sexta-feira, 25 de julho de 2025

Leitura: Como evitar o fim do mundo? - Paulo Alves de Lima Filho



Refeição Cultural

Artigo: Como evitar o fim do mundo? de P. A. Lima Filho. Revista Fim do Mundo, Marília, São Paulo. Revista nº 13, jan/jun de 2025.

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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Ideia central do artigo: sendo o capitalismo e os capitalistas o que são, é necessário pensar formas de educação, produção e consumo para que as novas gerações interfiram (em) e alterem a tendência acelerada de fim do mundo numa luta emancipatória sem quartéis.

Palavras-chave do artigo: Colapso climático, emancipação humana, Transição civilizatória.


Introdução ao tema do fim do mundo

O texto começa destacando que os Estados Unidos e suas empresas estão numa empreitada decisiva, ainda a revolução tecnológica, que é ao mesmo tempo uma contrarrevolução, para conter os BRICS e seu significado emancipatório do imperialismo estadunidense.

Segundo o autor, vivemos uma crise inescapável do capital e sua ordem mundial.

Lima Filho tomou emprestado a Krenak o conceito das ideias para adiar o fim do mundo. Temos que fazer algo agora, já, para interromper e reverter as consequências do que está ocorrendo.


Cumpre elaborarmos ideias para impedir o fim do mundo

Reconhecer a ideia de destruição do mundo já é um bom começo e a partir daí temos que forjar armas que nos permitam lutar contra a consumação do fato.


O que fazer antes do fim do mundo e como evitá-lo

O autor nos lembra de processos históricos nos quais diversas civilizações foram dizimadas - o fim de seus mundos -, com invasões de outros povos como os colonizadores europeus destruindo mundos no continente africano e nas américas.


Como chegamos até aqui, no Brasil?

De retrocessos em retrocessos por parte dos donos do poder: após um período de relativos avanços industriais e sociais - entre os anos 1930 e 1960, vem em seguida um retrocesso, como no golpe empresarial-militar de 1964, e depois de alguns anos de democracia conservadora após 1988, outro golpe em 2016...

O que vemos no momento, em pleno ano 2025, é um Brasil avançando ao período pré-1930, um país exportador de commodities para o mundo industrializado.


Estamos dentro do fim do mundo

O autor nos aponta que o mundo todo está na mesma situação, por causa das conexões e dependências globais.

"Hoje, todos os rincões do planeta, todo o tempo cotidiano em todos os países do globo estão sob o império das forças do fim do mundo. Somos todos navegantes das moderníssimas caravelas do fim do mundo. Estamos sendo levados sem que tenhamos forças para contrarresta-lo. Estamos transitando docilmente à auto extinção. Navegamos impertérritos ao cadafalso coletivo, ao final dos tempos. Fatalisticamente."


A situação da ideologia social

"O processo das catástrofes, agora transitado em colapso, é uma bomba social em ação ininterrupta. Objetivamente estão dadas as condições sociais para uma revolução social, mas se apossou da humanidade uma letargia fatal."

Ao ler a descrição feita por Lima Filho me lembrei dos textos do professor e neurocientista Miguel Nicolelis a respeito de uma provável espécie humana substituta da homo sapiens - uma espécie de homo digital - mais acomodada e menos criativa para enfrentar as questões colocadas a seu tempo.


O sentido histórico da cisma política estadunidense

O novo governante Trump rompe com todo o arcabouço político e comercial construído após a 2a Guerra. Quer ser o novo imperador do mundo, deixando de lado o disfarce chamado "democracia".

"Desse modo a crise política mundial do capital se manifesta em três processos concomitantes e contraditórios. O declínio dos EUA, polo dominante, de longe ainda bélica e economicamente o mais poderoso, a reorganização da Europa em moldes continuístas da velha ordem negada agora pelos Estados Unidos e a emersão do novíssimo bloco de forças capitalistas sob a liderança da China, o BRICS+. Três processos concomitantes em sentidos contraditórios."

Os blocos que se organizam no momento serão os atores da disputa hegemônica global.

"O colapso climático, na realidade, é o colapso da relação, da reprodução capitalista mundial de uma forma histórica de produzir (mercadorias, é claro), de uma determinada civilização capitalista. Não é somente um ecocídio, mas um civilizacionicídio. Trata-se do colapso da civilização do capital."

É interessante a lembrança do autor de que mesmo o BRICS+ é da mesma ordem dos outros, é capitalista. Não há diferença na questão central sobre a destruição do mundo pela produção e comercialização de mercadorias.


a. A desfuturização

"À desfuturização se agrega a demanda por uma volta ao passado de pleno poder imperialista mundial que nada mais é do que uma real declaração de guerra a um presente pleno de contradições insolúveis."


b. As razões do capital e o colapso climático: a conflagração da reprodução social mundial

O capital vem desde o início destruindo as fontes de vida na terra - água, ar, terras, recursos naturais -, até que chegamos ao atual capital financeiro.

"Até aqui à voragem natural da relação capital associou-se o taylorismo, o consumismo e o complexo industrial militar como instrumento vital para a reprodução do capital a mais estável possível sob o capitalismo. Por fim, a revolução microeletrônica, no século XX, irá possibilitar o surgimento do quarto órgão na máquina, o órgão de controle, que então completará a primeira fase da revolução industrial ao suprir suas limitações técnicas e fazendo, assim, surgir um novo capital industrial absorvido pelo capital financeiro."

O autor comenta que as minorias donas do poder capitalista sabem da proximidade do fim do mundo, por isso sonham com Marte e a Lua. Os pequenos burgueses e a massa assalariada ainda não se apercebeu da seriedade da situação e seguem vivendo seus cotidianos como se estivesse tudo bem.


c. Etapas da era do colapso

Além das etapas mais previsíveis como as dos eventos climáticos e eventos naturais, existem ainda os eventos imponderáveis como, por exemplo, um evento nuclear e até a chegada ao poder de um líder psicopata... (então f...)


d. A era do colapso e o capital

Interessante a explicação do autor sobre a incontrolabilidade do capital na questão da produção de mercadorias para acúmulo de riqueza (mais valia). Seria necessário o fim desse modo de produção. Teríamos que produzir as coisas somente com valor de uso e de acordo com a necessidade humana.

