Refeição Cultural
Osasco, 02 de setembro de 2024. Segunda-feira.
O QUE FAZER E O QUE DEIXAR DE FAZER
Tenho questões a decidir sobre e para a minha vida. Passei as últimas semanas refletindo sobre busca de sentidos e mudanças para que meu espírito encontre um pouco de paz para seguir com o cotidiano existencial.
Durante uma centena de dias, fiz registros diários de coisas que fazia e ou pensava a respeito dessa temática de achar motivações e sentidos para a etapa atual do meu viver. Pensei em organizar as coisas, organizar um centro de documentação sobre minhas mídias de cultura (cedoc), pensei sobre coisas possíveis para o presente e o futuro etc.
Durante esses dias de buscas, fiz alguns exames de saúde que precisava fazer - só sei que minha saúde e minha energia estão diferentes, bichei -, refleti sobre meus pais e minha família, sobre a desconsideração do Sindicato ao qual dediquei minha vida, sobre a situação política do Brasil e do mundo etc. Tentei me ver no meio disso tudo. Eu vivi no meio disso tudo por décadas.
Estou apreensivo quanto ao presente e futuro de todos nós. E essa cisma para alguém que conhece de política porque foi formado na política é uma cisma que aperta o peito, comprime a respiração. As coisas não andam bem e vão piorar. Um ser político sabe disso. E o que mais me desarranja o sistema digestório, por assim dizer, é a leitura do cenário que me diz claramente que não há sinais de mudança de tendência nas coisas.
Ontem, no registro 99 dos 100 dias de buscas, sintetizei duas verdades materiais que não podem ser tapadas com peneira perante a luz do sol. Não posso mais me iludir em relação ao meu lar e em relação ao Sindicato ao qual fiz parte por 35 anos. Não terei uma casa organizada e não terei apreço e consideração do Sindicato. Ponto. A vida deve seguir. Eu tenho que parar de sofrer e me corroer por causa disso. A vida deve seguir.
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DISSIPOU-SE UMA DAS "NUVENS" COM A PRODUÇÃO CULTURAL DO BRASIL
Uma das coisas que sempre falo e preciso acelerar minha tarefa em relação ao problema que aponto é providenciar a guarda e a impressão de toda a cultura e conhecimento que eu mesmo produzi nas duas últimas décadas como cidadão que tinha posição de liderança na luta de classes. Por 18 anos estudei, li, fiz política e produzi textos em blogs. São mais de 5 mil textos.
O eventual fim definitivo da rede social "Twitter" no Brasil é mais um exemplo claro do que falo e escrevo sobre o risco de não fazer guarda em mídias físicas e materiais impressos do conhecimento humano produzido nas duas últimas décadas.
Imaginem vocês quantos milhares ou milhões de produtores de cultura através da plataforma digital "Twitter" perderam no Brasil, de uma hora para outra, o acesso às suas produções que estavam só na nuvem da plataforma e não impressas ou guardadas em meios físicos próprios. Imaginem!
Confiar em guardar produção de conhecimento humano somente nas nuvens das plataformas digitais das big techs é jogar no lixo o conhecimento cultural produzido neste século. É facilitar o trabalho dos bombeiros do mundo distópico do romance Fahrenheit 451, cuja missão é apagar a produção cultural humana através do fogo.
De uma hora para outra, a rede social "Twitter" usada por milhões de pessoas no mundo foi adquirida por um merda - um humano - que decidiu utilizar a plataforma de comunicação para fazer política de manipulação criminosa sem respeitar absolutamente nada, leis, países, nada. As autoridades de nosso país decidem restabelecer a nossa soberania e a plataforma é impedida de funcionar no país. Pronto. Fim do acesso a eventual produção de conhecimento disponibilizada somente na dita plataforma.
Eu não tive perda considerável de produção no "Twitter", transformado em plataforma bandida "X". Das 9 mil postagens que fiz ao longo de anos, a maioria delas não foi de produção exclusiva naquela plataforma. Felizmente.
Mas sabemos de muitos ativistas, intelectuais, produtores culturais e outras pessoas físicas e jurídicas que produziam conteúdo quase que exclusivamente, e diariamente, na plataforma que foi impedida de funcionar no Brasil. Essas pessoas perderam o acesso ao que produziram. Entendem?
No meu caso, imaginem se amanhã as autoridades brasileiras decidem proibir o funcionamento da big tech na qual tenho mais de 5 mil textos produzidos e disponibilizados através dela! Se neste momento eu não pudesse acessar minha produção seria uma perda inestimável em minha vida de produtor de conhecimento.
Ou seja, é enorme o risco que toda a humanidade corre mantendo a produção humana só em meios virtuais, digitais, em "nuvens" de empresas que pouco se importam com o conhecimento humano, elas lidam com o fato de que tudo é "mercadoria" e "business".
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CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO
Enfim, avalio que é necessário acelerar o trabalho de revisão e guarda física da produção cultural que eu mesmo fiz nas últimas duas décadas.
Os bombeiros do Fahrenheit 451 já fizeram seu trabalho interno nas salas e arquivos do Sindicato por onde passei décadas de minha vida.
Tenho que apressar o resgate de minhas impressões, ideias, histórias e vivências arquivadas nas nuvens de uma gigante big tech, pois não se sabe do instante seguinte neste mundo em disputa entre o apagamento da história e da insistência em se fazer história.
William
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