quinta-feira, 30 de julho de 2009

Refeição Cultura 34 - Ficção em livros e filmes

Alguns livros e filmes de ficção, ou filmes baseados nos livros de ficção, são marcantes e entram para o arcabouço das referências cotidianas de certos povos ou certas épocas.

Posso escolher alguns livros que considero essenciais para qualquer pessoa que goste de cultura e que goste também de filosofar ou pensar o mundo em que vivemos ou em que poderíamos viver.

Admirável Mundo novo, de Aldous Huxley é um deles. O livro foi publicado em 1932 e trata de uma sociedade num futuro onde as divisões sociais são por castas, modificadas geneticamente e adestradas psicologicamente para aceitar as coisas como são desde crianças. E existe solução para qualquer problema de tristeza ou decepção - tome um comprimido de SOMA.

Li o livro na adolescência e novamente há dez anos. É um livro que põe as pessoas a pensar. Assisti ao filme - também há muito tempo. Acho que o roteiro foi bem adaptado. Consegui o filme de 1998 e vou revê-lo.

A revolução dos bichos, de George Orwell, lançado em 1945, é outro livro essencial. Pro bem e pro mal. O filme que assisti há pouco tempo é bem legal. É dessa nova geração de filmes infantis, bem leve e fácil de ver. (ainda preciso adquirir o filme)

1984, de George Orwell é mais um livro que li e que faz parte deste grupo de ficção do qual os amantes da leitura não podem passar sem lê-lo. Já assisti ao filme também. Eu gostei da adaptação feita. Tenho em VHS.

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, publicado em 1953. Ao contrário dos outros, que li primeiro e depois assisti ao filme, esse clássico ainda não li. Somente vi o filme de François Truffaut de 1966. Tenho em VHS também.

Ainda não li Isaac Asimov. Apenas assisti ao filme Eu, robô. Também não posso deixar de citar o filme que mexeu com a cabeça de muita gente, inclusive a minha, Matrix de 1999, dos irmãos Wachowski.

A digestão cultural disso tudo são perguntas:

-O que fazemos com este mundo real em que vivemos?
-Qual a ficção que pretendemos para o dia de amanhã?
-Para que serve o mundo? E a vida humana?
-Por que criamos Estados e Nações? Para as pessoas e os povos ou para alguns privilegiados?

O certo é que quem vai dar essas respostas amanhã são as crianças e os jovens de hoje (mais um monte de anciãos espertos do mundo de hoje).

ESTAMOS EDUCANDO NOSSOS JOVENS PARA O FUTURO? OU SÓ PARA ESSE "PRESENTE CONTÍNUO" EM QUE NOS METEMOS?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Formação Econômica do Brasil, by Celso Furtado





Começo esta postagem com o poema de Camões. Os Lusíadas enaltece os feitos portugueses, mas desde aquela época, os povos originários de África, Ásia e Américas, que sofreriam as invasões e seriam colonizados, já tinham leitura clara do que significava esses povos europeus que cortavam mares nunca dantes navegados em busca de novos horizontes comerciais. Nestes versos, os mouros já alertavam sobre isso e tentavam enfrentar os invasores.

No capítulo, Celso Furtado segue contando a saga das ocupações por espanhóis, portugueses, ingleses, franceses e holandeses nas terras de América.


CANTO PRIMEIRO

78

E, entrando assi a falar-lhe, a tempo e horas
A sua falsidade acomodadas,
Lhe diz como eram gentes roubadoras
Estas que ora de novo são chegadas;
Que nas nações na costa moradoras,
Correndo a fama veio, que roubadas
Foram por estes homens que passavam,
Que com pactos de paz sempre ancoravam.

79

- "E sabe mais (lhe diz) como entendido
Tenho destes cristãos sanguinolentos,
Que quase todo o mar têm destruído
Com roubos, com incêndios violentos;
E trazem já de longe engano urdido
Contra nós; e que todos seus intentos
São para nos matarem e roubarem,
E mulheres e filhos cativarem.

80

"E também sei que têm determinado
De vir por água a terra muito cedo,
O Capitão, dos seus acompanhado,
Que da tenção danada nasce o medo,
Tu deves de ir também co'os teus armado
Esperá-lo em cilada, oculto e quedo,
Porque, saindo a gente descuidada,
Cairão facilmente na cilada.

81

"E se inda não ficarem deste jeito
Destruídos ou mortos totalmente,
Eu tenho imaginada no conceito
Outra manha e ardil que te contente:
Manda-lhe dar piloto, que de jeito
Seja astuto no engano, e tão prudente,
Que os leve aonde sejam destruídos,
Desbaratados, mortos ou perdidos."

(Os Lusíadas, Luís de Camões)


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

VI. Consequências da penetração do açúcar nas Antilhas

CUSTOS CONCORRENTES: MÃO DE OBRA ESCRAVA X PEQUENA PROPRIEDADE

"Surge assim uma situação completamente nova no mercado dos produtos tropicais: uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão de obra escrava em grandes unidades produtivas, e regiões de pequena propriedade e população europeia".

De forma sucinta, o "curta metragem" é o seguinte:

Ingleses e franceses iniciam colônias de povoamento nas Antilhas e parte da América do Norte. A ideia inicial era produzir produtos não concorrentes com o açúcar brasileiro.

Com a expulsão dos holandeses do Brasil, estes levam as técnicas, escravos africanos e o dinheiro para financiar e implantar o açúcar nas Antilhas. Resultado: dançaram as pequenas propriedades locais.
Resta aos ingleses e franceses irem para a América do Norte tentar a fixação das colônias de povoamento.

Celso Furtado diz: "Tudo inutilmente. A valorização das terras provocada pela introdução do açúcar agiu inexoravelmente, destruindo em pouco tempo esse prematuro ensaio de colonização de povoamento das regiões tropicais da América".

Pouco depois, tornaram-se viáveis as colônias do norte ao exportarem gêneros alimentícios para as áreas de produção açucareira.

