sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural 

Ipojuca (PE), 31 de janeiro de 2025.


JANEIRO

O primeiro mês do ano vai terminando. Mês de reflexões para mim. Mês de viagens e de busca de sentidos. 

O que fazer? O que não fazer?

LEITURAS 

Em janeiro, assim como em dezembro, li bastante poesia. Li outras coisas também. No fundo, busco diminuir as lacunas culturais. 

Quando era jovem queria ser intelectual. Envelheci sem sê-lo. Grande sertão: veredas... Minhas veredas foram as que foram.

Na minha condição atual - retirado da política, fora do dia a dia do mundo do trabalho e com 55 anos de idade -, estudar e aprender coisas novas diariamente é uma espécie de birra. Confesso ser algo meio inútil, mas leio e estudo todo dia. Birra!

Tá, conheci novos autores... e daí? Alguém que não me ouvia antes vai me ouvir por isso? Pai, filho, algum leitor, por exemplo? Fiquei menos ignorante (menos lacunas culturais)? Pra que serve aquele conhecimento novo? O que mudou com tudo que li nas últimas semanas?

Estou mais reflexivo, é verdade. Pode ser pelas leituras que fiz. A cultura tem esse efeito de tornar as pessoas mais reflexivas. 

O INCÔMODO COM A DESCONSIDERAÇÃO 

A falta de consideração no mundo atual só tende a piorar. Utilitarismo. 

Sinto um desconforto incômodo por não ser mais útil como fui antes. 

Ainda não me adaptei totalmente a isso.

SINDICALIZAÇÃO: NÃO SEREI SÓCIO REMIDO DO SINDICATO

Neste mês, não recebi boletos para seguir pagando a mensalidade do sindicato. 

Por anos, eu corri atrás do sindicato para manter minha sindicalização. 

Tenho a impressão que o sindicato não me quer mais como sócio após três décadas de associação. 

Durante minha vida de politização como bancário sindicalizado, aprendi que a filiação à casa do trabalhador era o melhor cartão de visita de um sindicato e de uma categoria. 

Tenho uma longa história como sindicalizador. Eu nunca perdia uma oportunidade de filiar um/a bancário/a.

Durante nossos mandatos de representação sindical era conhecido por sempre chegar da base com fichas de sindicalização.

Quando saí do BB por estar sofrendo perseguição política entre 2018/2019 e passei a ser um beneficiário de nosso fundo de pensão, descobri um tempo depois que não tinha me tornado sócio remido porque faltava a aposentadoria da Previdência Pública. 

Para regularizar minha condição de sindicalizado precisei pagar mais de cinco mil reais em dezembro de 2021 (contei essa história aqui).

Desde essa época, sou eu que monitorava minhas mensalidades. Cansei de correr atrás do sindicato. 

Sinceramente, essa direção não tem a menor consideração por alguns militantes e dirigentes que fizeram parte da construção de nosso sindicato. Pelo menos é o que acontece há anos comigo.

Enfim, sem ser associado até o dia em que um milagre ocorresse e eu conseguisse me aposentar pela Previdência Pública (cada dia mais impossível), não poderei envelhecer como sócio remido do sindicato para o qual dediquei parte da minha vida.

SINDICALIZAÇÃO: APÓS DÉCADAS DE FILIAÇÃO, PROFESSORA É SÓCIA REMIDA 

Neste janeiro, passamos uma semana na Colônia do Sinpro SP na Praia Grande. 

Felizmente, a professora Ione após ser sindicalizada a vida toda é sócia remida do Sindicato dos Professores.

Que orgulho a professora tem de seu sindicato. Ela também sempre sindicalizou as colegas de trabalho. 

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Nem sócio remido serei do Sindicato ao qual contribuí por décadas de minha vida.

Que pena!

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PRESENTE E FUTURO

Enfim, o que fazer? O que não fazer de fevereiro adiante?

Sigo fazendo volume nas ruas ou não, quando a esquerda convoca alguma mobilização?

O que fazer para mudar a minha insatisfação com o mundo injusto e ruim no qual vivo?

Por mais que tenha refletido nos últimos meses, estou no mesmo cotidiano. 

Desafio grande o meu e o de muita gente que quer mudar a realidade e não encontrou respostas factíveis e realizáveis. 

Vou seguir buscando respostas e sentidos. 

Tudo está mudando. Lógico! Tudo muda o tempo todo. É a natureza, é o mundo material se impondo como realidade.

William


Post Scriptum: uma cena me emocionou bastante neste mês que se encerra: as bandeiras do Sindicato, da CUT e do PT na urna funerária do amigo e companheiro Cezinha. Uma justa homenagem a uma pessoa que dedicou sua vida às causas da classe trabalhadora. Companheiro Cezinha, presente! (Pela forma como nosso sindicato me trata, isso jamais aconteceria comigo)

Post Scriptum (II): estava agora ouvindo a mensagem do grande Chorão, do Charlie Brown Jr, na música "Um lugar ao sol". Espero que consiga neste ano me libertar dessa tortura que sofro por não conseguir apagar esse desprezo imposto a mim por algumas pessoas em posição momentânea de poder na entidade de grande significado na minha vida. Só quero esquecer isso e tentar me libertar dessa tortura. 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Poema 5: Como se não houvesse amanhã


COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ


Desde o feijão com arroz de minha mãe,

desde os dias tranquilos na Praia Grande,

me esforço em apreciar o instante

como se não houvesse amanhã. 


Voltar às águas de Porto de Galinhas

foi uma dessas veredas não planejadas.

E ao nadar no azul turquesa do mar

senti a vida me falar "aprecie"

como se não houvesse amanhã.


Uma cerveja gelada, com moderação;

a brisa fresca ouvindo o som musical do mar;

até a música da charla portenha com o yeísmo

(no hotel só tem argentinos).

Tudo a ser apreciado 

como se não houvesse amanhã.


Sigamos descobrindo. 

O passado eu não domino.

O futuro está vindo.

Farei o meu caminho.


William 

30/01/25


Poema 4: Motosserras de Porto de Galinhas


MOTOSSERRAS DE PORTO DE GALINHAS


Enquanto turistava na tarde ensolarada

homens com motosserras vibravam

a cada coqueiro que tombava

no terreno ao lado do Tabapitanga.


