segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 30 de setembro de 2024. Segunda-feira.


Opinião


SETEMBRO

Lá vamos nós registrar fatos, sentimentos, opiniões e leituras de mundo ao final de mais um mês neste mundo mundo vasto mundo.

Setembro foi um mês intenso em tudo, na dimensão pessoal e na dimensão geral, da vida coletiva. Alguns fdp estão destruindo de forma deliberada o planeta e a vida de milhões de espécies e nós não estamos fazendo o suficiente para impedir essa destruição.

No Brasil, estão cometendo ecocídio de todos os biomas. No mundo, está em andamento o genocídio dos povos palestinos e árabes em terras que os sionistas querem colonizar: a Palestina e o Sul do Líbano. 

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AINDA SONHO FAZER ALGO ÚTIL PARA O MUNDO

No campo pessoal eu não poderia reclamar de nada porque sigo sendo uma pessoa de sorte, privilegiada na existência dura deste mundo de bilhões de seres largados à própria sorte. Tenho o que comer, onde dormir, pessoas que amo, e acesso aos bens do espírito: cultura. Ainda não estou sem acesso a água, luz, comunicação, atendimento médico e sociabilidade. Um privilégio em 2024.

Passei o mês descadeirado, mas parei de me lembrar da lombar, sinal de que estou melhor. Tive um dente quebrado, mas já foi refeito. Minha irmã operou o ombro, mas está bem. Minha mãe está se adaptando aos medicamentos da diabetes. Somos afortunados, estamos bem pra caramba, se considerarmos a situação de nossas irmãs e irmãos brasileiros, palestinos, libaneses, haitianos, argentinos e de tantas outras localidades.

Meu pai estava quase morrendo em casa com pneumonia nos dias em que estive lá. Tive que desacatar sua vontade e chamar o Samu, que lhe salvou a vida e depois eu tive que ficar ouvindo merda porque ele não havia dado permissão de salvá-lo. Como tinha que ir embora, providenciei uma forma dele ir ao hospital ser medicado por uma semana e ele teve a pachorra de negar a solução que arrumei e isso causou um transtorno para várias pessoas. Eu fiquei muito puto com toda a situação e nem sei como vou lidar com essa merda em relação a ele. Estou puto com o cara que admirei tanto tempo na vida.

Essas coisas pessoais todo mundo vivencia. Ninguém sabe da vida dos outros. Quando a vida se resume a essas impotências domésticas, a gente perde um pouco o sentido do viver. Para alguém que já fez coisas grandes como fiz, essas merdas deixam a gente se sentindo um lixo.

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Tudo bem. Eu sigo querendo viver, aprender coisas novas, passar o conhecimento adiante e mudar o mundo. Entendo que a vida humana só tem sentido quando pensamos para além de nós mesmos, de nosso egocentrismo.

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TEMOS QUE MUDAR O RUMO DAS COISAS DO MUNDO

No que diz respeito ao mundo da porta de casa para fora, as coisas estão bem mais complexas. Nós humanos e seres vivos estamos fodidos neste instante do mundo. E isso não é uma questão de pessimismo ou determinismo, não é! É uma leitura de alguém que lê o mundo.

Se eu fosse ainda um representante de pessoas, dos meus pares da classe trabalhadora, eu não escreveria as coisas como tenho escrito, porque meu papel seria outro. 

Por duas décadas exerci meu papel de liderar movimentos de luta e aprendi como liderança a levantar o moral das pessoas que representava no dia a dia como, por exemplo, numa greve em momentos difíceis, numa batalha perdida para o patrão ou para nossos inimigos de classe etc. Isso é obrigação de uma liderança popular.

As mudanças necessárias são possíveis, pois os seres humanos são seres históricos, que fazem história diariamente, que fazem seu presente e seu futuro. Precisamos de novas lideranças, é o que vejo. Eu não sinto desejo de mudança nas classes dirigentes que estão aí nos sindicatos e nos partidos de esquerda que conheço há décadas. Falo daquelas e daqueles que estão dirigindo e não da militância.

ELEIÇÕES ANTIDEMOCRÁTICAS NO BRASIL: decidi contribuir de alguma forma no processo eleitoral das eleições municipais deste ano. Honestamente, friamente, eu não acredito mais na "democracia" de faz-de-conta do Brasil desde o golpe de Estado que tirou nossa presidenta Dilma Rousseff, "com o Supremo, com tudo". Sei que não há democracia no Brasil, que aqui é o poder violento da casa-grande que manda em tudo.

Mesmo assim, gostaria sinceramente de ver eleita nossa jovem companheira Luna Zarattini 13131, pois o trabalho dela me lembra a forma como fiz representação por duas décadas. E gostaria de ver Boulos eleito prefeito de São Paulo. Também tenho um carinho grande pelos jovens Gabi, Heber e Matheus do Coletivo JuntOz 13713 em Osasco, e Emidio.

