terça-feira, 19 de novembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Terça-feira, 19 de novembro de 2024.


Opinião


Pra quem conhece história, o Brasil não tem surpresa alguma!

Fosse o Brasil um país sério, os mandados de prisão emitidos hoje seriam para os verdadeiros criminosos e não para os seus lacaios, segundos, terceiros, laranjas etc. 

Tramaram a morte do Presidente da República eleito em 2022, seu vice e um ministro da Suprema Corte e os que tramaram seguem há dois anos de boa, fazendo política e viajando por aí. E tirando sarro da nossa cara.

Eu tenho uma teoria faz um tempo, e a cada dia mais claro fica para mim: as autoridades brasileiras, mancomunadas com a casa-grande desde sempre, não querem prender Bolsonaro e deve ser por medo ou covardia, ou os dois sentimentos juntos.

Vão se acumulando provas, mais provas, mais provas, e o tempo vai passando, passando, passando... por muito menos, prenderam figuras históricas da vida política do país. Em pouquíssimo tempo, atropelando normas e regras, prenderam políticos inocentados depois.

As autoridades brasileiras são covardes, são parciais, são incompetentes, se sua ineficácia não for proposital. Uso "autoridades" como denominação para juntar um monte de gente e instituições da vida nacional que deveriam funcionar de forma isonômica para todas e todos, como prevê a Lei maior, a tal Constituição Federal.

Minha teoria é que por medo ou por covardia, talvez para não mexer muito na casa-grande, onde se juntam os "parças" da elite corrupta do país, querem que os bolsonaros e sua matilha fujam do país, peçam asilo etc. Passaporte não é necessário quando se vai fugir. Sempre há esgotos por onde sair.

Enfim, eu avalio que nós dos segmentos da sociedade que não compartilhamos dos ideais e das ideias da burguesia brasileira, a mais ignorante e corrupta do planeta, temos nossa parcela de culpa por tudo que acontece no país.

A esquerda brasileira - vamos considerar assim - poderia se unir em defesa de pautas comuns, coletivas, e deixar um pouco de lado as vaidades e personalismos de suas lideranças, burocratizadas em sua maioria.

Nosso governo e nossa esquerda mais "organizada" não andam inspirando muito a gente para seguir nas lutas pelo mundo que defendemos, falo de quem tem mandato e representação, tirando raras exceções, raras.

Eu reconheço minha mediocridade, minha condição mediana, meu papel de mais um tijolinho na luta da esquerda nas últimas décadas. Minha formação política começou com os bancários da CUT, inclusive. Tenho muito que estudar e aprender ainda.

No entanto, sei de minha contribuição como tijolinho na construção das lutas nas quais participei nas últimas décadas. Por isso escrevo e opino em meus blogs.

Vendo o cotidiano do Brasil em novembro de 2024 não me surpreendo com muita coisa. Isso não é uma coisa boa. Não é. 

Não vamos mudar o Brasil fazendo as mesmas coisas que fazíamos antes. Até estaríamos melhor, se pelo menos fizéssemos base como antes. Nem isso!

As "conciliações" com os adversários de classe acabaram. Agora são inimigos de classe, são fascistas, e eles matam... e parte de nossas lideranças quer fazer "acordos" com os fascistas que querem nos eliminar...

Nem sei mais o que quero ou não quero em relação à política dos grupos nos quais me politizei. Minha formação me ensinou a importância dos partidos e dos sindicatos. 

Se hoje eles se burocratizaram, eu também não vejo muita esperança em voluntarismos episódicos: são bonitos, mas não resolvem.

Tô sem pertencimento algum. Que foda!

William


domingo, 17 de novembro de 2024

Leitura: Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva (3)



Refeição Cultural 

"Minha mãe nunca perdoou a incrível falha de segurança, o amadorismo, a imprudência: vir do Chile com uma carta escondida, no avião mais queimado do país, com o telefone do marido escrito no envelope; prepotência e descuido das organizações de esquerda, que colocaram duas famílias com crianças no fogo cruzado, os Viveiros de Castro e os Paiva." (p. 173)


A Parte 2 do livro de Marcelo Rubens Paiva termina com o capítulo "O sacrifício". Os leitores descobrem os motivos pelos quais a ditadura sequestrou Rubens Paiva e o matou sob tortura.

O capítulo é muito difícil de se ler...

---

Estou cansado. Cansado de muita coisa. Confesso. 

Assistimos ao filme "Ainda estou aqui", baseado neste livro, esta semana. Extraordinário! Sensível!

Mas ando cansado. A ditadura e a tortura não acabaram. Não acabaram! 

A Globo ainda está por aqui. Faz a mesma merda contra o Brasil e os brasileiros desde 1965.

Biden (EUA) veio ao Brasil hoje autorizar da Amazônia que a Ucrânia use mísseis deles contra a Rússia. Só pra humilhar a gente.

Estamos morrendo envenenados pelos caras do agro e os empresários das igrejas estão bilionários roubando os miseráveis. 

As BETs dominaram tudo. Roubam dos miseráveis o que sobrar dos pastores das igrejas. 

A ditadura da Faria Lima (casa-grande) colocou um neto de ditador pra encher o rabo deles com o nosso orçamento público. Para encher o cu deles de grana tem que cortar no social.

A ditadura e a tortura não acabaram no Brasil. 

E eu comendo o veneno do agro! Vamos todos morrer de câncer, se outra morte não nos pegar antes. 

Todos morrendo pelas mãos da ditadura do capital e seus poderosos capitalistas. 

Uns caras mortais, uns merdas, e a gente deixa...

E o Gonet... o Bolsonaro é o sinal de que tá tudo liberado para eles.

Tô cansado! 

E a porra do nosso sindicato que não me deixou sequer falar do centenário da entidade? Que gente mais pequena, mesquinha... 

William 


sábado, 16 de novembro de 2024

Vendo filmes (XXIII)


É possível ser mais do que parecemos.


Refeição Cultural

A OBSTINAÇÃO E TENACIDADE DE ROZ E EUNICE PAIVA NOS FAZEM ACREDITAR NO AMOR E NA VIDA

Os filmes que vimos nesta semana nos cinemas foram impactantes, turbilhões de emoções! Não faltaram lágrimas por acabar tudo bem e por sofrer com os personagens.

Apesar das temáticas dos filmes serem bem diferentes, a sensação de querer colo, acolhimento, aconchego e laços de ternura nos vem de ambos. A condição de se pegar responsável por outras vidas traz a fortaleza necessária para a tarefa de cuidar e fazer viver.

Roz, uma máquina programada para ajudar seres humanos nas tarefas cotidianas cai numa ilha sem humanos e repleta de seres vivos, vivendo e morrendo sob a mais natural das condições: a lei da selva.

Eunice Paiva, uma mulher cuja vida cotidiana é cuidar dos filhos, dos ambientes controlados por ela e achar o ponto de equilíbrio na relação entre marido e mulher, numa mescla de tarefas culturalmente estabelecidas para as mulheres brasileiras na segunda metade do século vinte.

De repente, seres programados para certos tipos de tarefas e rotinas pré-estabelecidas se veem na condição adversa do caos, da inesperada ruptura da normalidade cotidiana esperada. 

TAREFA: CUIDAR!

E não há escolhas! Não há tempo a perder, sequer para pensar direito. Cuidar é a tarefa: proteger, prover, alimentar, dar colo e exemplo, encaminhar na vida.

Uma mensagem do filme "Robô Selvagem" é profunda: ninguém vem programado para ser mãe...

O robô Roz num instante está perdido num ambiente inesperado, sem sentido e sem utilidade, no instante seguinte está diante de um pequenino ser vivo dependendo de si para sobreviver, crescer e encontrar seu caminho na vida. O pequeno ganso órfão.

Ele precisa crescer, aprender a nadar e voar, caso contrário não terá a menor chance de sobreviver e encontrar seu destino.

Eunice Paiva de uma hora para outra terá que cuidar de cinco crianças e adolescentes. E também não perde tempo em decidir a fazer o que tem que ser feito.

Enfim, as mensagens dos filmes são inspiradoras e mais que necessárias nos dias que vivemos: o amor e as tarefas que a vida nos dá são combustíveis para nossa obstinação e tenacidade para superar qualquer obstáculo no intuito de acolher, cuidar e encaminhar na vida as pessoas que amamos.

Preparem seus corações e sintam os sentimentos que brotam dos filmes Robô Selvagem e Ainda estou aqui.

-

FILME

Robô Selvagem (The Wild Robot), de 2024 - Direção: Chris Sanders. Elenco: Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor. Baseado em série de livros de Peter Brown. Produção: Dreamworks Animation e Universal Pictures.

SINOPSE (Adoro Cinema): Uma nave naufraga numa terra desabitada e dá início à aventura épica do robô Roz, a última unidade das chamadas ROZZUM ainda funcional e inteligente. Preso nesta ilha aparentemente sozinho, Roz precisa sobreviver às intempéries da floresta. Sua única esperança é se adaptar ao ambiente hostil e avesso às suas programações. Para isso, Roz passa a conviver com os animais aprendendo sobre a vida na selva e os modos de sobrevivência na natureza. É durante essa exploração que Roz encontra um filhote de ganso e estabelece como missão cuidá-lo. Desse laço inesperado com o bicho abandonado, Roz se aproxima de uma realidade nova e instigante, construindo uma relação harmoniosa com os animais nativos. Do mesmo diretor de "Lilo & Stitch" e "Como Treinar o Seu Dragão", Robô Selvagem é uma história comovente sobre a convivência entre tecnologia e natureza e o significado de estar vivo.

COMENTÁRIO: O filme é lindo, é de emocionar qualquer pessoa. Fiquei pensando o que poderia destacar no comentário sobre o filme. Pensei na questão humana de busca por sentidos na vida. Me lembrei da crônica de Rubem Alves "O Nome" (ler aqui) e o que se esperam da gente desde que nascemos. Também me lembrei daquele desafio dos "Nove pontos" num formato de quadrado no qual a pessoa precisa atingir todos os pontos com apenas quatro retas sem tirar o lápis do papel e sem repetir ponto.

A história do robô Roz é sobre esses dois temas: encontrar um sentido para si e como fazer isso superando o que está programado para ser: terá que pensar fora do quadrado. Roz não tem função alguma numa ilha onde não há um ser humano para ele realizar sua tarefa de servir da melhor forma possível uma pessoa. Aí a gente mergulha na história de Roz e no final a gente fica com um desejo saudoso de que os seres humanos robotizados pelo cotidiano se "humanizem" como aquele robô conseguiu fazer ao superar o que estava programado.

Filme lindo, maravilhoso! Vejo dez vezes o filme!

---

Ainda estou aqui (2024). Direção: Walter Salles. Roteiro: Murilo Hauser, Heitor Lorega. Com: Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro e grande elenco.

SINOPSE: O filme é uma adaptação fiel ao livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015 em homenagem à sua mãe, Eunice Paiva. Os telespectadores vão conhecer a história da família Paiva, que teve a vida alterada drasticamente após o golpe civil-militar de 1964. O deputado Rubens Paiva e sua esposa Eunice Paiva têm cinco filhos e os ditadores cassam o mandato de Paiva, que se exila em 1964 e depois volta ao Brasil para viver como engenheiro no Rio de Janeiro em 1970/71. No feriado do dia 20 de janeiro de 1971, homens invadem a casa da família no Leblon e levam Rubens Paiva. Depois levam Eunice e uma de suas filhas. Paiva nunca voltaria para casa.

COMENTÁRIO: Vi depois que assisti ao filme uma entrevista de Marcelo Rubens Paiva (de 2022) falando a respeito de seu livro "Ainda estou aqui". O autor disse que escreveu o livro após as manifestações de 2013 e aquela onda crescente de fascismo e gente comum pedindo a volta da ditadura, enaltecendo torturadores etc. Ele achou aquilo assustador. Sua mãe, Eunice, já estava com Alzheimer. Marcelo entendeu que era uma espécie de dever cívico contar a história de sua família, principalmente de sua mãe, uma mulher extraordinária que se viu do dia para a noite sem o marido e companheiro de vida, sem recursos, acossada pelos "gorilas" (como diz ele) da ditadura implantada e com cinco filhos para criar.

Eu chorei bastante no filme. O diretor e o roteiro foram cuidadosos e sensíveis e a violência terrível que aquela família viveu foi tratada com um olhar nos bons momentos da vida em comum. Boa parte do filme foca a leveza do cotidiano de uma família que se ama. Muito bom isso!

Temas que me pegaram de jeito:

Duas temáticas mexeram muito comigo e ainda estão ocupando minha mente: o Alzheimer de Eunice Paiva e o momento quando a família vai embora do Rio para São Paulo. Essas questões me arrebentaram!

Eu vivi situação parecida com a do garoto Marcelo e suas irmãs, forçados a irem embora da casa deles daquele jeito, deixando para trás uma vida feliz. Na hora, fiquei arrasado ao me dar conta de que não me lembro do momento em que fui embora de minha vida feliz aos dez anos de idade. Minha mente apagou tudo! Só volto a ver cenas do passado já em Uberlândia, outra cidade, outra vida.

E o Alzheimer... puta que pariu! Não sei qual das doenças mortais mais comuns é pior. Uma pessoa ter Alzheimer e deixar de ser ela a cada dia é uma das piores coisas do mundo, para todas as pessoas do convívio dela! É sacanagem a mente de uma pessoa ir apagando tudo até não sobrar nada do que somos... é o que mais temo! Se pudéssemos escolher, gostaria de evitar um fim de existência por uma desgraça dessas.

Estou lendo o livro de Marcelo e gostaria de agradecer a ele por nos dar essa oportunidade de conhecer essa história, que é parte da história do Brasil.

---

Que filmes extraordinários esses dois que vi nos cinemas nesses dias!

William Mendes

16/11/24


Post Scriptum: o texto anterior desta série sobre filmes pode ser lido aqui.


Diários com Machado de Assis (16)



Refeição Cultural 

Conto: D. Paula (1884)

"(...) tudo isso era como as frias crônicas, esqueleto da história, sem a alma da história."


O enredo do conto tem como protagonista uma mulher já madura, viúva, e que se dispõe a ajudar um jovem casal que brigou por uma questão de ciúmes. D. Paula é tia de Venancinha, casada com Conrado, jovem advogado do Rio de Janeiro.

O conto começa com Venancinha aos prantos por ter sido acusada pelo marido de estar enamorada de um fulano novo na cidade: Vasco Maria Portela, filho de um antigo diplomata de mesmo nome, aposentado e vivendo na Europa.

Para tentar reaproximar o casal, D. Paula propõe ao marido Conrado levar a sobrinha consigo para ficar algumas semanas na casa dela na Tijuca. A tia promete ao marido dar uns conselhos à jovem e melhorar o comportamento da esposa.

É aí que veremos como se desenvolve a história através das confidências entre tia e sobrinha.

---

Eu não conhecia este conto ainda. Ele foi publicado na Gazeta de Notícias, em 12 de outubro de 1884, e depois saiu na coletânea de contos do livro "Várias histórias", de 1895 ou 1896, segundo fontes diferentes.

"D. Paula, inclinada para ela, ouvia essa narração, que aí fica apenas resumida e coordenada. Tinha toda a vida nos olhos; a boca meio aberta, parecia beber as palavras da sobrinha, ansiosamente, como um cordial. E pedia-lhe fiança. O ar da tia era tão jovem, a exortação tão meiga e cheia de um perdão antecipado, que ela achou ali uma confidente e amiga, não obstante algumas frases severas que lhe ouviu, mescladas às outras, por um motivo de inconsciente hipocrisia. Não digo cálculo; D. Paula enganava-se a si mesma. Podemos compará-la a um general inválido, que forceja por achar um pouco do antigo ardor na audiência de outras campanhas."

Os leitores vão conhecer a "alma da história" ao descobrir os segredos não da sobrinha Venancinha, mas da tia dela, D. Paula, ao ouvir as confissões da jovem. 

Ao lerem o conto, atentem para o comportamento da personagem principal, D. Paula.

"Machado foca o comportamento das mulheres em várias obras, pois elas são controladas, ou seja, elas buscam burlar o controle, como a lei que cria o contraventor." (do blog Refeitório Cultural)

Ver postagem sobre a aula do professor Hansen aqui.

---

ESCRAVIDÃO PERSISTE

"(...) A primeira escrava que a viu, quis ir avisar a senhora, mas D. Paula ordenou-lhe que não..."

"(...) e lá dentro as pretas espalhavam o sono contando anedotas, uma ou outra vez, impacientes..."


Sempre necessário comentar a naturalização da condição de pessoas escravizadas no passado ou pouco tempo atrás. 

É difícil não perceber a atualidade da luta por direitos básicos e universais a pessoas que executam serviços nas residências de outras pessoas, comumente chamadas de "empregadas domésticas". 

Por mais de um século, após a lei que aboliu a escravidão em 1888, as mulheres que trabalhavam nas casas da "classe média" e nas casas-grandes (casas dos ricos de verdade) seguem na condição de trabalho análogo à escravidão.

Os governos do Partido dos Trabalhadores mexeram num vespeiro ao propor direitos básicos às empregadas domésticas. A casa-grande e a "classe média" acabaram derrubando o governo pela petulância dele em aumentar o custo da empregada (e por diminuir o spread bancário também, em 2012).

A exploração dos seres humanos na forma de escravidão ou trabalhos análogos à escravidão segue há mais de 500 anos aqui no Brasil.

Até quando?

