Refeição Cultural
Retomei a leitura de Ulysses, de James Joyce, na tradução de Caetano W. Galindo. Hoje li o capítulo 11, foram 50 páginas.
A leitura foi difícil, mais que a de outros capítulos. O pessoal está bebendo num local e cantando. Joyce nos faz perceber o quanto é complicado entender tudo que pessoas bebendo falam. As palavras ficam pela metade, as frases não se concluem etc.
Cenas literárias
BLOOM PUBLICITÁRIO
Bloom, que é publicitário, observa um cartaz na porta de entrada do ambiente, uma propaganda de marca de cigarro:
"(...) o sábio Bloom olhava na porta um cartaz, sereia estirada fumando onde as ondas são belas. Fume Sereia, a mais refrescante tragada." (p. 440)
ALITERAÇÕES
"O calvo Pat que é mouco mitrava os guardanapos. Pat é um garçom ruim das oiças. Pat é um garçom que só serve para servir. Rii rii rii rii. Ele serve para servir. Rii rii. Um servo só serve. Rii rii rii rii. Ele só serve para servir. Serve para servir como um serve que serve. Rii rii rii rii. Ro! Servir como um servo." P. 464)
OUVIR O BARULHO DO MAR NAS CONCHAS
Eu já tive uma concha gigante e vivia ouvindo o barulho do mar dentro dela, ao colocar o ouvido.
"Bloom pela porta do bar viu uma concha segurada em seus ouvidos. Ouviu mais vagamente o que ouviam elas, cada uma por si própria só, e então cada uma pela outra, ouvindo o marulho das ondas, alto, um rugido silente." (p. 464)
COM O FILHO MORTO, ÚLTIMO VARÃO DE SUA RAÇA
"Eu também, último da minha raça. Milly estudante. Bom, culpa minha quem sabe. Sem filho. Rudy. Tarde demais agora. Mas e se não? Senão? Se ainda?" (p. 469)
BLOOM AVALIA SE...
"Uma puta rançosa com um chapéu de marinheiro de palha preta enviesado vinha lustrosa dia afora cais adentro na direção do senhor Bloom. Quando primeiro viu aquela forma encantadora. É, é ela. Estou tão só. Noite úmida na alameda. Duro. Quem estava? Unzurro. Aí ó. Fora da jurisprudência dela por aqui. O que é que ela? Espero que ela. Psst! Por acaso precisa de roupa lavada. Conhecia a Molly. Me derrubou. A senhora cheinha que estava com você com a roupa marrom. Te pega no contrapé. Aquele encontro que a gente marcou. Sabendo que nós nunca, bem, quase nunca. Perto demais do meu caro demais o meu lar doce lar. Está me vendo, ou não? Feia de dar medo à luz do dia. Rosto de patê. Dane-se! Ah, bom, ela tem que viver que nem todo mundo. Olhar aqui pra dentro." (p. 476)
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Havia parado a releitura do Ulysses porque a ideia era ler junto com o meu amigo que me presenteou a edição traduzida por Galindo. Como meu amigo não vai conseguir ler agora e eu já havia lido bastante, vou até o fim do clássico.
A sugestão de ler o principal clássico de Joyce foi muito produtiva para mim. Por causa da releitura, acabei lendo Odisseia em versos, na tradução de Odorico Mendes, e li também Retrato do artista quando jovem (1916), o livro anterior a este e que retrata o personagem Stephen Dedalus na infância e adolescência.
É isso. Seguimos lendo e dando algum sentido à vida neste momento tão sem sentido da história humana. O homem está acabando com a possibilidade de vidas no planeta e não me parece que algo vá deter isso.
William
Bibliografia:
JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.
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