Outra questão seria o foco na produção agroecológica, mudando drasticamente o uso de água e energia, centrais na produção do agronegócio.


e. A questão da revolução social

"Na realidade todas as revoluções proletárias após 1848 são revoluções comunistas, muito embora prematuras, como as definiu Engels em 1853. Ao ocorrerem, como tem sido a experiência histórica dos séculos XX e XXI, em países capitalistas subordinados e subalternizados da ordem mundial capitalista, colocam diante dos trabalhadores tarefas duplamente ingentes: a de criar simultaneamente os fundamentos econômicos na nova ordem social e o salto qualitativo da emancipação dos trabalhadores, isto é, da emancipação econômica dos trabalhadores e seu controle autônomo da nova reprodução social, controle sobre os processos econômicos e sociais e científicos e controle do próprio estado revolucionário e seu partido. Nessas revoluções socialistas, na realidade, o que se emancipa é o estado, ao passo que a emancipação dos trabalhadores é inevitavelmente bloqueada. Todas elas inexoravelmente transitam ao capitalismo. Todas as sublevações sociais e proletários na história das revoluções socialistas serão exatamente a expressão dessa necessidade de controle da reprodução social por parte dos trabalhadores."

Explicação interessante do autor sobre as revoluções sociais de trabalhadores enfrentarem dificuldades ingentes e tenderem a reforçar uma lógica capitalista após os processos. O sublinhado é meu.


f. A transição comunista na era do colapso universal da reprodução social capitalista

"De imediato já no atual estágio do colapso climático e social em geral já se faz imperioso conceber uma nova civilização mundial sem mercadorias centrada na produção das necessidades vitais propriamente humanas, negadora das necessidades do lucro sob o consumismo. Isso significa conceber os circuitos sociais sobre o imperativo do uso mínimo de energia, água e matérias-primas com o mínimo de trajetos de uso e consumo dos produtos do trabalho, assim como da tecnologia em prol da sua máxima eficiência humana."

Pelo que entendi, a tarefa central de todos nós é superarmos a forma de produção "mercadoria". Só teremos chances de evitar o fim do mundo se a sociedade humana produzir coisas necessárias por seu valor de uso. Pela lógica do consumismo será o nosso fim.


g. A questão da barbárie na conflagração universal da reprodução social capitalista

"A urgência da nova situação histórica, creio, exige enfrentamento aberto do colapso social mundial em processo. Daí o título deste trabalho. A transformação da sociedade das mercadorias por uma sociedade dos produtores associados de produtos necessários, em decisiva medida nesta era de colapso social, coloca-se como objetivo primordial das lutas emancipatórias."*

A ideia acima é uma síntese da questão colocada a todos nós que queremos impedir o fim do mundo. Temos que enfrentar e derrotar a lógica capitalista. Eu falo isso faz tempo, por ver que o movimento sindical e político do qual vim não tem mais esse foco.

*A nota nesse parágrafo é central. Não adianta virem com esse papo de fontes alternativas de energia com o foco em rentabilidade etc. Nenhuma fonte é párea para os combustíveis fósseis. Só mudamos se mudarmos o foco da sociedade humana. Capitalismo e lucro, não dá!

Um excerto da nota:

"(...) Portanto, sair dos combustíveis fósseis não pode ser entendido como uma ―oportunidade‖ para os negócios como sonham tantos economistas. Ela não é uma operação rentável e, portanto, ―racional‖ do ponto de vista do Homo oeconomicus. É uma decisão tomada contra os valores e a lógica de uma economia mortífera. Essa decisão comporta sacrifícios consideráveis em termos dos padrões e das expectativas de consumo dos 10% ou 20% mais ricos da humanidade que detêm mais de 90% dos ativos globais. Trata-se, portanto, de uma ruptura que enfrentará a oposição renhida dessa minoria, que ainda se crê imune ao caos que se avizinha."


Conclusões

Algumas questões colocadas pelo autor:

"(...) colapso climático. Eis a grande novidade da situação contemporânea. Não é a guerra atômica que nos mobilizará contra o extermínio de todos os humanos, pois ela está sob o controle dos estados e seus líderes, o mesmo não ocorrendo devido à poluição dos rios e ressecamento dos aquíferos a prometer a fome e a desertificação de vastas áreas do país, processos sob controle dos estados, mas, sim, o que pode nos mobilizar a todos, à maioria da humanidade, é a simultaneidade, incontrolabilidade e destrutividade das catástrofes climáticas em processo mais além do controle humano. Será ela ou somente ela capaz de impor a urgência universal, inadiável, inquestionável, mais forte que as ideologias da sociedade de classes. O colapso climático apreende-se pelos sentidos."

Lima Filho faz crítica firme à "esquerda da ordem" citando o exemplo do plebiscito atual, dizendo que isso não altera em nada a emergência da situação.

No lugar dos temas do plebiscito - a jornada 6x1, a isenção do imposto até 5 mil e imposto para os mais ricos -, seria o caso de mobilizar o povo para:

"Poderíamos, isso sim, aproveitar o empenho desesperado da esquerda da ordem e fazermos concomitantemente um plebiscito anticapital e anticapitalista. Creio que seria uma boa ideia."

Minha opinião - Em tese, concordo com todas as proposições do autor nas suas conclusões (p. 48 e seguintes). São possíveis dentro daquilo que acredito sermos capazes por sermos humanos.

Vejamos abaixo mais um trecho das conclusões, concordo plenamente com a afirmação do autor. Escrevo e penso isso faz bastante tempo.

"Como combater a barbárie? Torna-se novamente visível, tal como fora em meados do século XX, ser o colapso da democracia uma obra da própria crise do capital, inexorável e incontrolável nos marcos do capital. Impossível reconduzir a reprodução social mundial a seu estágio vigente, por exemplo, anterior à metade do século passado. Daí, repita-se, a urgência urgentíssima, emergencial, da humanidade tomar nas mãos o seu destino, abolir o controle do capital que nos leva à extinção da vida e consequentemente, da própria humanidade."

Ufa! Leitura feita! Texto denso e potente. O ideal é reler ao menos as conclusões, são muito boas.

Leitura feita por

William Mendes

Leitura: Educação ambiental anticapitalista - Henrique Tahan Novaes



Refeição Cultural

Livro: Educação ambiental anticapitalista: produção destrutiva, trabalho associado e agroecologia, de Henrique Tahan Novaes

Leitura de excertos: Prefácio, Apresentação e Conclusões do livro

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de resenha ou fichário do leitor do texto, o autor do blog. Qualquer equívoco na interpretação é de inteira responsabilidade do blog.

Algumas palavras-chave ou ideias que gostei durante a leitura do texto e que me fizeram refletir a respeito:


No "Prefácio" de John Bellamy Foster

- Pedagogia do capital x pedagogia do trabalho: interessante percepção de que há dois projetos educacionais opostos em nossa sociedade humana: uma pedagogia da deseducação x uma pedagogia da emancipação pelo trabalho social

- Travar a luta de classes do ponto de vista ecológico é uma perspectiva necessária para nós das classes oprimidas, sem recursos e periféricas


Na "Apresentação"

- O livro de Novaes socializa com os leitores as experiências bastante exitosas do MST no campo da agroecologia e cooperativismo

- Os resultados das experiências do MST são muito promissores em diversas áreas de interesse social como, por exemplo, soberania alimentar, igualdade de gênero e alimentação sustentável e saudável

- Os objetivos e resultados na forma de utilização do meio ambiente por experiências como a do MST se contrapõem ao modo capitalista do agronegócio destrutivo e com foco no acúmulo de riqueza por parte dos poucos donos das terras

- O domínio econômico e financeiro da questão agrária no Brasil faz com que se pareça impossível escapar da lógica do "sociometabolismo do capital", que apresenta uma suposta "Revolução Verde" como a única forma possível de produção no campo. É como se não houvesse saída ao modelo brasileiro exportador de commodities

- O autor nos apresenta a "Pedagogia da alternância" das escolas do MST, uma lógica alternativa de auto-organização por parte dos alunos, diferente das tradicionais pedagogias das escolas públicas do Estado e das escolas privadas, com suas ideologias ecocapitalistas de "desenvolvimento sustentável"

- Novaes faz um alerta: mesmo nos espaços do movimento agroecológico tem havido a influência das ideias economicistas e burocráticas do modelo hegemônico do capitalismo do agro. Há riscos constantes de cooptação pelos donos do poder do capital

- As condições atuais oriundas da crise climática e das contradições da atual fase do capitalismo podem facilitar a reflexão que contraponha o modelo através do ecossocialismo

- As experiências do MST são importantes para avaliarmos alternativas ao sistema hegemônico, os trabalhos associados e a economia comunal como modelos de produção são experiências exitosas para serem estudas e praticadas

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"O MST é um dos movimentos sociais mais importantes da atualidade porque consegue combinar inúmeras lutas: a luta pelo direito à terra com as lutas ambientais, as lutas pelo direito ao trabalho não explorado com as lutas pelo direito a vida, as lutas internacionais com as lutas nacionais, a luta imediata com a luta por outra sociedade, a luta de classe com a luta de gênero. Sua defesa da agroecologia se diferencia das propostas ecocapitalistas e das propostas que esbarram no desenvolvimento sustentável. Esperamos, então, poder mostrar aos leitores e leitoras algumas das dimensões dessa luta."

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- Desde os anos sessenta, os ditadores e a casa-grande brasileira se basearam em diversas formas de manipulação comunicacional para avançar na destruição capitalista dos biomas brasileiros: "nova fronteira agrícola" e "Integrar para não entregar" foram motes para destruir as áreas ambientas do Oeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. A moda atual é a tal "Revolução Verde"...

- O período denominado "redemocratização" foi corretamente (na opinião do blog) chamado por Florestan Fernandes (1986) de "institucionalização da ditadura". Nos governos civis de Collor adiante, o que se vê é violência e morte no campo, incluindo os governos de Lula e Dilma

- Intelectuais como David Harvey (2013) e Jean Ziegler (2013) apontam o Brasil como o maior palco atual de "acumulação primitiva" do capital no cercamento e apropriação de novas terras virgens pelos capitalistas. Além da concentração fundiária, o desemprego no campo chegou a um milhão de pessoas

- A destruição do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) durante os governos Temer-Bolsonaro trouxe consequências drásticas na área da educação no campo

- A batalha ideológica do capital contra a classe trabalhadora ganhou novas ferramentas na atualidade. Além das mídias tradicionais, que já era toda dos capitalistas, agora temos as plataformas digitais - as big techs -, reforçando a manipulação das massas humanas exploradas

- Contrarrevolução no mundo do trabalho: além das tradicionais formas de exploração, temos a pejotização e plataformização do trabalho, do tipo uber, que aumentam assustadoramente a acumulação capitalista dos donos dos meios e criam uma multidão de miseráveis sem direito a nada. As pessoas são "empreendedoras" sem recursos para empreender...


Nas "Conclusões" (resumo do blog, nas minhas palavras)

- O MST é considerado um movimento bem completo do ponto de vista da Teoria dos movimentos sociais. Busca um outro modo de produção, uma espécie de ecossocialismo, uma alternativa de sociedade humana para além do capital

- A partir da luta pela terra, o MST proporciona outras formas de lutas como, por exemplo, pela igualdade de gênero, por uma educação autônoma e emancipadora, pela soberania nacional etc

- A política de assentamentos também tem suas contradições práticas, tendo como resultado, às vezes, processos de loteamento focados em indivíduos mais que em dinâmicas coletivas de produção, havendo parcerias mais na comercialização dos produtos

- A ideia de agroecologia evoluiu no MST a partir da parceria com a Via Campesina

- O Brasil é um dos países-chave na lógica da "Revolução Verde" desde a ditadura empresarial-militar dos anos sessenta adiante, incluindo o período de "redemocratização". Com as monoculturas de commodities, saem perdendo o meio ambiente e a população com aumento de agrotóxicos, fome do povo e acumulação de riqueza de poucos

- A concepção de agroecologia pode avançar ou pode ser cooptada, ela está em disputa com o grande capital e seus latifúndios

- As escolas de agroecologia são estratégicas para o MST para se contraporem à lógica do "desenvolvimento sustentável" e "Revolução Verde" do modo capitalista. Uma educação para além do capital

- Em relação à educação e escolas de agroecologia, por pressão dos movimentos, no final do governo FHC surgiu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que foi mantido pelos governos do PT, com recursos públicos. As escolas não receberam mais apoio governamental a partir de Temer e Bolsonaro. No governo Lula 3 as escolas vivem situação bastante difícil, devido à frente amplíssima (segundo o autor)

- A agroecologia é um fenômeno marginal e poderia ser ampliado. Porém "Como não poderia deixar de ser, num país de enorme concentração fundiária – que resulta em enorme poder dos proprietários de terras e das corporações transnacionais da 'revolução verde', a agroecologia como parte das lutas dos movimentos sociais não é bem-vinda."

