quinta-feira, 31 de julho de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de julho de 2025. Quinta-feira.


JULHO

Mais um mês do viver. Mais um registro dos acontecimentos e impressões pessoais daquele que vive e observa. E os registros acabam sendo importantes para o próprio escritor do blog. Com o avançar da existência, vai se percebendo os efeitos da natureza e do percurso percorrido. A memória agradece os registros feitos: são auxílios para o amanhã. Todos os dias recebo sinais do cansaço de meu corpo. Minha consciência enfrenta isso com atitude.

Neste mês li alguns livros e terminei leituras iniciadas antes. Vi filmes interessantes. Estou vendo anime novo com meu filho. Fomos para a colônia dos professores na Praia Grande. Me arrisquei a dar uns trotinhos curtos de 1 a 3 Km; fiz musculação. Estudei coisas novas. Me esforcei para trabalhar nos textos e cadernos dos blogs. Tentei ser uma pessoa decente e fazer algo que contribuísse para a coletividade, mesmo sendo pouca coisa. Fui em algumas convocações de eventos políticos. Finalizei de vez o livro de memórias.

Refleti. Filosofei. Quanto mais observo a minha realidade, o meu espaço de vivência, o mundo ao meu redor, mais consciência tenho sobre as coisas, sobre os motivos das coisas serem como são. 

Os sábios dizem que as pessoas têm que saber identificar as coisas que podem ser mudadas das coisas que não podem ser mudadas, e que temos que ter atitudes adequadas para cada uma delas. Por mais que eu sofra com algumas coisas, eu não tenho como ajudar pessoas que não queiram ajuda. Por mais que eu sofra com algumas situações colocadas, o contexto ao qual estou inserido não me permite alterá-las, por uma questão de medir os impactos que mudanças não combinadas podem trazer.

Viver é uma oportunidade. Só passei a compreender isso depois da metade de minha existência até aqui. Tive oportunidades que abracei e mudaram minha vida por mudar minha forma de ver a vida. E a vida de qualquer ser vivo é um instante. Só existe para mim esse instante. Tenho consciência disso. Cada pessoa tem sua leitura do mundo e da vida. Compreendo muita coisa hoje. Tenho escrito sobre sentidos da vida, e sei que a vida não tem sentido, o sentido é uma construção de cada ser vivente. Minha vida teve sentidos vários conforme o período vivido.

Tenho consciência de que o passado é passado. Tenho que viver o instante que estou vivo. E buscar sentidos para este instante, este. É uma busca foda, por mais que eu seja um homem de sorte e um privilegiado se pensar a minha classe e a minha origem. Não tenho fome, tenho um teto, tenho saúde, tenho acesso aos direitos básicos dos seres humanos que porcentagem grande da humanidade não tem. Às vezes, sinto vergonha por isso.

Enfim, feito o registro para provável consulta minha no amanhã sobre o sujeito que era neste dia do mundo.

Will i am (ainda tenho desejos)

22h07, 12º de frio

Instantes (11h59)



Refeição Cultural

"Proclama Empédocles: 'Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais; não há fim pela morte funesta; há somente mistura e dissociação dos componentes da mistura. Nascimento é apenas um nome dado a esse fato pelos homens'." (Pré-Socráticos - Vida e Obra. Ed. Nova Cultural, 1999. Pág. 27)


Mistura e dissociação... é o que todos nós somos, mistura e dissociação, como disse Empédocles. 

No subitem sobre Empédocles, li também sobre amor e ódio. 

Amor e ódio... talvez os animais humanos se movam pela Terra, pela natureza, e como natureza, por causa desses dois sentimentos: amor e ódio. 

Este animal que registra palavras nas nuvens virtuais e passageiras da globosfera adquiriu com a experiência de sobreviver dezenas de outonos uma compreensão melhor sobre a vida, essa mistura e dissociação de elementos da natureza.

Compreender um pouco melhor porque as coisas são como são não é aceitar as coisas como são. Hobsbawm alertou sobre isso ao tentar compreender o nazismo (Era dos Extremos).

Um homem dar 61 socos no rosto de uma mulher; os sionistas matarem de fome milhares de palestinos; ainda encontrar uma pessoa bolsonarista... 

Minha caminhada pela Terra nesses outonos todos me faz compreender melhor hoje por que essas coisas acontecem... 

Esses eventos que citei não são naturais, apesar de serem naturalizados pelos meios do mundo incivilizado do animal humano. Não são naturais.

Se não são naturais, podem ou poderiam ser alterados pelos animais humanos. Educação e cultura adequadas podem mudar os animais humanos. 

Não vejo essa possibilidade acontecer neste momento da história humana. 

Mas que é possível mudar a realidade, isso é. 

Will i am

31/07/25

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O sentido da vida (4)



Ser ainda o complemento de outros

Deitado no sofá, tentando cochilar alguns minutos, ficou sentindo o bater compassado de seu coração através de seu ouvido direito encostado na almofada. Tum... tum... tum... o motor da vida.

Se a vida cessasse naquele instante, uma possibilidade absolutamente real e natural, o mundo mudaria no instante seguinte para as pessoas de sua relação cotidiana. Essas mudanças ocorrem o tempo todo há milhões de anos na vida dos seres vivos.

Ao se perceber que aquela vida já não existia mais, a vida de duas, três, cinco pessoas, ao menos, teria necessariamente que ser reinventada. Algumas ausências afetam uma quantidade enorme de vidas. Outras, talvez não sejam sequer percebidas. Ou ainda, afetam de forma intensa algumas vidas.

Talvez o sentido da vida - para um ser vivo e os outros de sua relação - seja essa condição de complementaridade que sua existência gera, a interdependência com outros seres.

Ele tinha essa consciência e por isso queria viver. Só essa condição já justifica o esforço do viver. Amor, talvez...

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domingo, 27 de julho de 2025

Diário e reflexões


Breno Altman: aula sobre o sionismo.

Refeição Cultural

Domingo, 27 de julho de 2025.


PELO FIM DO GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO

Hoje, participei de um ato emocionante em defesa da causa palestina na Avenida Paulista, uma manifestação de solidariedade aos palestinos e de denúncia do genocídio de um povo massacrado pelo Estado de Israel, controlado pelos sionistas e apoiado pelo imperialismo norte-americano. Tivemos uma aula espetacular do jornalista Breno Altman, que descreveu a história da região desde o século XIX. 

Muitas lições tiramos dos ensinamentos de Altman, uma delas é de questão moral. O que está acontecendo neste momento no mundo nos dá a chance de conhecer qualquer pessoa em relação à sua índole e caráter. Basta perguntar a ela qual sua posição em relação ao genocídio do povo palestino pelos sionistas de Israel. Qualquer pessoa que esteja a favor disso, também estaria do lado da minoria branca no regime do Apartheid na África do Sul e do lado dos nazistas do 3º Reich entre 1933 e 1945. Estaria a favor de supremacistas.

Com o companheiro Kenzo em apoio aos palestinos.

Eu concordo com os participantes da manifestação que pedem que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas e comerciais com Israel. O Brasil seria o exemplo para dezenas de países neste momento de genocídio de milhares de crianças, mulheres, idosos e civis através de bombardeios e pela fome.

Até quando o mundo vai assistir a isso sem fazer nada para interromper o genocídio do povo palestino?

William Mendes

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Leitura: Como evitar o fim do mundo? - Paulo Alves de Lima Filho



Refeição Cultural

Artigo: Como evitar o fim do mundo? de P. A. Lima Filho. Revista Fim do Mundo, Marília, São Paulo. Revista nº 13, jan/jun de 2025.

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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Ideia central do artigo: sendo o capitalismo e os capitalistas o que são, é necessário pensar formas de educação, produção e consumo para que as novas gerações interfiram (em) e alterem a tendência acelerada de fim do mundo numa luta emancipatória sem quartéis.

Palavras-chave do artigo: Colapso climático, emancipação humana, Transição civilizatória.


Introdução ao tema do fim do mundo

O texto começa destacando que os Estados Unidos e suas empresas estão numa empreitada decisiva, ainda a revolução tecnológica, que é ao mesmo tempo uma contrarrevolução, para conter os BRICS e seu significado emancipatório do imperialismo estadunidense.

Segundo o autor, vivemos uma crise inescapável do capital e sua ordem mundial.

Lima Filho tomou emprestado a Krenak o conceito das ideias para adiar o fim do mundo. Temos que fazer algo agora, já, para interromper e reverter as consequências do que está ocorrendo.


Cumpre elaborarmos ideias para impedir o fim do mundo

Reconhecer a ideia de destruição do mundo já é um bom começo e a partir daí temos que forjar armas que nos permitam lutar contra a consumação do fato.


O que fazer antes do fim do mundo e como evitá-lo

O autor nos lembra de processos históricos nos quais diversas civilizações foram dizimadas - o fim de seus mundos -, com invasões de outros povos como os colonizadores europeus destruindo mundos no continente africano e nas américas.


Como chegamos até aqui, no Brasil?

De retrocessos em retrocessos por parte dos donos do poder: após um período de relativos avanços industriais e sociais - entre os anos 1930 e 1960, vem em seguida um retrocesso, como no golpe empresarial-militar de 1964, e depois de alguns anos de democracia conservadora após 1988, outro golpe em 2016...

O que vemos no momento, em pleno ano 2025, é um Brasil "avançando" (ou seja, retrocedendo) ao período pré-1930, um país exportador de commodities para o mundo industrializado.


Estamos dentro do fim do mundo

O autor nos aponta que o mundo todo está na mesma situação, por causa das conexões e dependências globais.

"Hoje, todos os rincões do planeta, todo o tempo cotidiano em todos os países do globo estão sob o império das forças do fim do mundo. Somos todos navegantes das moderníssimas caravelas do fim do mundo. Estamos sendo levados sem que tenhamos forças para contrarresta-lo. Estamos transitando docilmente à auto extinção. Navegamos impertérritos ao cadafalso coletivo, ao final dos tempos. Fatalisticamente."


A situação da ideologia social

"O processo das catástrofes, agora transitado em colapso, é uma bomba social em ação ininterrupta. Objetivamente estão dadas as condições sociais para uma revolução social, mas se apossou da humanidade uma letargia fatal."

Ao ler a descrição feita por Lima Filho me lembrei dos textos do professor e neurocientista Miguel Nicolelis a respeito de uma provável espécie humana substituta da homo sapiens - uma espécie de homo digital - mais acomodada e menos criativa para enfrentar as questões colocadas a seu tempo.


O sentido histórico da cisma política estadunidense

O novo governante Trump rompe com todo o arcabouço político e comercial construído após a 2a Guerra. Quer ser o novo imperador do mundo, deixando de lado o disfarce chamado "democracia".

"Desse modo a crise política mundial do capital se manifesta em três processos concomitantes e contraditórios. O declínio dos EUA, polo dominante, de longe ainda bélica e economicamente o mais poderoso, a reorganização da Europa em moldes continuístas da velha ordem negada agora pelos Estados Unidos e a emersão do novíssimo bloco de forças capitalistas sob a liderança da China, o BRICS+. Três processos concomitantes em sentidos contraditórios."

Os blocos que se organizam no momento serão os atores da disputa hegemônica global.

"O colapso climático, na realidade, é o colapso da relação, da reprodução capitalista mundial de uma forma histórica de produzir (mercadorias, é claro), de uma determinada civilização capitalista. Não é somente um ecocídio, mas um civilizacionicídio. Trata-se do colapso da civilização do capital."

É interessante a lembrança do autor de que mesmo o BRICS+ é da mesma ordem dos outros, é capitalista. Não há diferença na questão central sobre a destruição do mundo pela produção e comercialização de mercadorias.


a. A desfuturização

"À desfuturização se agrega a demanda por uma volta ao passado de pleno poder imperialista mundial que nada mais é do que uma real declaração de guerra a um presente pleno de contradições insolúveis."


b. As razões do capital e o colapso climático: a conflagração da reprodução social mundial

O capital vem desde o início destruindo as fontes de vida na terra - água, ar, terras, recursos naturais -, até que chegamos ao atual capital financeiro.

"Até aqui à voragem natural da relação capital associou-se o taylorismo, o consumismo e o complexo industrial militar como instrumento vital para a reprodução do capital a mais estável possível sob o capitalismo. Por fim, a revolução microeletrônica, no século XX, irá possibilitar o surgimento do quarto órgão na máquina, o órgão de controle, que então completará a primeira fase da revolução industrial ao suprir suas limitações técnicas e fazendo, assim, surgir um novo capital industrial absorvido pelo capital financeiro."

O autor comenta que as minorias donas do poder capitalista sabem da proximidade do fim do mundo, por isso sonham com Marte e a Lua. Os pequenos burgueses e a massa assalariada ainda não se aperceberam da seriedade da situação e seguem vivendo seus cotidianos como se estivesse tudo bem.


c. Etapas da era do colapso

Além das etapas mais previsíveis como as dos eventos climáticos e eventos naturais, existem ainda os eventos imponderáveis como, por exemplo, um evento nuclear e até a chegada ao poder de um líder psicopata... (então f...)


d. A era do colapso e o capital

Interessante a explicação do autor sobre a incontrolabilidade do capital na questão da produção de mercadorias para acúmulo de riqueza (mais valia). Seria necessário o fim desse modo de produção. Teríamos que produzir as coisas somente com valor de uso e de acordo com a necessidade humana.

Outra questão seria o foco na produção agroecológica, mudando drasticamente o uso de água e energia, centrais na produção do agronegócio.


e. A questão da revolução social

"Na realidade todas as revoluções proletárias após 1848 são revoluções comunistas, muito embora prematuras, como as definiu Engels em 1853. Ao ocorrerem, como tem sido a experiência histórica dos séculos XX e XXI, em países capitalistas subordinados e subalternizados da ordem mundial capitalista, colocam diante dos trabalhadores tarefas duplamente ingentes: a de criar simultaneamente os fundamentos econômicos na nova ordem social e o salto qualitativo da emancipação dos trabalhadores, isto é, da emancipação econômica dos trabalhadores e seu controle autônomo da nova reprodução social, controle sobre os processos econômicos e sociais e científicos e controle do próprio estado revolucionário e seu partido. Nessas revoluções socialistas, na realidade, o que se emancipa é o estado, ao passo que a emancipação dos trabalhadores é inevitavelmente bloqueada. Todas elas inexoravelmente transitam ao capitalismo. Todas as sublevações sociais e proletárias na história das revoluções socialistas serão exatamente a expressão dessa necessidade de controle da reprodução social por parte dos trabalhadores."

Explicação interessante do autor sobre as revoluções sociais de trabalhadores enfrentarem dificuldades ingentes e tenderem a reforçar uma lógica capitalista após os processos. O sublinhado é meu.


f. A transição comunista na era do colapso universal da reprodução social capitalista

"De imediato já no atual estágio do colapso climático e social em geral já se faz imperioso conceber uma nova civilização mundial sem mercadorias centrada na produção das necessidades vitais propriamente humanas, negadora das necessidades do lucro sob o consumismo. Isso significa conceber os circuitos sociais sobre o imperativo do uso mínimo de energia, água e matérias-primas com o mínimo de trajetos de uso e consumo dos produtos do trabalho, assim como da tecnologia em prol da sua máxima eficiência humana."

Pelo que entendi, a tarefa central de todos nós é superarmos a forma de produção "mercadoria". Só teremos chances de evitar o fim do mundo se a sociedade humana produzir coisas necessárias por seu valor de uso. Pela lógica do consumismo será o nosso fim.


g. A questão da barbárie na conflagração universal da reprodução social capitalista

"A urgência da nova situação histórica, creio, exige enfrentamento aberto do colapso social mundial em processo. Daí o título deste trabalho. A transformação da sociedade das mercadorias por uma sociedade dos produtores associados de produtos necessários, em decisiva medida nesta era de colapso social, coloca-se como objetivo primordial das lutas emancipatórias."*

A ideia acima é uma síntese da questão colocada a todos nós que queremos impedir o fim do mundo. Temos que enfrentar e derrotar a lógica capitalista. Eu falo isso faz tempo, por ver que o movimento sindical e político do qual vim não tem mais esse foco.

*A nota nesse parágrafo é central. Não adianta virem com esse papo de fontes alternativas de energia com o foco em rentabilidade etc. Nenhuma fonte é párea para os combustíveis fósseis. Só mudamos se mudarmos o foco da sociedade humana. Capitalismo e lucro, não dá!

Um excerto da nota:

"(...) Portanto, sair dos combustíveis fósseis não pode ser entendido como uma ―oportunidade‖ para os negócios como sonham tantos economistas. Ela não é uma operação rentável e, portanto, ―racional‖ do ponto de vista do Homo oeconomicus. É uma decisão tomada contra os valores e a lógica de uma economia mortífera. Essa decisão comporta sacrifícios consideráveis em termos dos padrões e das expectativas de consumo dos 10% ou 20% mais ricos da humanidade que detêm mais de 90% dos ativos globais. Trata-se, portanto, de uma ruptura que enfrentará a oposição renhida dessa minoria, que ainda se crê imune ao caos que se avizinha."


Conclusões

Algumas questões colocadas pelo autor:

"(...) colapso climático. Eis a grande novidade da situação contemporânea. Não é a guerra atômica que nos mobilizará contra o extermínio de todos os humanos, pois ela está sob o controle dos estados e seus líderes, o mesmo não ocorrendo devido à poluição dos rios e ressecamento dos aquíferos a prometer a fome e a desertificação de vastas áreas do país, processos sob controle dos estados, mas, sim, o que pode nos mobilizar a todos, à maioria da humanidade, é a simultaneidade, incontrolabilidade e destrutividade das catástrofes climáticas em processo mais além do controle humano. Será ela ou somente ela capaz de impor a urgência universal, inadiável, inquestionável, mais forte que as ideologias da sociedade de classes. O colapso climático apreende-se pelos sentidos."

Lima Filho faz crítica firme à "esquerda da ordem" citando o exemplo do plebiscito atual, dizendo que isso não altera em nada a emergência da situação.

No lugar dos temas do plebiscito - a jornada 6x1, a isenção do imposto até 5 mil e imposto para os mais ricos -, seria o caso de mobilizar o povo para:

"Poderíamos, isso sim, aproveitar o empenho desesperado da esquerda da ordem e fazermos concomitantemente um plebiscito anticapital e anticapitalista. Creio que seria uma boa ideia."

Minha opinião - Em tese, concordo com todas as proposições do autor nas suas conclusões (p. 48 e seguintes). São possíveis dentro daquilo que acredito sermos capazes por sermos humanos.

Vejamos abaixo mais um trecho das conclusões, concordo plenamente com a afirmação do autor. Escrevo e penso isso faz bastante tempo.

"Como combater a barbárie? Torna-se novamente visível, tal como fora em meados do século XX, ser o colapso da democracia uma obra da própria crise do capital, inexorável e incontrolável nos marcos do capital. Impossível reconduzir a reprodução social mundial a seu estágio vigente, por exemplo, anterior à metade do século passado. Daí, repita-se, a urgência urgentíssima, emergencial, da humanidade tomar nas mãos o seu destino, abolir o controle do capital que nos leva à extinção da vida e consequentemente, da própria humanidade."

Ufa! Leitura feita! Texto denso e potente. O ideal é reler ao menos as conclusões, são muito boas.

Leitura feita por

William Mendes

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Post Scriptum:

ANOTAÇÕES (repito que as interpretações das anotações são minhas, do autor do blog, não reputo ao professor qualquer leitura pessoal que eu tenha feito da aula)

A aula presencial com o professor Paulo foi excepcional! Muito bom ouvi-lo abordando os temas do texto que lemos.

- A novidade da atualidade é o trânsito da catástrofe para o colapso

- Dois processos que mudam a história: Nos EUA, a cisão das classes capitalistas (governo Trump); e o colapso reprodutivo do capital e as relações sociais decorrentes disso

- A educação ou dominação ideológica é feita hoje através da mentira em escala nunca vista, uma guerra cognitiva. Uso da linguagem no processo como, por exemplo, a manipulação da mídia capitalista ("terroristas" do Hamas X "Estado" de Israel)

- Brasil: pela primeira vez na história temos uma esquerda que não é contra a ordem, é quieta, disciplinada, não ocupa as ruas

- Nada faz o povo ir para as ruas no Brasil, as forças de esquerda têm responsabilidade nisso também ("esquerda da ordem", diz o professor)

- Industrializar o Brasil é algo indesejável para as classes proprietárias neocoloniais do país

- Não há capitalismo sem uso e destruição da natureza

- O professor falou sobre uma obra chamada "O Ano Mil" a respeito dos camponeses europeus. Pesquisando sobre, encontrei dois autores, não sei qual seria o citado: Henri Focillon ou Georges Duby

- O otimista e o pessimista: o primeiro seria uma espécie de cego, no conceito de Saramago: aquele que mesmo vendo, não vê. O segundo, seria aquela expressão do pessimismo da razão, pode ser que ele se posicione, tome partido, faça alguma coisa

- Democracia liberal: a política interessa à burguesia para defender os seus interesses e direitos, é claro isso!

- Precisamos de uma outra sociedade, uma nova civilização

- é urgente a volta da centralidade no comunismo e socialismo (o professor abordou a diferença entre ambos, achei bem interessante: no socialismo o Estado é central, no comunismo o foco são as pessoas e as comunidades autônomas)

- Manifesto do Partido Comunista: foi um pedido dos trabalhadores a Marx e Engels

- O professor disse que muitos comunistas não têm muita noção sobre o comunismo, confundem com o socialismo

- As revoluções de 1848 na Europa foram derrotas do comunismo

- Socialismo diferente do comunismo: na revolução comunista o controle dos meios de produção é dos trabalhadores, não do Estado ou do partido

- Na revolução socialista haveria duas etapas: uma acumulação de riqueza (reprodução do capital) para depois dar um salto ao comunismo. Isso é uma complicação, as revoluções acabam se parecendo com as revoluções burguesas, acabam reproduzindo o modo de produção capitalista. Os trabalhadores acabam se despolitizando durante a 1ª etapa

- Nas revoluções socialistas que se tem notícias, o Estado acaba por explorar as pessoas

- A revolução comunista é a teoria da emancipação da reprodução social dos trabalhadores

- O professor Paulo citou o filme "Novecento" ou "1900" (1976), de Bernardo Bertolucci. Disse que a revolução quase aconteceu na Itália. Depois disse que o caso italiano do Partido Comunista é algo surreal: os dirigentes desistiram de ser "comunistas"

- Na opinião do professor, o "marxismo-leninismo" é uma invenção de Stálin. Revolução centrada no Estado e não nos trabalhadores. A revolução socialista é um cânone, um dogma

- Paulo elogiou György Lukács e Jean-Paul Sartre, sobre pensar o mundo sem os "antolhos" do marxismo-leninismo e sobre a conquista da liberdade dos homens

- Na atualidade, todas as contradições do capital estão claras e transparentes. O capitalismo não convive com a democracia, por exemplo. O sistema produz desigualdade absurda e gera sentimentos como o ódio

- Podemos discordar sobre o que fazer, mas a realidade se mostra como uma oportunidade para a humanidade mudar o rumo destrutivo do sistema capitalista

- O capitalismo não oferece possibilidade de emancipação social humana

- As mulheres podem fazer a diferença na mudança da realidade, elas são a metade da população mundial. O capitalismo sabe disso, por isso as pautas de costume e religiões para frear a emancipação feminina

- Sem a liquidação do consumismo e a multiplicação ilimitada das mercadorias, não há chances para a humanidade e o planeta

- Temos que transitar do valor das mercadorias para o valor de uso das produções sociais, para o fim do valor de troca do capitalismo

- Infelizmente (para os pacifistas) temos que fazer uma revolução social que retire o controle do capital

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Leitura: Educação ambiental anticapitalista - Henrique Tahan Novaes



Refeição Cultural

Livro: Educação ambiental anticapitalista: produção destrutiva, trabalho associado e agroecologia, de Henrique Tahan Novaes

Leitura de excertos: Prefácio, Apresentação e Conclusões do livro

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de resenha ou fichário do leitor do texto, o autor do blog. Qualquer equívoco na interpretação é de inteira responsabilidade do blog.

Algumas palavras-chave ou ideias que gostei durante a leitura do texto e que me fizeram refletir a respeito:


No "Prefácio" de John Bellamy Foster

- Pedagogia do capital x pedagogia do trabalho: interessante percepção de que há dois projetos educacionais opostos em nossa sociedade humana: uma pedagogia da deseducação x uma pedagogia da emancipação pelo trabalho social

- Travar a luta de classes do ponto de vista ecológico é uma perspectiva necessária para nós das classes oprimidas, sem recursos e periféricas


Na "Apresentação"

- O livro de Novaes socializa com os leitores as experiências bastante exitosas do MST no campo da agroecologia e cooperativismo

- Os resultados das experiências do MST são muito promissores em diversas áreas de interesse social como, por exemplo, soberania alimentar, igualdade de gênero e alimentação sustentável e saudável

- Os objetivos e resultados na forma de utilização do meio ambiente por experiências como a do MST se contrapõem ao modo capitalista do agronegócio destrutivo e com foco no acúmulo de riqueza por parte dos poucos donos das terras

- O domínio econômico e financeiro da questão agrária no Brasil faz com que se pareça impossível escapar da lógica do "sociometabolismo do capital", que apresenta uma suposta "Revolução Verde" como a única forma possível de produção no campo. É como se não houvesse saída ao modelo brasileiro exportador de commodities

- O autor nos apresenta a "Pedagogia da alternância" das escolas do MST, uma lógica alternativa de auto-organização por parte dos alunos, diferente das tradicionais pedagogias das escolas públicas do Estado e das escolas privadas, com suas ideologias ecocapitalistas de "desenvolvimento sustentável"

- Novaes faz um alerta: mesmo nos espaços do movimento agroecológico tem havido a influência das ideias economicistas e burocráticas do modelo hegemônico do capitalismo do agro. Há riscos constantes de cooptação pelos donos do poder do capital

- As condições atuais oriundas da crise climática e das contradições da atual fase do capitalismo podem facilitar a reflexão que contraponha o modelo através do ecossocialismo

- As experiências do MST são importantes para avaliarmos alternativas ao sistema hegemônico, os trabalhos associados e a economia comunal como modelos de produção são experiências exitosas para serem estudadas e praticadas

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"O MST é um dos movimentos sociais mais importantes da atualidade porque consegue combinar inúmeras lutas: a luta pelo direito à terra com as lutas ambientais, as lutas pelo direito ao trabalho não explorado com as lutas pelo direito a vida, as lutas internacionais com as lutas nacionais, a luta imediata com a luta por outra sociedade, a luta de classe com a luta de gênero. Sua defesa da agroecologia se diferencia das propostas ecocapitalistas e das propostas que esbarram no desenvolvimento sustentável. Esperamos, então, poder mostrar aos leitores e leitoras algumas das dimensões dessa luta."

