terça-feira, 10 de agosto de 2021

Retrato do artista quando jovem, James Joyce



Refeição Cultural

De maneiras distintas, planejadas ou por acaso, as leituras diárias de livros seguem acontecendo em minha vida, felizmente. Terminei a leitura de Retrato do artista quando jovem (1916), do escritor irlandês James Joyce.

Este livro não estava em meus planos de leitura atual. A edição que tenho estava lá, quietinha na estante, comprada em um sebo por 7 reais há muito tempo. Aí um amigo me convidou para lermos juntos Ulisses (1922). Eu havia lido esse clássico duas décadas atrás, na tradução de Antônio Houaiss. Topei reler o clássico joyceano. (Houaiss adotou o nome com "i" e Galindo com "y")

Meu amigo Sérgio Gouveia me deu de presente a bela edição de Ulysses, traduzida por Caetano Galindo. Começamos a ler a obra, mas como usa acontecer na leitura por prazer, às vezes as questões do cotidiano de vida nos pegam pelo caminho e não conseguimos seguir na leitura. Comigo já aconteceu isso dezenas de vezes.

Meu amigo não está conseguindo se dedicar no momento à leitura do Ulysses e com isso vou avaliar se sigo adiante ou não. Já li mais de 400 páginas da edição e provavelmente vou terminar a leitura.

Da releitura de Ulysses (uma leitura gera outras), reli alguns contos de Dublinenses (1914) e acabei pegando o livro que nos apresenta o jovem Stephen Dedalus, personagem no Ulysses de Joyce que representa Telêmaco, filho do herói Ulisses, da Odisseia de Homero, obra referência para o clássico joyceano. Leopold Bloom e Molly Bloom completam o trio moderno na reinterpretação da odisseia grega.

STEPHEN DEDALUS, ALTER EGO DE JOYCE

"- Olha aqui, Cranly - disse ele. - Tu me perguntaste o que eu faria e o que eu não faria. Vou te dizer o que farei e o que não farei. Não servirei aquilo em que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja: e vou tentar exprimir-me por algum modo de vida ou de arte tão livremente quanto possa, e de modo tão completo quanto possa, empregando para a minha defesa apenas as armas que eu me permito usar: silêncio, exílio e sutileza." (p. 244)

Aí está uma coisa que realmente Joyce decidiu fazer na vida e fez: exprimiu-se de modo tão inovador e tão livremente em relação à arte literária que produziu romances com técnicas e linguagens que marcaram a literatura mundial a partir dos anos vinte do século passado.

Como disse no início da postagem, seja de forma planejada ou por acaso, da sugestão de releitura do Ulysses, acabei lendo a Odisseia em versos. Da Odisseia, li 3 clássicos gregos - Prometeu Acorrentado, Édipo Rei e Antígona. E finalmente conheci o romance - Retrato do artista quando jovem - que apresenta o jovem Dedalus, uma espécie de alter ego do próprio autor.

Seguimos lendo e buscando na cultura alguma satisfação nesse momento existencial de tanta tragédia como vivemos no Brasil, destruído por um golpe de Estado em 2016, golpe tão devastador ou mais que os efeitos da pandemia mundial de Covid. Após Temer e Bolsonaro, é como se o país tivesse sido queimado e jogado sal para que nada mais voltasse a germinar um dia. 

Espero que possamos recomeçar após a passagem desse mal no Brasil, mal causado pelo capitalismo e pelo imperialismo, mal que destruiu o nosso mundo, matou o nosso povo e tirou de nós as condições de nos refazermos para o futuro.

William



Post Scriptum (30/10/21): assisti ontem ao filme Retrato do artista quando jovem (1977), de Joseph Strick, uma adaptação ao livro de Joyce. Enfim, começo a ler e ver as diversas obras adquiridas décadas atrás e guardadas em casa. A adaptação do diretor foi bem fiel ao livro, não foi uma daquelas adaptações psicodélicas que alguns diretores fazem de obras clássicas. Novamente, causou revolta as cenas de violência contra alunos por parte do sistema educacional: ajoelhar no meio da sala, espancar as crianças com palmatória etc. Outra coisa que me chamou atenção são as cenas de pregações de religiosos aterrorizando fiéis a respeito dos pecados, dos mandos de deus e dos martírios eternos do inferno. Que foda isso! Eu me lembro perfeitamente disso em minha infância e adolescência como jovem que acreditava nessas abstrações humanas. E pensar que isso move o mundo e as sociedades desde que o homo sapiens é homo sapiens...


Bibliografia:

JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. Tradução de José Geraldo Vieira. Ediouro/92340, 1987.

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