Refeição Cultural
"O que continha a primeira gaveta destrancada?
(...) dois preservativos de borracha parcialmente desenrolados com espaço para emissão, adquiridos pelo correio na Caixa 32, C.P., Charing Cross, London, W.C. (...) 2 cartões fotográficos eróticos que mostravam: a) coito bucal entre señorita nua (vista de costas, posição superior) e torero nu (visto de frente, posição inferior): b) violação anal por figura religiosa do sexo masculino (integralmente vestido, olhar abjetado) de figura religiosa do sexo feminino (parcialmente vestida, olhos diretos), adquiridos por correio na Caixa 32, C.P., Charing Cross, Londres, W.C." (p. 1016)
Vencidas as cem páginas do capítulo 17 de Ulysses, de James Joyce. Agora faltam os fluxos de consciência de Molly Bloom, naquela madrugada de 17 de junho de 1904.
Imaginem como foi para os leitores e comunidades a recepção de Ulysses na Irlanda, na Inglaterra e nas demais partes do mundo no ano de 1922 ao lermos acima essa pequena amostra do conteúdo da obra. Interessante, não é?
Após o fim da leitura do capítulo "Ítaca" nesta manhã de sábado, vi na internet uma entrevista muito esclarecedora do professor Caetano W. Galindo, tradutor desta versão que estou lendo. Ele fala sobre James Joyce e William Shakespeare e as explicações de Galindo são imperdíveis para os amantes de literatura e dos dois autores comentados.
Apesar do cansaço que me deu neste momento de proximidade do fim da leitura, uma obra como essa vale a pena ler, vale sim. Também acho interessante e válido buscar informações a respeito da repercussão da obra ao longo do tempo. As grandes obras literárias se incorporam às culturas das sociedades humanas.
Ulysses tem uma história de leitura com a comunidade internacional após 1922 assim como O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha a tem após 1605. Idem para Moby Dick após 1851, assim como Decameron após 1353. Para mim, leitor, é um privilégio ter tido a oportunidade na vida de ler tais clássicos.
Joyce concentrou em Ulysses muitas informações do mundo, da Irlanda, da literatura de Shakespeare e da literatura clássica; e mais: religião, política, imperialismo, capitalismo, linguagem, psicologia e comportamento humano, sociedade.
UM DIA NA VIDA DE UM TRABALHADOR
O dia do publicitário Bloom teve contato com a morte no enterro do Dignam, e teve contato com a vida, quando passou pela maternidade do hospital; conhecemos as preferências alimentares dele; vimos que ele se banha em locais públicos; e percebe-se que o dinheiro que tem é contado, os trabalhadores vivem no limite do ter e não ter dinheiro. Vimos isso no começo da obra, quando Stephen Dedalus e amigos contaram as moedas no bolso para saber como passariam o dia.
Outro momento interessante do capítulo foi quando vimos a descrição dos livros constantes na estante de Bloom, entre eles livros de Shakespeare, Spinosa e A. Conan Doyle (p. 998). Bloom poderia ser considerado um "homem cultivado" como diz Eliade, pois tem livros de Astronomia, Geometria, Geografia, História, Psicologia, Filosofia etc.
O capítulo tem de tudo. Do nobre e sagrado ao profano e tosco. Por exemplo: Enquanto mijam na grama, Bloom e Dedalus observam uma estrela cadente (p. 992).
Enfim, agora vamos para o fechamento com Molly Bloom.
William
Bibliografia:
JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.
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