Refeição Cultural
"Ao mesmo tempo preparou o Senhor um grande peixe, que engoliu a Jonas: e Jonas esteve no ventre do peixe três dias e três noites. (Jonas, II, 1.)" (MELVILLE, 1998, p. 11)
A leitura de Moby Dick nesse 5º dia foi num horário diferente do planejado. Tenho tentado dormir mais cedo para acordar um pouco mais cedo para ler de manhã, mas nesta madrugada despertei antes das 6h e não consegui dormir mais. Então embarquei no Pequod com a tripulação e nos lançamos ao mar. (caso haja interesse na postagem anterior, é só clicar aqui)
Consegui ler bem e avançar na narrativa. Já se foram 150 páginas e parei e deixei para amanhã o capítulo chamado "Acab". Finalmente vamos ter contato com o capitão Acab (ou Ahab em inglês). Já estamos em alto mar, zarpamos de Nantucket com destino aos Mares do Sul, pelo que entendi, vamos descer todo o Atlântico e contornar o Cabo Horn, lá no Extremo Sul da Patagônia para atingir o Pacífico.
Eu confesso que a leitura de Moby Dick para um militante político como fui a vida toda em um momento da vida nacional como este não é fácil, não é fácil. Mas é necessário! Para minha sanidade e para sobreviver, já que uma das coisas que posso fazer para contribuir socialmente com o povo brasileiro é ficar em casa, com a família, e evitar pegar o vírus e transmiti-lo aos outros.
Viajar é preciso, e a literatura de ficção e certos tipos de leituras nos permitem isso. Concentrando, consigo viajar com Melville; sem concentração, a cabeça se pega nas desgraças do momento. Mas é importante tentar a leitura literária.
OPINIÃO: me incomoda tanto pensar que pouca gente do povo tem lido, os trabalhadores não devem estar lendo quase nada, as pessoas do povo estão trabalhando como escravos, estão por sua conta e risco sem direitos básicos; os que poderiam ler mais estão o dia todo em jogos e nas redes sociais, e ainda têm as séries, que vieram para capturar os antigos leitores de literatura. Não sou contra jogos nem séries, mas sei que essas coisas estão matando a leitura e a capacidade literária da humanidade.
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O TUBARÃO QUE HABITA EM NÓS
"Não ponhas a perder o nosso arpoador. Nunca se viu dizer que arpoadores religiosos fossem hábeis no ofício. A religião tira-lhes de dentro o tubarão. E um arpoador que não tenha em si um pouco de tubarão não vale um caracol." (p. 118)
Esse fragmento está na parte da estória em que os capitães do Pequod estão escolhendo a tripulação para se lançar por 3 anos ao mar na pesca da baleia. Estão avaliando se aceitam o canibal Queequeg ou não. Eles o aceitaram após ele demonstrar o quanto é bom com o arpão.
Ao entrar no capítulo "Indo para bordo", parei a leitura por um instante. Era perto de 7 horas da manhã. Estava lendo na cozinha. Ouvia os passarinhos lá fora. Olhei pela janela (a foto da postagem) e vi os bem-te-vis brincando na piscina vazia do prédio em frente. Vi passarem diversas maritacas. Me lembrei das viagens a Porto de Galinhas, o cheiro do mar, os bem-te-vis brincando por lá. A ficção nos ajuda a viajar, tanto na obra quanto na imaginação.
O FRIO DO NORDESTE DOS EUA NO NATAL
"Finalmente a âncora foi levantada, içaram-se as velas e deslizamos pelo mar afora. Era um Natal frio e rude, e à medida que o breve dia nórdico surgia da noite encontramo-nos quase em pleno oceano hibernal (...) imensos flocos de gelo, encurvados, pendiam da popa." (p. 133)
Essa passagem de Moby Dick me trouxe a lembrança dos dias que passei em Nova York em uma semana de dezembro de certo ano. Foi uma lembrança tão fácil, pois me lembrei do frio e do gelo no alto do Empire State Building, do gelo na baía em frente à Estátua da Liberdade e do frio que senti naqueles dias.
Enfim, li capítulos muito interessantes nesta manhã de 5º dia de leitura. O capítulo "O advogado" discorre sobre a profissão dos baleeiros naquela época, meados do século XIX. Falou-se de séculos de caça à baleia pelo mundo, até sobre o mundo antigo.
Por fim, Ismael, narrador e personagem presente no navio Pequod, nos apresentou as 3 duplas de pilotos e arpoadores. Um dos pilotos teve um capítulo só para ele, Starbuck. Ele faz dupla com Queequeg num dos botes. Os outros dois pares são Stubb, o 2º piloto, com Tashtego, e o 3º piloto Flask com Daggoo Aasvero.
Na leitura de amanhã, estaremos no Pequod com o capitão Acab e sua tripulação. Se os fados me permitirem, é claro.
(os tempos estão terríveis! Há instantes, soube da morte do senhor que me atendia numa das barracas da feira. Teve um AVC... como somos frágeis!)
William
Bibliografia:
MELVILLE, Herman. Moby Dick. Tradução de Berenice Xavier. São Paulo: Publifolha, 1998.
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