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- Desde os anos sessenta, os ditadores e a casa-grande brasileira se basearam em diversas formas de manipulação comunicacional para avançar na destruição capitalista dos biomas brasileiros: "nova fronteira agrícola" e "Integrar para não entregar" foram motes para destruir as áreas ambientas do Oeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. A moda atual é a tal "Revolução Verde"...

- O período denominado "redemocratização" foi corretamente (na opinião do blog) chamado por Florestan Fernandes (1986) de "institucionalização da ditadura". Nos governos civis de Collor adiante, o que se vê é violência e morte no campo, incluindo os governos de Lula e Dilma

- Intelectuais como David Harvey (2013) e Jean Ziegler (2013) apontam o Brasil como o maior palco atual de "acumulação primitiva" do capital no cercamento e apropriação de novas terras virgens pelos capitalistas. Além da concentração fundiária, o desemprego no campo chegou a um milhão de pessoas

- A destruição do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) durante os governos Temer-Bolsonaro trouxe consequências drásticas na área da educação no campo

- A batalha ideológica do capital contra a classe trabalhadora ganhou novas ferramentas na atualidade. Além das mídias tradicionais, que já eram todas dos capitalistas, agora temos as plataformas digitais - as big techs -, reforçando a manipulação das massas humanas exploradas

- Contrarrevolução no mundo do trabalho: além das tradicionais formas de exploração, temos a pejotização e a plataformização do trabalho, do tipo uber, que aumentam assustadoramente a acumulação capitalista dos donos dos meios e criam uma multidão de miseráveis sem direito a nada. As pessoas são "empreendedoras" sem recursos para empreender...


Nas "Conclusões" (resumo do blog, nas minhas palavras)

- O MST é considerado um movimento bem completo do ponto de vista da Teoria dos movimentos sociais. Busca um outro modo de produção, uma espécie de ecossocialismo, uma alternativa de sociedade humana para além do capital

- A partir da luta pela terra, o MST proporciona outras formas de lutas como, por exemplo, pela igualdade de gênero, por uma educação autônoma e emancipadora, pela soberania nacional etc

- A política de assentamentos também tem suas contradições práticas, tendo como resultado, às vezes, processos de loteamento focados em indivíduos mais que em dinâmicas coletivas de produção, havendo parcerias mais na comercialização dos produtos

- A ideia de agroecologia evoluiu no MST a partir da parceria com a Via Campesina

- O Brasil é um dos países-chave na lógica da "Revolução Verde" desde a ditadura empresarial-militar dos anos sessenta adiante, incluindo o período de "redemocratização". Com as monoculturas de commodities, saem perdendo o meio ambiente e a população com aumento de agrotóxicos, fome do povo e acumulação de riqueza de poucos

- A concepção de agroecologia pode avançar ou pode ser cooptada, ela está em disputa com o grande capital e seus latifúndios

- As escolas de agroecologia são estratégicas para o MST para se contraporem à lógica do "desenvolvimento sustentável" e "Revolução Verde" do modo capitalista. Uma educação para além do capital

- Em relação à educação e escolas de agroecologia, por pressão dos movimentos, no final do governo FHC surgiu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que foi mantido pelos governos do PT, com recursos públicos. As escolas não receberam mais apoio governamental a partir de Temer e Bolsonaro. No governo Lula 3 as escolas vivem situação bastante difícil, devido à frente amplíssima (segundo o autor)

- A agroecologia é um fenômeno marginal e poderia ser ampliado. Porém "Como não poderia deixar de ser, num país de enorme concentração fundiária – que resulta em enorme poder dos proprietários de terras e das corporações transnacionais da 'revolução verde', a agroecologia como parte das lutas dos movimentos sociais não é bem-vinda."

- Existe forte contradição em relação à produção e consumo dos alimentos da agroecologia: as classes médias consomem os produtos, mas votam na extrema-direita e são contra o movimento MST. As massas populares não consomem os produtos por serem mais caros por falta de escala.

- Temos que acabar com o capitalismo antes que o capitalismo acabe conosco. É uma das conclusões importantes do livro.


Leitura feita por:

William Mendes

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Post Scriptum:

ANOTAÇÕES

A aula presencial foi muito boa! Mais de cem pessoas participaram da aula na unidade do Ipiranga da Unesp.

Algumas anotações e conceitos após a aula:

- Agroecologia = retomar controle do que produzir e como produzir

- Soberania nacional e alimentar = tem relação direta com agroecologia, porque é uma questão de como usar a terra: em benefício do povo do país ou para fora do país em benefício de poucos latifundiários

- Agrotóxicos = as lavouras no país são para a produção de alimentos, sem uso intensivo de agrotóxicos, ou para commodities? De novo, é para benefício do povo ou para os poucos do agro?

- EUA e China disputam quem vai explorar os recursos naturais do Brasil (em benefício deles, lógico!)

- O poder da manipulação pelas palavras: a imprensa da casa-grande há décadas controla a linguagem ao falar sobre o tema: "latifúndio" virou "agronegócio", "agro pop"; "agrotóxico" virou "defensivos agrícolas"; a devastação dos nossos biomas naturais virou "revolução verde"

- O professor citou Caio Prado, Celso Furtado e Octavio Ianni para nos lembrar que o Brasil é determinado de fora, desde sempre. Isso não mudou. Por isso temos aqui a produção destrutiva do meio ambiente. Os exploradores nunca se importaram com o país e com sua gente

- É impossível o capitalismo ser "sustentável"

- Alienação: ao falar de Marx e do capitalismo, o professor citou Mary Shelley (de "Frankenstein"), a criatura que domina o criador. Isso se deu no capitalismo: as mercadorias dominaram seus criadores e isso vai nos levar ao fim pela destruição da natureza

- Na atualidade, a questão das alternativas aos combustíveis fósseis, como o lítio para carros elétricos, vem gerando novas guerras pela exploração das terras onde se encontram esses minerais raros

