Refeição Cultural
"Todos os homens tragicamente grandes têm em si algo de mórbido." (MELVILLE, 1998, p. 101)
Nesta manhã de quinta-feira, li dois capítulos de Moby Dick. Foram tantas as informações que acabei parando neles. No capítulo chamado "Chowder", vemos Ismael e Queequeg se hospedarem na estalagem A Panela, na ilha de Nantucket. Chowder é uma espécie de guisado de peixes ou mexilhões com carne de porco e outras coisas.
O nativo Queequeg tem uma espécie de ídolo negro chamado "Yojo", um pequeno artefato, para o qual dirige suas orações. Lá no início da narrativa, quando Ismael conheceu Queequeg na Estalagem do Jorro, soubemos que ele tem consigo uma machadinha de índios norte-americanos, um tomahawk, que também serve de cachimbo a ele, que fuma através do cabo.
O capítulo seguinte - "O navio" - é muito importante por trazer diversas informações para o desenvolvimento da estória. Ismael sempre nos lembra que seu futuro está nas mãos dos fados, da providência. Essa questão dos fados se mostra mais uma vez ao Queequeg sugerir que Ismael vá sozinho ao cais para acertar em qual baleeiro eles vão se lançar ao mar. Yojo foi o responsável por essa decisão de Ismael ir sozinho ao cais.
Assim conhecemos o navio Pequod, "todos os leitores devem saber muito bem que é o nome de uma célebre tribo de índios de Massachusetts, hoje tão extinta como os antigos medos". (p. 96)
Pequod é um navio pequeno e antigo, com mais de meio século de viagens pelos mares. Seu antigo comandante é o capitão Peleg, que junto com o capitão Bilbad, são proprietários da embarcação, que tem ainda outros proprietários acionistas: viúvas, órfãos e magistrados. Pequod é de propriedade coletiva.
Ismael pergunta pelo capitão atual do navio e descobre alguma coisa sobre ele, seu nome é Acab (Ahab em inglês), nome com origem nas escrituras sagradas, como a maioria dos nomes dos moradores de Nantucket, local colonizado pelos quacres, uma seita antiga. O capitão Acab perdeu uma perna na última viagem no baleeiro, num embate com uma baleia.
PLR (Participação nos Lucros e Resultados)
Pasmem! E não é que fui encontrar PLR na obra clássica Moby Dick! A vida da classe trabalhadora é dura já faz muito tempo! Essa questão de remuneração variada, invenção dos proprietários para explorar os trabalhadores despossuídos de seus meios de subsistência ao compartilhar os riscos e embolsar os lucros é antiga.
------------------
"Sabia já que no negócio da pesca de baleia não se pagavam salários, mas todos os marinheiros, inclusive o capitão, tinham certa participação nos lucros. Essas porções eram chamadas tantos e proporcionais ao grau de importância dos respectivos cargos desempenhados." (. 103)
------------------
Para aqueles que achem que isso é um bom negócio para o trabalhador, é só ver o que o próprio Ismael calcula logo adiante. Ele imagina poder sobreviver durante os 3 anos de serviços porque o dinheiro dará para ele comer e só.
"E, ainda que o tanto de 275 avos fosse o que se convencionava chamar um tanto muito fracionado, era, ainda assim, melhor do que nada; e se tivéssemos uma viagem proveitosa, o dinheiro talvez desse para pagar a roupa que eu gastasse, sem falar na minha alimentação durante três anos a bordo, pela qual não teria de pagar nem um centavo." (. 104)
Que coisa, heim! A exploração dos seres humanos é uma coisa muito antiga. É a mesma lógica da escravidão moderna, um proprietário de terras coloca um monte de gente para trabalhar nas suas colheitas e as pessoas gastam o que ganham para comer na própria fazenda. Ao final, ainda estão devendo. O mesmo nas fábricas de roupas, sapatos, peças etc. Nos bancos temos os PRs, programas por resultado: um diretor e um gestor ganham 100 mil e um trabalhador na ponta ganha 500 reais.
É isso! Fim das leituras por hoje, 4º dia de viagem com Moby Dick. Se houver interesse em ler as outras postagens sobre a leitura é só clicar aqui, a última feita.
William
Bibliografia:
MELVILLE, Herman. Moby Dick. Tradução de Berenice Xavier. São Paulo: Publifolha, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário