sábado, 11 de setembro de 2021

Happiness only real when shared



Refeição Cultural

Em maio de 1990, eu fui demitido do Unibanco. Eu estava meio de saco cheio daquele trabalho e daquele lugar. Mandei meu chefe à merda após ele mandar eu me mudar de mesa de trabalho. Achei que era implicância dele e me neguei a mudar de lugar. Zé Fernandes era gente boa, um cara humilde, me demitiu todo sem jeito porque eu exagerei na situação. Eu tinha 21 anos. Hoje eu tenho essa leitura, era um trabalhador assim como eu.

Em setembro de 1992, eu tomei posse de minha vaga concursada no Banco do Brasil. Depois de um período de incertezas, eu me tornava um trabalhador de empresa pública e passava a vislumbrar uma vida um pouco mais estável. Um ano antes, eu havia passado no concurso e após comemorar a conquista, o concurso foi cancelado por fraude de uns filhinhos de papai em Brasília. Só seria bancário do BB se passasse de novo no concurso com um milhão de inscritos. Deu certo. Passei de novo. Eu tinha 23 anos.

Entre a adolescência e a suposta estabilidade do emprego em empresa pública, foram anos de incertezas, revoltas, desilusões na vida. Aprendi inglês pensando em ir embora do país. Pensei o que todo jovem pensava na época, ir para o Japão, trabalhar em outro país. Tentei até trabalhar na construtora Mendes Júnior, na época, e quase fui pro Iraque, mas só tinha vagas de motoristas de caminhão. A família Bush iria bombardear o país tempos depois. Os anos oitenta e noventa foram foda para a classe trabalhadora brasileira.

Essa introdução na forma de lembranças foi para situar coisas que pensei quando conheci a história de Chris McCandless após 2007. A história social dele não tem nada a ver com a minha. Ele era filho de classe média nos Estados Unidos. Tinha caminho aberto para seguir os padrões de sucesso da sociedade capitalista. Mas era jovem contestador e queria outra forma de vida, não o acúmulo de coisas do modelo capitalista.

Um dia a companheira Deise Recoaro, do movimento sindical, me sugeriu assistir ao filme sobre o jovem americano. Quando vi o filme Na natureza selvagem (2007), dirigido por Sean Penn, quando li em seguida o livro de Jon Krakauer - Na natureza selvagem (1996) - e quando passei meses ouvindo as músicas da trilha sonora do filme, produzida por Eddie Vedder, fiquei bolado, fiquei mals, fiquei muito tempo impactado pela história do jovem andarilho Alex Supertramp. 

Ao ler o livro reportagem, me lembrei de minha busca por um lugar ao sol, um lugar na sociedade daqueles anos. McCandless estava justamente fazendo isso entre maio de 1990 e agosto de 1992, quando descobriu e escreveu num livro que "Happiness only real when shared" (a felicidade só é verdadeira/real quando compartilhada). Eu fiquei muito tempo pensando nessa mensagem de McCandless, uma mensagem refletida no meio da solidão do Alasca, preso pelas condições climáticas e sem poder voltar para a sociedade, para as pessoas.

Olhei minha vida em retrospectiva e fiquei pensando sobre os momentos felizes que a gente tem nessa vida dura e normalmente difícil ao longo da maior parte do cotidiano. Apesar de ser apaixonado pela natureza, por montanhas, rios, mato e acampamento, percebi que McCandless tinha razão. Os momentos mais felizes de minha vida tiveram pessoas ao meu lado. Não foram de solidão, não foram. 

Estou pensando muita coisa nesse instante. Revi hoje o filme. Estou emotivo, olhos úmidos. Não devo escrever a outra parte dessa refeição cultural. Ela tem sentimentos de amor, filho, família, amigos, companheirismo de lutas e trabalho. Mas são muito pessoais. 

Mas realmente a mensagem do jovem McCandless - Alex Supertramp - é uma mensagem de sabedoria. Hoje tenho isso claro. 

Felicidade mesmo só é alcançada, só é verdadeira e real quando é compartilhada, até porque somos humanos.

William


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