Por anos turistamos no Ocaporã

e vimos a natureza desaparecendo:

árvores nativas, coqueiros e saguis

dando lugar a mais piscinas, quiosques e barulho

das caixas registradoras e das motosserras.


Porto de Galinhas vai perdendo

seus corais, seus coqueiros e sua essência.

As praias todas têm poucos donos de tudo,

(até Neymar é proprietário aqui).


Vão vencendo as motosserras,

vão pisando e matando os corais,

vão os donos enchendo as burras de dinheiro.


Depois de tantos anos de turismo

na bela Porto de Galinhas

de natureza frágil e agredida,

só não muda a escravidão:

antes, escravizados escondidos;

hoje, jovens meninas e meninos.


William

30/01/25


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Poema 3: Frustração n° 13,25


FRUSTRAÇÃO N° 13,25


Frustração a CUT chamou

a decisão do Banco Central

de aumentar a taxa básica de juros

da primeira reunião de 2025

do terceiro ano de Lula (13).


Frustração a nossa com a falta de ousadia.

Com a mesmice ao indicar alguém pra não mudar.

Com a passação de pano justificando o injustificável.

Agora o chefe do Bacen virou "refém" do mercado...

Refém? Puta que pariu, gente! Refém o caralho!


Frustração talvez o motivo da queda de aprovação de Lula

e do governo do presidente Lula.

Nós lulistas daremos nossos votos ao Lula.

O risco é a frustração dos eleitores de Lula em 2022.


13,25 de selic

no governo do PT (13)

no decisivo ano de 2025

é uma imensa frustração!

A CUT tem razão!


William 

29/01/25


Poema 2: Tem jeito de mudar


TEM JEITO DE MUDAR


Dizem que não tem mais jeito,

que não adianta querer mudar o mundo,

que está sozinho quem quer mudar,

que agora é só esperar tudo acabar.


O ser humano superou ambientes inóspitos,

adversidades impeditivas à vida.

Alguns superaram a ladainha coletiva 

do "não tem mais jeito".

E chegamos até aqui.


Uma pessoa é capaz de mudar o mundo.

Uma criação humana pode alterar tudo.

O imponderável dos eventos naturais muda tudo.


Um evento natural não tem desejo, querer.

Com gana, desejo e método

os humanos mudam tudo que quiserem.


Tem jeito de mudar

a tendência de fim do mundo

porque somos humanos.


O presente (e um eventual futuro)

só depende de você

e de mim.

Basta sermos "nós" e tudo pode mudar.


William 

29/01/25


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Poema 1: Constatações


CONSTATAÇÕES 


Tudo muda o tempo todo.


Eu estou mudando.

O clima está mudando.

As perspectivas de vida estão mudando. 

Por que algumas pessoas não mudam?


Meu corpo está mudando. 

Os corais de Porto de Galinhas estão mudando. 

O interesse privado se sobressai sobre o coletivo.

Por que algumas coisas não mudam?


Tudo muda o tempo todo. 


Ali havia um bosque, pássaros, equilíbrio. 

Os tratores de uns homens derrubaram tudo. 

Desequilíbrio. 


Por que algumas coisas não mudam?

Porque nós não mudamos!

Quede árvores, pássaros, corais, diversidade?

Assim o mundo se acaba.


Afinal, tudo muda o tempo todo.


William

28/01/25


sábado, 25 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (55) - Tardio canto, Cecília Meireles



TARDIO CANTO - CECÍLIA MEIRELES


Canta o meu nome agreste,

cheio de espinhos

o nome que me deste,

quando andei nos teus caminhos. 


Canta esse nome amargo,

hoje perdido,

no tempo largo,

sem mais nenhum sentido.


Como esperei teu canto,

noites e dias!

Necessitava tanto!

Tu não podias...


Ouço o teu grito ardente,

cigarra do deserto!

Mas já não sou mais gente...

Não ando mais tão perto...


De Vaga música, 1942.

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COMENTÁRIO:

Canto não, canto não. Tô sem canto. 

Meu coração sem encanto. Meu cotidiano, vez em quando, sufoco até no meu recanto. 

Por enquanto, seguimos, quiçá em pranto, sem canto, sem recanto, sem encanto.

Não, não canto.

William


Bibliografia:

MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Coordenação André Seffrin; apresentação: Alberto da Costa e Silva - 1° ed. - São Paulo: Global, 2017.


Leituras Capitais



Refeição Cultural 

CartaCapital edição 1344


NA COVA DOS LEÕES 

Gabriel Galípolo tem a tarefa de afirmar a independência do Banco Central diante dos mercados 


CAPA

PISANDO EM OVOS

A matéria "Pisando em ovos", de Carlos Drummond, é um balde de água fria na cabeça de quem torce por mudanças... Não haverá mudanças!!! Que merda!

A foto com Haddad, Lula e Galípolo, dizendo que os dois políticos "dormirão mais tranquilos", na minha opinião, não condiz com o texto que li.

Os juros vão subir mais no último ano de Lula antes do ano eleitoral! Que porra de tranquilidade é essa? 

A matéria diz que não se pode mudar a política de juros... gente, até os "progressistas" normalizaram o roubo do capitalismo no Brasil (transferência de renda dos pobres para os rentistas)!

A matéria diz que nossa economia foi destroçada, que nossa capacidade industrial é como no início do século XX, e a dependência exportadora dos bens primários, que só enriquece fdp, vai seguir como está. 

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AS CRYPTOTULIPAS

Entre os episódios de loucura coletiva das nações destacam-se a tulipomania, os bitcoins e o mantra do risco fiscal 

Gostei da matéria do professor Belluzzo e Manfred Back. Eles recuperam histórias de loucuras coletivas por enriquecimento rápido que foderam sociedades inteiras. 

"Toda pessoa, enquanto indivíduo, é toleravelmente sensata e razoável, mas, como membro de uma multidão, torna-se imediatamente um idiota." (Friedrich von Schiller)

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SEU PAÍS 

ABRAÇO PARTIDO

Poder: Relembrar o 8 de Janeiro é importante. Mas a democracia só se fortalece se não houver anistia

Nesta boa reportagem, de André Barrocal, sobre o ato para relembrar aquela intentona bolsonarista, me pareceu a mesma coisa da matéria de capa...

O jornalista deseja que as coisas caminhem bem, que a justiça seja feita, que os criminosos sejam condenados e cumpram suas sentenças, que autoridades nacionais façam suas partes. Todos desejamos isso.

O fato, entretanto, é que no segundo ato sobre o 8 de Janeiro aumentaram as ausências de "autoridades" da República... não foram nem o presidente da Câmara, nem o presidente do Senado, nem o PGR, aquele que já segurou dois anos os processos contra o chefe da quadrilha golpista. 

Sei não... sigo achando que querem que o miliciano "cagão", chefe da quadrilha, fuja.

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ARTIGO DE ALDO FORNAZIERI

Qual reforma ministerial? "As eventuais mudanças na equipe de governo devem almejar a coesão em torno de um projeto de País"

Concordo com o articulista. 

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FARRA INTERROMPIDA

STF: Flávio Dino bloqueia 6,9 bilhões de reais em emendas indicadas pela Câmara e pelo Senado e manda a PF investigar repasses

Muito esclarecedora a matéria de Maurício Thuswohl sobre a cleptocracia estabelecida no poder legislativo do país. 

O STF, um dos poderes da República, sabendo que o poder Executivo não tem força contra aquela savana de predadores, tenta impedir um pouco do mau uso do orçamento público... mas não teremos (o povo) sucesso contra aqueles representantes do 1%, na minha opinião.

Repito: Não há democracia no Brasil. Aqui o poder é exercido pelos endinheirados, uma plutocracia ou aristocracia sem aristocratas (aquela gente bárbara nem usar talher sabe).

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NA MIRA DOS PISTOLEIROS

CONFLITO: Em sete dias, os Avá-Guarani sofrem quatro atentados em território sob demarcação no oeste do Paraná 

A reportagem de Fabíola Mendonça sobre os ataques contra os povos indígenas deixa a gente revoltado e sem esperança. 

O governador do Paraná acusa os guaranis indígenas de serem "paraguaios e invadir terras".

Diz ainda que não tem que fazer nada, que a culpa é do Lula (governo federal). Um indigenista diz o mesmo, que Lula faz "mise-en-scéne" e que deixa o povo sem proteção...

Que triste!

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CAÇADORA DE RACISTAS

SÃO PAULO: Reeleita com o provocativo epíteto, Luana Alves não teme enfrentar temas espinhosos na Câmara Municipal 

Legal a matéria de Mariana Serafini sobre a vereadora do PSOL. 

Todo apoio e força para as companheiras do campo progressista, em especial para a vereadora Luna Zarattini, uma guerreira também! Lugar de mulher é onde ela quiser!

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ANTÍDOTO SEGURO

GESTÃO: As moedas sociais são um eficaz instrumento para proteger o Bolsa Família do desvio de recursos para apostas online

Artigo assinado por Diego Zeidan, que foi vice-prefeito de Maricá (RJ), traz informações alvissareiras sobre a moeda social "Mumbuca", criada em 2013 durante o segundo governo de Washington Quaquá (PT). 

A moeda só pode ser usada no perímetro municipal e em estabelecimentos credenciados ao programa. 

Ela evita desvio dos objetivos do recurso do Bolsa Família como ser usado, por exemplo, na praga dos jogos de azar como as bets.

Comentário: quando fazíamos cursos de formação política com sindicalistas, citávamos a experiência do "Banco Palmas" como alternativa de moeda local.

Gostei muito de saber sobre a Mumbuca! 

PIB: Lembrando o fato de que programas de transferência de renda como o Bolsa Família aumentam o PIB: cada 1 real investido gera 2 reais de crescimento.

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CELEUMA DIABÓLICA 

SOCIEDADE: Idealizador do templo dedicado a Lúcifer se diz vítima de "perseguição religiosa" após interdição de santuário. 

Ao ler a matéria de René Ruschel, me lembrei do que afirmo faz tempo: o Brasil não é um país laico, isso é uma mentira, uma fake news!

A lei maior do país, a CF 1988, em seu preâmbulo cita "Deus" deixando claro que os legisladores definiram que o país tem uma religião oficial. Isso é um total absurdo!

Jamais o Estado deveria optar por qualquer tipo de mito ou crença, algo de cunho pessoal, nas leis que regem a vida do povo.

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O BECO BRASILEIRO 

JANEIRO BRANCO: Sem enfrentar as desigualdades, não se pode falar em saúde mental de forma plena 

Gostei muito do artigo do psicoterapeuta Valdemar Augusto Angerami.

Ele aponra a questão real: como falar em "saúde mental" num pais dominado por uma plutocracia que faz do Brasil um dos lugares mais desiguais e miseráveis do mundo?

É isso!

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NOSSO MUNDO

AOS PÉS DO IMPERADOR 

EUA: O trumpismo impõe-se como uma força acachapante e promete moldar o país à semelhança do presidente 

A matéria de Clarissa Carvalhaes, de Nova York, descreve um cenário que eu diria ser o descrito na ficção de Miguel Nicolelis "Nada mais será como antes".

Banqueiros de Wall Street, big techs e petroleiras unidos ao governo extremista de Trump para impor uma ditadura ao mundo.

Como vamos parar essa gente?

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O FAROL SE APAGA

THE OBSERVER: Os ideais de Jimmy Carter servem de contraste ao que está por vir na Casa Branca 

O jornalista Ed Vulliamy escreve sobre a morte do ex-presidente norte-americano dizendo ser ele o oposto de Reagan e Trump.

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QUESTÃO DE PRINCÍPIOS 

OPINIÃO: O Brasil tem a obrigação de se posicionar contra Maduro na Venezuela 

O artigo de Paulo Abraão é enfático em defender a posição hostil do governo Lula contra o presidente recém-reeleito do país vizinho. 

Alega o cerco à embaixada da Argentina como um dos motivos. 

Ele cita incisos do artigo 4°da CF 1988 como fiz em minha defesa do chavismo e de Maduro (ler aqui).

Bom, eu só acho que a revista poderia convidar alguém de posição contrária para se expressar também,  um Breno Altman, por exemplo. 

E gostaria de saber se esse articulista também está pedindo ou pediu ao governo brasileiro a mesma postura em relação ao Equador (que invadiu a embaixada do México em abril de 2024 para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas) e em relação ao governo sionista de Israel, genocida e que interfere na política brasileira.

É isso. 

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VIRE UMA MÃE PALESTINA 

GAZA: O videogame Dreams on a Pillow acompanha os percalços de uma Omm durante a Nakba

Boa matéria sobre o jovem Rasheed Abueideh que está arrecadando recursos para desenvolver um game (Sonhos em um Travesseiro) no qual os jogadores se colocam no lugar de uma mãe palestina (Omm).

"(...) O tempo do jogo se passa durante a Nakba, período de cerca de um ano e meio, entre dezembro de 1947 e julho de 1949, em que cerca de 750 mil palestinos, metade da população no fim da década de 1940, foram expulsos de suas casas e em que mais de 500 vilas foram destruídas."

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PLURAL

A HORA DA COROAÇÃO 

GLOBO DE OURO: O prêmio recebido por Fernanda Torres, aos 59 anos, consagra uma trajetória desde o início brilhante 

Gostei da matéria de Ana Paula Sousa sobre nossa nova diva do cinema.

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SOU CAIPIRA PIRA, PORA

CINEMA: Depois do sucesso dos dois filmes da Turma da Mônica, é a vez de Chico Bento testar seu carisma na tela grande 

Boa reportagem sobre a volta às boas bilheterias para os filmes nacionais. Além do infantil, a matéria fala também de "O Auto da Compadecida 2".

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A LOUCURA VISTA DE DENTRO 

DIÁRIOS: Das páginas de Hospício É Deus emergem uma escritora dotada de talento e uma personagem fascinante, mas pouco confiável, e muitas vezes agressiva

A matéria sobre os diários de Maura Lopes Cançado (1929-1993), uma mulher de origem na elite rural e internada 19 vezes em hospícios ao longo da vida deixa a gente com vontade de adquirir a reedição de sua história. 

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OS USOS POLÍTICOS DO PASSADO 

LIVROS: Enzo Traverso chama atenção para o quanto a história é instrumentalizada nas narrativas sobre o conflito de Gaza

Resenha do professor de Sociologia Fabio Mascaro Querido apresenta livro "Gaza diante da história", do historiador Enzo Traverso.

Uma questão sob reflexão seria o uso político do antissemitismo sofrido pelo povo judeu e o Holocausto para justificar o genocídio e o colonialismo do governo sionista de Israel. 

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CINEMAE FUTEBOL

AFONSINHO: Não só Fernanda Torres, mas muitos comentaristas compararam o significado da conquista do Globo de Ouro à vitória na Copa do Mundo. 

Sempre instrutivos os artigos do Afonsinho.

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O BEM-ESTAR COMUM

ELNARA NEGRI: Assim como nosso corpo depende da interação harmônica entre trilhões de células para funcionar, a sociedade humana precisa da cooperação para sobreviver de forma saudável 

Adorei o texto da pneumologista comparando o corpo humano com o tecido social no qual vivemos.

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COMENTÁRIO FINAL 

Falei que talvez parasse com a leitura das revistas impressas, mas acabei lendo esta edição. Excelente revista!

Tenho algum conhecimento a mais após a leitura atenta.

William 


sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 24 de janeiro de 2025. Sexta-feira.


"O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade" (Kahlil Gibran)


Na minha cabeça as cismas são relativas a sentimentos diversos, sentimentos que não me fazem bem, é certo. Tenho maturidade e experiência para lidar com sentimentos ruins, pelo menos se comparar com o comportamento que tinha décadas atrás. As oportunidades que tive nas veredas que trilhei me moldaram para não ser pior do que era antes, acho até que melhorei sim com o aculturamento que tive nas últimas etapas da existência.

Na minha cabeça algumas palavras que significam coisas profundas ficam vibrando ando ando, palavras como memória, identidade, liberdade, morte, história, vida, tempo, consideração, responsabilidade, pertencimento, conhecimento e outras palavras ou expressões com significados que qualificam* a experiência do animal humano enquanto existe ou até mesmo que o qualificam após sua passagem pelo planeta Terra.

* Substantivos que dão sentido à existência, é o que quero dizer com qualificar a experiência humana. 

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"O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
"

(Poema de sete faces, CDA)

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Em dias como hoje, com dores no quadril e na região lombar, minha consciência acende um sinal de alerta que fica piscando piscando piscando dentro da cabeça, cismando com cenários quiçá catastróficos para a sequência de minha existência. Não sou o homem por trás dos óculos e do bigode, como diz Drummond, mas sou o homem que associa bastante sua vida aos olhos e às pernas, para ler e para caminhar.

Meu passado público não existe mais, não tenho passado, até porque passado real não é nada mesmo em tempos de ascensão nazifascista, quando só a manipulação e invenção de passados interessam aos grupos que estão na disputa pela hegemonia total dos ambientes materiais e imateriais. 

Sem passado, meu medo é perder minha memória, minha identidade. Ao menos eu mesmo teria que saber se o que fiz na vida foi real ou se tudo não passa de uma invenção da minha imaginação. Já pensou se uma doença degenerativa apaga minha memória já apagada por outros?

Como não tenho domínio sobre o tempo, assim como não tenho domínio sobre o passado, a vida e a morte, devo exigir de mim mesmo, de minhas faculdades mentais, a definição de prioridades para o presente, o instante, o minuto que vivo estou.

Em face das leituras de realidade que faço, avalio que devo focar meu tempo em resgatar minha história de lutas e estudos e minhas reflexões e contribuições ao mundo registradas em meus blogs o mais rápido que puder. Não sei o dia de amanhã, nem o meu como ser humano mortal, nem o do ecossistema virtual onde estão meus milhares de textos de toda uma vida cultural e política.

Vou parar uns dias e a partir do mês que vem, vou me concentrar na tarefa de minha produção literária de duas décadas. Tenho que seguir relendo, diagramando e encadernando milhares de textos dos dois blogs que mantenho desde 2006.

Também seguirei tentando ler os clássicos da literatura universal porque era um sonho antigo e ainda tenho pilhas de livros para ler. Os desejos de leituras tinham motivações diferentes a cada aquisição de livro desde a adolescência. Agora, a leitura deve ser somente por sede de saber e por prazer.

Às vezes, me envolverei em questões políticas porque político sou, não sou alienado. Nesta semana mesmo, por ter leitura diferente do encaminhamento tomado pelo movimento sindical ao qual militei por décadas, dediquei um tempinho em me informar sobre temas do momento e escrevi minha opinião a respeito da questão no blog A Categoria Bancária.

Mas pretendo focar meu tempo relativamente saudável aos meus textos, leituras e coisas que não me tragam tanto sofrimento quanto os desgostos da política.

Acho que é isso.

A frase que abre esta reflexão, sobre o óbvio, foi um presente que ganhei de funcionários da Cassi nos primeiros meses como gestor eleito da autogestão. Enfrentei absurdos cotidianos com muita coragem, pois pouca gente parecia disposta a dizer o óbvio naquele ambiente no qual militei na defesa de direitos em saúde e na defesa da Caixa de Assistência e seu modelo assistencial.

William


Leitura de poesia (54) - Ser, Drummond



SER - DRUMMOND


O filho que não fiz 

hoje seria homem. 

Ele corre na brisa,

sem carne, sem nome.


Às vezes o encontro 

num encontro de nuvem. 

Apoia em meu ombro 

seu ombro nenhum.


Interrogo meu filho, 

objeto de ar:

em que gruta ou concha

quedas abstrato?


Lá onde eu jazia,

responde-me o hálito,

não me percebeste,

contudo chamava-te


como ainda te chamo

(além, além do amor)

onde nada, tudo

aspira a criar-se.


O filho que não fiz

faz-se por si mesmo.


Do livro Claro enigma, 1951.

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COMENTÁRIO:

Caraca, que profundo isso!

Algo que poderias ter feito no passado, e que talvez ainda aperte teu coração, reminiscências do passado que sempre voltam.

Oportunidades perdidas, contudo, não significa que outras oportunidades não venham a existir, até porque:

"onde nada, tudo

aspira a criar-se."


O poema é profundo em suas imagens e sentidos metafóricos.


Por outro lado:

"O filho que não fiz

faz-se por si mesmo."

Quantas veredas poderia ter trilhado e não trilhei. Em cada trilha um destino. 

Na trilha que não trilhei, alguém trilhou. 


Na história, um tijolo. 

Os muros não têm os nomes de todos os tijolos. Os muros estão por aí. 


William 


ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 23 livros de poesia - volume 1. 3ª edição - Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (53) - El instante, Jorge Luis Borges



EL INSTANTE - JORGE LUIS BORGES


¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño

de espadas que los tártaros soñaron,

dónde los fuertes muros que allanaron,

dónde el Árbol de Adán y el otro Leño?

El presente está solo. La memoria

erige el tiempo. Sucesión y engaño

es la rutina del reloj. El año

no es menos vano que la vana historia.

Entre el alba y la noche hay un abismo

de agonías, de luces, de cuidados;

el rostro que se mira en los gastados

espejos de la noche no es el mismo.

El hoy fugaz es tenue y es eterno;

otro Cielo no esperes, ni otro infierno.

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COMENTÁRIO:

"El presente está solo. La memoria

erige el tiempo. Sucesión y engaño

es la rutina del reloj..."


A poética e temáticas de Borges seguem me cativando muito.

Só há o presente... e só, e sós estamos!

O instante, é o que temos, o instante.

A vã história... já refleti muito sobre isso. Eu sequer tenho passado, ou futuro.

Só o presente e o instante. 

William 


Bibliografia:

BORGES, Jorge Luis. Antología poética 1923-1977. Biblioteca Borges, Alianza Editorial. Madri, 2005.


Leitura - O Nome da Rosa - Umberto Eco (1)



Refeição Cultural 

Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025.


"Porque esta é uma história de livros, não de misérias quotidianas, e a sua leitura pode nos inclinar a recitar, com o grande imitador de Kempis: 'In omnibus requiem quaesivi, et nusquam inveni nisi in angulo cum libro' - 5 de janeiro de 1980*." (p. 16)

*Procurei descanso em tudo e não encontrei em lugar nenhum senão num canto com um livro (tradutor do Google)


São tantos os clássicos que não conheço ainda que fico meio perdido quando penso na escolha de um livro para me sentar num canto do mundo e descansar. 

Descansar do ódio da política dos homens. Descansar da falta de consideração. Descansar das mentiras como armas fascistas na guerra de dominação. 

Um livro para descansar a alma, para alimentar a alma e dar algum sentido na aventura humana. 

Das várias lacunas culturais, escolhi desta vez o clássico de Umberto Eco: O Nome da Rosa, de 1980.

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RESENHA DURANTE A LEITURA 

Divisões do tempo: cada dia na abadia ou mosteiro onde se passa a história é dividido em períodos determinados do dia: Matinas (de 2h30 a 3h), Laudes (entre 5 e 6h), Primeira (em torno de 7h30), Terceira (por volta de 9h), Sexta (meio-dia), Nona (14 a 15h), Véspera (16h30 ou perto do pôr do sol) e Completas (em torno das 18h, até umas 19h).

O livro começa com os seguintes textos: "Um manuscrito, naturalmente", "Nota" e o "Prólogo".

Pelos textos iniciais, o leitor fica sabendo que vai ler os relatos de Dom Adson (ou Adso) de Melk, do século XIV, sobre a missão do frade franciscano inglês Guilherme de Baskerville em uma abadia italiana. Adso era seu ajudante.

"(...) Quanto à época em que se desenvolvem os eventos descritos, estamos em fins de novembro de 1327; quando porém tenha escrito o autor é incerto. Calculando que se diz noviço em 1327 e já próximo da morte quando escreve suas memórias, podemos conjecturar que o manuscrito tenha sido elaborado nos últimos dez ou vinte anos do século XIV" (p. 14)

O livro é dividido em partes representadas pelos dias: primeiro dia, segundo dia etc.

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PRIMEIRO DIA

O frei Guilherme de Baskerville e seu ajudante Adso de Melk vão a uma abadia para investigar a estranha morte de um monge, Adelmo de Otranto.

