quarta-feira, 29 de setembro de 2021

290921 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Quarta-feira, 29 de setembro.


"Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. Enquanto esta ideia me trabalhava no famoso trapézio, lançava eu os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha perder-se no horizonte do pretérito, e sentia que o meu coração não tardaria também a descalçar as suas botas. E descalçou-as o lascivo." (ASSIS. 2018, p. 114)


Acordei cedo. Li algumas memórias (postagens) em um de meus cadernos do blog Refeitório Cultural, o do ano de 2014. É uma vida registrada ali. E o cenário de fundo é o Brasil, aquele Brasil, não o de hoje.

Fui pegar o Memórias póstumas de Brás Cubas para ler alguns capítulos e não consegui. O capítulo XXXVI - "A propósito de botas" foi o suficiente para ler e parar. Fiquei chocado com a atualidade da coisa!

O livro e o personagem Cubas são as mais perfeitas metáforas do Brasil bolsonarista. É demais! No capítulo, Brás Cubas fala a respeito da jovem Eugênia, impossível de se namorar e casar-se porque apesar de ser bonita é "coxa" como ele a chama. É nojento demais, é degradante, é atual demais!

Voltando ao blog, ontem estava trabalhando no sumário do ano de 2008, estou finalizando a revisão e encadernação das 216 postagens daquele ano de registros no Refeitório Cultural. De novo, vejo que ali está registrado também o Brasil daquele período, não só a biografia do blogueiro sindicalista e estudante de Letras.

Interessante a coincidência. A postagem que abre o ano do Refeitório Cultural em 2008 é uma postagem sobre Memórias póstumas de Brás Cubas. Conhecer nossos grandes clássicos é preciso.

No fundo, a vida é isso: é uma representação que mistura tudo. Somos na vida real nossos grandes personagens da literatura brasileira, somos cubas, somos macunaímas, tataranas, somos milhões de macabéas e fabianos. 

O povo brasileiro que não pertence à casa-grande não passa de um amontoado de Cândido Neves e de Arminda (do conto "Pai contra mãe"), numa guerra fratricida por sobrevivência nessa terra iníqua.

O conto citado acima pode ser lido clicando aqui.

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É isso!

Eu ando tão enojado de tudo, sem saco para a espécie humana que... deixa pra lá!

William


Bibliografia:

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. 1ª ed. - São Paulo: Panda Books, 2018.

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