Não tenho ilusão alguma sobre a dificuldade de mudanças e sei que está tudo dominado pelos donos do poder efetivo nesta ainda colônia continental de impérios do Norte. Nossa fragilidade está cada dia mais evidente. Os desgraçados da casa-grande, os vendilhões bancados pelos capitalistas podem tudo, são inimputáveis, as leis são só para foder os não amigos do rei. A impunidade faz com que só acreditemos na justiça feita por guerra ou por mágica, através de invenções de crenças religiosas.

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POLÍTICA PEQUENA NÃO VAI MUDAR O MUNDO, VAI CONTRIBUIR PARA A VITÓRIA DE NOSSOS INIMIGOS DE CLASSE

A raiva que passei na semana passada com meu pai, a ingratidão e desrespeito dele em relação a todas as pessoas que se preocupam com ele e que querem o bem dele e ele caga pra todo mundo, me causou um esgotamento com relação às coisas que venho vendo serem feitas comigo ao longo do tempo.

Me enchi (empapucei) de um monte de coisas. Posso falhar, sou humano, mas me esforço para não ser injusto ou ingrato com as pessoas e instituições.

Eu cansei do desrespeito da direção do nosso sindicato em relação à mim, e sei que não sou o único cancelado na política pequena da entidade. São muitas pessoas valorosas e com história em nosso sindicato que foram canceladas por qualquer bobagem da cabeça de alguém da direção. 

Sei que tem pessoas que se "magoaram" comigo por não receberem uma ligação ou babação dando parabéns por alguma função ocupada ou bobagens do tipo. O mundo acabando na luta contra nossos inimigos e gente virando a cara para militantes que não deram um "parabéns" fulana ou ciclano! Francamente!

Eu contribuí com um terço da história de nosso sindicato. Entre 1988 e 2024 são mais de três décadas de sindicalização, coisa em extinção no sindicalismo atual. Participei da construção da campanha unificada da categoria, fui grande sindicalizador, liderei os colegas do BB por quase duas décadas, e a direção atual não se dignou a me convidar para fazer uma fala nos 100 anos do sindicato. É uma coisa pequena, ridícula, fazerem isso com lideranças da entidade que alguém não goste na atualidade.

E quando penso a Caixa de Assistência dos Funcionários do BB, me vem de novo um sentimento de desrespeito da direção de nosso sindicato. Eles não têm obrigação nenhuma em relação à minha pessoa, é óbvio! Eu sei o que fiz pela Cassi, o que fiz em defesa dos direitos em saúde de quase 200 mil associados da ativa e aposentados do banco. É público o que estudei e aprendi sobre a autogestão. Um grupo de pessoas sabe o que sofri e o que paguei pessoalmente ao defender o modelo assistencial da Cassi e os direitos da parte de baixo da pirâmide funcional do banco, do povão.

Como fui um coordenador nacional das entidades e da principal força política dos bancários, sei como funciona por dentro a política no movimento sindical e partidário. Às vezes, vejo pessoas que me encontram por aí se lamentarem por mim... e fico imaginando o que inventaram contra a minha pessoa nesta lógica de cancelamento e de assassinato de reputações e histórias. Fico imaginando.

Enfim, sou um cara de sorte. Sou sim. Sempre tive o couro grosso. Já fui ruim, marrento, impossível de ser abatido. Aliás, se não fosse um cara duro como a vida me fez, talvez eu nem estivesse aqui após 2018.

Uma hora dessas, eu consigo esquecer essa gente que me dá pesadelos há anos, que me amargura o viver. Que os deuses me deem forças pra esquecer pessoas e instituições que me causam sofrimento, quem sabe depois de 6 de outubro. 

(Às vezes, vemos companheiras e companheiros adoecerem ou faleceram não tendo o devido reconhecimento pela contribuição que deram à luta histórica que empreendemos rumo a uma sociedade humana mais justa, solidária e sustentável. Registro meu respeito a cada militante que já tenha contribuído para as nossas causas. Uma das coisas mais admiráveis que percebi na sociedade socialista em Cuba é o quanto eles valorizam sua história e tod@s que fizeram parte dela)

Post Scriptum: francamente, se estando bem e lúcido não servi mais para dar minha palavra sobre o que conheço e ajudei a construir, que nenhum hipócrita fale de mim se tiver morrido ou morrendo.

William


Um comentário:

Valsa disse...

Meu caro amigo, tentei ler tudo mas, confesso, que não consegui atualizar seu blog, não tenho tido tempo de nada. Da última vez comentei como anônima, agora mando notícias frescas; rabisquei um mini haicai, não consigo sequer escrever. Está tudo muito tenso e estranho, compartilho da mesma agonia. Enfim... abraços em todos aí, com saudade das nossas prosas, que nestes tempos difíceis se faz tão necessária.