quarta-feira, 25 de junho de 2025

Vendo filmes (XXX)


Mães paralelas (2021)

Refeição Cultural

Ainda o universo de Pedro Almodóvar (IV)


"No hay historia muda. Por mucho que la quemen, por mucho que la rompan, por mucho que la mientan, la historia humana se niega a callarse la boca" (Eduardo Galeano)


As palavras de Galeano estão mais presentes que nunca nos dias atuais, dias de guerras e genocídio. Almodóvar citou essa sabedoria do escritor e pensador uruguaio no filme "Mães paralelas", pois o enredo nos traz as questões inconclusas da Guerra Civil Espanhola e seus milhares de desaparecidos até hoje.

Finalizei mais uma sequência de filmes do espanhol Pedro Almodóvar. Agora conheço 17 filmes do cineasta. Já me tornei um admirador da poética do diretor.

A sequência que vi desta vez inclui filmes mais recentes dele, incluindo "O quarto ao lado" (2024), filme tocante e que nos deixa reflexivos sobre vários aspectos tratados na estória como, por exemplo, amizade, morte e solidão.

O filme "Mães paralelas" (2021) é excepcional! Almodóvar tem grande talento em contar histórias de mulheres que enfrentam cotidianos dramáticos em suas vidas. Nos enredos do diretor, nos pegamos pensando o que faríamos se fôssemos as personagens.

Após ver uma parte da produção cultural do cineasta, o que afirmo é que ainda vou tentar ver os filmes dele que não conheço e rever os filmes que já vi, pois são muito bons.

No link aqui é possível ler uma das postagens anteriores sobre os filmes de Almodóvar. Nela se vai aos outros textos.

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FILMES


Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão (1980) - Direção e roteiro: Pedro Almodóvar. Com: Carmen Maura, Eva Siva e Olvido Gara.

SINOPSE (MUBI):

Na Madri contracultural dos anos 1980, três mulheres embarcam em loucas desventuras. Pepi (Carmen Maura), uma preguiçosa, torna-se um sucesso da noite para o dia no mundo da publicidade. Luci (Eva Siva), uma dona de casa, descobre seu lado masoquista oculto. Bom (Olvido Gara) é a lésbica punk que ensina Luci a encontrar prazer na dor.

COMENTÁRIO:

Achei o filme interessante. Compreende-se melhor as obras do diretor espanhol Pedro Almodóvar ao conhecermos o contexto no qual ele iniciou seus trabalhos autorais de longa-metragem, a Movida Madrileña, e sua proposta de subversão e contestação da antiga ordem estabelecida: o franquismo mancomunado com a igreja católica. Achei o filme divertido. Muito legal ver Carmen Maura no início de sua carreira de atriz.

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Ata-me (1990) - Direção: Pedro Almodóvar. Com Victoria Abril, Antonio Banderas, Julieta Serrano, Rossy de Palma...

SINOPSE (MUBI):

Recém-saído de um hospital psiquiátrico, Ricky tenta seduzir o amor de sua vida: Marina, uma atriz de filmes B. Diante da amnésia dela, Ricky toma medidas extremas e a ata para retomar o romance do passado. Ele está convencido de que é só uma questão de tempo até que sua amada retribua seu afeto.

COMENTÁRIO:

Outro grande filme de Almodóvar, na minha opinião. À medida em que vamos conhecendo a poética do diretor espanhol, vamos compreendendo melhor as estórias que seus filmes contam. Falo a respeito da "poética" de Almodóvar porque sim, as fotografias e cenários de seus filmes são obras de arte.

Nesta estória, Almodóvar nos apresenta um órfão em busca de uma família (como veremos depois em Carne Trêmula, 1997) e uma mulher que ainda não encontrou um porto seguro para ancorar, e vemos personagens que buscam a redenção.

O final surpreende o espectador, como surpreende Carne Trêmula, em relação à questão da redenção.

Gostei! Almodóvar nos faz querer conhecer toda a sua obra! Sigamos na jornada!

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Mães Paralelas (2021) - Direção: Pedro Almodóvar Com: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Rossy de Palma, Julieta Serrano... 

SINOPSE (NETFLIX): 

Pedro Almodóvar levou duas décadas para criar este drama emocionante, que combina um dilema moral, a solidão da maternidade e o passado sombrio de um país.

COMENTÁRIO:

O enredo do filme tem como pano de fundo as consequências da trágica Guerra Civil Espanhola. Janis Martinez (Penélope Cruz) procura ajuda para encontrar os restos mortais de seu bisavô, morto pelos falangistas de Franco. As feridas da guerra estão presentes até hoje na sociedade espanhola.

Janis conhece na maternidade Ana Manso Ferreras (Milena Smit), uma adolescente que divide o quarto com ela. Ambas têm as filhas no mesmo dia e após a saída do hospital acabam se tornando próximas uma da outra. A partir daí se desenvolve os dramas e dilemas que veremos na estória.

Eu já me tornei um fã dos filmes de Pedro Almodóvar, o cara é muito bom! A história de Janis e Ana é comovente, nos faz pensar e nos coloca no lugar delas em diversos momentos: o que faríamos se fôssemos Janis ou Ana?

As cenas finais do filme deixam a gente arrepiado por minutos... 

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Estranha forma de vida (2023) - Direção: Pedro Almodóvar. Com Ethan Hawke e Pedro Pascal.

SINOPSE (MUBI):

Após 25 anos separados, o fazendeiro Silva (Pedro Pascal) atravessa o deserto a cavalo para visitar uma antiga paixão, o xerife Jake (Ethan Hawke). Mas após uma noite de intimidade, recordações e reconciliação, a revelação de que ambos estão ligados a um crime local sugere que o reencontro não foi apenas para matar a saudade.

COMENTÁRIO:

O cenário do filme é espetacular! E adivinhem... Almodóvar rodou o faroeste no famoso Deserto de Tabernas, na Espanha. O local já foi cenário de grandes clássicos do faroeste de Sergio Leone e também é o local onde foi rodado Lawrence da Arábia (1962), Cleópatra (1963) e Conan, o bárbaro (1982). Essas informações são da Wikipedia.

Entre o primeiro filme de Almodóvar que vi, de 1980, e este são 43 anos de evolução na arte da direção por parte do cineasta espanhol. Ao maratonar mais de uma dúzia de filmes de Almodóvar, aprendi a gostar de sua técnica e sua poética. 

O diretor nos apresenta personagens e situações que, em geral, incomodam as sociedades estabelecidas e predominantes. Seus personagens são as maiorias tornadas minorias na questão dos direitos, as pessoas situadas fora da padronização estabelecida pelos donos dos poderes constituídos.