Depois, o leitor fica sabendo que frei Guilherme está incumbido de organizar na abadia um encontro "diplomático" entre representações do imperador e do papa. (A partir da p. 172)

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CENA DE LEITURA: Li o começo da obra sob o silêncio da madrugada, na Colônia do Sinpro da Praia Grande, a descrição feita por Adso de Melk sobre a primeira visita dele e do frei Guilherme de Baskerville à igreja da abadia. 

Enquanto Adso descrevia uma cena demoníaca em pinturas e esculturas, eu ouvia vez por outra os medonhos sons da noite... 

O livro me apresentava os personagens Salvatore e o monge Ubertino de Casale. (p. 66)

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Na cena de leitura acima, faltou dizer que, de vez em quando, uma coruja começava a piar sem parar... São os sons da noite.

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Diálogo entre frei Guilherme e Ubertino

Inquisição - Foi um debate interessante. Sobre influências do demônio e inquisições. Guilherme era inquisidor e desistiu da função. Ubertino era a favor de queimar na fogueira algumas pessoas inocentadas por Guilherme. 

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Frei Guilherme e Adso conhecem o bibliotecário Malaquias de Hildeshein e seu ajudante, Berengário de Arundel, no scriptorium. Antes, conversaram com o padre herborista Severino de Sant'Emmerano (p. 85 adiante).

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Já no fim do primeiro dia (Vésperas), frei Guilherme faz uma discussão com o vidreiro Nicola de Morimondo muito interessante sobre a ciência na mão de pessoas não sábias. (A partir da p. 106)

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SEGUNDO DIA

O segundo dia na abadia começou com a descoberta de mais um corpo - o monge Venâncio de Salvamec -, encontrado de cabeça para baixo numa pocilga de sangue de porcos.

Há um bom resumo da conversa do dia anterior, que contou com a participação do falecido monge Venâncio, na p. 136 da minha edição. É citada, nos debates, a obra "Poética", de Aristóteles.

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O RISO - Debate entre frei Guilherme de Baskerville e o ancião cego Jorge de Burgos sobre o gênero comédia e o riso (p. 158):

Jorge: "(...) O riso sacode o corpo, deforma as linhas do rosto, torna o homem semelhante ao macaco."

Guilherme: "Os macacos não riem, o riso é próprio do homem, é sinal de sua racionalidade."

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GUERRA É GUERRA: Na p. 182, o abade diz não se importar com o assassinato de toda uma comunidade por suspeita de heresia.

"(...) E, quanto aos hereges, também tenho uma regra, e se resume na resposta que deu Arnaldo Amalrico, abade de Citeaux, a quem lhe perguntava o que fazer dos cidadãos de Béziers, cidade suspeita de heresia: matai-os todos, Deus reconhecerá os seus."

Frei Guilherme relembrou, constrangido, que foram mortos quase vinte mil pessoas a fio de navalha  incluindo mulheres e crianças... depois a cidade foi saqueada. 

(COMENTÁRIO: Alguma semelhança com um certo massacre atual numa terra chamada Faixa de Gaza, Palestina?)

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NOS LABIRINTOS DA BIBLIOTECA 

"(...) Este lugar de sabedoria proibida é protegido por muitos e sapientíssimos achados. A ciência usada para ocultar, ao invés de iluminar. Não me agrada. Um mente perversa preside à santa defesa da biblioteca..." (p. 206)


O segundo dia chegou ao fim. Frei Guilherme e Adso visitaram a biblioteca da abadia no meio da noite. 

Quase ficaram perdidos por lá em seus labirintos. 

Ao voltarem do primeiro escrutínio à biblioteca, às escondidas, encontram o abade naquela madrugada (matinas). O abade diz que Berengário, o ajudante do bibliotecário, está desaparecido.

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Frases para reflexão 

A EFEMERIDADE DAS COISAS E DA VIDA

"(...) Nada é mais fugaz que a forma exterior, que perde o viço e muda como as flores do campo com o aparecimento do outono." (p. 25)

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O DIABO PODE TENTAR A TODOS 

"'Mesmo um inquisidor pode ser impelido pelo diabo', disse Guilherme." (p. 44)

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A BIBLIOTECA DA ABADIA 

"Sei que tem mais livros que qualquer outra biblioteca cristã. Sei que diante de vossas estantes as de Bobbio ou de Pomposa, de Cluny ou de Fleury parecem o quarto de um menino que mal se inicia no ábaco. Sei que os seis mil códices de que se vangloriava Novalesa há mais de cem anos são poucos diante dos vossos, e talvez muitos deles agora estejam aqui. Sei que a vossa abadia é a única luz que a cristandade pode opor às trinta e seis bibliotecas de Bagdá, aos dez mil códices do vizir Ibn al-Alkami, que o número de vossas bíblias iguala-se aos dois mil e quatrocentos corões de que dispõe o Cairo, e que a realeza de vossas estantes é luminosa evidência contra a soberba lenda dos infiéis que há anos queriam (íntimos que são do príncipe da mentira) a biblioteca de Trípoli rica em seis milhões de volumes e habitada por oitenta mil comentadores e duzentos escribas." (p. 51)

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AINDA A BIBLIOTECA DA ABADIA 

O abade não quer permitir o acesso de frei Guilherme de Baskerville. A biblioteca é tão protegida que só o bibliotecário a conhece.

"(...) Somente o bibliotecário, além de saber, tem o direito de mover-se no labirinto dos livros, somente ele sabe onde encontrá-los e onde guardá-los, somente ele é responsável pela sua conservação (...) Porque nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais por uma alma piedosa, e os monges, por fim, estão no scriptorium para levar a cabo uma obra precisa, para a qual devem ler alguns e não outros volumes, e não para seguir qualquer insensata curiosidade que porventura os colha, quer por fraqueza da mente, quer por soberba, quer por sugestão diabólica." (p. 54)

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MAGIAS DE DEUS E DO DIABO

"(...) Porém existem duas formas de magia. Há uma magia que é obra do diabo e que visa a ruína do homem através de artifícios de que não é lícito falar. Mas há uma magia que é obra divina, lá onde a ciência de Deus se manifesta através da ciência do homem, que serve para transformar a natureza, e um de cujos fins é prolongar a vida humana..." (p. 109, sobre os óculos)

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A CIÊNCIA E A QUESTÃO DA ÉTICA: DEVE HAVER LIMITE NA CIÊNCIA?

