instrumento vital para a reprodução do capital a mais estável possível sob o capitalismo. Por fim, a revolução microeletrônica, no século XX, irá possibilitar o surgimento do quarto órgão na máquina, o órgão de controle, que então completará a primeira fase da revolução industrial ao suprir suas limitações técnicas e fazendo, assim, surgir um novo capital industrial absorvido pelo capital financeiro."
O autor comenta que as minorias donas do poder capitalista sabem da proximidade do fim do mundo, por isso sonham com Marte e a Lua. Os pequenos burgueses e a massa assalariada ainda não se apercebeu da seriedade da situação e seguem vivendo seus cotidianos como se estivesse tudo bem.
c. Etapas da era do colapso
Além das etapas mais previsíveis como as dos eventos climáticos e eventos naturais, existem ainda os eventos imponderáveis como, por exemplo, um evento nuclear e até a chegada ao poder de um líder psicopata... (então f...)
d. A era do colapso e o capital
Interessante a explicação do autor sobre a incontrolabilidade do capital na questão da produção de mercadorias para acúmulo de riqueza (mais valia). Seria necessário o fim desse modo de produção. Teríamos que produzir as coisas somente com valor de uso e de acordo com a necessidade humana.
Outra questão seria o foco na produção agroecológica, mudando drasticamente o uso de água e energia, centrais na produção do agronegócio.
e. A questão da revolução social
"Na realidade todas as revoluções proletárias após 1848 são revoluções comunistas, muito embora prematuras, como as definiu Engels em 1853. Ao ocorrerem, como tem sido a experiência histórica dos séculos XX e XXI, em países capitalistas subordinados e subalternizados da ordem mundial capitalista, colocam diante dos trabalhadores tarefas duplamente ingentes: a de criar simultaneamente os fundamentos econômicos na nova ordem social e o salto qualitativo da emancipação dos trabalhadores, isto é, da emancipação econômica dos trabalhadores e seu controle autônomo da nova reprodução social, controle sobre os processos econômicos e sociais e científicos e controle do próprio estado revolucionário e seu partido. Nessas revoluções socialistas, na realidade, o que se emancipa é o estado, ao passo que a emancipação dos trabalhadores é inevitavelmente bloqueada. Todas elas inexoravelmente transitam ao capitalismo. Todas as sublevações sociais e proletários na história das revoluções socialistas serão exatamente a expressão dessa necessidade de controle da reprodução social por parte dos trabalhadores."
Explicação interessante do autor sobre as revoluções sociais de trabalhadores enfrentarem dificuldades ingentes e tenderem a reforçar uma lógica capitalista após os processos. O sublinhado é meu.
f. A transição comunista na era do colapso universal da reprodução social capitalista
"De imediato já no atual estágio do colapso climático e social em geral já se faz imperioso conceber uma nova civilização mundial sem mercadorias centrada na produção das necessidades vitais propriamente humanas, negadora das necessidades do lucro sob o consumismo. Isso significa conceber os circuitos sociais sobre o imperativo do uso mínimo de energia, água e matérias-primas com o mínimo de trajetos de uso e consumo dos produtos do trabalho, assim como da tecnologia em prol da sua máxima eficiência humana."
Pelo que entendi, a tarefa central de todos nós é superarmos a forma de produção "mercadoria". Só teremos chances de evitar o fim do mundo se a sociedade humana produzir coisas necessárias por seu valor de uso. Pela lógica do consumismo será o nosso fim.
g. A questão da barbárie na conflagração universal da reprodução social capitalista
"A urgência da nova situação histórica, creio, exige enfrentamento aberto do colapso social mundial em processo. Daí o título deste trabalho. A transformação da sociedade das mercadorias por uma sociedade dos produtores associados de produtos necessários, em decisiva medida nesta era de colapso social, coloca-se como objetivo primordial das lutas emancipatórias."*
A ideia acima é uma síntese da questão colocada a todos nós que queremos impedir o fim do mundo. Temos que enfrentar e derrotar a lógica capitalista. Eu falo isso faz tempo, por ver que o movimento sindical e político do qual vim não tem mais esse foco.
*A nota nesse parágrafo é central. Não adianta virem com esse papo de fontes alternativas de energia com o foco em rentabilidade etc. Nenhuma fonte é párea para os combustíveis fósseis. Só mudamos se mudarmos o foco da sociedade humana. Capitalismo e lucro, não dá!
Um excerto da nota:
"(...) Portanto, sair dos combustíveis fósseis não pode ser entendido como uma ―oportunidade‖ para os negócios como sonham tantos economistas. Ela não é uma operação rentável e, portanto, ―racional‖ do ponto de vista do Homo oeconomicus. É uma decisão tomada contra os valores e a lógica de uma economia mortífera. Essa decisão comporta sacrifícios consideráveis em termos dos padrões e das expectativas de consumo dos 10% ou 20% mais ricos da humanidade que detêm mais de 90% dos ativos globais. Trata-se, portanto, de uma ruptura que enfrentará a oposição renhida dessa minoria, que ainda se crê imune ao caos que se avizinha."
Conclusões
Algumas questões colocadas pelo autor:
"(...) colapso climático. Eis a grande novidade da situação contemporânea. Não é a guerra atômica que nos mobilizará contra o extermínio de todos os humanos, pois ela está sob o controle dos estados e seus líderes, o mesmo não ocorrendo devido à poluição dos rios e ressecamento dos aquíferos a prometer a fome e a desertificação de vastas áreas do país, processos sob controle dos estados, mas, sim, o que pode nos mobilizar a todos, à maioria da humanidade, é a simultaneidade, incontrolabilidade e destrutividade das catástrofes climáticas em processo mais além do controle humano. Será ela ou somente ela capaz de impor a urgência universal, inadiável, inquestionável, mais forte que as ideologias da sociedade de classes. O colapso climático apreende-se pelos sentidos."
Lima Filho faz crítica firme à "esquerda da ordem" citando o exemplo do plebiscito atual, dizendo que isso não altera em nada a emergência da situação.
No lugar dos temas do plebiscito - a jornada 6x1, a isenção do imposto até 5 mil e imposto para os mais ricos -, seria o caso de mobilizar o povo para:
"Poderíamos, isso sim, aproveitar o empenho desesperado da esquerda da ordem e fazermos concomitantemente um plebiscito anticapital e anticapitalista. Creio que seria uma boa ideia."
Minha opinião - Em tese, concordo com todas as proposições do autor nas suas conclusões (p. 48 e seguintes). São possíveis dentro daquilo que acredito sermos capazes por sermos humanos.
Vejamos abaixo mais um trecho das conclusões, concordo plenamente com a afirmação do autor. Escrevo e penso isso faz bastante tempo.
"Como combater a barbárie? Torna-se novamente visível, tal como fora em meados do século XX, ser o colapso da democracia uma obra da própria crise do capital, inexorável e incontrolável nos marcos do capital. Impossível reconduzir a reprodução social mundial a seu estágio vigente, por exemplo, anterior à metade do século passado. Daí, repita-se, a urgência urgentíssima, emergencial, da humanidade tomar nas mãos o seu destino, abolir o controle do capital que nos leva à extinção da vida e consequentemente, da própria humanidade."
Ufa! Leitura feita! Texto denso e potente. O ideal é reler ao menos as conclusões, são muito boas.
Leitura feita por
William Mendes