Viva Almodóvar, seus filmes e seus personagens!

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O quarto ao lado (2024) - Direção: Pedro Almodóvar - Elenco: Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro.

SINOPSE (NETFLIX):

O diretor Pedro Almodóvar traz seu estilo sensível e único a esta história repleta de camadas sobre amizade, lembranças e mortalidade.

COMENTÁRIO:

Os filmes de Pedro Almodóvar se tornaram para mim filmes que me fazem refletir sobre as estórias que ele nos conta. Este não foi diferente. Fiquei pensando nas personagens Martha (Swinton) e Ingrid (Moore). Dois grandes seres humanos.

Enquanto refletia, fiquei tentando me colocar no lugar de Martha e depois no lugar de Ingrid. Difícil decidir o que fazer no lugar das duas. São mulheres de muita coragem, de muita ética e com uma cumplicidade com a outra pessoa fora de moda no mundo atual.

Martha se encontra em tratamento de câncer. Foi uma jornalista de sucesso, trabalhou na cobertura de guerras, repórter da linha de frente, do front onde a morte não permite poesia. Agora experimenta a solidão da doença e do rompimento com sua filha, Michelle.

Ingrid é escritora de sucesso. Trabalhou com Martha em uma revista no passado. É público que ela morre de medo da morte, já escreveu sobre isso. Soube durante o lançamento de seu livro que Martha está com câncer e vai rever a amiga depois de muito tempo sem se verem.

Do reencontro entre elas, vai se desenvolver o enredo do filme. 

Almodóvar mostrou mais uma vez seu talento em costurar histórias de pessoas comuns de uma forma única. Estou até agora pensando se teria a coragem de fazer o que Martha planeja; se teria a coragem de ser tão amigo de alguém num momento difícil como fez Ingrid. Que mulheres incríveis!

Martha gosta de James Joyce. Ela cita passagens do conto "Os mortos" e isso foi emocionante. Ela fala da neve caindo no cemitério. Eu me lembro da estória, pois já li várias vezes os contos de "Dublinenses" (1914).

Valeu, Pedro Almodóvar! Valeu Tilda Swinton e Julianne Moore!

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COMENTÁRIO FINAL

Sigamos vendo bons filmes e comentando algo que me tenha chamado a atenção ou me feito refletir.

A postagem anterior desta série pode ser lida aqui.

William Mendes


terça-feira, 24 de junho de 2025

Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (15)



Refeição Cultural

"(...) Cosmologia Cérebro-cêntrica. Em primeiro lugar, o nascimento da civilização dependeu da habilidade única do cérebro humano de gerar abstrações, coisas como religião, mitos, deuses, ideologias políticas, sistemas econômicos, arte, ciência, dinheiro, classes sociais, nações e suas fronteiras, ética, moral, leis, para citar alguns itens apenas. Tais abstrações se tornaram tão poderosas e influentes que, eventualmente, elas ficaram mais importantes do que o nosso instinto de sobrevivência coletivo..." (p. 412)


O capítulo 28 da ficção científica de Miguel Nicolelis "Nada mais será como antes" faz uma excelente síntese da teoria do Universo Humano desenvolvida pelo neurocientista em 40 anos de estudos e pesquisas. 

Por sermos animais com alta capacidade de criação de abstrações mentais, invenções imaginárias que unificam grupos de humanos através dessas abstrações (crenças), chegamos até aqui neste mundo natural desafiador: a Terra e o universo.

Mas sermos como somos tem consequências: as abstrações e crenças que inventamos são tão poderosas que podemos destruir o mundo por causa delas, elas superaram em muito nosso instinto de sobrevivência. 

É o que vejo muito melhor depois que passei a ler Miguel Nicolelis. Até o momento, o mundo tá fodido...

Sei que podemos reverter o caminho para o fim, porque somos inteligentes, mas sei que está difícil reverter a tendência do fim. Nos faltam coragem e disciplina. 

Não vejo vontade de ruptura com as abstrações "religião", "capitalismo" e "mito da tecnologia", nem nos grupos chamados de progressistas ou apelidos do tipo.

Nos faltam coragem e disciplina... 

William

24/06/25

sábado, 21 de junho de 2025

Instantes (22h57)


Um fim de dia ainda em paz.


Refeição Cultural

Neste momento bombas poderosíssimas estão matando pessoas e todas as formas de vida ao redor do impacto. 

A nação mais assassina dos últimos séculos, a que mais provocou e financiou guerras e mortes nos últimos duzentos anos, decidiu dar as caras e acabar com a hipocrisia e está atacando o Irã, atacado na surdina por Israel dias atrás. 

Acabou-se a diplomacia mequetrefe que vigorou mais ou menos em favor dos imperialistas desde o fim da 2a Guerra até o início do século XXI (evitando-se guerras entre os grandes). O mundo e as sociedades humanas terão agora uma realidade baseada somente na força, na lei do mais forte. 

Ninguém estará seguro, em lugar nenhum. Nem aqui onde vivemos no Brasil. A mudança é global. 

O pior é que a esquerda e as pessoas pacíficas e pacifistas não estão preparadas para enfrentar o que vem por aí. 

Não consigo fazer de conta que a vida tá boa, curtir o pão e o circo que domina a agenda cotidiana do povo massa de manobra. 

No entanto, toda a parafernália que define a pauta e a agenda de todos nós pertence aos donos da guerra que se desenvolve neste momento. Foda!

Em certa etapa do que vem por aí, qualquer guarda da esquina, qualquer CAC, qualquer bandido comum, todos serão os predadores de nós reles mortais, os desarmados e a fim de "diálogo". As presas nas savanas.

O pior é que a esquerda, os lulistas, os pacíficos... não entendem ou fazem de conta que não entendem o que é o nazifascismo. Não tem diálogo com essa gente, nós já fomos desumanizados.

Tamo fodido!

William 

21/06/25, sábado. 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Livro: Aventuras de Hans Staden - Monteiro Lobato



Refeição Cultural

"Aventuras de Hans Staden, o homem que naufragou nas costas do Brasil em 1553 e esteve oito meses prisioneiro dos índios tupinambás, narradas por Dona Benta aos seus netos Narizinho e Pedrinho."


Depois de ler "O Picapau Amarelo" (1939), agora foi a vez de ler "Aventuras de Hans Staden" (1927), da Coleção Sítio do Picapau Amarelo (1921 - 1947), de Monteiro Lobato.

Nesta aventura, Dona Benta conta aos netos eventos pesados se pensarmos o público infantil, pois o que mais tem na história é canibalismo, os tupinambás comeram gente do início ao fim.