William


quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Dom Quixote de La Mancha - Miguel de Cervantes (2)



Refeição Cultural

"En efecto, llevad la mira puesta a derribar la máquina mal fundada destos caballerescos libros, aborrecidos de tantos y alabados de muchos más; que si esto alcanzáredes, no habriades alcanzado poco." (Prólogo)


De novo cito o "contrato" entre autor do livro e leitores da obra: "El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha", publicado em 1605, é uma narrativa criada por Miguel de Cervantes para denunciar "a máquina infundada dos livros de cavalarias" da época, que eram muito populares.

---

CAPÍTULO 1

"Que trata de la condición y ejercicio del famoso hidalgo don Quijote de la Mancha"

A abertura da história e apresentação do fidalgo senhor Quijana que conheceremos como o famoso cavaleiro Dom Quixote é uma delícia!

"En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivia un hidalgo..."

Em seguida há uma descrição da condição econômica do fidalgo. 

Depois os leitores conhecem a ama e a sobrinha do fidalgo:

"Tenía en su casa un ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina que no llegaba a los veinte, y un mozo de campo y plaza, que así ensillaba el rocín como tomaba la podadera..."

Após os leitores conhecerem a condição econômica bem mediana do fidalgo e as pessoas que viviam com ele, o narrador vai descrever o fidalgo:

"Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta años; era de complexión recia, seco de carnes, enjuto de rostro, gran madrugador y amigo de la caza..."

E então o narrador diz aos leitores que a história é baseada em fatos reais, que o importante é que a narrativa não vai se desviar da verdade. Vejam a técnica narrativa do romance ficcional de Cervantes, é muito inovadora.

"Quieren decir que tenía el sobrenombre de Quijada o Quesaba (que en esto hay alguna diferencia en los autores que deste caso escriben), aunque por conjeturas verosímiles se deja entender que se llamaba Quijana. Pero esto importa poco a nuestro cuento; basta que en la narración dél no se salga un punto de la verdad."

Outro personagem que conhecemos no início da história é o cura, com quem o senhor Quijana debatia as aventuras dos heróis dos livros de cavalarias:

"Tuvo muchas veces competencia con el cura de su lugar (que era hombre docto, graduado en Sigüenza)... (uma ironia de Cervantes)

E também conhecemos o barbeiro local:

"(...) mas maese Nicolás, barbero del mesmo pueblo, decía que ninguno llegaba al Caballero del Febo..."

---

LEU TANTO SEM DORMIR QUE SEU CÉREBRO SECOU

O senhor Quijana lia tantos livros de cavalaria, de dia e de noite, que deixou de cuidar de seus afazeres e acabou ficando meio doido, o narrador diz que seu cérebro secou.

“En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los días de turbio en turbio; y así, del poco dormir y del mucho leer se le secó el celebro, de manera que vino a perder el juicio.” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1", Spanish Edition, Miguel de Cervantes)

---

CORRER O MUNDO EM BUSCA DE AVENTURAS PARA SUA HONRA E PARA DESFAZER SITUAÇÕES AGRAVADAS

O fidalgo, já ancião para a época, se prepara para sair pelo mundo em busca de aventuras para honrar a si mesmo e para desfazer todo gênero de agravo que encontre.

“En efecto, rematado ya su juicio, vino a dar en el más extraño pensamiento que jamás dio loco en el mundo, y fue que le pareció convenible y necesario, así para el aumento de su honra, como para el servicio de su república, hacerse caballero andante, e irse por todo el mundo con sus armas y caballo a buscar las aventuras, y a ejercitarse en todo aquello que él había leído que los caballeros andantes se ejercitaban, deshaciendo todo género de agravio, y poniéndose en ocasiones y peligros, donde acabándolos, cobrase eterno nombre y fama.” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1", Spanish Edition, Miguel de Cervantes)

---

O CAVALO ROCÍN VIROU O FAMOSO ROCINANTE

Depois de quatro dias pensando que nome poderia dar ao seu cavalo, o fidalgo encontrou o nome ideal.

“y así, después de muchos nombres que formó, borró y quitó, añadió, deshizo y tornó a hacer en su memoria e imaginación, al fin le vino a llamar Rocinante, nombre, a su parecer, alto, sonoro y significativo de lo que había sido cuando fue rocín, antes de lo que ahora era, que era antes y primero de todos los rocines del mundo.” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1", Spanish Edition, Miguel de Cervantes)

---

DOM QUIXOTE... DE LA MANCHA

Após colocar nome em seu cavalo, o fidalgo levou mais oito dias pensando em um nome para si mesmo. Até que lhe veio o nome: Dom Quixote.

Para honrar sua linhagem e sua pátria, acrescentou o "de La Mancha" ao nome do cavaleiro andante.

---

A DAMA AMADA PELO CAVALEIRO ANDANTE

Faltava ainda a escolha de uma amada a quem dirigir seus pensamentos, atos e bravuras. E lembrando que "el caballero andante sin amores era árbol sin hojas y sin frutos, y cuerpo sin alma".

Finalmente, escolheu sua doce amada entre as mulheres das cercanias. Uma lavradora chamada Aldonza Lorenzo. Ela seria a doce Dulcinea del Toboso.

“halló a quien dar nombre de su dama! Y fue, a lo que se cree, que en un lugar cerca del suyo había una moza labradora de muy buen parecer, de quien él un tiempo anduvo enamorado, aunque, según se entiende, ella jamás lo supo ni se dio cata dello. Llamábase Aldonza Lorenzo, y a ésta le pareció ser bien darle título de señora de sus pensamientos; y buscándole nombre que no desdijese mucho del suyo, y que tirase y se encaminase al de princesa y gran señora, vino a llamarla Dulcinea del Toboso, porque era natural del Toboso, nombre, a su parecer, músico y peregrino y significativo, como todos los demás que a él y a sus cosas había puesto.” (de “El ingenioso caballero don Quijote de la Mancha. Parte 1", Spanish Edition, Miguel de Cervantes)

---

É isso! Temos aí tudo pronto para as primeiras aventuras de nosso cavaleiro andante Dom Quixote, seu cavalo Rocinante e tudo por honra de si mesmo e pela amada Dulcinea del Toboso.

William Mendes 

14/11/24


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Diários com Machado de Assis (15)



Refeição Cultural 

Osasco, 13 de novembro de 2024. Quarta-feira.


Dormi pouco. Tenho dormido mal faz dias. Poucas horas e sem acordar bem-disposto. E olha que ontem caminhei 4 Km, era para ter dormido melhor. Suspeito de vários motivos para o sono pouco reparador. Problemas da família que me afetam, e sempre a política, sendo eu um animal político.

Tendo acordado cedo, me levantei. Me deu vontade de ler alguma coisa do Bruxo do Cosme Velho. Sempre me equivoco nesse apelido de Machado de Assis e escrevo Mestre do Cosme Velho. Tudo bem! Ele é tudo isso e muito mais.

Peguei o livro de contos do Machado organizado por John Gledson. Li o conto "Conto da escola", que está grafado de duas formas no próprio livro do Gledson: está escrito "Conto de escola" no índice e nas referências ao final do livro e "Conto da escola" na página 326. Evidente que essa diferença faz diferença no sentido semântico. Como o autor é estrangeiro, pode ser questão de tradução. 

Fui olhar na internet em uma página onde consulto todos os contos do Machado de Assis: esse conto está lá no livro "Várias histórias", de 1896, e está grafado "Conto de escola".

---

CONTO DE ESCOLA (1884)

Vou ficar com a opção "Conto de escola". Ele foi publicado na Gazeta de Notícias em 8 de setembro de 1884 e depois no livro Várias histórias em 1895, segundo o livro de Gledson.

No enredo, um adulto faz referência ao passado, situa o caso que vai contar ao ano de 1840. Com uma memória incrivelmente detalhista, diz que o fato se passou numa segunda-feira do mês de maio. Pelo que pude perceber ao concluir a leitura do conto, o narrador teria motivos para guardar tantas lembranças do dia, pois teria sido um dia de aprendizado para toda a vida.

O garoto do ano de 1840 era peralta e inteligente, mas não ligava para a escola. Faltava às aulas ao sabor das escolhas diárias entre brincar em algum lugar ou ir para a escola. Ele teria menos de onze anos, pois faz referência a um menino bem mais velho de onze anos, o Curvelo.

No dia em questão, ele optou por ir à escola porque lembrou-se da sova que o pai havia lhe dado dias antes por alguma coisa que teria feito. Não fica claro se apanhou com vara de marmeleiro por ter faltado à escola ou não. Mas poderia ter sido esse o motivo da sova.

"(...) Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes."

Nosso narrador é chamado lá no passado por "Seu Pilar". O menino que dialoga com ele na cena da sala de aula se chama Raimundo e é filho do mestre, Policarpo. O narrador diz que o garoto não é muito inteligente e o seu pai é mais duro com ele do que com o restante dos alunos. Raimundo tem medo dos castigos do pai, o professor.

Seu Pilar nos conta que era um menino inteligente, mesmo sabendo que isso seria arrogante de se dizer. Acaba antes de todos as tarefas da escola (e faltava com frequência pelo que temos de informação no início do caso narrado).

O assunto da história que Seu Pilar está nos contando é sobre uma "troca de serviços", um "toma lá, dá cá" entre alunos. Foi uma proposta inédita para o garoto. Uma cola para uma lição de sintaxe a troco de uma pratinha (doze vinténs ou dois tostões). O garoto, Seu Pilar, se tinha dinheiro, era uns cobres (um cobre feio, grosso, azinhavrado...)

A causa do negócio, a "troca de serviços", era o medo que o Raimundo tinha do pai, o professor. Estamos no cenário do século 19 e a pedagogia do ensino é a violência, a temida palmatória, pendurada ao lado da janela da sala.

A história caminha para o seu desfecho, Seu Pilar pega a moeda, passa a cola e os dois são vistos pelo menino mais velho, o Curvelo.

Eu não gosto de dar spoiler em meus textos sobre romances, contos e filmes... 

Este conto em questão é de domínio público, qualquer pessoa pode lê-lo e ele é bem pequeno, de leitura rápida. 

Na página do blog, na versão para "web" (e não celular), tem um link para os contos do Machado na seção "Links a caminho da cultura". 

O final é bem ao estilo do escritor. O homem adulto que narra o "Conto de Escola" disse que aprendeu a lição naquele dia a respeito das consequências da corrupção e da delação. 

Mas o que realmente dominou seu coração no dia seguinte acabou sendo outra coisa, um encantamento que teve pelo caminho, que mudou seu foco e, quem sabe, até seu destino.

É isso! Eu não conhecia esse conto do Bruxo do Cosme Velho. Foi uma novidade para mim.

William


Post Scriptum: o texto anterior desta série sobre leituras de Machado de Assis pode ser lido aqui.


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Leitura: Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva (2)



Refeição Cultural 

"A suspeita se confirmou. Rubens foi preso. Rubens foi internado. Rubens estava na mira. Todos estavam. Era a ditadura. Já tinham prendido velhos intelectuais, editores, jornalistas, humoristas, professores, sindicalistas, deputados, militares, cantores, músicos, atores, diretores de teatro, de cinema, escritores, estudantes, padres, freiras, juristas, freis. Tinha escuta telefônica por todo lado. Interceptação de cartas e telegramas. O cerco estava apertado. Rubens caiu. Rubens foi internado." (p. 126)


A Parte 2 do livro de Marcelo Rubens Paiva é dura, são lembranças que o escritor compartilha com os leitores de momentos dramáticos na vida da família.

No capítulo "Merda de ditadura" o escritor faz um apanhado do golpe de Estado, antecedentes, atos institucionais, a fuga de Rubens Paiva num primeiro momento e a volta. História do Brasil!

No seguinte, "É a peste, Augustin - Perdão, tenho que morrer", os primeiros anos no Rio de Janeiro, após o golpe.

E no capítulo "O telefone tocou", Marcelo nos conta o sequestro de seu pai pelos "gorilas" em pleno feriado ensolarado da cidade. A descrição dos agentes da ditadura na casa da família é incrível...

REDE DA LEGALIDADE 

A família só descobriu em 2014, por causa da Comissão Nacional da Verdade, uma gravação nos arquivos da Rádio Nacional com a voz de Rubens Paiva em um discurso convidando outras rádios a aderirem ao movimento. (p. 97)

Que história! Nossa história, do povo que sempre lutou por um país mais justo, com distribuição de riqueza e que respeite todas as pessoas. 

Seguimos na leitura.

William Mendes 


Leitura: Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva (1)



Refeição Cultural 

"A memória é uma mágica não desvendada. Um truque da vida. Uma memória não se acumula sobre a outra, mas do lado. A memória recente não é resgatada antes da milésima. Elas se embaralham..." (p. 18)


A MEMÓRIA É UMA MÁGICA 

Marcelo Rubens Paiva descreve com sensibilidade a questão da memória no começo do livro. Sua mãe, Eunice, está com Alzheimer no momento da enunciação do texto, por volta de 2014.

O escritor me pegou de jeito porque uma das coisas que mais temo é alguma doença ou evento que afete o que sou, um ser humano mortal com uma única vida vivida a partir das experiências de meu cérebro, esse organizador do que sou.

Na primeira sentada para ler, já se foram os primeiros três capítulos: "Onde é aqui?", "A água que não era mais do mar" e "Blá-blá-blá...". 

---

CANHOTOS ERAM UMA ABERRAÇÃO 

"(...) ela me contou que na escola seu apelido era Italianinha, o que a deixava furiosa, e que davam reguadas na mão esquerda para forçá-la a escrever com a direita, quando o mundo pedagógico achava que canhotos eram uma aberração e que deveriam ser destros." (p. 46/47)

Cara, a mãe do autor, Eunice, passou pelo mesmo caso que eu! Canhotos que foram impedidos de serem sinistros (rsrs) por serem considerados aberrações...

Quem descobriu que eu era canhoto foi a Maria Luíza, colega do Banco do Brasil, em meados dos anos noventa, na agência Rua Clélia. Depois, ao indagar sobre a questão, minha mãe me contou que na época era comum a sociedade tentar endireitar um canhoto.

---

A PAZ QUE NUNCA MAIS ENCONTREI

"Minha rotina era de uma paz que nunca mais encontrei." (p. 66)

Cara, que descrição de uma época da vida!

Na hora, vi a vida que vivi até os dez anos de idade no Rio Pequeno, em São Paulo... 

Acho que nunca mais encontrei a paz...

---

ADOLESCÊNCIAS: DIVERSAS E ÚNICAS, MAS IGUAIS

Os dois capítulos que fecham a Parte 1 do livro - "Cometas da memória" e "Mãe-protocolo" - me lembraram a infância e adolescência. 

Marcelo Rubens Paiva conta a vida dele, de jovem da classe média alta, diria, mas sua história é um pouco o espelho da história de todos nós, independentemente da classe social.

Os amores platônicos da infância e adolescência. Quase toda memória terá dos seus: Valéria, Márcia, Marael, Simone, Eliane, Ione.

O autor foi detido pela polícia numa moto 125 CC sem habilitação em 1976. Eu fui detido numa CG 125 sem habilitação voltando do trabalho de madrugada, mais ou menos no final de 1987. Trabalhava na lanchonete New Dog. 

---

CONHECENDO EUNICE E MARCELO

O leitor termina a leitura da Parte 1 conhecendo bem Eunice, mãe de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos do casal.

O pai, Rubens Paiva, desapareceu quando o autor-narrador tinha onze anos (1971), a família teve mudanças radicais na vida até o momento em que Marcelo sofre um acidente e fica tetraplégico em 1979. 

Que leitura até aqui! Me fez reviver minhas lembranças enquanto conhecia as lembranças de Marcelo, e enquanto conhecia também sua mãe, Eunice.

Sigamos na leitura...

William 


segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Operação Cavalo de Tróia (15)



Refeição Cultural 

Li mais algumas páginas do livro de J. J. Benítez.

O Diário do Major, que estava disfarçado como Jasão entre Jesus e seus discípulos, finalizou a descrição daquele sábado, dia 1° de abril do ano 30.

O astronauta alegou suspeitar por que motivo Judas Iscariotes teria traído Jesus de Nazaré. Ele teria se sentido humilhado ao ser repreendido em público e seria uma forma de vingar-se do Mestre.

"(...) Judas Iscariotes havia caído em um impenetrável silêncio. Seus olhos assustavam-me. Destilavam um ódio surdo e contido. Era visível que havia tomado aquelas palavras de Jesus como reproche pessoal e, sem dúvida, havia se sentido ridicularizado diante de toda aquela gente..." (p. 144)

O reproche foi porque Judas não achou certo Maria, irmã de Simão, gastar um produto fino e caro nos cabelos e pés de Jesus. Achava ele que o produto seria melhor utilizado se fosse vendido para alimentar os pobres.

Jesus deu-lhe um chega pra lá ao dizer que os pobres estarão sempre aí para serem alimentados, enquanto ele próprio, Jesus, logo logo não estaria mais entre eles...

Estamos falando aqui de falso moralismo, né não?

Seguimos na leitura. 

William 


Artigo - A Globo odeia o Lula



Refeição Cultural

Uma imagem vale por mil palavras


Opinião


"Não, o efeito mais forte não foi provocado por discursos isolados, nem por artigos ou panfletos, cartazes ou bandeiras. O efeito não foi obtido por meio de nada que se tenha sido forçado a registrar com o pensamento ou a percepção conscientes..." (Victor Klemperer, LTI Linguagem do Terceiro Reich)


A notícia deveria ser positiva: o Presidente Lula teve alta e está liberado por seus médicos para voltar a viajar após sofrer traumatismo craniano em consequência de uma queda.

A informação foi passada ao povo brasileiro pelo programa do Fantástico após uma boa matéria sobre o risco de quedas, principalmente em pessoas acima de 60 anos de idade.

Quem dá a boa notícia da plena recuperação de nosso Presidente Lula após o grave acidente doméstico é a simpática apresentadora Maju Coutinho.

Eu atuei com comunicação e jornalismo quando fui secretário de imprensa da confederação da categoria bancária. Foi uma oportunidade de estudar muito sobre tudo que se relaciona com o tema, inclusive sobre o Partido da Imprensa Golpista (PIG), como dizia o saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim.

Acompanhei como dirigente sindical toda a construção do ódio ao Presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores após a chegada do torneiro mecânico e sindicalista à presidência do país em 2002. A construção do ódio e rejeição sempre teve estratégia e método por parte da mídia da casa-grande brasileira. 

Como gosto de História, também sabia da campanha da mídia da casa-grande contra Lula, o PT e a esquerda em geral desde sempre. No caso das Organizações Globo são décadas de construção de ódio e mentiras contra Lula e o PT. A Globo é a mãe das chamadas "fake news".

Uma imagem vale por mil palavras, diz o ditado popular.

Anos de ataques depois das operações midiáticas para tentar exterminar da vida pública Lula e o PT, anos depois do massacre midiático do Jornal Nacional falando sobre nosso presidente e o partido com a imagem de esgotos jorrando dinheiro ao fundo, seguimos na mesma.

Mesmo após Lula ser preso por 580 dias numa operação de lesa-pátria organizada por uma quadrilha e por um juiz suspeito, herói da Rede Globo, mesmo após a destruição do país pela ajuda que o PIG deu ao golpe contra Dilma e pela eleição de Jair Bolsonaro, seguimos na mesma.

A velha e odienta Rede Globo segue fazendo das suas para atacar a imagem do Presidente Lula, única liderança que foi capaz de nos salvar de mais um mandato daquele sujeito que poderia ter acabado de vez com a democracia brasileira caso vencesse as eleições de 2022.

A imagem que a Globo escolheu do Presidente Lula para dar a boa notícia de sua plena recuperação foi essa que ilustra minhas reflexões. Ela não é diferente dos canos de esgoto jorrando dinheiro que a emissora enfiou no subconsciente de dezenas de milhões de pessoas nas últimas décadas.

O mais comum é que a quase totalidade das pessoas veja a questão como minha companheira viu quando falei a respeito: não viu nada demais na imagem escolhida. Não culpo ela nem as pessoas que não atuam na área da comunicação.

Nas eleições de 2018, no auge da operação lesa-pátria orquestrada na República de Curitiba que prendeu Lula e possibilitou a ascensão da extrema-direita no país, me lembro bem de jovens de minha relação dizerem suas intenções de voto à esquerda e muitos não iam votar no PT. Era algo assim: sou de esquerda, mas PT não... Isso foi o processo de ódio e rejeição que explico neste artigo.

Quando li o livro de Victor Klemperer sobre a Linguagem do Terceiro Reich foi que compreendi o que estava acontecendo no Brasil após os primeiros meses do governo Lula a partir de 2003. 

Os principais veículos de comunicação de propriedade da casa-grande brasileira começavam ali uma nova estratégia de comunicação agressiva contra nós da esquerda e nossas instituições e lideranças: o ódio e a rejeição sem explicação racional.

As duas décadas de envenenamento do povo brasileiro contra Lula e os partidos de esquerda, o maior deles o PT, nos foi inoculado como Klemperer explica na linguagem nazista que levou um povo culto e educado a apoiar incondicionalmente um dos maiores genocidas da história. Klemperer como filólogo foca a linguagem, mas o nazismo trabalhou fortemente a estética através das imagens.

A imagem que o Fantástico escolheu de nosso Presidente Lula para dar a singela e boa notícia da recuperação plena de sua saúde é da mesma qualidade simbólica dos dutos de petróleo jorrando dinheiro nos JN de sempre: é veneno puro contra nós.

Que merda isso! O povo brasileiro merecia uma imprensa decente e que informasse a população sem canalhice e manipulações. Na verdade, nós que estudamos o Brasil há tempo sabemos que a elite brasileira, a casa-grande que essa imprensa golpista representa, odeia o Brasil e o povo brasileiro.

---


O PRESIDENTE LULA TEVE ALTA E ESTÁ BEM

Notícia que a Globo deu neste domingo no programa Fantástico

A emissora não precisaria usar imagem com a logo do partido, mas deveria ser menos canalha e usar qualquer imagem do Presidente Lula como ela faria com qualquer político que ela não odiasse.

Ainda bem que o nosso Presidente Lula está bem, recuperado da queda e do traumatismo craniano, um dos acidentes domésticos mais comuns entre os idosos e segue firme com suas agendas por um Brasil melhor para o povo brasileiro.

William Mendes


domingo, 10 de novembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 10 de novembro de 2024. Domingo.


CORRIDA DA AABB-SP

Dias atrás, ao reiniciar alguns trotes após um mês sem atividades físicas por causa da militância nas eleições municipais, corri 2K e 3K e vi que estava muito ruim de condicionamento físico. Temi não conseguir correr a prova de 5,1K na AABB-SP neste domingo. Felizmente, deu tudo certo. Fiz meu trotinho tranquilo pelas alamedas do clube e corri a prova em uns 37'.

Reencontrei no clube o grande amigo Ramon, presidente de nossa associação atlética. Nos conhecemos desde quando entrei no Banco do Brasil, em 1992, e Ramon foi um baita companheiro de gestão e lutas pelos direitos em saúde dos associados da Cassi durante nossa gestão eleita entre 2014 e 2018. O amigo me deu uma linda camisa comemorativa dos 90 anos de nossa AABB, entregue por sua esposa Viviane. Valeu, meus queridos! Vida longa e de sucesso à nossa AABB.