- Existe forte contradição em relação à produção e consumo dos alimentos da agroecologia: as classes médias consomem os produtos, mas votam na extrema-direita e são contra o movimento MST. As massas populares não consomem os produtos por serem mais caros por falta de escala.

- Temos que acabar com o capitalismo antes que o capitalismo acabe conosco. É uma das conclusões importantes do livro.


Leitura feita por:

William Mendes


quinta-feira, 24 de julho de 2025

Instantes (11h59)



Refeição Cultural

"O que é, é - e não pode deixar de ser" (Parmênides)

Por saber que sou apenas mais um neste mundo no qual habito, sei que os efeitos da realidade impactam em mim como nas demais pessoas: meu cérebro plástico vem se adaptando ao mundo no qual impera a velocidade de estímulos para não se pensar em mais nada que realmente importe às pessoas de minha classe social. 

O esforço de ler diariamente nem que seja por meia hora vem da consciência de combater o projeto dos donos do poder de emburrecer e idiotizar a massa humana vivente neste instante neste pálido ponto azul no universo, como disse Carl Sagan.

Ao ler na atualidade, os cérebros humanos têm cada vez mais dificuldade de concentração e foco no texto por causa da forma como vêm sendo utilizados por seus donos, os humanos, num mundo de fragmentos de informação e inutilidades rápidas como estímulo no atual mundo da economia da atenção hegemonizado pelas empresas de plataformas digitais. 

Meia hora de leitura de filosofia ou ciência ou literatura é um exercício cerebral desafiador. A cada parágrafo, seu cérebro viciado em bobagens ou desacostumado a reflexões complexas se pega divagando e você precisa voltar ao parágrafo e ler de novo com mais atenção ainda.

Somos o que somos, ou seja, somos seres da atualidade. 

Justamente por isso, temos que nos esforçar mais ainda para salvar nossos cérebros, nossa inteligência e nossa humanidade. 

Leiam bons textos atentamente, amig@s leitores deste blog. É quase um apelo.

William 

24/07/25

quarta-feira, 23 de julho de 2025

O sentido da vida (3)



A busca de sentidos

A necessidade de encontrar motivos ou sentidos para se viver ou seguir vivendo nas mais diversas condições não é algo que importe ao conjunto dos seres humanos, pensava ele.

Muitas pessoas simplesmente vivem a vida. Acordam, vivem seus cotidianos bons ou ruins, até pensam no futuro, como fazer para se darem bem na vida, ou algo mais altruísta e coletivo, e ponto.

Outras pessoas têm certas necessidades de dar um sentido à vida e ao viver. Olhando para trás, claramente percebia que pertencia a este grupo de gente, que questiona, que tenta compreender a existência das coisas. 

Durante décadas cantou a música I still haven't found what I'm looking for (U2) como se fosse seu hino. Pensava não ter encontrado o que procurava.

Isso mudou um pouco. Nos últimos anos compreendeu muita coisa sobre a vida e a existência das coisas. Suas leituras, reflexões e experiências o fizeram entender por que as coisas são como são. 

Agora, no momento presente, e nas condições atuais, é encontrar sentidos para permanecer no mundo enquanto a natureza permitir.

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Livros comentados no Refeitório Cultural


Nesta lista estão os livros que tiveram comentários feitos pelo autor do blog. O conteúdo estará em permanente atualização. 

A leitura do comentário pode ser feita clicando no link disponibilizado.

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Ano 2008

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (link)

2. O velho e o mar - Ernest Hemingway (link)

3. São Bernardo - Graciliano Ramos (link)


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Ano 2025

1. Fábulas - Monteiro Lobato (link)

2. Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (link)

3. Deuses humanos - H. G. Wells - (link)


Livro: Deuses humanos - H. G. Wells



Refeição Cultural

"Isso é o que fazemos agora habitualmente neste mundo. Pensamos diretamente uns para os outros. Determinamos transmitir o pensamento e é transmitido imediatamente, contanto que a distância não seja grande demais. Agora usamos sons neste mundo apenas para poesia e para o prazer e nos momentos de emoção ou para gritar de longe, ou com animais, não para a transmissão de ideias da mente humana para outra mente irmã. Quando eu penso para você, o pensamento é refletido em sua mente, desde que encontre ideias correspondentes e palavras adequadas em sua mente. Meu pensamento se reveste de palavras em sua mente, palavras que vocês parecem ouvir - e naturalmente em sua própria língua e com suas frases habituais. Muito provavelmente, os membros de seu grupo estão ouvindo o que estou dizendo a você cada um com suas próprias diferenças de vocabulário e sintaxe." (p. 50)


O livro de Herbert George Wells, Deuses humanos, veio até mim de forma casual, o vi numa banquinha de livros num shopping center. Paguei por ele quinze reais.

Pelo que pesquisei, o livro não é daqueles mais conhecidos do autor inglês como Guerra dos mundos, A ilha do Dr. Moreau, O homem invisível, A máquina do tempo e outros. 


LIVRO 1 - A IRRUPÇÃO DOS TERRÁQUEOS 

No enredo, o senhor Barnstaple, um trabalhador do periódico Liberal - um subeditor e um faz-tudo -, reflete sobre a necessidade de férias, ele está esgotado pela rotina no trabalho e também em casa. Quer férias até da família. 

Sendo assim, ele pega o carro e sai escondido por uns dias. Dirige a esmo e numa derrapada se vê em outro mundo. Começa aí sua experiência em "Outro Lugar", um lugar chamado Utopia.

Outro carro com um grupo eclético, incluindo um político do partido Conservador inglês, foi parar naquele mundo também. Personagens: sr. Cecil Burleigh, líder Conservador; sr. Rupert Catskill, secretário de Estado para a Guerra; temos ainda o chofer, Lady Stella, Freddy Mush (secretário de Rupert) e o padre Amerton.