Como leitor treinado, sempre busco adequar minha expectativa ao contexto no qual a obra foi lançada: a época, o lugar e as linhas gerais pretendidas pelo autor, se souber isso.

Disse no comentário sobre o primeiro volume que li de Monteiro Lobato (aqui) que ele é um escritor de seu tempo histórico. A linguagem usada por ele não me agrada como leitor do primeiro quarto do século XXI, acho ruim a forma como se trata a questão indígena, por exemplo. Mas não posso desconsiderar a importância da obra de Lobato.

Para compreender melhor o personagem retratado no volume procurei ler alguma coisa sobre Hans Staden. Eu não li o livro dele. Acho até que tenho uma edição em casa, mas não procurei a obra.

Por considerar o vanguardismo de Monteiro Lobato nas mais de duas dezenas de livros da Coleção Sítio do Picapau Amarelo, avalio que está boa a forma como ele contou a história do personagem capturado pelos tupinambás em meados do século XVI no Brasil.

Sigamos com a leitura de Monteiro Lobato.

William


Bibliografia:

LOBATO, Monteiro. Aventuras de Hans Staden. Ilustrado por Jótah. São Paulo: Lafonte, 2022.


segunda-feira, 16 de junho de 2025

Bloomsday



Refeição Cultural 

O dia 16 de junho é uma efeméride que homenageia o clássico Ulisses, de James Joyce. É uma data comemorativa tanto para a Irlanda quanto para os amantes da literatura. 

O livro retrata um dia na vida do personagem judeu Leopold Bloom andando pelas ruas da Dublin do início do século XX.

A obra de 900 páginas é uma epopeia literária para qualquer leitor(a). Imagino não ser Ulisses um dos clássicos mais lidos do mundo. 

Sou um privilegiado neste caso, pois se poucas pessoas leram o romance uma vez na vida, eu li a obra duas vezes, aos trinta e aos cinquenta anos. 

Quando venci o desafio da primeira leitura, confesso que me senti como o super-homem, porque para pegar o ritmo lia e voltava dezenas de páginas, até que peguei o jeito e fui até o fim, ao antológico fluxo de pensamento de Molly Bloom.

Ler Ulisses foi uma realização literária em minha modesta vida de leitor. 

Viva o Bloomsday!

William Mendes 

16/06/25 (23h02)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Leituras tardias


Abril de 2011.


Refeição Cultural

Li a revista Serafina, de abril de 2011, por causa desse grande homem na capa: Oscar Niemeyer (1907-2012). Ele faleceu no ano seguinte à matéria, faltando dez dias para completar 105 anos.

Niemeyer foi um dos brasileiros mais conhecidos do mundo em sua área de atuação, a arquitetura. Seu estilo arquitetônico está presente em diversos países e no Brasil são mais de 600 obras criadas por seu gênio, amante das curvas que lembram corpos femininos. 

Li na reportagem que Niemeyer estava lúcido, dizendo que a velhice é uma merda - por não conseguir mais andar -, estava com dificuldades para enxergar e havia retirado um câncer de intestino e a vesícula aos 101 anos. Afirmou que seguia sendo ateu, mas adorava desenhar igrejas e catedrais pelas possibilidades que elas geram ao criador de suas arquiteturas.

Oscar Niemeyer, grande figura humana! Suas obras estarão entre nós por muito tempo, espero. 

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Vi outras matérias interessantes como, por exemplo, a morte recente à época de Elizabeth Taylor (1932-2011). 

O artigo "Olhos de Liz", de Vivian Whiteman, enfatizou aquele olhar fulminante que a atriz presenteou ao mundo do cinema por décadas: "olhos de quase-violeta, coloridos ao modo dos fenômenos estelares mais violentos".

A matéria sobre a atriz Judie Foster também deixa os leitores com desejo de ver todos os filmes e interpretações dela, que atua desde criança. 

O jornalista Xico Sá fala sobre o centenário de Maria Bonita, companheira de Lampião. Ele cita na matéria o livro "Lampião, o Homem que Amava as Mulheres" (ed. Annablume), de Daniel Lins, e "Guerreiros do Sol" (ed. Girafa), de Frederico Pernambucano de Melo, e afirma que "Há quem entenda a participação de Maria Bonita e suas amigas, companheiras de outros integrantes do bando, como um marco precursor do feminismo no Brasil". Artigo muito bom!

COMENTÁRIO FINAL 

Estou trabalhando na revisão e encadernação de meus textos nos blogs. Neste momento, estou relendo as 280 postagens de 2011 do blog A Categoria Bancária. Dá um trabalhão, mas é uma viagem no tempo.

No Brasil estávamos nos primeiros meses do mandato da presidenta Dilma Rousseff. Os banqueiros e capitalistas avançavam com a terceirização de tudo - pra nossa categoria era a praga dos correspondentes bancários -, para acumular mais lucro e foder a classe trabalhadora e o povo. O movimento do capital e da direita era mundial e hoje vemos o resultado de tudo: trumps, bolsonaros, netanyahus querem a guerra mundial e total contra a humanidade. 

Neste momento, seguem o genocídio do povo palestino, o avanço do autoritarismo nos EUA, a extremista casa-grande brasileira e suas milícias bolsonaristas preparando o caos para retomar o poder político em 2026, e Israel bombardeando o Irã pra causar a guerra total...

Que posso fazer sobre essas coisas?

Talvez escrever sobre, denunciar para que algumas pessoas reflitam. 

William 

13/06/25 (11h14)

terça-feira, 10 de junho de 2025

Instantes (13h13)



Refeição Cultural

No Brasil, a corte suprema está ouvindo neste momento aquela gente que tentou dar um novo golpe de Estado após as eleições de 2022 para se perpetuar também no poder político, já que o poder real - econômico - a casa-grande nunca deixou de ter. 

O PIG (Partido da Imprensa Golpista) tem novos aliados para desinformar e idiotizar o povo: as corporações norte-americanas chamadas big techs. 

O Brasil vai enfrentar uma guerra cognitiva nunca vista. As máquinas de IA farão o diabo com a nossa noção de verdade e realidade. 

A esquerda e as pessoas com alguma ética e vergonha na cara não estão preparadas para essa guerra de agora até outubro de 2026. O pior é que nem se preparando estão para enfrentar nossos inimigos. Será uma tragédia. 

Nossos inimigos estão certos de que a impunidade deles se imporá novamente. São séculos de impunidade. 

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Neste mesmo instante, Israel está eliminando os palestinos para ocupar suas terras. Nos anos 40, o genocídio promovido pelo nazismo era meio oculto. Agora genocídios são transmitidos e tem gente que fica rica com as visualizações e likes (as big techs agradecem).