Outra coisa: "Casks and barrels too were needed in which to pack the sugar. These were provided from the adundant forests of Massachusetts and Connecticut". (dá-lhe acabar com as florestas norte-americanas para servir ao transporte do açúcar e demais mantimentos)

O que mais nasceu no comércio local? A indústria derivada da cana: bebidas alcoólicas.


DIFERENÇA BÁSICA ENTRE COLÔNIAS DO NORTE E DEMAIS: VALOR AGREGADO

"As colônias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do século XVII e primeira do século XVIII, como parte integrante de um sistema maior dentro do qual o elemento dinâmico são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais (...) Essa separação, ao tornar possível o desenvolvimento de uma economia agrícola não-especializada na exportação de produtos tropicais, marca o início de uma nova etapa na ocupação econômica das terras americanas".

Esse avanço comercial dos colonos norte-americanos só foi possível devido à guerra civil por que passava a Inglaterra. E depois pela guerra entre ingleses e franceses. Os norte-americanos começaram a "nadar de braçadas" no comércio atlântico.

Já no século XVIII foi difícil para a Inglaterra reverter esse quadro. Se por um lado a produção em escala com mão de obra escrava era mais rentável, a de pequenas propriedades agregava mais valores distributivos e fixadores nas terras do norte.

COMENTÁRIO: 

OU SEJA, HAVIA FLUXO DE RENDA MONETÁRIA - CAPITAL INVESTIDO EM FATORES DE PRODUÇÃO QUE POR SUA VEZ RETORNAM COMO RENDA LOCAL.



MAIOR PRODUÇÃO PER CAPITA NO NORTE

"Essas colônias de pequenos proprietários, em grande parte auto-suficientes, constituem comunidades com características totalmente distintas das que predominavam nas prósperas colônias de exportação. Nelas era muito menor a concentração da renda, e as mesmas estavam muito menos sujeitas a bruscas contrações econômicas"

Observe este fato e comento em seguida: "nas colônias do norte dos EUA os gastos de consumo se distribuíam pelo conjunto da população, sendo relativamente grande o mercado dos objetos de uso comum"

COMENTÁRIO (2009): 

O que o Brasil está vivendo com o Governo de Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores é isso. O nosso país implantou uma política de crescimento interno sólida, com mais distribuição de renda, o que tem permitido que enfrentemos a crise mundial atual. Se seguirmos nessa linha de crescimento interno, onde há uma massa de 100 milhões de brasileiros ainda por acessar "o mercado de objetos de uso comum" com distribuição de renda mais equânime e com exportação desconcentrada, diversificada e de bens de valor agregado, poderemos crescer ainda umas duas décadas.

É isso!


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Vivo penço


Sou mais pensar que agir.
Agir no sentido de escrever.
Penso, penso, repenso, tripenso
e nem sei pra que lado pendo.

Procuro, procuro... no escuro.
Procuro... no escuro... e não sei.
Não sei como acho a forma, que não sei.
Se não sei, como acho?
-Diacho!!

Olho por onde já fui.
Vejo por onde acho que ando.
Mas não acho o caminho, o rumo.
Desse jeito, como me aprumo?

Acordo. Levo meu dia pragmático.
Por mais que penso e repenso,
não tem jeito, sou dogmático.

Procuro cá fora um modo, um jeito,
de olhar pra dentro, no centro.
Vivo entre outonos e invernos.
Nunca me assento nas primaveras,
nos verões. Só mesmo no inverno,
-Inferno!!

Sempre digo que não desisto.
Insisto.
Pior é que não me convenço,
e sigo:
procuro e não acho.
-Diacho!!

Penso e não entendo.
Penso... penso...
Vivo... penço.


Wmofox, 23.11.2003

PS: a palavra "penço" aqui é um neologismo para a forma conjugada "pendido". É a forma que uso para diferenciar do verbo "pensar" conjugado na 1ª pessoa do singular no presente do indicativo "penso". 

A forma padrão para o sentido semântico que quero seria "viver pendido", mas não traduziria o que o eu poético transmitiu ao encerrar o poema.

É isso. A língua é minha, é nossa. Eu a uso como achar melhor!

As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift


Ilustração sobre Jonathan Swift, datada de 1850.

Na edição da revista Carta Capital nº 545, a capa trazia o seguinte destaque: O Congresso de Lilliput.

Eu sabia que a referência era para o clássico de Jonathan Swift, mas eu não li o livro ainda. É mais uma de minhas eternas lacunas culturais.

Comecei a folheá-lo, ver a apresentação biográfica do autor irlandês e li alguns capítulos da obra. O livro é fabuloso.

Não estou com possibilidades de lê-lo até o fim, agora. Mas a impressão é muito positiva. Me pareceu que a ironia é um ponto forte do livro.

Um dos autores de melhor uso da ironia que conheço é Machado de Assis. Pelo que pude perceber, a obra inteira é uma crítica cruel e ferina ao contexto, governos e pessoas da época.

Fica o desejo de ser, qualquer hora dessas, menos ignorante em relação às viagens de Gulliver.


Post Scriptum (10/4/16):

Postagem relida no silêncio do apartamento em Brasília, após chegar de um final de semana em Uberlândia. Minha esposa está em São Paulo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Representações do intelectual: tradicionais x orgânicos




Edward Said discorre sobre dois tipos de representação de intelectuais, uma de concepção na linha de Gramsci e outra na linha de Julien Benda.

GRAMSCI vê dois tipos de intelectuais: os tradicionais como professores, clérigos e administradores e outra como intelectuais orgânicos.

Intelectuais orgânicos "que Gramsci considerava diretamente ligados a classes ou empresas que os usavam para organizar interesses, conquistar mais poder, obter mais controle".

"Nos dias de hoje, o especialista em publicidade ou relações públicas, que inventa técnicas para obter uma maior fatia de mercado para um detergente ou uma companhia de aviação, seria considerado, segundo Gramsci, um intelectual orgânico..."

INTELECTUAIS ORGÂNICOS = HOMENS DE NEGÓCIO

"Ao contrário dos professores e dos clérigos, que parecem permanecer mais ou menos no mesmo lugar, realizando o mesmo tipo de trabalho ano após ano, os intelectuais orgânicos estão sempre em movimento, tentando fazer negócios".

JULIEN BENDA vê um grupo minúsculo de reis-filósofos: que constituem a consciência da humanidade. Cita como exemplos Sócrates, Jesus e, mais recentes, Espinosa, Voltaire e Ernest Renan.

VEÍCULOS DE MASSA USADOS PARA DISSIMULAR A VERDADE

"De acordo com Benda, o problema dos intelectuais de hoje é que eles concederam sua autoridade moral àquilo que, numa frase premonitória, ele chama 'a organização de paixões coletivas', tais como o sectarismo, o sentimento das massas, o nacionalismo beligerante, os interesses de classe".

Benda escreveu isso em 1927, antes da época dos meios de comunicação de massa, que depois passariam a ser importantes para governos, políticas e propagandas oficiais com o apoio de intelectuais, na construção de eufemismos e dissimulações da verdade.

O INTELECTUAL DEVE CORRER RISCOS

"De acordo com a definição de Benda, os verdadeiros intelectuais devem correr o risco de ser queimados na fogueira, crucificados ou condenados ao ostracismo (...) Têm de ser indivíduos completos, dotados de personalidade poderosa e, sobretudo, têm de estar num estado de quase permanente oposição ao status quo"

Aqui lembro o exemplo de Miguel Ángel Asturias em 1963, expulso da Argentina por denunciá-la de apoiar a ditadura na Guatemala.

EXCERTO de Claude Couffon no livro sobre Asturias:

"Estábamos en 1963. Asturias se encontraba en París con su esposa argentina, Blanca, en un nuevo exilio. Algunos meses antes, Guatemala había conocido una recrudescencia de la violencia, mientras la guerrilla se implantaba en las montañas, y la voz de Asturias se había vuelto más polémica para denunciar los apoyos exteriores - entre ellos los de Argentina - a un régimen fatal para su patria. Tal condenación había irritado al gobierno del país que lo acogía y la orden de expulsión fue pronunciada"

CASO DREYFUS, OUTRO EXEMPLO DE BENDA

"Benda foi espiritualmente moldado pelo caso Dreyfus e pela Primeira Guerra Mundial, ambos provas rigorosas para os intelectuais, que podiam optar por levantar a voz corajosamente contra um ato de injustiça militar anti-semita e de fervor nacionalista, ou ir timidamente atrás do rebanho, recusando-se a defender o oficial judeu Alfred Dreyfus, injustamente condenado..."

SAID PREFERE A LINHA DE GRAMSCI

"A análise social que Gramsci faz do intelectual como uma pessoa que preenche um conjunto particular de funções na sociedade está muito mais próxima da realidade do que tudo o que Benda escreveu..."

INTELECTUAL NO SÉCULO XXI

E mais abaixo fala das profissões intelectuais contemporâneas: "Hoje, todos os que trabalham em qualquer área relacionada com a produção ou divulgação de conhecimento são intelectuais no sentido gramsciano".

LÍNGUAS FRANCAS EXCLUSIVAS POR ÁREA

"Todos os intelectuais, o editor de um livro e o autor, o estrategista militar e o advogado internacional, falam e lidam com uma linguagem que se tornou especializada e utilizável por outros membros da mesma área: especialistas que se dirigem a outros experts numa língua franca em grande parte incompreensível por pessoas não especializadas".

OS INTELECTUAIS E AS REVOLUÇÕES E CONTRA-REVOLUÇÕES

"Não houve nenhuma grande revolução na história moderna sem intelectuais; de modo inverso, não houve nenhum grande movimento contra-revolucionário sem intelectuais. Os intelectuais têm sido os pais e mães dos movimentos e, é claro, filhos e filhas e até sobrinhos e sobrinhas".

A QUESTÃO CENTRAL PARA SAID

"A questão central para mim, penso, é o fato de o intelectual ser um indivíduo dotado de uma vocação para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto de vista, uma atitude, filosofia ou opinião para (e também por) um público. E esse papel encerra uma certa agudeza, pois não pode ser desempenhado sem a consciência de se ser alguém cuja função é levantar publicamente questões embaraçosas, confrontar ortodoxias e dogmas (mais do que produzi-los)...

Assim, o intelectual age com base em princípios universais: que todos os seres humanos têm direito de contar com padrões de comportamento decentes quanto à liberdade e à justiça da parte dos poderes ou nações do mundo, e que as violações deliberadas ou inadvertidas desses padrões têm de ser corajosamente denunciadas e combatidas"

É isso. ASSINO EMBAIXO!!


BIBLIOGRAFIA

ASTURIAS, Miguel Ángel. Miguel Ángel Asturias: París 1924-1933 - Periodismo y creación literaria. Edición Crítica. ALLCA XX, Fondo de Cultura Económica. Segunda Edición Amos Segala, 1996.

SAID, Edward W. Representações do intelectual - As Conferências Reith de 1993. Tradução de Milton Hatoum. Editora Companhia das Letras, 2005.

Refeição Cultural 33 - A intelectualidade e a busca da paz

Tanto tenho lido e estudado nos últimos tempos que, vez por outra, preciso me perguntar aonde essa dedicação vai levar.

Minha vontade de ser um intelectual deve estar associada a algo de útil para o meu mundo.

Tenho pensado na ideia quase abstrata da paz. Será que ela é possível?

Vivo dizendo em casa que não se deve odiar a política como querem os poderosos que fazem de tudo para afastar o povo da verdadeira Política. Esse afastamento é a melhor forma de se manter o status quo.

Há duas maneiras de se produzir mudanças sociais: pela guerra ou pela paz, ou seja, pela Revolução ou pela Política.

Não conheço muitas biografias de pacifistas, mas quando leio algo sobre pessoas como Gandhi, Mandela e, mais recentemente, Lula da Silva, me emociono.

Esse metalúrgico brasileiro do Partido dos Trabalhadores sabe muito de Política e de meios pacíficos de se buscar avanços de maneira gradual para os mais humildes de uma nação.