O senhor Barnstaple é um liberal, mas:

"De fato, o sr. Barnstaple estava deixando de ter esperanças, e para tipos como ele, esperança é o solvente essencial sem o qual a vida não pode ser digerida. Sua esperança sempre havia sido o liberalismo e o generoso esforço liberal, mas ele começava a achar que o liberalismo jamais faria nada além de se sentar curvado com as mãos no bolso, resmungando e implicando com as atividades de homens mais vulgares, porém mais enérgicos, cujas atividades iriam, inevitavelmente, acabar com o mundo." (p. 12/13)

O senhor Barnstaple tem um pequeno automóvel:

"Era um carro de dois lugares. Era conhecido na família como Banheirinha, Mostarda Colman e Perigo Amarelo. Como esses nomes sugerem, era um carro baixo, conversível, de uma cor amarela clara. O sr. Barnstaple o usava para ir de Sydenham ao escritório, porque fazia cinquenta quilômetros por galão e era muito mais barato do que uma passagem de temporada." (p. 15)

Uma ideia é destaque na saída furtiva do senhor Barnstaple de casa para descansar uns dias:

"(...) Mas não importava muito. Qualquer caminho levava para Outro Lugar, e ele podia seguir para o norte depois." (p. 18)

Localização temporal

"O dia era um desses dias de sol claro característicos da grande seca de 1921 (...) enquanto estivesse dando as costas para Sydenham e o escritório do Liberal, não importaria para qual direção seguiria." (p. 18)

Outro Lugar

O grupo de terráqueos estabelece uma troca de informações e conhecimentos com os indivíduos daquele mundo e assim segue o enredo do romance ficcional. 

Serviço Universal

A base da organização social em Utopia é um novo método de cooperação econômica: o serviço universal para o bem comum.

O novo modelo social surgiu lentamente após a última Era de Confusão. Não houve revolução. Foram séculos de educação e ciência. 

Personagens utopianos até esta parte da leitura (livro um): sr. Serpentine, sr. Urthred, Lion, Lychnis.

Mais personagens

Mais adiante, aparecem novos personagens: Lorde Barralonga, o chofer Ridley, a srta. Greta Grey, Hunker - o rei do cinema -, o francês Emile Dupont e Penk. O bando chegou atropelando e matando um cidadão de Utopia. 

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LIVRO 2 - A QUARENTENA

A segunda parte do romance começa anunciando uma epidemia na população de Utopia causada pelos germes trazidos pelos estrangeiros terráqueos. 

Os utopianos eram como os povos originários das terras invadidas pelos homens brancos europeus em meados do segundo milênio da chamada era cristã. 

De forma sintética, resumiria que o grupo de terráqueos foi isolado num castelo no alto de uma montanha. Os doze humanos discutem sobre o que fazer, sendo o sr. Barnstaple o único divergente na proposta do grupo.

O subeditor do Liberal não vê sentido na ideia do grupo de se contrapor aos utopianos e fazer de Utopia o que seria a sociedade humana naquele momento em 1921. Os utopianos estavam séculos à frente em avanços sociais, pensava o sr. Barnstaple. 

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LIVRO 3 - UM NOVATO EM UTOPIA

"- Aqui - disse ela - não há descanso. Todos os dias homens e mulheres acordam e dizem: 'Que coisa nova faremos hoje? O que vamos mudar?'.

- Eles transformaram um planeta selvagem, com doenças e desordem, numa esfera de beleza e segurança. Fizeram a selva das motivações humanas conter união, conhecimento e poder." (p. 192)


Nesta parte da história veremos o desfecho da aventura do sr. Barnstaple. 

Para mim, como leitor, foram esclarecidas várias dúvidas em relação ao enredo do romance de H. G. Wells.

Certas afirmações pejorativas feitas pelos utopianos sobre a raça humana me deixaram perplexo, no sentido de que poderiam ser ditas hoje, um século depois do enunciado, e não como ficção, mas como descrição do que somos.

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COMENTÁRIO FINAL 

"Em Utopia, assim como na Terra, houvera pessoas escuras e morenas, e permaneciam distintas. As várias raças interagiam socialmente, mas não procriavam muito entre elas; em vez disso, purificavam e intensificavam suas belezas e dons raciais (...) Houvera uma certa eliminação deliberada de tipos feios, malignos, estreitos, estúpidos e soturnos durante os doze anos anteriores." (p. 197)


Esse enunciado é de um século atrás. Chocante, não? Porém, as ideias contidas no texto fazem parte de um romance ficcional. 

No entanto, ideias semelhantes foram ditas faz poucos anos, já no século XXI, por um deputado federal à época para uma entrevistadora negra. Bolsonaro disse para Preta Gil que seus filhos não tinham risco de namorar negras porque foram bem-educados...

Preta Gil processou o sujeito por racismo e teve ganho de causa. Infelizmente, a cantora faleceu ontem. (Preta Gil, presente!)

O livro de H. G. Wells, de 1923, traz uma temática absurdamente atual um século depois. 

A ficção traz de volta o tema da existência de um não lugar, um lugar nenhum idealizado, assim como fez Thomas More em 1516, com sua célebre obra "Utopia".

Nessas idealizações de mundos imaginários entram de tudo: socialismo ou comunismo, eugenia, tecnologias impossíveis etc.

Quando peguei o livro na banca de promoções de livros baratos não imaginava do que se tratava o enredo. Foi sorte minha, li um livro muito bom!

Recomendo a leitura dessa obra posterior ao período mais notabilizado do autor, entre 1895 e 1905, quando saíram seus grandes clássicos de ficção. Dessa fase eu li "A guerra dos mundos" (1898) e achei o enredo fascinante (comentário aqui). 

Seguimos lendo porque a leitura é uma das maravilhas da espécie animal homo sapiens. Como diz Paulo Freire, só se educa gente! Leitura educa as pessoas.

William Mendes


Bibliografia:

WELLS, H. G. Deuses humanos (Men like Gods). Tradução de Santiago Nazarian e Thelma Nóbrega. Barueri, SP: Amoler, 2022.

domingo, 20 de julho de 2025

O sentido da vida (2)



Talvez o porto

O cidadão passou a noite em claro, foi se deitar lá pelas 7 horas da manhã. Aquele tinha sido um daqueles dias de zelar pela pessoa querida, até que ela dormisse.

Às onze horas se levantou, se trocou, e saiu para andar pelo parque e espairecer as ideias turbulentas. O que fazer, o que não fazer, e entender mais uma vez que a vida é como ela é. 

Ainda no parque, falou com sua mãe, que também estava zelando por alguém. Cuidar talvez seja um sentido de nossa espécie animal. 

Mesmo com o pouco dormir e o pouco ânimo, o cidadão pegou sua garrafinha de água, buscou a disciplina forjada nas lutas, e se dirigiu à academia do seu condomínio. Só é possível zelar pelos outros se cuidar de si mesmo para estar vivo.

Vai saber se o sentido de tudo não seja ser o porto dos náufragos dos mares do mundo.

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sábado, 19 de julho de 2025

O sentido da vida (1)



Uma vida humana

O homem acordou naquele dia, olhou um pouco para o teto, até firmar a consciência sonolenta, e se levantou. Começava mais um dia em sua vida.

Entre o quarto e a sala, olhou para a bagunça ao redor, pensando no que arrumar ou limpar naquela manhã: dois dias antes havia estabelecido o propósito de fazer alguma coisa todo dia, nem que fosse por meia hora.

Tomou um copo d'água e olhou a cozinha. Pensou se mexia ali ou na sala. Foi ao banheiro com o kindle na mão. Leu alguns parágrafos do livro "O trato dos viventes", do Alencastro. 

A Corte portuguesa através de alvarás em 1554 e 1559 lançava incentivos fiscais para se desenvolver engenhos na Terra de Santa Cruz cobrando dos "empreendedores" um terço das taxas na aquisição de 120 africanos por engenho criado. Capturar pessoas e vendê-las era uma atividade de "empresários" e de Estado.

O homem pegou frutas, leite, um pão de dois dias, fez uma vitamina, passou o pão no fogo, tomou seu café naquele sábado, lavou a louça e foi limpar o pó acumulado na estante da sala.

Para o dia, havia ainda o desejo de terminar a leitura de um livro de ficção e ler textos de um blog de uma professora poeta.

O passado descrito por Alencastro pode ser o futuro no tempo daquele homem vivendo mais um dia no lindo planeta azul.

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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Lula defende a soberania nacional



Apresentação e comentário do blog:

Estava sentado em nossa sala quando ouvi o barulho de panela: alguém dos prédios ao redor estava batendo panela enquanto o presidente Lula fazia o pronunciamento em defesa do Brasil e do povo brasileiro. 

Fazia muito tempo que eu não perdia o controle deixando meus impulsos assumirem a situação. Abri a janela e gritei com toda a potência de minha voz que enfiassem a panela no cu. Após alguns segundos, gritei de novo, chamando o batedor de panela de bolsonarista de merda e vira-latas.

Não me senti bem por ter feito isso. Bater panela é uma manifestação legítima, é da democracia. Não é mais o meu papel nem o exemplo a dar. Foi um instinto incontrolável de alguém cansado de tanta merda ao nosso redor. Como pode um brasileiro ser tão cachorro assim e ficar do lado daquele lixo dos EUA e desses sofistas manipuladores do clã Bolsonaro!

Enfim, tenho que olhar mais atentamente para mim mesmo. Nem minha saúde é mais a mesma após duas décadas de militância. Estou fora da política. O partido e o movimento sindical têm suas lideranças atuais e nem existo mais para eles. 

Foi a indignação que gritou pelo cidadão que dedicou a vida às causas da classe trabalhadora e que sofre diariamente ao ver a destruição de nosso mundo. 

É claro que aquela nação decadente está atacando os avanços dos países do Sul global, o fortalecimento dos BRICS, o enfraquecimento do dólar, as novas formas de pagamento sem precisar das empresas deles (como o Pix brasileiro) e a clara percepção de que o capitalismo só aprofunda a miséria do povo no mundo e ferra com o planeta Terra na questão ambiental.

O pronunciamento do presidente Lula foi excelente! Firme nos recados e buscando unir o povo brasileiro contra o ataque indevido da potência imperialista em questões internas do Brasil.

William Mendes 

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Leia a íntegra do pronunciamento de Lula:

Minhas amigas e meus amigos,

Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto.

O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.

Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional.

Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.

Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo.

Minhas amigas e meus amigos, a defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.

No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.

Minhas amigas e meus amigos,

Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores.

Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer.

Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo.

Minhas amigas e meus amigos,

A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares.

O Brasil hoje é referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030.

Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo.

Minhas amigas e meus amigos,

Quando tomamos posse na Presidência da República, em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.

Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.

Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender a nossa economia. Desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.

Minhas amigas e meus amigos,

Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações.

Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro.

Muito obrigado.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Instantes (12h49)



Refeição Cultural

No romance, estou numa parte na qual parece ser o fim para o senhor Barnstaple, ele está numa reentrância na rocha em um penhasco. Abaixo, o desfiladeiro, acima, rochas por onde escorregou até ali, fugindo de seus pares terráqueos. Ele avalia que as opções nessa situação são duas: esperar a morte por inanição ou se jogar para a morte.

Estou com as palavras do professor Domenico de Masi circulando pelas sinapses de meu cérebro criador de tudo. Vi uma aula dele sobre o tema "O ócio criativo" (no ICL). Ele explica sobre o trabalho, seu objeto de análise e estudos por décadas. 

Nas minhas reflexões, me lembrei do sofrimento que o trabalho significou em minha vida. Vejo a trabalhadora limpando a piscina, trabalhando, e me lembro do meu primeiro dia como ajudante de encanador antes dos dezesseis anos... depois me lembro daquelas latas de palmito podres que tinha que abrir pra jogar fora... Temos que trabalhar para sobreviver.

De Masi nos conta que por milênios, o trabalho não tinha essa interpretação recente de "dignificar" o homem (mulher nem era considerada em relação aos direitos nos mundos dos homens). Trabalhar era castigo divino, era para escravizados. Dignificar os homens era através da filosofia, da arte, do belo, dos esportes e da gestão da Pólis

Esse papo de trabalhar dignifica o homem veio dos últimos dois séculos, da era industrial. Locke, Smith e Marx mudaram o olhar sobre o trabalho. Segundo De Masi, desde sempre (milhares de anos de homo sapiens), nosso objetivo foi trabalhar pouco ou não trabalhar. 

Isso me parece ter todo o sentido!

Agora temos máquinas e tecnologias para livrar a espécie humana da maior parte do trabalho ruim, insalubre, de risco e humilhante. E também de trabalhos mais considerados pelas sociedades. Poderíamos viver para o belo, para estudar e criar, para a cultura. Mas 99% estão no "corre" por um trabalho qualquer, até por um prato de comida, e 1% acumula tudo.

Pior: isso é normalizado!

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Confesso que estou tão cansado quanto meu corpo, que cansou de sobreviver dez anos a mil.

