Refeição Cultural
Quarta-feira, 15 de setembro do 2º ano da pandemia mundial de Covid-19.
UNS CUBAS!!! AQUELA MESA DE JANTAR DE GENTE BRANCA DECRÉPITA...
Pela manhã, li a apresentação de John Gledson ao livro de Hélio de Seixas Os leitores de Machado de Assis (2004). É leitura de poucas páginas e muita reflexão. Talvez eu demore anos para ler o livro, se é que um dia termino a leitura. O que importa é cada página lida, e a reflexão.
Em minha reflexão anterior sobre Machado (ler aqui), disse que fiquei pensando como ele deveria se sentir em relação a ser amigo e apadrinhado de um escravagista como o escritor José de Alencar. Difícil essa situação para um mulato, descendente de escravos.
Gledson também imagina como deve ter sido difícil para Machado ler as críticas de seus colegas da época, porque alguns eram francos até demais no dizer o que achavam do escritor mulato:
"(...) e alguns já terão lido na biografia de Magalhães Júnior a terrível referência ao escritor mulato, autor de Ressurreição, como um 'feio candelabro que despede raios de vivíssima e deslumbrante luz' (Machado teria rido ou chorado diante disso?)." (p. 18)
Na apresentação que elogia o imenso trabalho de pesquisa feito por Hélio de Seixas Guimarães, Gledson nos lembra das "mudanças claras e consistentes" na forma como os leitores eram evocados e imaginados nos romances e contos de Machado. Também afirma que o escritor buscou experimentar o novo a cada obra após Memórias póstumas de Brás Cubas (1880).
Uma informação relevante na página 20: o censo de 1876, que revelou o analfabetismo no Brasil, mexeu com os propósitos e ideais literários dos escritores naquela época. Éramos um bando de analfabetos (éramos?).
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MÉMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
A leitura dos capítulos XXVIII a XXXV de Memórias póstumas de Brás Cubas me deixou pensando muito a respeito do Brasil, a respeito de nós.
Me fez pensar naquele jantar cujo vídeo circula pela internet com aqueles homens brancos e decrépitos, com o golpista Temer à frente, jantar oferecido pelo sujeito acusado de quebrar a Bolsa de valores do Rio, com o dono de um canal de TV, e aquele nojo todo que estava ali. Os donos do Brasil.
Todos eles são Cubas, todos eles. Todos eles tratam as mulheres e os pretos e as gentes como Brás Cubas trata.
E se pensarmos bem, nós todos somos as eugênias, somos os almocreves dos capítulos anteriores, somos as borboletas pretas. Todos nós que não somos aqueles Cubas da mesa de jantar. A culpa daquela gente existir e viver e viver e viver às custas da gente é nossa! A culpa é nossa. Borboletas pretas! E de almas sensíveis (uns idiotas!).
William
Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. 1ª ed. - São Paulo: Panda Books, 2018.
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