Estava lendo hoje pela manhã sobre Miguel Ángel Asturias, o escritor, jornalista e pacifista guatemalteco, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1967 e o admirei por seus atos e sua luta contra a ditadura implantada na Guatemala com o apoio dos EUA.

Ele foi expulso da Argentina na década de 60, onde vivia como exilado, por ter criticado o governo argentino por apoiar a ditadura em seu país. É como diz Edward Said a respeito dos intelectuais verdadeiros - eles devem se posicionar sempre, mesmo correndo riscos pessoais.

Coliseu de Roma e Basílica de São Pedro - Itália

Assisti a dois vídeos que tratam de várias maravilhas do mundo. São fitas de VHS antigas que tenho em casa. É como digo, se um dia conseguir ler e ver tudo o que tenho em casa, em geral muito papel e coisa velha, talvez eu seja menos ignorante em um punhado de coisas.

As fitas são de uma coleção da Reader's Digest e uma fala de Maravilhas Sagradas e Misteriosas, sendo uma delas a Basílica de São Pedro, e a outra fala de Maravilhas Criadas pelo Homem, mostrando o Coliseu de Roma.

Espero conseguir ver pessoalmente esses dois monumentos históricos. Na Basílica de São Pedro está a Pietá, esculpida em mármore por Michelangelo aos 25 anos.

Espero conseguir visitar também o Museu do Vaticano, onde está a Capela Sistina, em grande parte pintada por Michelangelo.

COMENTÁRIO: Estive por duas semanas na Itália, mas foi impossível ir à Roma. Em compensação consegui conhecer um pouco as cidades de Florença, Turim (onde fiquei), Veneza e Milão (por 2 horas).

domingo, 26 de julho de 2009

Sigo no Inferno... de Dante



Hoje reli mais uns capítulos da primeira parte de A Divina Comédia. Para acompanhar-me nesta postagem estou ouvindo Antonio Vivaldi e sua obra "As Quatro Estações".

CANTO IV
"Despertado por um trovão, Dante se acha no primeiro Círculo do Inferno, onde estão as almas de crianças e adultos que não foram batizados. Também vê os sábios da Antiguidade, que tiveram vida virtuosa, mesmo sendo pagãos."

PRIMEIRO CÍRCULO - sofrimento leve
"Não mais havia choro lastimoso, só suspiros, que murmuravam, ecoando suavemente por todo o espaço"

Ali estão aqueles que não pecaram, mas que, mesmo tendo realizado boas obras, falta-lhes o Batismo. São pagãos.

É o limbo.

Vários são os que foram salvos dali: Adão, Abel, Noé, Moisés - o legislador, Abraão - o obediente, Davi - rei dos hebreus, Israel e Raquel.

Outros escolhidos, que ficam de fora da turba: Homero - rei dos poetas, Horácio - o satírico, Ovídio e Lucano.

Vários filósofos e sábios do passado ali se encontram: Aristóteles, Platão e Sócrates, dentre outros.

CANTO V
"À porta do segundo Círculo está Minos, que julga as almas e lhes decide a pena. Nesse Círculo acham-se os luxuriosos, que são incessantemente arrastados e atormentados pela ventania. Aqui, Dante encontra Francesca da Rimini."

SEGUNDO CÍRCULO - onde o poder da dor é mais profundo
Ali "o furor da tormenta, nunca apoucado, flagelava eternamente as almas"

Várias são as personagens que ali se encontram, dentre tantas Cleópatra e Helena, além de Aquiles, Páris e Tristão.

E Francesca, que sucumbiu ao amor proibido à leitura do relato de amor de Lancelote.

CANTO VI
"Acham-se no terceiro Círculo os gulosos, condenados a ficar prostrados sob forte chuva de granizo, água e neve, e ser dilacerados pelas garras de Cérbero. Dante encontra entre os condenados Ciacco, que faz a Dante desastrosas previsões sobre Florença."

TERCEIRO CÍRCULO - caíam eternas chuvas, gélidas, escuras, pesadas - sempre as mesmas, sempre impuras.

A soberba, a avareza e a inveja irão incendiar o peito dos florentinos.

Bibliografia:
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Editora Nova Cultural, 2002, São Paulo.

Jean-Paul Sartre


Sartre, foto da Wikipedia.

Biografia, segundo a Larousse Cultural:


Filósofo, romancista, dramaturgo e político francês (Paris 1905 - 1980).


Na primeira fase de suas reflexões, foi um dos principais expoentes do existencialismo, escrevendo diversas obras filosóficas e literárias, nas quais propõe uma visão do homem como dono de seu próprio destino e cuja vida é definida por seu projeto e por suas próprias ações.


Sua análise dos problemas da existência humana, dentro da rigorosa técnica filosófica, orientada pelo método fenomenológico, encontra-se em O SER E O NADA. Dentre os escritos literários desse período, destacam-se as peças AS MOSCAS (1943), MORTOS SEM SEPULTURA (1946), AS MÃOS SUJAS (1948), O DIABO E O BOM DEUS (1951) e os romances A IDADE DA RAZÃO, SURSIS (1945) e COM A MORTE NA ALMA (1949).


As posições iniciais de Sartre sofreram transformações determinadas, por um lado, pelo caráter "aberto" de sua visão existencialista, por outro, pelo seu progressivo engajamento político. Assim, Sartre foi levado a inserir o existencialismo dentro de uma concepção filosófica mais ampla, que encontrou no marxismo.


A fundamentação teórica dessa nova posição encontra-se na CRÍTICA DA RAZÃO DIALÉTICA, publicada em 1960. Um dos mais fecundos e ativos intelectuais do século XX, Sartre participou da Resistência francesa contra o Nazismo, fundou (1945) e dirigiu a revista Les Temps Modernes, de grande influência entre os intelectuais franceses, e publicou várias outras obras importantes: A IMAGINAÇÃO, A TRANSCENDÊNCIA DO EGO (1936); A NÁUSEA (1938); O MURO, ESBOÇO DE UMA TEORIA DAS EMOÇÕES (1939); O IMAGINÁRIO (1940); ENTRE QUATRO PAREDES (1945); O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO, A PROSTITUTA RESPEITOSA, REFLEXÕES SOBRE A QUESTÃO JUDAICA (1946); OS SEQUESTRADORES DE ALTONA (1960); AS PALAVRAS (1964) e O IDIOTA DA FAMÍLIA (1971).


Em 1964, foi-lhe atribuído o Prêmio Nobel de Literatura, que ele recusou.



Fonte:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Nova Cultura Ltda. 1998.

sábado, 25 de julho de 2009

A promessa - Filme com Jack Nicholson, dirigido por Sean Penn



Poster de divulgação do filme.

Refeição Cultural


A cada dia admiro e gosto mais dos filmes estrelados e dirigidos por Sean Penn. Ele tem sempre uma surpresa para o telespectador.

Outro dia, assisti a um filme bem antigo com ele ainda adolescente - Caminhos violentos, de 1986. Final surpreendente e inesperado.

Um filme emocionante com Sean Penn é Uma lição de amor, de 2001, onde ele interpreta um pai com deficiência mental. O nome dado em português cai bem ao filme. É uma lição de amor e de vida.

Mais recentemente, ele dirigiu um dos filmes que mais me tocaram pessoalmente: a história de Chris McCandless - Na natureza selvagem, de 2007.

Hoje, assisti novamente ao filme A promessa, com Jack Nicholson, de 2001.

A história não é coisa do outro mundo. Um detetive que, prestes a se aposentar, acaba prometendo à mãe de uma criança brutalmente assassinada descobrir o autor do crime. A partir daí a trama rola.

Os filmes de Sean Penn têm um que a mais, como se não fossem filmes "óliudianos": a fotografia, a tomada de cena. Sempre tem espaço para as expressões, o detalhe. Como também sempre vemos belas paisagens e a grandeza da natureza.

O mais interessante é que sempre que termina um filme dirigido ou protagonizado por ele, quedo pensando, ora com um soco no estômago, ora com o espanto do inesperado. É O EFEITO DA CATARSE!

Estou percebendo que quando algo tem o nome do cara envolvido, vale a pena ver.

Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado



Releituras em 2015...

Para ilustrar essa história das colonizações nas Américas, que tem origem nas navegações portuguesas e nas expansões comerciais globalizantes dos países europeus, nada como citar estrofes de Os Lusíadas, de Luís de Camões.


CANTO PRIMEIRO

43

Tão brandamente os ventos os levavam
Como quem o Céu tinha por amigo;
Sereno o ar e os tempos se mostravam,
Sem nuvens, sem receio de perigo.
O promontório Prasso já passavam,
Na costa de Etiópia, nome antigo,
Quando o mar descobrindo lhe mostrava
Novas ilhas que em torno cerca e lava.

44

Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Para se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece;
Por diante passar determinava,
Mas não lhe sucedeu como cuidava.

45

Eis aparecem logo em companhia
Uns pequenos batéis, que vêm daquela
Que mais chegada à terra parecia,
Cortando o longo mar com larga vela.
A gente se alvoroça, e de alegria,
Não sabe mais que olhar a causa dela.
- "Que gente será esta?" (em si diziam)
"Que costumes, que leis, que rei teriam?"


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

V. As colônias de povoamento do hemisfério norte

O século XVII é marcado pela debilidade da potência militar espanhola. A coisa só não foi pior para os espanhóis pela rivalidade crescente entre França e Inglaterra (duas das três potências que se destacavam na época, junto com a Holanda).

Ingleses e franceses se empenharam em criar núcleos de população europeia nas Antilhas.

"Em razão de seus objetivos políticos essa colonização deveria basear-se no sistema da pequena propriedade. Os colonos eram atraídos com propaganda e engodos, ou eram recrutados entre criminosos ou mesmo sequestrados."

Os ingleses tiveram mais sucesso nessa colonização. O século XVII foi de muita intolerância religiosa e política nas ilhas britânicas, o que provocou grandes deslocamentos de população dentro das ilhas e para o exterior.

"The English settlements developed in the course of the seventeenth century owe (dever, relacionar a) their existence mainly to the immigration of refugees from religious or political intolerance who left Britain before the Toleration Act of 1689. Puritans founded the first successful settlement in New England in 1620. English Dissenters established settlements in Massachusetts..." J. Isaac, op. cit., p.16.


COLONIZAÇÕES DISTINTAS NAS AMÉRICAS

"Ao contrário do que ocorrera com a Espanha e Portugal, que se haviam visto afligidos por uma permanente escassez de mão de obra quando iniciaram a ocupação da América, a Inglaterra do século XVII apresentava um considerável excedente da população, graças às profundas modificações de sua agricultura iniciadas no século anterior."

(Mas, há uma nota, baseada em Irme Ferencz que diz "A ideia de que a Espanha foi empobrecida pela emigração em massa para a América carece de fundamento, pois o tipo de colônia que os espanhóis criaram nas terras americanas não exigiu grandes traslados da população europeia. Na verdade, estima-se que entre 1509 e 1790, emigraram da Espanha para a América cerca de 150.000 pessoas. Somente no século XVII das ilhas britânicas saíram cerca de 500.000)

Celso Furtado afirma sobre esses milhares de ex-agricultores britânicos: "Tudo indica que essa gente recebia um tratamento igual ou pior ao dado aos escravos africanos".

"No êxito da colonização agrícola portuguesa tivera como base a produção de um artigo cujo mercado se expandia extraordinariamente. A busca de artigos capazes de criar mercados em expansão constitui a preocupação dos novos núcleos coloniais".

O que se podia produzir na América do Norte (Nova Inglaterra) era o mesmo que se produzia na Europa a um custo muito menor.

Porém, alguns produtos se mostraram viáveis: "As condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo número de artigos - como o algodão, o anil, o café e principalmente o fumo - com promissoras perspectivas nos mercados da Europa".

O recrutamento de mão de obra, principalmente por parte da Inglaterra, seguiu a lógica da servidão temporária. Apesar disso, o recrutamento de criminosos e o rapto de adultos e crianças se transformou em calamidade pública.