Por consciência, busco sentidos. Mas confesso que está difícil encontrar sentidos. 

Me despeço amanhã do paraíso, da singela colônia de férias dos professores na Praia Grande. 

Voltarei para o caos.

Will i am 

15/07/25

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Instantes (11h05)



Refeição Cultural

"Não me entrego sem lutar

Tenho ainda coração 

Não aprendi a me render

Que caia o inimigo então..."

(Metal contra as nuvens, Legião Urbana)


Tinha o hábito de correr quilômetros na praia nos dias de férias passados na Praia Grande. Já no tempo das dores, cheguei a fazer uma corrida de 10K. Esporte é vida.

Ontem, domingo, o movimento na praia estava como gosto: o povão da classe trabalhadora se divertia do jeito que dá, como canta e conta os Racionais MC's.

Minha formação mental baseada nas utopias da esquerda faz com que meus pensamentos observem o que vejo e façam conexões com possibilidades de acontecimentos futuros: tendências e perspectivas.

Enquanto andava pela praia, vendo o povo e as construções na orla, pensei muitas coisas. Cito uma reflexão: pensei com tristeza no povo e na orla da praia na Faixa de Gaza, na Palestina. Quem garante que nós não seremos eles amanhã? Não há garantias. 

Num mundo cuja lei é a força das bombas e dos "embargos econômicos" e não mais da diplomacia, podemos ser os palestinos amanhã. 

Faz tempo que avalio que o império criminoso do Norte iria fazer com o Brasil e seu povo o que faz com Cuba, Venezuela, Irã, o povo palestino e outros alvos. Me parece que chegou a hora de experimentarmos do veneno aplicado a Cuba. 

Não estamos preparados, não tivemos uma educação cubana, martiana, a esquerda aqui ainda quer "conciliar" com os hitlers da atualidade...

É a minha impressão a partir do que observo ao meu redor em meu mundo. Torço para estar errado.

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Então, ontem, após quilômetros andando pela areia, pensei na música do Legião Urbana, me lembrei do metal que me forjou, e corri 2K na areia da praia, beirando o mar e sentindo o cheiro da maresia.

Danem-se as dores. Não me entrego sem lutar. Tenho ainda coração. Não aprendi a me render. Que caia o inimigo então. 

William 

14/07/25

domingo, 13 de julho de 2025

Instantes (11h11)



Refeição Cultural

Sempre que penso em parar de escrever, depois de alguns dias volto atrás e venho aqui burilar alguma coisa do que vai em minh'alma. 

A memória é um suporte orgânico de registros de experiências e pensamentos: conhecimentos e culturas. 

Todo organismo morre porque é parte da natureza. Tudo se transforma, muda o tempo todo. Somos parte dos ciclos do Carbono e do Nitrogênio. É o que somos, natureza.

A memória é uma ferramenta essencial dos seres vivos. Nos humanos a memória é seletiva. O animal humano é um contador de histórias, somos todos forrest gumps.

Meus textos têm uma importância para ao menos um leitor: eu mesmo, aquele que fui no momento do registro. 

Já tive a vaidade de todos nós de achar que nossas coisas têm serventia no mundo. Não têm. 

Escrevo hoje e se estiver por aqui amanhã, poderei ver o que escrevi naquele instante, se ainda me lembrar quem sou no amanhã. 

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Incomunicabilidade

Lendo sobre neurociência e tecnologia atual - leio Miguel Nicolelis - compartilho a percepção dele de que o mundo digital pode mudar a espécie humana de forma permanente, uma outra espécie talvez surja, uma espécie de homo digital, que não necessariamente será inteligente como a homo sapiens

Faz tempo que venho lendo e observando o mundo e os humanos ao meu redor... degeneração da espécie não é uma expressão exagerada para denominar o que eu vejo ao meu redor.

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Neste instante, ouvindo música na piscina da colônia de férias dos professores num domingo frio, me sinto verdadeiramente de férias, até de minha casa. Férias de tudo. São só uns dias. O caos está ao redor. O autoritarismo fascista está ao redor... Não estamos preparados. 

No livro de H. G. Wells "Deuses humanos", de 1923, o personagem sr. Barnstaple quer férias e vai parar em Utopia. Até onde li, ele, um liberal, está achando o máximo aquele mundo "perfeito", sem doenças, sem insetos, sem governantes, sem as complexidades do mundo dos humanos. Uma porra de mundo fascista. Todas as facilidades pensadas na sociedade utopiana têm uma coisa meio fascista, a ideia vendida de um mundo perfeito. Do tipo: não quer insetos e sujeira, cimenta o chão que tinha uma floresta e pronto.

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Com o advento das plataformas digitais, algoritmos, IAs, a captura da mente humana por alguns humanos (corporações), a economia da atenção baseada no ódio, seremos bilhões de humanos sem conseguir consenso algum. A tribalização da espécie está acelerada.

Não conseguimos ser ouvidos sequer por nossos pais, filhos, amigos, membros de grupos afins. Discordância é algo impossível. Guerra de todos contra todos. É o que vem por aí. 

Vejam a guerra entre ICL e Brasil247. É só um exemplo.

Eu percebi faz tempo isso na nossa espécie. Discordar ou opinar é a morte em vida, o cancelamento. 

No meu caso: não diga nada sobre a Cassi, o BB, o PT, a CUT, o sindicalismo, a Articulação Sindical... não diga nada que não seja amém aos que estão ao meu redor. Amém!

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Férias de tudo neste momento sozinho no solzinho frio da piscina da colônia de férias dos professores. Férias só estes dias. 

Depois, o caos na minha vida e no meu mundo.

Instantes. 

Este é único. Nunca mais!

William

13/07/25

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Livro: Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis



Refeição Cultural

"(...) Contra todas as predições feitas pelos evangelistas fanáticos da inteligência artificial, que não seria de fato capaz de reproduzir como o cérebro humano funciona e, mesmo a longo prazo, não poderia nos substituir como sistemas digitais, o uso de IA causou danos tremendos e devastadores para o nosso modo natural de vida, obliterando as características puramente analógicas do nosso cérebro, como a inteligência, criatividade, intuição e o pensamento inovador fora da caixa. Neste processo, a imersão digital em tempo integral transformou quase a humanidade numa massa amorfa e semiconsciente, sem nenhuma perspectiva futura de se livrar dos grilhões desta escravidão digital." (p. 469)


Ao finalizar a leitura de mais um grande livro, a primeira reflexão que me vem à mente é aquela sobre a caminhada ser mais importante que a chegada. 