A deliciosa participação no circuito de corridas da AABB teve a participação decisiva de outro amigo do BB, o Roberto, que me inscreveu pela equipe Suçuarana: eu não tinha me atentado para o calendário de corridas e ele me fez o convite e a lembrança sobre a prova. Eu participo das corridas de nossa associação desde que elas começaram faz bastante tempo. Valeu, Roberto! O amigo não conseguiu vir para São Paulo hoje. 

---


MANIFESTAÇÃO: NÃO AO TÚNEL SENA MADUREIRA!

Depois da participação bem cedinho na corrida da AABB-SP, fui me solidarizar e participar da luta contra a construção de um túnel na região da Sena Madureira, na Vila Mariana. 

Hoje teve um grande ato em defesa dos moradores da região da Sena Madureira, da comunidade Souza Ramos e do meio ambiente, pois a obra está destruindo um corredor verde com mais de 170 árvores enormes, saudáveis e muito antigas da região e ameaça retirar mais de 200 famílias do local.

A obra está envolvida em denúncias e irregularidades há mais de uma década e ela não resolve praticamente nada em termos de trânsito, além de ser ruim ambientalmente e urbanisticamente.

Participaram companheiras e companheiros nossos da região do Butantã, que também enfrenta obra danosa e destruidora: a Nova Raposo Tavares. Várias lideranças políticas estiveram presentes no ato.

---

O DOMINGO FOI DE ATIVIDADES

Só uma reflexão antes de finalizar: tenho uma preocupação com a tendência de muita gente a não sair mais de casa, fato que aumentou após a pandemia e com a ampliação dos sistemas de entrega a domicílio. Acho importante o contato com as pessoas nas ruas e nos transportes públicos. Somos humanos, somos seres sociais, ainda. 

Hoje conversei com o motorista do uber, que fez uma fala de quem não votou no Boulos e duvidou da proposta do Poupatempo da Saúde. Expliquei a ele que trabalhei com gestão de saúde e falei o quanto a proposta era inovadora e necessária. Estávamos falando do tema porque citei os problemas do Hospital do Campo Limpo. 

Peguei várias linhas de metrô e trem, como faço desde adolescente. Hoje foi catraca livre por causa do Enem. O trem demorou pra caramba! 

É isso!

William Mendes


sábado, 9 de novembro de 2024

Enem 2024: provas eliminatórias não deveriam ter questões com respostas dúbias



Refeição Cultural


Opinião

Fiquei incomodado tanto com o artigo do colunista e escritor Julián Fuks, colunista da página do UOL, quanto com a questão do Enem 2024 mal formulada e com mais de uma alternativa viável para a questão feita.

A Questão 29 do Caderno Verde da Prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação citou um trecho de um livro de Julián Fuks, "A Resistência", e formulou uma pergunta que até o autor alegou em artigo ter tido dificuldade de responder. E o problema não é esse, deixo claro.

Ao ler o artigo do autor comentando a questão, eu esperava que ele apontasse o cerne do problema, que é o fato que uma questão de vestibular, Enem ou concurso público não pode ser dúbia ao ponto de haver mais que uma alternativa correta. Isso acontece quando a questão exagera no quesito interpretativo. Não se faz isso com os participantes de um certame.

No artigo, Julián Fuks explica com toda a sua competência as características essenciais da literatura e dos textos ficcionais, que podem ter interpretações imprecisas e conter incertezas. Até aí, tudo bem. 

Num certo momento do artigo, ele diz:

"O receio se agravou quando enfim bati os olhos naquela questão 29 e me vi perdido entre suas opções de resposta, quase todas razoavelmente exatas, quase todas à sua maneira próximas do que eu desejara dizer naquela passagem."

O problema do artigo, na minha opinião, é quando o escritor começa a dar um jeito de ficar bem com todo mundo, incluindo críticos, examinadores e organizadores da prova etc.

Se fosse necessário discorrer sobre cada uma das 5 alternativas, não seria difícil justificar porque cada uma delas poderia estar correta de acordo com o texto. Estão interpretativas demais!

Pesquisando sobre a questão e a alternativa certa definida pelos produtores da prova, aliás, fiquei sem entender o próprio artigo de Fuks porque ele disse que a resposta não era a que ele achou que era, a "D" e no gabarito do Caderno Verde, Questão 29, a questão com o texto em análise, a resposta do gabarito é "D".

Mas repito, as outras alternativas não estão erradas! Nenhuma das outras.

Ele termina com uma reflexão que seria mais uma justificativa para que questões como essa, de leituras dúbias, não constassem em certames nos quais milhares ou milhões de pessoas estão participando para eliminarem uns aos outros.

"Estávamos apenas diante de mais uma manifestação da literatura em sua complexidade, em sua infinita nuance, em sua natureza insondável. Não se espera da literatura, nem das mensagens dos escritores, nem das interpretações dos críticos, nem das deduções dos examinadores, nenhum tipo de exatidão."

Ué, se fosse verdade essa afirmação, não haveria questões sobre textos literários e interpretativos em provas e concursos. Não é por aí. O problema é que a questão 29 foi mal formulada. 

Já vi questões com menos problemas serem anuladas em certames. Essa está muito ruim, de verdade!

Quando se faz uma questão de vestibular e concurso, é necessário que as alternativas sejam claras: uma tem que estar de acordo com o texto e as outras, não. Se as outras alternativas também têm relação possível com o texto, a questão está mal formulada e deve ser anulada.

Por fim, acreditem, até o nome do autor citado na questão está grafado errado... francamente! Pelo que podemos ver nas colunas do autor, ele se chama FUKS e o Caderno disse que o texto em questão é de um tal FUCKS. E o escritor sequer falou a respeito em seu artigo.

É uma opinião. Eu gosto dos artigos de Julián Fuks, leio sempre. E sou grande defensor de concursos públicos e provas de conhecimentos para o preenchimento de vagas. E defendo políticas afirmativas por entender que as pessoas não estão na mesma condição de igualdade de oportunidades.

William Mendes

09/11/24