"Porque a ciência não consiste só em saber aquilo que se deve ou se pode fazer, mas também em saber aquilo que se poderia fazer e que talvez não se deva fazer. Eis por que hoje eu dizia ao mestre vidreiro que o sábio deve guardar de todos os modos os segredos que descobre, para que outros não façam mau uso deles, mas é preciso descobri-los, e esta biblioteca me parece mais um lugar onde os segredos permanecem encobertos." (p. 120)

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O POVO É MASSA DE MANOBRA NAS RELIGIÕES

"Estou dizendo que muitas dessas heresias, independentemente das doutrinas que sustentam, encontram sucesso junto aos simples, porque lhes sugerem a possibilidade de uma vida diferente. (...) Os simples são carne de matadouro, de se usar para colocar em crise o poder adverso, e para sacrificar quando não prestam mais." (p. 180/181)

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COMENTÁRIO FINAL

Sigamos na leitura e releitura dessa obra monumental de Umberto Eco. Finalizei os dois primeiros dias da história.

Antes de seguir adiante, acho que vou reler alguns diálogos que ocorreram nas primeiras duzentas páginas.

É isso. O mundo anda o caos com a ascensão do nazifascismo no século XXI. Vamos procurar algum descanso pegando um bom livro e achando um canto para desfrutar dessa maravilhosa invenção do ser humano: os livros.

William


Bibliografia:

ECO, Umberto. O nome da rosa. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. Coleção Mestres da Literatura Contemporânea. Editora Record/Altaya. Rio de Janeiro: 1986.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (52) - A ingaia ciência, Drummond



A INGAIA CIÊNCIA - DRUMMOND 


A madureza, essa terrível prenda

que alguém nos dá, rapando-nos, com ela,

todo sabor gratuito de oferenda

sob a glacialidade de uma estela,


a madureza vê, posto que a venda

interrompa a surpresa da janela,

o círculo vazio, onde se estenda,

e que o mundo converte numa cela.


A madureza sabe o preço exato

dos amores, dos ócios, dos quebrantos,

e nada pode contra a sua ciência


e nem contra si mesma. O agudo olfato,

o agudo olhar, a mão, livre de encantos,

se destroem no sonho da existência. 


Do livro Claro enigma, de 1951.

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COMENTÁRIO:

Ao pesquisar o sentido da palavra "ingaia" apurei que ela é criação poética de Drummond.

Como gaia seria uma referência à "mãe-terra" ou á vida, ou ainda à existência da vida etc, então poderia interpretar o título do poema, mais ou menos, como a ciência por trás da experiência do viver, considerando que o poeta vai abordar questões relativas à perda da inocência com a "madureza" do envelhecimento.

Drummond poderia também estar fazendo alguma referência à obra de Nietzsche "A gaia ciência", de 1882.

Interpretando um pouco as imagens do poema, diria que o eu-lírico nos transmite sua ideia a respeito do peso da experiência que se adquire com a idade, diminuindo na pessoa madura, com mais "ciência", os encantos e esperanças com as coisas simples que a natureza sob os céus ("glacialidade de uma estela") nos disponibiliza gratuitamente como os amores, os ócios e os quebrantos do experimentar viver.

Caramba, mais ou menos, hoje estou assim como o eu-lírico descreve a madureza...

Sigamos, pois a cada amanhecer, o mundo e a vida nos concedem oportunidades e novidades - "todo sabor gratuito de oferenda" - para esperançar até com as belezas da própria natureza.

William


ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 23 livros de poesia - volume 1. 3ª edição - Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.


terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Leitura de poesia (51) - Canção mínima, Cecília Meireles



CANÇÃO MÍNIMA - CECÍLIA MEIRELES


No mistério do Sem-Fim,

equilibra-se um planeta.


E, no planeta, um jardim,

e, no jardim, um canteiro;

no canteiro, uma violeta,

e, sobre ela, o dia inteiro,


entre o planeta e o Sem-Fim,

a asa de uma borboleta.


De Vaga Música, 1942.

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COMENTÁRIO:

Que poema da esperança!!! Que lindo! Que necessário!

E pensar que quando a poeta anunciou ao mundo este poema, "entre o planeta e o Sem-Fim" a morte ocupava jardins e canteiros do planeta na luta contra o nazifascismo. 

E hoje, "No mistério do Sem-Fim", entre trumps, bilionários e mentirosos nazifascistas, "equilibra-se um planeta"...

Que os deuses do Sem-Fim privilegiem as borboletas, lançando suas fúrias sobre esses prexenetas!

William 



Bibliografia:

MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Coordenação André Seffrin; apresentação: Alberto da Costa e Silva - 1° ed. - São Paulo: Global, 2017.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 20 de janeiro de 2025. Segunda-feira. Fim de noite.


Estou refletindo diariamente sobre a necessidade de mudança de algumas coisas em minha vida. Mudar hábitos e rotinas não é fácil. Conviver com a infelicidade também não é fácil, é bem difícil ser infeliz.

Mudança se começa pelo começo, mudando alguma coisa, qualquer que seja ela.

Tenho evitado nos últimos dias ouvir programas de política na hora das refeições. Isso é uma merda! Não há notícias boas e a pessoa que não é viciada em notícias ruins deveria dar um tempo a si mesma e evitar essas torturas na hora da refeição.

MÚSICA BRASILEIRA

Hoje ouvi três álbuns de música brasileira durante minhas refeições. Eu não conheço música brasileira (como poderia). Teria que nascer outra vez e ouvir músicas brasileiras desde jovem para mudar essa realidade. 

Entretanto, posso optar por ouvir neste ano ou nos próximos tempos um pouco de música brasileira e diminuir minha ignorância nessa cultura nossa.

Ao ver ontem alguns minutos de uma entrevista na TV com a cantora e compositora Marina Lima, que perdeu um pouco a voz, pensei que poderia começar por ela a prática de ouvir músicas nacionais e busquei alguns álbuns de sua carreira musical. 

Ouvi dela "Fullgás", de 1984, destaque para a música "Veneno", e ouvi "Virgem", de 1987.