Quando comecei a ler a ficção do neurocientista escritor Miguel Nicolelis já sabia que a leitura seria demorada (ler aqui). 

Por acompanhar as entrevistas e postagens do professor, tinha noção do que seria tema no enredo do romance: as questões de IA e big techs etc. Então, curti a jornada sem a pressa da chegada.

Ao longo das 500 páginas do romance, fiquei reflexivo inúmeras vezes ao me deparar com o cenário daquele mundo de 2036. São muito provocativas as situações apresentadas na sociedade dos humanos autointitulados "homens sábios".

Desemprego global na casa dos 80%, por exemplo. A ideia não é de todo absurda de se imaginar num mundo onde as máquinas fazem tudo em benefício de aumentar a acumulação de riqueza na mão de pouquíssimos humanos. 

Não cito outros cenários da ficção para não dar spoiler de nada. Sugiro a leitura deste e de outros livros de Nicolelis. A obra científica "O verdadeiro criador de tudo", de 2020 (ler comentário aqui), impactou minha visão de mundo para sempre. 

Ao longo da leitura, fiz quinze postagens pequenas com comentários sobre algo que me instigou uma reflexão. No link da primeira postagem (aqui), pode-se ler as seguintes.

O final do romance é bem ficção científica mesmo (risos). Interessante!

Nada mais será como antes...

William


Bibliografia:

NICOLELIS, Miguel. Nada mais será como antes. São Paulo: Planeta do Brasil, 2024.


domingo, 6 de julho de 2025

Instantes (17h27)



Refeição Cultural

Hoje exerci parcialmente meu direito de votar no Partido dos Trabalhadores. Porém, a burocracia partidária tirou das eleições meus candidatos: Heber, Gabi e Matheus, do Coletivo JuntOz. Democracia incompleta quando impedem as pessoas de votarem e serem votadas.

Soube que fizeram isso também com a companheira Dandara, deputada federal de Uberlândia, cidade onde cresci. Todos perdem com isso, o partido e a democracia. 

Terminei a leitura do livro do neurocientista e professor Miguel Nicolelis - Nada mais será como antes (2024). Ficção científica com base nas tendências distópicas e disruptivas da realidade atual. O ser humano e a sociedade humana como existem hoje podem estar com os dias contados.

O tempo e a natureza seguem seu ritmo tic-tac, tic-tac, tic-tac. A morte de nós todos seres vivos está à espreita. Num instante estamos aqui vivos, no outro, não mais. 


Estou sentado vendo o pôr do sol numa tarde fria em Osasco. Acabei de fazer uma hora de musculação. Meu corpo cansou da jornada de dez anos a mil. Cansou. Minha razão está firme por consciência. Enquanto puder, farei minha parte para viver. Ainda tenho responsabilidades com pessoas queridas. 


Seguimos estudando, registrando, sendo útil de alguma forma e buscando aproveitar as oportunidades de estar vivo.

William 

06/07/25


Post Scriptum: hoje votei também no plebiscito popular dos movimentos sociais pelo fim da escala 6x1 e por isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais. 

sábado, 5 de julho de 2025

Livro: Fábulas (1922) - Monteiro Lobato



Refeição Cultural

"- Na minha opinião, as fábulas mostram só duas coisas: primeiro que o mundo é dos fortes; e segundo que o único meio de derrotar a força é a astúcia..." (Fala do Visconde de Sabugosa, p.173)


O livro "Fábulas" de Monteiro Lobato foi publicado em 1922. Foi o segundo da coleção Sítio do Picapau Amarelo, saiu após "O Saci" (1921).

Estou lendo a obra um século depois. Eu concordo com a avaliação acima do personagem Visconde de Sabugosa. Só a astúcia para derrotar a força. 

Em que mundo vivia o autor um século atrás? Em que mundo vivemos hoje? Num mundo no qual a força se impõe contra a diplomacia e os consensos; em mundos que não querem mais conciliar.

A Alemanha e a Itália das primeiras décadas do século passado, o Japão lá no Extremo Oriente, se impuseram pela força (seriam o Eixo na 2a GM). Os Estados Unidos de Trump e o "Estado" de Israel de Netanyahu estão se impondo pela força. O império da força sem limites diplomáticos... esses são os tempos. 

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O LOBO E O CORDEIRO

Outra fábula recontada por Monteiro Lobato um século atrás é mais atual que todas as outras: a do lobo e o cordeiro.

"Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto.

- Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? disse o monstro arreganhando os dentes - Espere, que vou castigar tamanha má-criação!...

O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:

- Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?

Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta...

(...)

O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:

- Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!

E - nhoc - sangrou-o no pescoço. 

     Contra a força não há argumentos." (p. 118/119)

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COMENTÁRIO FINAL 

O livro contém 74 fábulas, algumas ótimas, muitas interessantes, e outras ruins e sem sentido.

Algumas fábulas são atemporais, vêm de séculos e séculos atrás. E suas lições permanecem sábias até hoje.

Foi o 4° livro que li de Monteiro Lobato nas últimas semanas. 

Fico com o ensinamento de Italo Calvino: é melhor ler que não ler os clássicos!

Sigo lendo e aprendendo.

William 


Bibliografia:

LOBATO, Monteiro. Fábulas. Ilustrado por Jótah. São Paulo: Lafonte, 2019.


quinta-feira, 3 de julho de 2025

Instantes (15h53)



Refeição Cultural


"E é difícil amar

Há tanto para odiar

Apoiando-se numa esperança

Quando não há esperança para se falar a respeito

E os céus feridos entre nós

Dizem: Já é muito, muito tarde

Bem, talvez todos nós devêssemos estar rezando por tempo..." 

(Praying for Time, George Michael, letras.mus.br)


Com tanto para odiar, é difícil amar... George Michael descreveu nesta música de 1990 o tempo presente!

Somos prisioneiros do ódio, como nos explicou Riobaldo Tatarana, personagem do livro "Grande Sertão: Veredas" (1956), de Guimarães Rosa. 

Como nos libertarmos do ódio e restabelecermos o amor? Se trata de salvar o mundo e todas as formas de vida.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac... o tempo corre contra nós que estamos perdendo tempo com coisas supérfluas. Depois não adiantará rezar por mais tempo.

William

03/07/25