Refeição Cultural - Cem clássicos
"razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"
Reli os poemas de Leminski contidos no livro Distraídos venceremos, de 1987. Tomei contato com a poesia dele quando ganhei o livro Toda poesia (2013), um tempo atrás.
O poeta morreu aos 44 anos de idade. Morreu cedo. Ele foi um fenômeno da natureza. Estou lendo trabalhos em prosa dele e o cara é muito bom. Ele fez um livro sobre a história da Revolução Russa porque a filha havia perguntado a respeito da questão. E o texto é muito denso e escrito de forma leve. O foco do livro é Trótski e a história da Rússia.
Eu aprendi a gostar de poesia depois dos trinta anos de idade e ainda sou um aprendiz do gostar dessa forma de linguagem. Não sou nenhum especialista no tema. Sou esforçado e quero aprender a ler poesia. Mas vai longe esse aprendizado ainda. Vai até o fim de minha existência.
CENAS INTERESSANTES
O poema "Arte do chá" nos transmite uma imagem fantástica. Coisa maravilhosa, e quase utópica. Duas pessoas se encontram pra ficarem em silêncio e tomarem um chá. Cara, que demais! Poucos sabem o quanto o silêncio comunica. Quantas pessoas já ficaram horas em silêncio, só olhando e curtindo?
"arte do chá
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo
ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo"
Adorei esse poema, essa ideia.
O poema "claro calar sobre uma cidade sem ruínas (ruinogramas)" me deixou saudoso de Brasília. Quem já passou por lá sabe o que Leminski está falando. Outra bela imagem poética da cidade cravada no Planalto Central.
"(...)
Em Brasília, admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
criminoso por estar
fora da quadra permitida.
Sim, Brasília.
Admirei o tempo
que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas."
Resumindo, dos 67 poemas contidos no livro, citaria mais alguns que me pegaram e nos encaixamos na imagem e na linguagem: "bem no fundo", "como pode?", "desencontrários", "litogravura", "merda e ouro", "pareça e desapareça", "rimas da moda", "rosa rilke raimundo correia", "sem budismo", "último aviso", "um metro de gritos (máquinas líquidas)", "voláteis" e "volta em aberto".
É isso! Vamos lendo, vamos lendo os livros que temos em casa. A vida é um instante, e uma oportunidade. É melhor ler do que não ler.
William
Bibliografia:
LEMINSKI, Paulo. distraídos venceremos. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
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