Neste mesmo instante, Trump segue implantando uma ditadura nos Estados Unidos. Será que parte do povo vai conseguir barrar isso?

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Em minhas reflexões e revisitas aos diários, tenho avaliado minha passagem por este mundo violento da sociedade humana. 

Me doei às lutas sociais por um tempo. Sou um homem de sorte também pela oportunidade do aprendizado na convivência com a militância de esquerda. Minha cabeça precisa funcionar para eu superar o fim daquela convivência. 

Se a vida me der oportunidade de ainda estar por aqui, eu deveria mergulhar nas leituras que nunca fiz. Sempre admirei pessoas com grande conhecimento geral.

Se eu tiver algum juízo, conseguindo terminar a revisão e armazenamento de minha produção textual de milhares de textos nos blogs, pego pra ler tudo que acumulei por desejo de saber. 

Enquanto isso, seguem as coisas que citei acima... que posso eu fazer pela democracia, pelo humanismo, pela educação e cultura?

Escrevendo aqui, partilho o que sei e o que penso.

(Salvem seus textos e produções audiovisuais em mídias próprias, as nuvens vão deixar na mão milhões de criadores de conhecimento. Pensem nisso)

William 

domingo, 8 de junho de 2025

Livro: O Picapau Amarelo - Monteiro Lobato



Refeição Cultural

"- E agora, Visconde? Que fazer?

O Visconde coçou as palhinhas do pescoço. Não achou remédio. Os sábios são criaturas indecisas; não resolvem nada." (Monteiro Lobato, O Picapau Amarelo, p. 148)*


O Sítio do Picapau Amarelo e seus personagens fez parte de minha infância de alguma forma, pelo que me lembro. Acho que assistia às aventuras de Pedrinho, Narizinho, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa através da televisão nos anos oitenta. 

Ao pesquisar a respeito de qual série televisiva tive contato na infância, vi que foi a da adaptação da Rede Globo em parceria com a TVE e MEC, exibida entre os anos de 1977 e 1986, período no qual eu tinha entre 8 e 17 anos.

Os livros, contos ou textos políticos de Monteiro Lobato eu nunca tinha lido. Essa edição que li foi uma dessas que compramos em bancas de livros expostas em corredores de shopping center. Foram 15 reais bem investidos, na minha avaliação. O que se faz hoje com esse valor? Pode-se comprar um livro de Monteiro Lobato!

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FÁBULAS E FAZ DE CONTA ENTRE CRIANÇAS E ADULTOS

Ao ler os livros de fantasia e mundo do faz de conta das fábulas infantis e infanto-juvenis que fizeram parte da infância de muita gente e avaliar o que virou o mundo humano nas primeiras décadas do século XXI, mundo no qual grupos de pessoas põem celular na cabeça para contatar extraterrestres para salvá-los de uma suposta ditadura esquerdista no Brasil, fico pensativo sobre a condição lastimável da espécie humana neste momento da história. 

A fantasia e faz de conta atualmente dominam a mente de adultos como, por exemplo, aqueles seguidores de uma seita messiânica liderada por um certo clã de políticos de extrema-direita no país. 

Acho que são diferentes as fantasias e abstrações criadas na literatura e outras formas de cultura e as manipulações de massa feitas pelos donos do poder e suas máquinas com objetivos de ganhos pessoais em detrimento de prejudicar as massas manipuladas.

Ou seja, vamos ler mais literatura e acessar mais formas de cultura e ficar menos nas redes sociais cujas donas são as corporações chamadas big techs que hoje atuam para mudarem o comportamento de seus usuários de forma criminosa.

É minha opinião.

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PRODUÇÕES CULTURAIS RETRATAM OS MUNDOS

Uma questão do mundo atual que se discute em relação à produção de cultura de outras épocas é sobre as qualidades e defeitos dos criadores das produções culturais em suas épocas e contextos. Escritores e outros intelectuais das artes são seres sociais e são sujeitos de suas épocas.

A linguagem e formas de tratamento no livro de Monteiro Lobato, escrito em 1939 no Brasil, podem ser consideradas hoje inadequadas, racistas e preconceituosas. Este leitor que leu o livro agora em 2025 acha isso.

No entanto, as obras literárias e culturais ao longo da história humana retratam o mundo e a visão das pessoas daquele mundo em qualquer tempo e lugar. 

Óbvio que cada pessoa é diferente em uma determinada comunidade humana. O ser humano Monteiro Lobato em 1939 pode ser que tenha sido racista, xenófobo, misógino, elitista ou qualquer outra forma de avaliar comportamentos e ideias das pessoas em 2025.

No entanto, achar que só Monteiro Lobato ou só fulano ou cicrano usava a linguagem que o escritor usa para criar romances ficcionais na primeira metade do século XX no Brasil é tapar o sol com a peneira, ou seja, não considerar aquele mundo no qual vivia o escritor. 

É isso que penso após décadas de vivência e contato com a educação e formação política que tive a oportunidade de acessar como ser humano que já mudou radicalmente de opinião e visão de mundo por causa do contato com outras formas de pensamento nas suas mais diversas formas de apresentação aos outros.

Mais complicado para uma criança ou adolescente do que ler um romance de Monteiro Lobato com linguagem da época do Brasil da primeira metade do século XX é uma criança ou adolescente em 2025 conviver no meio de gente que põe celular na cabeça em grupo no meio da rua pedindo intervenção de extraterrestres por qualquer que seja o motivo. O exemplo que essas crianças estão recebendo de seus adultos vai ferrar geral o mundo no qual todos nós vivemos hoje e amanhã.

Vou ler mais Monteiro Lobato.

William


*Post Scriptum: ia me esquecendo. Por que usei a citação acima sobre os sábios que não resolvem nada? No instante que li, me lembrei na hora dos debates que tinha quando sindicalista e acadêmico a respeito das diferenças abissais entre a academia e o mundo sindical na hora de definir reivindicações, estratégias e táticas e soluções para os conflitos entre capital e trabalho. Os sindicalistas, mesmo acadêmicos ou com bagagem intelectual, têm uma diferença enorme em relação aos professores e intelectuais que tanto admiramos: na hora do conflito, da greve por exemplo, os sindicalistas estão com milhares de pessoas na busca de solução para aquele conflito real nas ruas e nos locais de trabalho, o ideal passa longe da solução para aquele conflito. Aprendi isso e respeito muito essa condição do sindicalista, que busca achar solução intermediária que seja decidida pelo conjunto de trabalhadores envolvidos. Via de regra, o acadêmico vai espinafrar a solução encontrada porque ela não leva ao socialismo ou à mudança de condição social etc. Muitas vezes, greves longas sem acordos intermediários acabam por só negociar os dias parados, sem avanço algum para os trabalhadores.


Bibliografia:

LOBATO, Monteiro. O Picapau Amarelo. Ilustrado por Jótah. São Paulo: Lafonte, 2019.


sábado, 7 de junho de 2025

Instantes (14h56)



Refeição Cultural

Leituras que nos fazem pensar... 

O romance de ficção científica de Miguel Nicolelis me deixou muito pensativo nos últimos dias... até um relâmpago pela janela do banheiro me assustou! Pensei no cataclismo oriundo da tempestade solar, que já ocorreu em 1859 e pode ocorrer a qualquer momento. É por questões como essa que afirmo que a humanidade precisa salvar nosso conhecimento e cultura em meios físicos. Essas nuvens digitais onde armazenam a produção humana das últimas décadas são como as nuvens do céu... se desfazem com qualquer ventinho.

Monteiro Lobato, escritor e intelectual de seu tempo, é uma de minhas lacunas culturais. Meu consolo é saber que não adianta me martirizar por ter tido que gastar meu tempo de vida tentando sobreviver como um cidadão pobre num país miserável dominado por uma elite desgraçada e fdp. Até li alguma coisa em décadas de venda de meu corpo e minhas horas de vida. Lobato não tinha lido ainda. Estou lendo um de seus romances infanto-juvenis, de 1939. Nunca é tarde para adquirir cultura.

Peguei na portaria a excelente revista do Mino Carta e sua equipe e, cansado das desgraças distópicas da política, comecei a leitura pelo fim, pela seção Plural, que aborda temas culturais. 

Estou vendo os episódios da série The Last of Us... pesado o clima. O corpo fica em choque. No entanto, ler as notícias políticas do Brasil dominado por um parlamento como o nosso é o mesmo que assistir à narrativa de fim do mundo da ficção. Aqueles 450 fdp estão lá para acabar com o mundo. Resta saber quem será o último de nós. 

William 

07/06/25

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (14)



Refeição Cultural

"(...) Todos os dados estocados na chamada 'nuvem digital', mantida nos servidores das grandes empresas de tecnologia, subitamente foram deletados; a nuvem digital simplesmente se dissipou como uma corrente de ar quente analógica. Todas as formas de mídia social ficaram mudas instantaneamente..." (Nada mais será como antes, Miguel Nicolelis, p.337)


Nesta semana estou focado em avançar no romance de ficção científica do neurocientista Nicolelis. 

Eu compartilho a preocupação de certos intelectuais e pensadores a respeito do poder incomensurável das big techs e seus donos. Eles armazenam hoje boa parte do conhecimento da humanidade em seus computadores.

O risco que todos nós corremos ao não criarmos as nossas plataformas nas dezenas de países que se pretendem soberanos é claro para qualquer pessoa minimamente inteligente, que dirá se essa pessoa se apresenta como líder e representante de gente ou movimentos.

Eu tenho outras hipóteses a respeito do efeito do mundo somente digital na vida da espécie homo sapiens: não seremos mais essa espécie, seremos outra coisa, talvez menos inteligente, a seguirmos abandonando a vida natural e analógica. 

É isso. O romance caminha para seu desfecho... nada mais será como antes...

William 

04/06/25

Instantes (18h12)



Refeição Cultural

Anoiteceu. Quais alimentos culturais tenho degustado?

Estou lendo nesta semana Monteiro Lobato. Também estou lendo o romance do neurocientista Miguel Nicolelis. Ouvi algumas entrevistas e uma aula do professor João Cezar de Castro Rocha, o cara é um intelectual admirável!

São refeições culturais que alimentam nosso espírito, nossa mente humana. 

Pensei várias vezes em escrever sobre política e me posicionar. Me segurei e não escrevi nada. Não alteraria o mundo atual, o que estou nele.

As narrativas ficcionais infanto-juvenis do século passado de Monteiro Lobato e a ficção científica de Miguel Nicolelis pelo menos me fazem pensar o mundo. 

William 

04/06/25

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Instantes (14h)



Refeição Cultural


VENCEREMOS O ÓDIO DESTA VEZ?

São tantas coisas! Escrever sobre elas ou calar? 

Ao mesmo tempo em que avalio que as palavras estão perdendo a importância - uma sensação de incomunicabilidade com o outro -, o cotidiano do mundo humano segue sendo alterado rapidamente pela manipulação da humanidade através do uso das palavras deturpadas, uso por meios tecnológicos com uma potência e alcance nunca vistos: as big techs e seus poucos donos envenenam o mundo com o ódio. 

As democracias, antes imperfeitas, acabaram de vez por manipulação do comportamento das massas humanas através de palavras que escondem realidades e inventam qualquer mentira que ganha a pauta e agenda o cotidiano das gentes e de suas comunidades, países.

Que importa eu saber um pouco mais hoje como as coisas se dão e estão acontecendo? Sozinho, pouco posso com elas. E se me unisse a outros como eu? Esquece! Sou de esquerda e unidade na esquerda só se for no sentido de "um", "único", "unitário", cada esquerdista com sua verdade absoluta... 

Ao mesmo tempo em que na esquerda é cada um por si com sua "bolhinha" de améns, há uma organização e objetivos claros de tomada de poder mundial por parte de nossos inimigos, o capital unido à extrema-direita, e o nosso inimigo tem mil facetas, mas um alvo claro a combater: nós. E eles têm o capital, e com ele os meios de manipulação através das palavras. 

O filólogo Victor Klemperer estudou, registrou e nos legou o que foi o nazismo através da manipulação do povo alemão pela linguagem, a "LTI: a linguagem do 3° Reich". Estamos vivendo o mesmo processo na linguagem que nos faz humanos, mas agora em escala global, através das big techs, que a utilizam para manipular os sentimentos e afetos de bilhões de pessoas, com intuito claro de alterar e influenciar o comportamento delas.

E me pergunto de novo? Que diferença faz eu saber um pouco sobre isso? Todas as pessoas ao nosso redor estão no mesmo processo em andamento... filhos, familiares, amigos, conhecidos. Foi assim que a LTI levou o mundo ao domínio do nazifascismo dos anos vinte aos anos quarenta um século atrás. Só uma guerra com dezenas de milhões de pessoas mortas interrompeu a linguagem do ódio e da supremacia nazifascista. 

E agora, o mundo conseguirá interromper esse processo?


William Mendes

(Uma unidade humana)

sábado, 31 de maio de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de maio de 2025. Sábado.


O MUNDO E A VIDA PODEM SER MELHORES

E mais um mês do ano vai terminando. O tempo segue avançando nos relógios do mundo humano. Marcação de tempo é uma invenção do animal homo sapiens. O restante dos elementos da natureza só estão por aí, estão, são, se transformam ou são transformados em outros elementos. No fundo, nós humanos também só estamos, somos, estamos por aí, por aqui.

Faleceram neste mês alguns seres humanos que eu os tinha como pessoas que contribuíram positivamente para a comunidade humana; morreram, não estão mais entre nós. 

Pepe Mujica estará por muito tempo nos corações das pessoas progressistas; esperemos que suas palavras e seu exemplo inspirem as pessoas que caminham pela Terra. Marcos Martins, nosso companheiro de Osasco, me inspirou a ser um bom sindicalista; ele fez o bem para muita gente em nossa cidade e Estado. O professor Evanildo Bechara foi um progressista no trato da Língua Portuguesa na questão da inclusão dos diversos falares de nosso povo. Sempre teve o meu respeito. Uma referência também. Sebastião Salgado foi e será por muito tempo um ser humano que inspira e exemplifica o quanto podemos ser melhores para o mundo.

O tempo segue na nossa vida de animais humanos que marcam o tempo... tic tac tic tac.

O mundo poderia e pode ser muito melhor para o conjunto da população e para a biodiversidade da Terra. Nós temos uma capacidade inacreditável de criar soluções para as coisas, os homo sapiens são seres vivos de grandes possibilidades. A questão que acompanha a nossa caminhada pelo planeta é por que o mal está sempre prevalecendo na sociedade humana se somos seres dotados de inteligência? Como mudar isso?

Educar massivamente a população com princípios éticos e solidários é uma forma de melhorar a sociedade humana. Educação, cultura, ciência com ética, conhecimento voltado ao bem coletivo... elementos característicos das possibilidades da natureza do animal humano. Podemos mudar o mundo verdadeiramente se reunirmos as condições adequadas para tal mudança. Uma coisa é fato: nossa espécie desenvolveu tecnologia para fazer a vida no planeta Terra ser melhor para nós e para a biodiversidade. Desenvolvemos, sim.

Com atitude e estratégia adequadas, nós as pessoas de boa vontade pelo bem comum, podemos mudar a tendência atual do fim das condições de vida na Terra.

Eu sei que neste momento, neste exato momento, fim do dia 31 do mês de maio do ano de 2025 no Brasil e no mundo, as coisas estão ruins para o bem da humanidade e da biodiversidade. Eu sei. Genocídio do povo palestino e aumento dos miseráveis e gente sem-chão - expulsos pelos poderosos -, extrema-direita avançando, o capitalismo acelerando o lucro fácil e encurtando o amanhã de todos, as pessoas de boa vontade dispersas em pequenas bolhas e desunidas. Eu sei.

Eu não acreditei ser possível mudar o mundo e as pessoas até bem perto dos trinta anos de existência pela Terra. Nem viver eu queria, mesmo tendo importância para as pessoas de nosso meio social. Ao sobreviver às primeiras décadas, o caminhar encontrou veredas que me mudaram como pessoa, e nessas veredas acessei tudo aquilo que muda pessoas e o mundo: educação, cultura, ciência com ética, grupos éticos e solidários. Mudei porque os humanos podem mudar. Somos seres inteligentes.

Enfim, aos 56 anos de idade, estando ainda por aqui, sabendo que passaram pela Terra pessoas como Machado de Assis lá no passado da escravidão no Brasil, vendo tanta gente boa nos locais mais simplórios do mundo, na região mesmo onde vivo, não tenho o direito de achar que o mundo não tem mais jeito, mesmo estando num cenário muito adverso para o bem comum. Meu percurso pela Terra exige de mim acreditar na vida e na inteligência humana.

Vem aí o mês de junho no meu mundo e no mundo todo. Vamos nos esforçar por viver decentemente, sem fazer mal a ninguém, e fazendo ações que possam de alguma forma melhorar a vida humana. Compartilhar pensamentos como esse é minha singela forma de defender que acreditemos que é possível fazer o mundo melhor. 

Não represento ninguém, já representei e tentei representar decentemente. Mas, no fundo, sou um exemplo de uma pessoa que foi modificada pelas oportunidades da educação, da cultura, da ciência, do acolhimento e da solidariedade das pessoas.

William


 
Com Pirulla, em 19/9/22.

Post Scriptum: estou na torcida pela recuperação do Pirulla, figura do bem, dessas que citei acima, que sofreu um AVC nessa semana. O pessoal mais próximo a ele pede apoio, pois ele cuida de seus pais idosos e não há previsão sobre sua condição de voltar ao trabalho de divulgação científica. 

PS 2: Torço pelas pessoas que conheço que estão na luta por suas condições de saúde e vida. São pessoas boas e que sempre praticaram o bem comum.


Vendo filmes (XXIX)



Refeição Cultural

Os robôs e nós (ou as máquinas, ou ainda a IA e nós)


"Durante décadas tive receio em relação à Inteligência Artificial. Era uma das pessoas que temia que as máquinas adquiririam vida própria e colocariam sob ameaça as outras espécies animais, sobretudo a humana. Nicolelis me explicou a falácia da 'Inteligência Artificial', algo impossível de se realizar. 

A inteligência é animal, uma máquina não pode ser inteligente no sentido da criação humana. Só nós somos inteligentes, por enquanto (pode ser que fiquemos limitados como as máquinas se não mudarmos o rumo das coisas)." (William Mendes, Blog Refeitório Cultural, 01/07/21 - ler aqui)


Antes da leitura do livro O verdadeiro criador de tudo (2020), do neurocientista Miguel Nicolelis, eu via e compreendia o mundo humano de uma forma e depois da leitura passei a ver e compreender a humanidade e suas criações no planeta Terra de outra forma, bem mais consciente agora.

Até 2021, eu realmente achava ser possível a realização da ideia central de boa parte da ficção científica e das literaturas ficcionais da possibilidade de máquinas se tornarem inteligentes ao ponto de se rebelarem contra a espécie que a criou - os humanos - e tomarem o mundo para si nos eliminando ou nos fazendo de escravos à sua disposição. 

Eu achava possível isso porque não tinha a compreensão de que só seres vivos podem ser inteligentes, já que a inteligência é analógica e não digital. Só organismos vivos podem desenvolver inteligência e criatividade. Máquinas, não.

A ficção a respeito das máquinas é bem antiga. Em relação a filmes já no século XX, o clássico de Stanley Kubrick virou a referência para tudo que veio depois de 1968. O filme WALL-E, por exemplo, é um diálogo com 2001 e seu computador central HAL 9000.