COMENTÁRIO: na leitura deste capítulo em 2008, fiz a seguinte observação: "com diversas nuanças, o certo é que tanto na América do Sul e Central como na América do Norte houve chegada de escória - criminosos e vagabundos - da Europa (além, é lógico, de ex-agricultores e raptados). A diferença é que uns falavam português e espanhol, outros o inglês e o francês".


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

Decamerão - Boccaccio

(Estátua de Boccaccio em Florença)


Dados constantes da apresentação da edição que tenho da Nova Cultural, tradução de Torrieri Guimarães.

Giovanni boccaccio (1313-1375) é considerado um dos criadores da prosa italiana e um dos pioneiros da obra de ficção.

Na concepção moral do Decamerão, entrechocam-se o estoicismo cristão e o epicurismo arrebatado e, por vezes, extremamente libertino. São sinais que marcam o final da Idade Média e o início da Renascença: a ruína do feudalismo e a ascensão de uma burguesia mercantil. Mas o realismo da obra é de tal ordem, que consegue, mesmo, antecipar a ficção moderna. E a voluptuosidade erótica, o colorido da aventura carnal dão a tônica do livro. Tal concepção levaria o crítico De Sanctis a chamar a obra de "uma nova comédia, não a divina, mas a terrestre".

Toda a novelística da literatura universal tem no Decamerão a verdadeira pedra angular e um dos mais completos modelos da arte da ficção.

PROÊMIO
A obra tem um proêmio que apresenta as motivações do autor em se fazer o Decamerão - a gratidão. Ao se dizer grato pela sorte de ter superado uma dor de amor e querer retribuir ao mundo essa gratidão.

"Pelo que eu entendo, a gratidão deve ser incluída entre as virtudes; e lamentada a ingratidão. Para não ser ingrato, a mim mesmo propus, agora que posso considerar-me livre, o trabalho de ofertar algum consolo, na medida de minhas possibilidades, em troca do que eu recebi".

Como os homens tinham outras ocupações para entreter a dor de uma paixão como caçar, pescar, jogar, entre outras coisas da época, a obra vai dedicada às mulheres que não tinham nada que fazer para entreter-se das dores do amor, pois "mantêm elas, escondidas, em seu delicado seio, as chamas do amor. Receiam envergonhar-se; retraem-se...".

Então, "para que se corrija, para mim, o pecado da Sorte, pretendo narrar cem novelas, ou fábulas, ou parábolas, ou histórias, sejam lá o que forem (...) As já referidas mulheres, que estas novelas lerem, poderão obter prazer e útil conselho das coisas reconfortantes que as narrativas mostram...".

COMENTÁRIO: esta obra é feita em um contexto muito interessante: durante a peste, que devastou a Europa. Hoje, estamos vivendo o início da pandemia da gripe suína. Ainda é coisa pouca. Amanhã, ninguém sabe.

Bibliografia:
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Coleção Imortais da Literatura Universal. Editora Nova Cultural Ltda, 1996, SP.

No inferno de Dante

(Dante, de Botticelli)

CANTO II
"Após invocar as Musas, Dante, em virtude de sua fraqueza, hesita em aventurar-se na viagem. Virgílio, porém, diz-lhe que Beatriz ordenara que fosse em frente, e que havia quem se interessasse por sua salvação. Diante disso, Dante determina-se a segui-lo, e enceta com seu guia o árduo caminho".

COM O MEDO, SE PERDE A RAZÃO
"Tu estás dominado pelo medo; porém, o homem que se acovarda perde a razão, passando a agir como um animal assustado".

AJUDA PELO DOM DA PALAVRA
Beatriz corre à sombra de Virgílio para que vá até o limbo em busca e auxílio de Dante. "Segue, pois, e com a tua poderosa eloquência, ajuda-o".


CANTO III
"Chegado à porta do Inferno, os dois poetas deparam a ameaçadora inscrição. Entram e encontram no vestíbulo o caminho; alcançam o Aqueronte, rio onde Caronte, o barqueiro infernal, conduz as almas dos danados à margem oposta, rumo ao suplício".

"Por mim se vai à cidade das dores; por mim se vai à ininterrupta dor; por mim se vai à gente condenada. Foi Justiça que inspirou o meu Autor; fui feito por Poderes Divinais, Suma Sapiência e Supremo Amor. Antes de mim, havia apenas coisas eternas, e eu, eterno, perduro. Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!"

Antes do primeiro círculo do inferno estão as almas envilecidas, que os maus detestam e que Deus repele. "Mestre, que ouço agora? Que gente é esta, que a dor está prostrando? (...) quem viveu com indiferença a vida, sem ter nunca merecido nem louvor nem censura ignominiosa..."

Então, chegam ao rio Aqueronte e o barqueiro infernal Caronte - um velho de cabelos brancos - "Ai de vós condenados! Nunca vereis o Céu!" (aos que ultrajaram Deus e amaldiçoaram a humanidade, a pátria, o tempo, a origem da sua vida, os pais de que nasceram).

Bibliografia:
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Editora Nova Cultural, 2002, São Paulo.

As pestes e os comportamentos humanos


Decamerão, Boccaccio.

Refeição Cultural


A gripe H1N1 - Suína - já matou, até ontem, trinta e três pessoas no Brasil. Oitocentas pessoas no mundo.

A Organização Mundial da Saúde - OMS - diz que vai piorar. Até 2011, a doença poderá ter atingido um terço da população mundial, algo como dois bilhões de pessoas.

O homem sempre correu este risco e seguirá assim. Já tivemos a Gripe Espanhola no início do século XX.

Na idade média, um escritor - Boccaccio - fez uma obra volumosa e ousada, epicurista, aproveitando o contexto da peste. Escolheu como cenário os arredores de Florença para reunir seus personagens - dez jovens, sendo sete moças e três rapazes - e os colocou narrando em dez jornadas "coisas" como novelas, contos, casos etc, totalizando 100 "coisas". O Decamerão.

Em tempos de epidemias, pandemias, o ser humano pode perder todo o seu enquadramento social. A exponenciação do risco de morrer a qualquer momento nos deixa mais bichos, mais soltos - se possível for -, ou mais presos - se o terror vigorar.

Outro dia, um primo meu não queria vir a Osasco, porque aqui três pessoas morreram da Gripe Suína. Já pensou onde isso vai parar?!


Post Scriptum (10/12/09):

Como ocorre normalmente, a gripe suína ou "A" segue pelo mundo, mas tem vacina e ninguém da imprensa divulga mais. Já era!


Post Scriptum II (07/02/16):

Relendo hoje esta postagem sobre as pestes, vejo que o mundo não acabou com a peste suína. Mas o risco mundial neste instante é o Zica vírus, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, que também transmite a Dengue e o Chykungunya. O Zica traz sérios problemas para as mulheres grávidas, a microcefalia nos bebês. Que mundo, heim? Neste momento, há alertas sobre risco de pandemia da doença em várias regiões do mundo com nascimento de gerações de crianças com microcefalia. Ou, a depender do grau de cultura e legislação do país, séries de abortos para se evitar a consequência da geração de crianças com microcefalia.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Divina Comédia - Dante Alighieri

(Dante, de Botticelli)

Assim que resolvi ser menos ignorante em relação à Itália, peguei meu livro de Dante e comecei a lê-lo. Na verdade, em 2005 li a primeira parte do livro - O Inferno. Bom, estou lendo o livro desde ontem. É muito interessante.

Eu não sou mais o mesmo de antes. Por ser pouca a diferença entre 2005 e 2009, posso dizer que o livro é o mesmo. Pois, as histórias e os livros vão mudando à medida que vão mudando os contextos históricos. Esta relação obra e leitor de cada época é fundamental na interpretação da obra.

É evidente que o que estou dizendo é uma das linhas da teoria literária. Outras defendem a total independência da obra em relação ao contexto histórico e externo à própria obra.

LEITURA EXIGENTE
A Divina Comédia é uma obra exigente, cheia de referências a personagens que têm alguma relação com a vida real ou literária de então. É repleta de intertextualidades.

Dante é conduzido pelo Inferno e pelo Purgatório por ninguém menos que Virgílio, poeta romano, autor da Eneida. Caberá a Beatriz conduzi-lo ao Paraíso.

CANTO I
"Perdido numa medonha selva, Dante vaga por ela durante toda a noite. Ao amanhecer, deixando-a, começa a subir por uma colina. Súbito, atravessam-lhe a passagem uma pantera, um leão e uma loba, e o afastam para a selva. Então, aparece-lhe a imagem de Virgílio, que o reanima e oferece-se a tirá-lo da selva, fazendo-o passar pelo Inferno e pelo Purgatório. Depois, Beatriz o conduzirá ao Paraíso. Dante o segue" .

Virgílio guiará Dante pelo vale das sombras, local onde as almas suplicam segunda morte, em vão.

"Agora, para salvar-te, eu tenciono te levar comigo; guiar-te-ei na região do eterno sofrimento. Ali, ouvindo gritos lancinantes, verás almas antigas, na amargura, suplicar segunda morte em altos brados".

Durante a leitura da obra, é possível visualizar o tenebroso Hades, o rio Aqueronte, o barqueiro Caronte, o cão Cérbero, o Portal do Inferno com os dizeres:

"Por mim se vai à cidade das dores; por mim se vai à ininterrupta dor; por mim se vai à gente condenada. Foi Justiça que inspirou o meu Autor; fui feito por Poderes Divinais, Suma Sapiência e Supremo Amor. Antes de mim, havia apenas coisas eternas, e eu, eterno, perduro. Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!"

Affhh!!

Bibliografia:
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Editora Nova Cultural, 2002, São Paulo.

Refeição Cultural 31 - Itália

Rio Pó e, ao fundo, Torre Mole Antonelliana. Foto: William Mendes

Estive na Itália a trabalho em 2009. Fiquei em Turim e aqui acima vemos o Rio Pó com a Torre Antonelliana ao fundo.

Palazzo Reale, Turim. Foto: William Mendes

O Palazzo Reale fica no centro de Turim.

Palazzo Madama, Turim. Foto: William Mendes

Esta construção acima também está na região central de Turim.


Esta é a igreja onde está o famoso Santo Sudário. Foto: William Mendes

Andando pela região central de Turim, chegamos até a igreja onde está o famoso e polêmico manto do Santo Sudário. Ele não é mostrado ao público faz muitos anos. Podemos ver acima a igreja... pichada! (acharam que isso era coisa de brasileiro, né?)


Radiografia do Santo Sudário exposta dentro da igreja em tamanho natural.
Foto: William Mendes

A única coisa que os turistas podem ver é a imagem acima. Segundo dizem é de tamanho natural.


Uma das praças da região central de Turim. Foto: William Mendes

Lá ao final da praça, à direita, tem uma imagem de um touro no chão da galeria que dizem que os turistas devem pisar para voltarem à cidade.

As construções na Itália são belíssimas. Foto: William Mendes

Na região central de Turim era onde viviam todos os nobres e a monarquia italiana. São dezenas de grandes construções com praças enormes.


Este é um dos carros mais famosos da Itália. Foto de William Mendes.


(Atualizado em 3/03/2012, após a ida para a Itália em setembro de 2009)


Desde terça, estou em little férias do trabalho at home...

O contexto: após esses dias de férias, passarei uma semana no 10º Concut em São Paulo. Depois passarei uma semana em Belo Horizonte, em um curso de formação da Contraf-CUT em parceria com o Dieese.

Em setembro, estarei em um curso da OIT na Europa por três semanas, sendo duas na Itália e uma na Espanha.

Para conciliar meu trabalho com a absorção de conhecimento possível na experiência, preciso me preparar bastante.

Ler sobre a Itália, definir os locais que irei visitar aos finais de semana e atualizar meu inglês e espanhol também são tarefas básicas para facilitar a minha experiência.