- ECO 1992 (RJ): centrada nos indivíduos, ofuscando a barbárie do Estado capitalista. É papel das escolas e da educação alertar sobre a questão dos modos de produção capitalista

- Educação para além do capital

- Na atualidade há uma onda gigante de ONG e fundação e "3º setor" que "ensinam" como o capitalismo ser "sustentável". A plataformização dos sistemas de ensino acelera esse modelo

- As escolas agroecológicas não têm o dedo do Estado, são baseadas num modelo de auto-organização

- No estado de São Paulo, 70% do consumo de água é direcionado à produção de cana-de-açúcar, é o tal do agro pop

- O professor não tem uma posição de otimismo quando se pensa na possibilidade de utilização da tecnologia para o "bem", principalmente se o modelo de produção é o capitalista

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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Instantes (11h59)



Refeição Cultural

"O que é, é - e não pode deixar de ser" (Parmênides)

Por saber que sou apenas mais um neste mundo no qual habito, sei que os efeitos da realidade impactam em mim como nas demais pessoas: meu cérebro plástico vem se adaptando ao mundo no qual impera a velocidade de estímulos para não se pensar em mais nada que realmente importe às pessoas de minha classe social. 

O esforço de ler diariamente nem que seja por meia hora vem da consciência de combater o projeto dos donos do poder de emburrecer e idiotizar a massa humana vivente neste instante neste pálido ponto azul no universo, como disse Carl Sagan.

Ao ler na atualidade, os cérebros humanos têm cada vez mais dificuldade de concentração e foco no texto por causa da forma como vêm sendo utilizados por seus donos, os humanos, num mundo de fragmentos de informação e inutilidades rápidas como estímulo no atual mundo da economia da atenção hegemonizado pelas empresas de plataformas digitais. 

Meia hora de leitura de filosofia ou ciência ou literatura é um exercício cerebral desafiador. A cada parágrafo, seu cérebro viciado em bobagens ou desacostumado a reflexões complexas se pega divagando e você precisa voltar ao parágrafo e ler de novo com mais atenção ainda.

Somos o que somos, ou seja, somos seres da atualidade. 

Justamente por isso, temos que nos esforçar mais ainda para salvar nossos cérebros, nossa inteligência e nossa humanidade. 

Leiam bons textos atentamente, amig@s leitores deste blog. É quase um apelo.

William 

24/07/25

quarta-feira, 23 de julho de 2025

O sentido da vida (3)



A busca de sentidos

A necessidade de encontrar motivos ou sentidos para se viver ou seguir vivendo nas mais diversas condições não é algo que importe ao conjunto dos seres humanos, pensava ele.

Muitas pessoas simplesmente vivem a vida. Acordam, vivem seus cotidianos bons ou ruins, até pensam no futuro, como fazer para se darem bem na vida, ou algo mais altruísta e coletivo, e ponto.

Outras pessoas têm certas necessidades de dar um sentido à vida e ao viver. Olhando para trás, claramente percebia que pertencia a este grupo de gente, que questiona, que tenta compreender a existência das coisas. 

Durante décadas cantou a música I still haven't found what I'm looking for (U2) como se fosse seu hino. Pensava não ter encontrado o que procurava.

Isso mudou um pouco. Nos últimos anos compreendeu muita coisa sobre a vida e a existência das coisas. Suas leituras, reflexões e experiências o fizeram entender por que as coisas são como são. 

Agora, no momento presente, e nas condições atuais, é encontrar sentidos para permanecer no mundo enquanto a natureza permitir.

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Livros comentados no Refeitório Cultural


Refeição Cultural

Nesta lista de obras estão os livros que tiveram comentários feitos pelo autor do blog. O conteúdo estará em permanente atualização. 

A leitura do comentário pode ser feita clicando no link disponibilizado.

Nos textos em questão, tem importância a época da enunciação porque na busca pelo conhecimento vamos mudando diariamente como seres incompletos que somos.

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Ano 2008

1. Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (link)

2. O velho e o mar - Ernest Hemingway (link)

3. São Bernardo - Graciliano Ramos (link)

4. Ensaio sobre a cegueira - José Saramago (link)

4.1 Ensaio sobre a cegueira - Frases selecionadas (link)

5. A importância do ato de ler - Paulo Freire (link)

6. O menino no espelho - Fernando Sabino (link)

7. A morte de Ivan Ilitch - León Tolstói (link)

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(...)

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Ano 2025

1. Ainda estou aqui - Marcelo Rubens Paiva (link)

2. ¿Por qué la Revolución Cubana? - Juan Carlos R. Cruz (link)

3. Flores das "Flores do mal" de Baudelaire - Guilherme de Almeida (link)

4. Prufrock e outras observações - T. S. Eliot (link)

5. Maiakóvski: poemas - B. Schnaiderman e irmãos Campos (link)

6. El gaucho Martín Fierro - José Hernández (link)

7. Bagagem - Adélia Prado (link)

8. Crisálidas - Machado de Assis (link)

9. Ismaelillo - José Martí (link)

10. Poemas - T. S. Eliot (link)

11. Cachorro Velho - Teresa Cárdenas (link)

12. A morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstói (link)

13. Papéis avulsos (I) - Machado de Assis (link)

14. Primeiras Estórias - João Guimarães Rosa (link)

15. Coração de vidro - José Mauro de Vasconcelos (link)

16. O Picapau Amarelo - Monteiro Lobato (link)

17. Aventuras de Hans Staden - Monteiro Lobato (link)

18. O Saci - Monteiro Lobato (link)

19. Fábulas - Monteiro Lobato (link)

20. Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (link)

21. Deuses humanos - H. G. Wells - (link)


Livro: Deuses humanos - H. G. Wells



Refeição Cultural

"Isso é o que fazemos agora habitualmente neste mundo. Pensamos diretamente uns para os outros. Determinamos transmitir o pensamento e é transmitido imediatamente, contanto que a distância não seja grande demais. Agora usamos sons neste mundo apenas para poesia e para o prazer e nos momentos de emoção ou para gritar de longe, ou com animais, não para a transmissão de ideias da mente humana para outra mente irmã. Quando eu penso para você, o pensamento é refletido em sua mente, desde que encontre ideias correspondentes e palavras adequadas em sua mente. Meu pensamento se reveste de palavras em sua mente, palavras que vocês parecem ouvir - e naturalmente em sua própria língua e com suas frases habituais. Muito provavelmente, os membros de seu grupo estão ouvindo o que estou dizendo a você cada um com suas próprias diferenças de vocabulário e sintaxe." (p. 50)


O livro de Herbert George Wells, Deuses humanos, veio até mim de forma casual, o vi numa banquinha de livros num shopping center. Paguei por ele quinze reais.