Também ouvi o álbum "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor", de Marisa Monte, do ano 2000.

Cantoras e vozes maravilhosas. Músicas com letras, com histórias, com sentidos vários.

LEITURA DE POESIA

Estou tentando ter disciplina para ler poesia, pois também não sou um leitor acostumado a poesia. Comecei tarde a ler esse gênero literário. 

Do mês passado para cá, tentei conhecer poetas que não conhecia ainda. 

Aos poucos, vamos lendo novos poemas e novas poéticas, conhecendo poetas novos para mim.

CLÁSSICOS DA LITERATURA

Outra questão que preciso ter disciplina é com relação a leitura de obras literárias clássicas, pelo menos os livros que acumulei em casa desde a adolescência e que nunca consegui ler por causa de minha vida proletária e militante.

Comecei dias atrás a leitura do livro O nome da rosa, de Umberto Eco. Achei que seria possível ler o livro em poucos dias... impossível para mim. 

Aliás, ler rápido livros assim é uma merda. Já sinto necessidade de voltar a ler vários diálogos centrais nas quase duzentas páginas que já li.

Enfim, é ter disciplina e foco.

GUERRA MUNDIAL

Preciso acelerar a revisão e encadernação dos milhares de textos de meus blogs. As guerras por hegemonia global vão se intensificar e com o papel central das big techs na guerra do império fascista norte-americano contra o mundo nada mais é seguro em relação a todas as plataformas que passaram a dominar o mundo humano nas últimas décadas.

Eu venho escrevendo sobre isso faz tempo. Fiz texto falando sobre a necessidade de países como o Brasil criarem suas próprias plataformas de informação e comunicação nacional e global e cheguei a ouvir de líderes políticos que isso era impossível... pois é, quero ver um país sobreviver com soberania dependendo das plataformas dos aliados de Trump a partir de hoje...

Enfim, tenho que mudar. Tenho que reconhecer as coisas que mudaram e não têm volta, as coisas que podem ser mudadas e como proceder para mudar o que pode ser mudado.

Não se conseguirá nada novo fazendo o mesmo que se fazia antes e que não está mais dando resultado.

William


Livro: Poemas - T. S. Eliot



Refeição Cultural 

Janeiro de 2025


O livro Poemas, de 1920, é o segundo livro de T. S. Eliot. Estou lendo uma bela e bem acabada edição da Companhia das Letras, organizada, traduzida e com posfácio do professor Caetano W. Galindo.

Registro o mesmo sentimento que tive ao ler o primeiro livro dele Prufrock e outras observações, de 1917: não é uma poética de fácil compreensão para mim, prefiro outros autores. Mas estou firme na leitura. 

Deste livro o poema que mais gostei foi "Lune de Miel" (comentário aqui).

T. S. Eliot é contemporâneo de James Joyce. Deve ser por isso que os versos sem muito sentido para mim sejam meio doidos como algumas passagens de Ulysses, de Joyce, também traduzido por Galindo (comentário aqui).

Meu desejo é conhecer mais autores e suas poéticas. É reduzir minhas lacunas culturais. 

O próximo livro de Thomas Stearns Eliot é um dos mais aclamados da crítica: A terra devastada, de 1922. Vamos ver se os poemas me agradam mais.

Eu tenho um compromisso com a sinceridade e a honestidade na produção de meus textos aqui no blog. Por isso sou sincero em dizer como foi a leitura de autores e suas obras. 

Enfim, mais um livro lido neste início de ano.

William 


Bibliografia:

ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.


Leitura de poesia (50) - Gerontion, T. S. Eliot



GERONTION - T. S. ELIOT


     Thou hast nor youth nor age

But as it were an after dinner sleep

Dreaming of both


Eis-me aqui, um velho num mês seco,

Um menino lê em voz alta, espero a chuva.

(...)


Depois de tal saber, qual perdão? Pense agora

Que a história abunda em passagens ardilosas, corredores engenhosos

E saídas, ilude em sussurrantes ambições,

Nos guia por vaidades. Pense agora

Que ela dá quando nos vemos distraídos

E o que dá, dá com tão amplas confusões

Que dar mata de fome o desejo. Dá tarde demais

O em que não se crê mais, ou caso ainda,

Somente na memória, paixão repensada. Dá cedo demais

A mãos fracas, o que se pensa ser supérfluo

Até que recusar propaga um medo. Pense

Que medo nem coragem salvam. Perversos vícios

São cria de nosso heroísmo. Virtudes

Nos são impostas por nossos impudentes crimes.

Tais lágrimas colhem-se da árvore que dá fúria.

(...)


Versos do Poema "Gerontion" de 1920

Tradução de Caetano W. Galindo.

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COMENTÁRIO:

Ao ler este poema, fiquei pensando no acontecimento no dia de hoje nos Estados Unidos: a posse de Trump e aquela corja de gente no evento, com direito a saudação nazista e tudo.

É interessante reproduzir a nota de Galindo sobre este poema:

"Thou hast nor youth nor age: O título grego do poema significa 'velhinho'. A epígrafe shakespeariana vem de Medida por medida (ato III, cena I). Na cena um personagem diz a outro que a morte é consequência natural de uma vida que é por definição passageira. 'Tu não tens juventude nem idade,/ Mas como se fosse mera sesta depois da refeição/ Sonhando com essas duas coisas.'" (p. 370)

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"Depois de tal saber, qual perdão? Pense agora

Que a história abunda em passagens ardilosas, corredores engenhosos"


Pois é, a história abunda de passagens ardilosas...

Estamos vendo o repeteco da história e suas passagens ardilosas com o que vem se passando com os Estados Unidos e com o mundo prestes a conhecer o resultado por sermos guiados por vaidades... E sabendo como foi a história, como perdoar?


"Guides us by vanities."

Aquele ajuntamento de feras humanas no evento de hoje me parece ter relação com a epígrafe shakespeariana do poema:

"Tu não tens juventude nem idade,/ Mas como se fosse mera sesta depois da refeição/ Sonhando com essas duas coisas."


Guiados por vaidades... Que cena dantesca: o velho irado, os donos das big techs, o manipulador nazista...

Estejamos preparados...

William


Bibliografia:

ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.