Pelo que tenho imaginado ser possível fazer em parco tempo disponível, mais ou menos, dará para ir a Florença e talvez em Roma e no outro fim de semana em Paris. Na última semana estarei em Madri. O curso será em Turim.

Minhas lacunas culturais em relação à Itália são espantosas e vergonhosas para um estudante de letras e bicho político.

Para citar algumas lacunas: não li "O príncipe" de Maquiavel; não li "A divina comédia" de dante Alighieri; só comecei a leitura de "Decamerão" de Boccaccio. Acho que sei pouco sobre o renascimento, sobre Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Rafael etc.

Não conheço os principais filmes de diretores italianos famosos e que marcaram a Sétima Arte.

São lacunas enormes em relação à Itália: eu confesso!

Tenho cerca de 30 dias para me tornar um pouco menos ignorante em relação a tudo isso que citei.


COMENTÁRIO POSTERIOR:

Na minha estadia na Itália, consegui visitar Veneza, Florença e Milão. Durante alguns dias, foi possível bater perna por Turim. Lá na Espanha, consegui ir somente a Toledo, além de andar por Madri.

COMENTÁRIO:
NÃO CONSEGUI IR A ROMA NEM A PARIS. Fui a Veneza, Milão, Florença e fiquei em Turim. Na Espanha, fiquei em Madri e fui a Toledo. Mas... foi muito legal.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Corridas: devagar, quase parando...

Estou muito mal fisicamente. Quero dizer, em termos de preparação física esportiva.

Preciso retomar o bom condicionamento cardiorespiratório e a resistência muscular para meus desafios do semestre:

-Corrida do Centro Histórico de 9 km em 9 de agosto;
-Romaria de 85 km em Minas Gerais em 14 de agosto;
-Circuito de corrida da AABB SP de 7,2 km, se não me engano em outubro e
-Corrida de São Silvestre em 31 de dezembro.

Nesta quarta-feira caminhei e corri um pouco - uns 5 km.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Países Baixos - Histórico, por Celso Furtado





Nota do livro Formação Econômica do Brasil, explicando o que eram os Países-Baixos.

As terras compreendidas atualmente (o livro é do final do século XX) pela Holanda, a Bélgica e parte do norte da França eram conhecidas, nos começos dos tempos modernos, pela designação geral de Nederlanden, isto é, Países-Baixos. Quando as sete províncias setentrionais - entre as quais se destacavam a Holanda e a Zelândia - conquistaram sua independência a fins do século XVI, as demais passaram a chamar-se Países-Baixos espanhóis e, a partir do século XVIII, austríacos. A parte independente chamou-se então Províncias Unidas, prevalecendo subsequentemente o nome de Holanda. A independência das Províncias Unidas data, oficialmente, de 1579 (União de Utrech), mas a guerra com a Espanha continuou pelos trinta anos seguintes, até a trégua de doze anos firmada em 1609. Dessa forma, os flamengos das Províncias Unidas, que haviam desenvolvido enormemente o seu comércio com Portugal quando estavam submetidos à Espanha, foram obrigados a abandoná-lo quando adquiriram a independência, pois no ano seguinte a Espanha ocupava Portugal.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.

Formação Econômica do Brasil, lendo Celso Furtado





Comecemos com os poemas de Camões, a relembrar nosso vínculo com as expedições portuguesas, que foram pela África e Ásia, até que atracaram aqui nas Américas.


CANTO PRIMEIRO

28

"Prometido lhe está do Fado eterno,
Cuja alta lei não pode ser quebrada,
Que tenham longos tempos o governo
Do mar que vê do Sol a roxa entrada.
Nas águas têm passado o duro Inverno;
A gente vem perdida e trabalhada;
Já parece bem feito que lhe seja
Mostrada a nova terra que deseja.

29

"E porque, como vistes, têm passados
Na viagem tão ásperos perigos,
Tantos climas e céus experimentados,
Tanto furor de ventos inimigos,
Que sejam, determino, agasalhados
Nessa costa africana como amigos,
E, tendo guarnecida a lassa frota,
Tornarão a seguir sua longa rota."

30

Estas palavras Júpiter dizia,
Quando os Deuses, por ordem respondendo,
Na sentença um do outro diferia,
Razões diversas dando e recebendo.
O Padre Baco ali não consentia
No que Júpiter disse, conhecendo
Que esquecerão seus feitos no Oriente,
Se lá passar a lusitana gente.

(Os Lusíadas, Luís de Camões - Editora Abril, 1982)


PRIMEIRA PARTE

Fundamentos econômicos da ocupação territorial

IV. Desarticulação do sistema

Este capítulo abrange as disputas comerciais - cujo produto principal é o açúcar - entre os holandeses, portugueses e espanhóis em um contexto onde a Espanha governa Portugal e os holandeses passam décadas de conflitos com os espanhóis.

"A começos do século XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus realizados por mar"

Como consequência dos conflitos entre holandeses e espanhóis podemos destacar "a ocupação pelos batavos, durante um quarto de século, de grande parte da região produtora de açúcar no Brasil".


HOLANDESES INICIAM PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NO CARIBE

"Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira".

Passaram então à produção do açúcar no Caribe e estava finalizado o monopólio do produto. Nas décadas seguintes, o preço do açúcar cairia pela metade e assim ficaria por muito tempo.

"A etapa de máxima rentabilidade da empresa agrícola-colonial portuguesa havia sido ultrapassada (...) Tudo indica que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto do que havia sido em sua melhor época"

COMENTÁRIO: cai o preço do açúcar, cai a renda na colônia; cai a renda na colônia, mas não cai o preço dos produtos importados, pois estes eram em ouro; como havia monopólio comercial Brasil-Portugal, houve transferência de renda da colônia para os produtores e exportadores portugueses de manufaturas.

COMENTÁRIO 2: Tratado de Livre Comércio - Ainda hoje, vemos muito dessa transferência em relação aos tratados comerciais bilaterais - TLCs. Quem se ferra são os países produtores primários e de commodities pois têm pouco valor agregado.


Bibliografia:

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. In: Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. Publifolha 2000.