domingo, 28 de março de 2021

Moby Dick - Capitão Acab à la Hamlet



Refeição Cultural

"- Fala, ó grandiosa e venerável cabeça - murmurou Acab. - Não tens barbas que te adornem, mas o musgo te fornece cãs. Fala, cabeça potente! Dize-nos o segredo que encerras! Não existe mergulhador que tenha afundado tão profundamente como tu. Essa cabeça, agora iluminada pelo sol, moveu-se outrora pelos alicerces deste mundo, lá onde apodrecem âncoras, nomes e frotas não registrados nos anais da história e também esperanças ignoradas: ali onde, no seu mortífero porão, essa fragata que é a terra leva como lastro os ossos de milhões de afogados; esse espantoso reino áqueo era a tua morada mais habitual. Estiveste nos lugares aonde nunca chegaram sinos nem mergulhadores; dormistes ao lado de mais de um marinheiro cuja mãe insone teria dado de bom grado a vida para ocupar o teu lugar; vistes amantes abraçados saltarem do navio em chamas: coração de encontro a coração, afundavam sob as ondas triunfantes, fiéis um ao outro, quando o céu parecia havê-los traído. Viste à meia-noite piratas que assassinavam e atiravam pela borda o piloto que ia caindo, caindo, na noite mais lôbrega do insaciável sorvedouro, e enquanto os criminosos prosseguiam incólumes na sua viagem, raios súbitos transformavam em lascas o navio vizinho que conduziria um esposo fiel aos braços abertos e anelantes da esposa. Ó cabeça, viste o que seria bastante para fazer estremecer os planetas e causar a infidelidade do próprio Abraão, e contudo não pronuncias uma sílaba." (MELVILLE, 1998, p. 361)


Essa passagem de Moby Dick me trouxe na hora a lembrança de Hamlet e suas elucubrações sobre a morte.

Neste domingo, me desliguei do mundo à tarde para retornar ao baleeiro Pequod e singrar os mares do Sul com a tripulação sob comando do capitão Acab.

Consegui ler 40 páginas. Foi meu 12º dia de leitura deste clássico da literatura mundial do século XIX. O baleeiro está no Oceano Índico e já citou a ilha de Java.

O baleeiro conseguiu pescar a primeira baleia branca. É uma parte triste porque a gente fica com dó do cachalote. Eles pescavam o maior mamífero do mundo por causa do óleo, principalmente.

Passei por capítulos fantásticos como "O Calamar" que fala de um tipo de lula gigante, um monstro daqueles mares de 170 anos atrás.

CENA: estava sentado na pequena área de casa lendo, e minha esposa me perguntou sobre o que sentia naquele momento de leitura. Falei que estava imaginando a cena daquele monstro do mar, o Calamar, e outros monstros como os leviatãs - baleias gigantes - aos olhos dos marinheiros de 170 anos atrás. Também pensava na informação do livro de que cachalotes caçavam calamares. É de se pensar realmente sobre a mentalidade e visão de mundo daqueles homens que se lançavam ao mar séculos atrás com tanta coisa ainda desconhecida...

Enfim, a leitura aliviou um pouco o martírio desses dias de mortes. A pandemia de Covid-19 está matando mais de 3 mil brasileiros por dia. A morte iminente nos cerca. Em poucos dias podemos morrer. 

Vamos nos esforçar para sobreviver e recomeçar o mundo, sem a ameaça do coronavírus e derrotando o regime genocida que se apossou do nosso país.

William


Bibliografia:

MELVILLE, Herman. Moby Dick. Tradução de Berenice Xavier. São Paulo: Publifolha, 1998.


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