quarta-feira, 31 de julho de 2024

67 de 100 dias



67. O que me fez levantar do sofá, interrompendo um cochilo confortável, para sair com uma preguiça desgraçada, pegar a bike e pedalar um pouco e depois passar mais um tempo fazendo exercícios de musculação? Não foi desejo de fazer isso, não foi por prazer. Foi uma espécie de responsabilidade, foi uma ação pensada, racional, algo da minha condição de ser humano. Seguir no cochilo seria mais gostoso.

Enquanto almoçava com um amigo, conversávamos sobre a vida, sobre amenidades, sobre gravidades. Filmes, olimpíadas, futebol são as amenidades. A vida, o sentido da vida para nós neste momento, a gravidade. Somos dois adultos conversando após uma vida de trabalho no maior banco público do país, dois retirados, dois aposentados que falam das mudanças na vida oriundas da saída do mundo do trabalho e do envelhecimento.

Volto à primeira ação, a saída do sofá e as atividades físicas tentando recuperar minhas energias e ou prolongar o funcionamento normal do corpo animal que me carrega, que me acolhe. Esse "me" é interpretado de formas diversas conforme as abstrações de cada animal humano. Esse "eu" que compõe meu corpo de mamífero bípede onívoro chamam de espírito, alma, personalidade etc. Esse que escreve aqui é uma dessas personas que habitam o planeta em 31 de julho de 2024. Meu corpo já não corresponde ao que meu eu espera dele, estamos com uma diferença de tempo, de sintonia, eu e meu corpo. Natureza.

Hoje completei 2/3 do tempo de 100 dias vivendo em busca de sentidos e mudanças. Objetivos vagos, provavelmente de propósito. Sentidos? Mudanças? Sentido do quê? Mudança no quê? Razões para viver diariamente... mudanças em coisas que me incomodam o viver... tudo muito vago. Não fiz uma lista de coisas para ticar ou passar um marcador de texto após realizar. Já tive uma no passado. Não quero fazer essas coisas de novo. Não sou o mesmo de quando fiz minha lista de objetivos a alcançar. Da lista, o que acabei realizando foi por acaso, acasos que incluíram outras pessoas, veredas que trilhei sem escolher (fui escolhido). Já entendi aos 55 anos que não sou bom nisso. Não é pra mim essa coisa de listar e realizar coisas.

É só refletir por alguns minutos, olhar ao meu redor, e ver que não realizei nada que imaginei fazer eu mesmo, por mim mesmo. Os acasos prevaleceram em minha existência. Sem planejar, talvez eu tenha sido um porraloca, um bicho-grilo, um hippie.

O que eu faria nesse 1/3 de 100 dias para mudar algo ou encontrar sentido em algo? Tem esse papo de o que interessa realmente numa jornada rumo a algum objetivo, que a jornada vale mais que o objetivo e tals. Sei lá sobre objetivos e sobre jornadas, sei lá até sobre veredas e caminhos.

Eu não gosto do mundo onde vivo. Não gosto da forma como estão vivendo os animais da minha espécie. Não gosto da tendência das coisas. Sei que poderia fazer algo que talvez mudasse o mundo, acredito que qualquer persona da minha espécie pode fazer algo que mude o mundo, ou a tendência das coisas no mundo. Esse "acredito" não é uma crença, é uma afirmação racional, humanos são animais homo sapiens, homo sapiens mudam a natureza de forma racional e criativa, somos homo sapiens, podemos mudar o mundo e a tendência das coisas no mundo. Eu e você poderíamos mudar o mundo, é uma coisa lógica.

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(eu não fui à panfletagem no metrô hoje à tarde. Eu não fui ontem à atividade do pessoal do sindicato na frente do Banco Central sobre a taxa de juros. Essa atividade é necessária, mas virou algo inútil. Não é uma atividade burocrática que vai pressionar aquele desgraçado a mudar a taxa de juros. Essa fase do mundo já passou. Nosso pessoal não entendeu ou não quer entender isso e acha que fazendo as mesmas coisas vão conseguir resultados diferentes... já estamos na fase da guerra. Aquela atividade da panfletagem no metrô, para denunciar as pilantragens do governador e do prefeito, eu acho que ainda tem alguma validade. Enquanto aquela do Bacen é só para bater fotos, a panfletagem precisa ter coragem e humildade para tentar falar com pessoas, pará-las, conversar, é outra lógica. Mas não fui nem à panfletagem. No fundo, eu não acredito mais na possibilidade da democracia no momento atual da sociedade humana, estou escrevendo sobre isso faz tempo. Não tenho visto mais "sentido" em tentar convencer estranhos de forma episódica, enquanto suas ideias e sua visão de mundo são formatadas por "pastores" (sofistas) e por máquinas que moldam seus cérebros. Não acho que meu instante episódico vá mudar as ideias de estranhos como numa panfletagem. Não acho. 

Acreditei no trabalho de formação política de forma longitudinal, no tempo. Como representante de trabalhadores falava com eles o tempo todo, todos os meses, o ano todo. Nessa forma de política eu acreditei. No convencimento episódico a estranhos, eu não acho que vamos mudar as coisas. As engrenagens que formatam as ideias deles são muito mais eficazes que meu contato episódico. Falo isso com honestidade.)

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(Essa coisa do governo Lula não se posicionar firmemente a favor do Maduro e do povo venezuelano que apoia a Revolução Bolivariana e o chavismo e, com isso, se posicionar contra os nossos inimigos, os imperialistas do Ocidente, a extrema-direita golpista que é fascista e violenta e até o mundo mineral sabe disso em relação aos inimigos do chavismo e da Venezuela, só amplia o meu sentimento de certeza de que a esquerda que eu achava que poderia ser uma alternativa aos inimigos do mundo não é alternativa alguma. Essa frouxidão do governo Lula, do nosso governo, é a mesma frouxidão dos governos do Ocidente na época de Hitler e do nazismo. Me sinto envergonhado de ser petista e de ser apoiador de um governo e de militantes que falam grosso com o Nicolás Maduro e falam fino (não falam porra nenhuma!) com Biden, Trump, Kamala, Netanyahu e outros fdp inimigos do povo e de nós todos. Estou decepcionado e envergonhado. O problema deve ser eu... acho a morte não termos um governo ativo e altivo como tivemos. Voltar a falar grosso com Maduro e ser subserviente e conivente com Netanyahu, com aquele merda francês que não respeitou a eleição dias atrás etc é uma decepção de matar)

William


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