sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Retrato do artista quando jovem, lendo Joyce



Refeição Cultural

Depois da postagem a respeito da leitura do capítulo 3 (ler aqui), fiz a leitura do capítulo seguinte e não fiz comentário na forma de postagem, fiz observações nas margens do próprio livro.

O jovem Stephen Dedalus desiste do sacerdócio, quer encontrar por conta própria as respostas para as perguntas filosóficas e de sentidos em relação à vida.

"A sua alma estivera lá mas não ouvira e não concordara, e sabia, agora, que a exortação que tinha escutado já tinha caído ociosamente em formal e mera conversa. Ele jamais haveria de balouçar o turíbulo diante do tabernáculo, como padre.  O seu destino era ser arredio às ordens sociais ou religiosas. A sabedoria do apelo do padre não o tocara assim tão de pronto. Ele estava era destinado a aprender a sua própria sabedoria separado dos outros, ou a aprender a sabedoria dos outros vagando, ele, por entre as armadilhas do mundo." (p. 164)

O capítulo seguinte (5) trará Stephen com colegas e ele reflete sobre a definição de "beleza" e também de "verdade". Cita Santo Tomás de Aquino e Aristóteles. 

Dedalus estava conversando com um professor em um anfiteatro antes dos alunos entrarem. O deão disse ao jovem Dedalus que por ser artista, ele tinha como objetivo "criar a beleza". Novamente, temos uma passagem bem interessante sobre o fogo, citada por Stephen:

"Mas Santo Tomás diz também: Bonum est in quod tendit appetitus. Até onde ele satisfaça o desejo animal para com o calor, o fogo é bom. No inferno, todavia, ele é um mal." (p. 186)

O fogo pode ser bom e pode ser ruim para a humanidade, para as coisas do mundo material e espiritual, nesse contexto citado.

Mais adiante, veremos novas discussões referentes à Irlanda e ao ser irlandês. Podemos perceber as críticas de Joyce através de seu alter ego, Stephen Dedalus.

Primeiro ele e os amigos discutem o que seria um irlandês com espírito nacionalista. Nosso personagem Dedalus detona seus antepassados por terem jogado fora sua língua e tomado outra pra si, a dos ingleses (p. 202). Depois, chama a Irlanda de uma porca velha.

"- Isso é profundo demais para mim, Stevie - disse ele. - Mas o país dum homem está em primeiro lugar. Em primeiro lugar, a Irlanda, Stevie. Depois, sim, podes ser um poeta ou um místico.

- Queres saber o que é que a Irlanda é? - perguntou Stephen com uma violência fria. - A Irlanda é uma porca velha que come a sua ninhada." (p. 203)

BELEZA

"- Santo Tomás de Aquino - disse Stephen - diz que o belo é a apreensão do que agrada." (p. 206)

Dessa parte até a página 212 veremos uma agradável argumentação de Stephen a respeito da beleza e da verdade citando seus estudos sobre Aquino, Aristóteles e Platão. Interessante!

Na próxima vez que pegar este livro de Joyce, finalizo a leitura.

------------------

ATOS DE LEITURA

Durante a leitura de Joyce, nesta sexta-feira, saí para caminhar e refletir e apreciar o sol que estava fazendo por volta de meio-dia.

Queria caminhar e refletir. São tantas coisas e ideias que nos atormentam nesses dias de Brasil bolsonarista, destruído e ocupado por uma horda de bandidos e gente odiosa, país que enfrenta um genocídio do povo da classe trabalhadora com a pandemia de Covid-19, ou seja, a existência tem sido uma coisa amargurada para as pessoas com alguma instrução e consciência política.

Ao andar por minha região e olhar com atenção, me lembrei que gosto de onde moro, gosto do bairro onde vivo há décadas em Osasco. Não gostaria de ir embora daqui, de ir embora do Brasil, de deixar meu mundo num autoexílio. Mudanças cansam tanto! Após lutar para me estabelecer na vida como todo trabalhador, queria um pouco de paz. Nenhum lugar do mundo é melhor que a casa e o lugar da gente.

Essa ideia de partir, de ir embora, se tornou presente e real para uma parte do povo brasileiro depois do golpe de 2016, da destruição de tudo no país que nascemos e vivemos. E a partida se daria por diversos motivos como, por exemplo, por riscos e ameaças, insegurança e por desesperança em uma mudança e na retomada do país para nós, o povo brasileiro que ama o país e que quer o bem do Brasil e não a sua exploração pura e simples para acúmulo de suas riquezas nas mãos de uns poucos desgraçados que odeiam o país e o povo.

Cara, ao caminhar no meu mundo, fortaleceram-se os laços entre mim e minha terra. Não gostaria de ir embora daqui. Mas a leitura fria da razão tem me deixado muito desanimado em relação ao futuro imediato e de longo prazo. Nas leituras de cenários em vista, não vejo mudanças que interrompam o processo de destruição sem fim do país e dos direitos do povo após o golpe. Dessa vez está difícil salvar o país. 

Aliás, está difícil salvar a vida no planeta, é o que penso quando me lembro que o Brasil só fez parte de uma engrenagem de destruição em larga escala do planeta e da vida: o capitalismo, sistema hegemônico no mundo.

Triste tudo isso.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. Tradução de José Geraldo Vieira. Ediouro/92340, 1987.


Nenhum comentário: