Refeição Cultural
Uberlândia, 8 de agosto de 2024. Quinta-feira.
Cheguei ontem a casa de meus pais para fazer a romaria de Uberlândia a Água Suja, região do Triângulo Mineiro. Faço essa caminhada há quase quatro décadas.
A minha impressão sobre quase tudo no ambiente familiar me deixou bem triste. Melancólico. Vou inclusive decidir nas próximas horas se farei a romaria ou se vou desistir desse dia na estrada, dia de introspecção e monólogo interior sob forte estresse físico e mental como é andar 80 Km.
Ao ver a condição de saúde de meus familiares, a casa, as coisas da casa, e perceber a minha própria condição de saúde, fiquei pensando em palavras que representassem a condição das coisas, da forma como percebo o nosso universo familiar.
Degenerescência? Decrepitude? Decadência?
O mais triste é que essas palavras poderiam tranquilamente, na minha opinião, descrever a condição do mundo, da sociedade humana, das relações entre as pessoas, da ética e dos valores da sociedade humana neste momento da nossa história na Terra.
Ao mesmo tempo, é óbvio que o novo sempre vem, a todo instante, o velho vai sendo substituído pelo novo. A natureza nos ensina a certeza da mudança. Tudo muda o tempo todo. Lembremos: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma...
Se prevalecessem as abstrações humanas mais "humanistas" que seriam em tese mais solidárias e que criam direitos universais, as mudanças constantes seriam num sentido.
Se, no entanto, prevalecem as abstrações humanas do capitalismo neoliberal, como ocorre neste momento global, as mudanças caminham aceleradamente no sentido inverso ao que poderia ser. O fim para nós.
Comecei esta série de textos sobre os natais pensando em resgatar a história da família num contexto de confraternizações de Natal ao longo de décadas e citando referências de época para situar essa gente brasileira em sua ambiência cultural e histórica.
Avalio que o difícil não será escrever sobre o passado. O difícil será resistirmos até o próximo Natal, o deste ano em curso. Que dirá o Natal seguinte.
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NATAL DE 1976
Naquele Natal eu já estava com sete anos e, olhando para trás, começo a ter memórias dessa época.
A foto da abertura pode ser de meus primeiros tempos de Adolfino, onde me alfabetizei.
Tenho lembranças boas dessa fase da vida em São Paulo.
Em algum Natal dessa fase, teve até um papai Noel que entrou na sala do sobradinho no Rio Pequeno falando "ho ho ho". As crianças - eu, irmã e companhia - fingiram que estavam dormindo nos quartos lá em cima, mas estávamos todos olhando pelo canto da escada. Ele colocou os presentes na árvore de Natal na sala e se foi.
Como disse, eu já estudava na E. E. Prof. Adolfino de Arruda Castanho. Fiz da 1ª à 4ª série lá. Minha avaliação na 1ª série foi "A" em "Comunicação e Expressão". Vi isso numa caderneta antiga.
Na escola, morríamos de medo da loira do banheiro ou loira do algodão, algo assim (medos de crianças, lendas urbanas). Quando algum moleque gritava "olha a loira do algodão!" a gente saia mijando com o pinto na mão.
Sei que naquele ano faleceu o ex-presidente Juscelino Kubitschek (JK), no mês de agosto, vítima de um acidente de carro na Via Dutra.
Meu pai e mais um monte de gente sempre falou e fala ainda hoje que JK foi assassinado pela ditadura através da simulação do acidente. Vai saber. Oficialmente, foi acidente.
É isso. O Natal de 1976 da nossa família de trabalhadores se deu num país sob ditadura e prometendo a todos que o futuro seria melhor.
Não sou determinista e acredito que os humanos são seres capazes de mudar tendências e fazer história.
Porém, neste momento, após cinco décadas de destruição do planeta Terra pelo capitalismo, nem futuro melhor vislumbramos para o amanhã.
William Mendes
Post Scriptum: o texto anterior desta série pode ser lido aqui.
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