Pelo que pesquisei, o livro não é daqueles mais conhecidos do autor inglês como Guerra dos mundos, A ilha do Dr. Moreau, O homem invisível, A máquina do tempo e outros. 


LIVRO 1 - A IRRUPÇÃO DOS TERRÁQUEOS 

No enredo, o senhor Barnstaple, um trabalhador do periódico Liberal - um subeditor e um faz-tudo -, reflete sobre a necessidade de férias, ele está esgotado pela rotina no trabalho e também em casa. Quer férias até da família. 

Sendo assim, ele pega o carro e sai escondido por uns dias. Dirige a esmo e numa derrapada se vê em outro mundo. Começa aí sua experiência em "Outro Lugar", um lugar chamado Utopia.

Outro carro com um grupo eclético, incluindo um político do partido Conservador inglês, foi parar naquele mundo também. Personagens: sr. Cecil Burleigh, líder Conservador; sr. Rupert Catskill, secretário de Estado para a Guerra; temos ainda o chofer, Lady Stella, Freddy Mush (secretário de Rupert) e o padre Amerton.

O senhor Barnstaple é um liberal, mas:

"De fato, o sr. Barnstaple estava deixando de ter esperanças, e para tipos como ele, esperança é o solvente essencial sem o qual a vida não pode ser digerida. Sua esperança sempre havia sido o liberalismo e o generoso esforço liberal, mas ele começava a achar que o liberalismo jamais faria nada além de se sentar curvado com as mãos no bolso, resmungando e implicando com as atividades de homens mais vulgares, porém mais enérgicos, cujas atividades iriam, inevitavelmente, acabar com o mundo." (p. 12/13)

O senhor Barnstaple tem um pequeno automóvel:

"Era um carro de dois lugares. Era conhecido na família como Banheirinha, Mostarda Colman e Perigo Amarelo. Como esses nomes sugerem, era um carro baixo, conversível, de uma cor amarela clara. O sr. Barnstaple o usava para ir de Sydenham ao escritório, porque fazia cinquenta quilômetros por galão e era muito mais barato do que uma passagem de temporada." (p. 15)

Uma ideia é destaque na saída furtiva do senhor Barnstaple de casa para descansar uns dias:

"(...) Mas não importava muito. Qualquer caminho levava para Outro Lugar, e ele podia seguir para o norte depois." (p. 18)

Localização temporal

"O dia era um desses dias de sol claro característicos da grande seca de 1921 (...) enquanto estivesse dando as costas para Sydenham e o escritório do Liberal, não importaria para qual direção seguiria." (p. 18)

Outro Lugar

O grupo de terráqueos estabelece uma troca de informações e conhecimentos com os indivíduos daquele mundo e assim segue o enredo do romance ficcional. 

Serviço Universal

A base da organização social em Utopia é um novo método de cooperação econômica: o serviço universal para o bem comum.

O novo modelo social surgiu lentamente após a última Era de Confusão. Não houve revolução. Foram séculos de educação e ciência. 

Personagens utopianos até esta parte da leitura (livro um): sr. Serpentine, sr. Urthred, Lion, Lychnis.

Mais personagens

Mais adiante, aparecem novos personagens: Lorde Barralonga, o chofer Ridley, a srta. Greta Grey, Hunker - o rei do cinema -, o francês Emile Dupont e Penk. O bando chegou atropelando e matando um cidadão de Utopia. 

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LIVRO 2 - A QUARENTENA

A segunda parte do romance começa anunciando uma epidemia na população de Utopia causada pelos germes trazidos pelos estrangeiros terráqueos. 

Os utopianos eram como os povos originários das terras invadidas pelos homens brancos europeus em meados do segundo milênio da chamada era cristã. 

De forma sintética, resumiria que o grupo de terráqueos foi isolado num castelo no alto de uma montanha. Os doze humanos discutem sobre o que fazer, sendo o sr. Barnstaple o único divergente na proposta do grupo.

O subeditor do Liberal não vê sentido na ideia do grupo de se contrapor aos utopianos e fazer de Utopia o que seria a sociedade humana naquele momento em 1921. Os utopianos estavam séculos à frente em avanços sociais, pensava o sr. Barnstaple. 

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LIVRO 3 - UM NOVATO EM UTOPIA

"- Aqui - disse ela - não há descanso. Todos os dias homens e mulheres acordam e dizem: 'Que coisa nova faremos hoje? O que vamos mudar?'.

- Eles transformaram um planeta selvagem, com doenças e desordem, numa esfera de beleza e segurança. Fizeram a selva das motivações humanas conter união, conhecimento e poder." (p. 192)


Nesta parte da história veremos o desfecho da aventura do sr. Barnstaple. 

Para mim, como leitor, foram esclarecidas várias dúvidas em relação ao enredo do romance de H. G. Wells.

Certas afirmações pejorativas feitas pelos utopianos sobre a raça humana me deixaram perplexo, no sentido de que poderiam ser ditas hoje, um século depois do enunciado, e não como ficção, mas como descrição do que somos.

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COMENTÁRIO FINAL 

"Em Utopia, assim como na Terra, houvera pessoas escuras e morenas, e permaneciam distintas. As várias raças interagiam socialmente, mas não procriavam muito entre elas; em vez disso, purificavam e intensificavam suas belezas e dons raciais (...) Houvera uma certa eliminação deliberada de tipos feios, malignos, estreitos, estúpidos e soturnos durante os doze anos anteriores." (p. 197)


Esse enunciado é de um século atrás. Chocante, não? Porém, as ideias contidas no texto fazem parte de um romance ficcional. 

No entanto, ideias semelhantes foram ditas faz poucos anos, já no século XXI, por um deputado federal à época para uma entrevistadora negra. Bolsonaro disse para Preta Gil que seus filhos não tinham risco de namorar negras porque foram bem-educados...

Preta Gil processou o sujeito por racismo e teve ganho de causa. Infelizmente, a cantora faleceu ontem. (Preta Gil, presente!)

O livro de H. G. Wells, de 1923, traz uma temática absurdamente atual um século depois. 

A ficção traz de volta o tema da existência de um não lugar, um lugar nenhum idealizado, assim como fez Thomas More em 1516, com sua célebre obra "Utopia".

Nessas idealizações de mundos imaginários entram de tudo: socialismo ou comunismo, eugenia, tecnologias impossíveis etc.

Quando peguei o livro na banca de promoções de livros baratos não imaginava do que se tratava o enredo. Foi sorte minha, li um livro muito bom!

Recomendo a leitura dessa obra posterior ao período mais notabilizado do autor, entre 1895 e 1905, quando saíram seus grandes clássicos de ficção. Dessa fase eu li "A guerra dos mundos" (1898) e achei o enredo fascinante (comentário aqui). 