Dos filmes de robôs e IA, a série que mais me deixou pensativo por muito tempo foi a do Exterminador do Futuro e o domínio da Terra pelos robôs da Skynet. 

Só o professor Nicolelis conseguiu me convencer de que isso jamais acontecerá, pois as máquinas não são inteligentes e não têm vida própria. Tem sempre um animal humano por trás delas, pode ser um lunático fdp, mas estamos lidando com programação.

O assunto é complexo e não se esgota num comentário sobre filmes de ficção científica, é claro!

No entanto, fica registrado que esses filmes que revi e comento abaixo são filmes que avalio serem muito visionários e que ainda valem pelo que representam. 

As pessoas com cara na tela, que vimos no WALL-E quase duas décadas atrás, foi uma cena premonitória demais! Hoje as pessoas morrem atropeladas ao atravessar a rua porque não olham para a frente.

A questão da imposição do novo por parte das corporações capitalistas e a transformação de sucata e obsolescência de tudo que vemos no filme Robôs é mais atual que nunca!

E sobre IA e corporações e o risco de dominação dos seres humanos por parte das máquinas, que já está acontecendo, o filme Eu, robô nos traz reflexões pertinentes. Não porque uma IA vai se rebelar contra nós, como a Viki, ou a IA do 2001 ou do WALL-E, mas porque tem uns fdp por trás delas levando ao limite o capitalismo exploratório e predatório em benefício de alguns e prejuízo de bilhões de seres humanos e espécies de vidas.

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FILMES


WALL-E (2008) - Direção: Andrew Stanton.

SINOPSE (DVD):

O aclamado diretor de Procurando Nemo e os criadores de Carros e Ratatouille transportam você para uma galáxia não muito distante dessa aventura interplanetária sobre um robô muito determinado chamado WALL-E. Depois de milhares de solitários anos fazendo o que ele foi construído para fazer, o curioso e adorável WALL-E encontra uma nova razão para viver quando conhece uma robô de busca de alto design chamada EVA. Junte-se ao casal e ao divertido elenco de personagens nessa fantástica viagem pelo Universo.

COMENTÁRIO:

Durante anos, tive no filme WALL-E a referência de acerto visionário a respeito do futuro da humanidade, um filme que apontou para onde estávamos caminhando. As redes sociais e os aparelhos celulares que viriam a capturar os seres humanos estavam em seu começo e o enredo apontava para o que viria a ser a geração cara na tela.

A destruição do planeta Terra pela poluição do consumo capitalista e as pessoas que não olhavam mais para a frente e só viam o mundo através da tela em sua cara foram as cenas do filme que nunca mais me esqueci. E aqui estamos nós, dezessete anos depois, nessas condições de destruição do planeta e robotização e desumanização dos humanos por essas máquinas e seus algoritmos.

Ao rever o filme, pude captar muito mais coisas! Que obra extraordinária!

Além do diálogo com o antológico filme de Stanley Kubrick, "2001 - Uma odisseia no espaço" (1968), o filme provoca reflexões sobre amor, amizade, diversidade, o sentido da vida, as consequências da voracidade do capitalismo, e a questão da sustentabilidade. 

O filme é tão incrível que já aponta duas décadas atrás o que os bons neurocientistas como Miguel Nicolelis alertam a respeito da IA, que não é nem inteligente nem artificial.

Se o filme de Kubrick acende o farol vermelho ao apontar que máquina é máquina, que máquina não é inteligente, ela só é programada por mentes humanas, e que o perigo está justamente no fato de não ser possível esperar uma decisão de abortar uma missão porque máquina é máquina, é burra, e nem se os humanos decidirem algo contra o programa, a máquina vai obedecer, WALL-E mostra outra vertente dessas máquinas programadas por nós mesmos.

Por trás da destruição do planeta Terra por falência das condições de abrigo à vida, já que os humanos transformaram nosso mundo num amontoado de lixo proveniente das futilidades do mercado consumidor capitalista, continua na nave Axiom o predomínio do mesmo modus operandi que causou o abandono do planeta: compre, compre, consuma, consuma...

Em 1968, a era do boom espacial, a máquina HAL 9000 decide eliminar a tripulação porque não aceita comandos que abortem a missão a Júpiter. Quarenta anos depois, a IA da nave Axiom desacata o capitão ao se negar a voltar à Terra após os sinais de condições de vida terem sido detectados pelo robô EVA (Examinadora de Vegetação Alienígena). Por trás da IA sempre há um programador, um comando... vimos isso em WALL-E.

Entra década, sai década capitalista, o que está em jogo não é a importância da vida e suas possibilidades infinitas, o que está em jogo é não mudar o rumo das coisas, é deixar tudo como está, já que o mundo e tudo nele contido deve ser apenas um espaço de exploração para os poucos donos dos meios, os capitalistas. Dane-se o planeta, os bilhões de humanos e a infinidade de vida dos ambientes terrestres!

Lógico, o filme tem toda a maravilha dos contos ficcionais, está contratado com os espectadores todas as possibilidades de amor, amizade, humor, drama, tensão e os demais temperos da sétima arte.

Olha, vejo esse filme mil vezes!

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ROBÔS (2005) - Direção: Chris Wedge. Roteiro: William Joyce.

SINOPSE (DVD):

Dos criadores de A Era do GeloRobôs é uma nova aventura que irá maravilhar a todos com sua animação computadorizada de última geração. Robôs conta a história de Rodney Lataria, um aspirante a inventor, que viaja para Robópolis para conhecer seu ídolo, o Grande Soldador. Pelo caminho, ele faz muitos amigos e juntos acabam encontrando o malvado Dom Aço. Sob a orientação de sua mãe, Don Aço tomou a empresa do Grande Soldador e decidiu negar acesso aos outros robôs a peças necessárias para sua manutenção. Será que Rodney é feito daquilo que se faz necessário para salvar a todos?

COMENTÁRIO:

O começo da história já é espetacular! Numa comunidade de robôs bem classe trabalhadora, um robô adulto sai gritando pelas ruas que vai ser pai, numa alegria contagiante. Ao voltar para casa, sua companheira diz que ele chegou tarde... já entregaram a encomenda... mas tranquilizou o marido em seguida, lembrando-lhe que o melhor é fazer o bebê juntos! Os dois começam então a montar as peças vindas na caixa e depois de um tempo temos a linda criança robô, batizada pelos pais como Rodney.

O garoto vai crescendo e tomando consciência de seu lugar e de sua família naquela sociedade. Eles são pobres, só usam coisas de segunda mão e seu pai é sempre humilhado pelo patrão em seu emprego de lavador de pratos. O pequeno Rodney é criativo e quer ser inventor. Criou até um robozinho para ajudar seu pai no trabalho. Com o tempo, o jovem se despede da família para ir tentar realizar seu sonho de ser um inventor e poder ajudar as pessoas e a comunidade.

Como anunciado na sinopse, na cidade grande Rodney compreende melhor o mecanismo do sistema capitalista, a criação de necessidades por parte dos capitalistas e o quanto o povão é descartável para os donos do poder.

O filme tem muitas camadas, é muito bem-feito. Tem aventura e graça ao mergulharmos numa cidade com mecanismos incríveis conectados de forma a tudo funcionar perfeitamente como, por exemplo, no transporte público. Tem o aspecto lúdico da luta de classes e dos interesses antagônicos entre os que mandam nos meios de produção e os que dependem dos bens e direitos para sobreviverem.

Olha, amig@s, o filme poderia estrear hoje nos cinemas que seria atualíssimo para pensarmos o mundo e a vida. Incrível um roteiro que tenha envelhecido tão bem quanto esse do filme Robôs.

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EU, ROBÔ (2004) - Direção: Alex Proyas. Inspirado em contos de Isaac Asimov. Com Will Smith, Brigdet Moynahan, Bruce Greenwood, Chi McBride, James Cromwell.

SINOPSE (DVD):

O superastro Will Smith declara guerra às máquinas neste inesquecível suspense de ficção científica que se desenrola em meio à ação alucinante! Quando um importante cientista é encontrado morto, o detetive Del Spooner (Smith), que odeia robôs, desconfia que um avançado modelo de robô é o culpado pelo assassinato. No entanto, de acordo com as Três Leis da Robótica, um robô é incapaz de machucar um humano... mas algumas regras foram feitas para serem quebradas! Brigdet Moynahan co-estreia esta história futurística de suspense que nos leva a questionar se a tecnologia levará o ser humano à salvação... ou à extinção.

COMENTÁRIO:

Duas cenas no filme são bem interessantes para reflexão:

Numa delas, o protagonista - detetive Del Spooner - relembra um episódio doloroso do passado no qual ele ordenou a um robô que salvasse uma garota em um acidente no qual ele também estava envolvido. O robô seguiu a "lógica" e salvou a pessoa que tinha 45% de chances de sobreviver, enquanto a outra tinha 11%. A "lógica" prevalece porque a máquina não pensa, não tem sentimentos, não tem coração. Ela é só um programa.

Na outra cena, o detetive Spooner faz uma pergunta ao robô que se autodenominou Sonny em um interrogatório se ele seria capaz de criar uma música clássica ou de fazer um desenho criado por si, na tentativa de humilhar ou reduzir Sonny à sua condição de máquina e Sonny simplesmente devolve a pergunta a Spooner deixando ele desconcertado: - você é capaz de fazer uma música clássica ou um desenho?

Daí vemos a importância de se saber fazer as perguntas certas para as mais diversas situações. Pergunta e resposta certa é um dos enigmas que o holograma do Dr. Alfred Lanning, cientista morto, deixa ao seu amigo Spooner.

Sobre perguntas e respostas, nunca me esqueci da lição do professor de química Glicério, quando eu tinha uns doze ou treze anos, na qual ele dizia que os alunos deveriam ler as perguntas com atenção, mais de uma vez, porque muitas vezes a resposta já está indicada na pergunta. Se a pergunta diz qual, quem, o que, como, quando, onde etc, o aluno não vai escolher uma alternativa que não tenha relação com esse pronome interrogativo. Tem uma lógica nisso.

Voltando ao filme, o enredo é uma boa oportunidade ainda hoje, duas décadas depois, para refletirmos sobre a questão da Inteligência Artificial (IA), que evoluiu drasticamente no preenchimento do cotidiano do mundo em 2025. E até um filme como esse é capaz de apontar aquilo que os neurocientistas sérios nos alertam: que IA não é nem inteligente, nem artificial, são programas baseados em dados e velocidade de processamento.

Foi bom rever o filme. Ele tem umas pegadas (sacadas) bem legais!

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COMENTÁRIO FINAL

Esses filmes são bons demais para seres revistos e abrir reflexões sobre o passado, o presente e o futuro da espécie humana e do planeta Terra. Valem a pena!

Para ler outras postagens sobre filmes, é só clicar aqui e ver a anterior desta série.

William


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Livro: Coração de vidro - José Mauro de Vasconcelos



Refeição Cultural

A edição que li do livro de José Mauro de Vasconcelos é uma edição bem antiga, provavelmente de 1970 (não tem a data). O autor publicou a obra em 1964. Acho que tinha lido suas estórias quando era criança ou adolescente. Peguei o livro na casa de meus pais.

As histórias das personagens são bem tristes. Sempre tento imaginar a recepção da obra em sua época de lançamento. Estávamos sob ditadura nos anos sessenta e setenta e boa parte da elite era mancomunada com os milicos e tirava proveito da violência contra o povo e a classe trabalhadora. Os leitores devem ter se sensibilizado com as personagens.

O livro retrata a história do pássaro Azulão (A Missa do Sol), do peixinho Clóvis (O Aquário), do cavalo Saturno (O Cavalo de Ouro) e da mangueira Candoca (A Árvore), todos personagens oriundos da mesma fazenda, uma propriedade secular da época da escravidão brasileira, que vigorou até o século XIX.

Ler os microcontos de José Mauro de Vasconcelos neste momento brasileiro não deixa de ser interessante. Nossa história é triste como a história de Candoca, Clóvis, Saturno e Azulão. O povo brasileiro é nada para os herdeiros das capitanias hereditárias como nada é a fauna e a flora deste belo país.

Passado mais de meio século da enunciação das histórias daquelas personagens numa antiga fazenda de exploração de monocultura de commodities tocada por herdeiros dos escravocratas, estamos hoje na mesma, na mesmíssima condição político-econômico-social. O agro dos coronéis ruralistas ainda manda no Brasil. 

Esses sujeitos e seus herdeiros estão nos parlamentos, estão em milhares de prefeituras de antigas fazendas chamadas de cidades. Estão na máquina estatal, dominam o orçamento público e secreto. Mandam nas decisões do judiciário e nos capitães do mato das forças de repressão estatais. Mandam nas casas que manipulam a fé do povo.

No fundo, no fundo, somos quase como as personagens da fazenda do livro Coração de Vidro

William


Bibliografia:

VASCONCELOS, José Mauro de. Coração de Vidro. Desenhos em preto do autor. Ilustrações em cores de Gioconda Uliana Campos. 6ª edição. Edições Melhoramentos.