Seguimos lendo porque a leitura é uma das maravilhas da espécie animal homo sapiens. Como diz Paulo Freire, só se educa gente! Leitura educa as pessoas.

William Mendes


Bibliografia:

WELLS, H. G. Deuses humanos (Men like Gods). Tradução de Santiago Nazarian e Thelma Nóbrega. Barueri, SP: Amoler, 2022.

domingo, 20 de julho de 2025

O sentido da vida (2)



Talvez o porto

O cidadão passou a noite em claro, foi se deitar lá pelas 7 horas da manhã. Aquele tinha sido um daqueles dias de zelar pela pessoa querida, até que ela dormisse.

Às onze horas se levantou, se trocou, e saiu para andar pelo parque e espairecer as ideias turbulentas. O que fazer, o que não fazer, e entender mais uma vez que a vida é como ela é. 

Ainda no parque, falou com sua mãe, que também estava zelando por alguém. Cuidar talvez seja um sentido de nossa espécie animal. 

Mesmo com o pouco dormir e o pouco ânimo, o cidadão pegou sua garrafinha de água, buscou a disciplina forjada nas lutas, e se dirigiu à academia do seu condomínio. Só é possível zelar pelos outros se cuidar de si mesmo para estar vivo.

Vai saber se o sentido de tudo não seja ser o porto dos náufragos dos mares do mundo.

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sábado, 19 de julho de 2025

O sentido da vida (1)



Uma vida humana

O homem acordou naquele dia, olhou um pouco para o teto, até firmar a consciência sonolenta, e se levantou. Começava mais um dia em sua vida.

Entre o quarto e a sala, olhou para a bagunça ao redor, pensando no que arrumar ou limpar naquela manhã: dois dias antes havia estabelecido o propósito de fazer alguma coisa todo dia, nem que fosse por meia hora.

Tomou um copo d'água e olhou a cozinha. Pensou se mexia ali ou na sala. Foi ao banheiro com o kindle na mão. Leu alguns parágrafos do livro "O trato dos viventes", do Alencastro. 

A Corte portuguesa através de alvarás em 1554 e 1559 lançava incentivos fiscais para se desenvolver engenhos na Terra de Santa Cruz cobrando dos "empreendedores" um terço das taxas na aquisição de 120 africanos por engenho criado. Capturar pessoas e vendê-las era uma atividade de "empresários" e de Estado.

O homem pegou frutas, leite, um pão de dois dias, fez uma vitamina, passou o pão no fogo, tomou seu café naquele sábado, lavou a louça e foi limpar o pó acumulado na estante da sala.

Para o dia, havia ainda o desejo de terminar a leitura de um livro de ficção e ler textos de um blog de uma professora poeta.

O passado descrito por Alencastro pode ser o futuro no tempo daquele homem vivendo mais um dia no lindo planeta azul.

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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Lula defende a soberania nacional



Apresentação e comentário do blog:

Estava sentado em nossa sala quando ouvi o barulho de panela: alguém dos prédios ao redor estava batendo panela enquanto o presidente Lula fazia o pronunciamento em defesa do Brasil e do povo brasileiro. 

Fazia muito tempo que eu não perdia o controle deixando meus impulsos assumirem a situação. Abri a janela e gritei com toda a potência de minha voz que enfiassem a panela no cu. Após alguns segundos, gritei de novo, chamando o batedor de panela de bolsonarista de merda e vira-latas.

Não me senti bem por ter feito isso. Bater panela é uma manifestação legítima, é da democracia. Não é mais o meu papel nem o exemplo a dar. Foi um instinto incontrolável de alguém cansado de tanta merda ao nosso redor. Como pode um brasileiro ser tão cachorro assim e ficar do lado daquele lixo dos EUA e desses sofistas manipuladores do clã Bolsonaro!

Enfim, tenho que olhar mais atentamente para mim mesmo. Nem minha saúde é mais a mesma após duas décadas de militância. Estou fora da política. O partido e o movimento sindical têm suas lideranças atuais e nem existo mais para eles. 

Foi a indignação que gritou pelo cidadão que dedicou a vida às causas da classe trabalhadora e que sofre diariamente ao ver a destruição de nosso mundo. 

É claro que aquela nação decadente está atacando os avanços dos países do Sul global, o fortalecimento dos BRICS, o enfraquecimento do dólar, as novas formas de pagamento sem precisar das empresas deles (como o Pix brasileiro) e a clara percepção de que o capitalismo só aprofunda a miséria do povo no mundo e ferra com o planeta Terra na questão ambiental.

O pronunciamento do presidente Lula foi excelente! Firme nos recados e buscando unir o povo brasileiro contra o ataque indevido da potência imperialista em questões internas do Brasil.

William Mendes 

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Leia a íntegra do pronunciamento de Lula:

Minhas amigas e meus amigos,

Fomos surpreendidos, na última semana, por uma carta do presidente norte-americano anunciando a taxação dos produtos brasileiros em 50%, a partir de 1º de agosto.

O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos.

Contamos com um Poder Judiciário independente. No Brasil, respeitamos o devido processo legal, os princípios da presunção da inocência, do contraditório e da ampla defesa. Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional.

Só uma pátria soberana é capaz de gerar empregos, combater as desigualdades, garantir saúde e educação, promover o desenvolvimento sustentável e criar as oportunidades que as pessoas precisam para crescer na vida.

Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo.

Minhas amigas e meus amigos, a defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.

No Brasil, ninguém — ninguém — está acima da lei. É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas.

Minhas amigas e meus amigos,

Estamos nos reunindo com representantes dos setores produtivos, sociedade civil e sindicatos. Essa é uma grande ação conjunta que envolve a indústria, o comércio, o setor de serviços, o setor agrícola e os trabalhadores.

Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer.

Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo.

Minhas amigas e meus amigos,

A primeira vítima de um mundo sem regras é a verdade. São falsas as alegações sobre práticas comerciais desleais brasileiras. Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões de dólares.

O Brasil hoje é referência mundial na defesa do meio ambiente. Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030.

Além disso, o Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo.

Minhas amigas e meus amigos,

Quando tomamos posse na Presidência da República, em 2023, encontramos o Brasil isolado do mundo. Nosso governo, em apenas dois anos e meio, abriu 379 novos mercados para os produtos brasileiros no exterior.

Estamos construindo parcerias comerciais com a União Europeia, a Ásia, a África e nossos vizinhos da América Latina e do Caribe.

Se necessário, usaremos todos os instrumentos legais para defender a nossa economia. Desde recursos à Organização Mundial do Comércio até a Lei da Reciprocidade, aprovada pelo Congresso Nacional.

Minhas amigas e meus amigos,

Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações.

Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono — o povo brasileiro.

Muito obrigado.