segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 30 de setembro de 2024. Segunda-feira.


Opinião


SETEMBRO

Lá vamos nós registrar fatos, sentimentos, opiniões e leituras de mundo ao final de mais um mês neste mundo mundo vasto mundo.

Setembro foi um mês intenso em tudo, na dimensão pessoal e na dimensão geral, da vida coletiva. Alguns fdp estão destruindo de forma deliberada o planeta e a vida de milhões de espécies e nós não estamos fazendo o suficiente para impedir essa destruição.

No Brasil, estão cometendo ecocídio de todos os biomas. No mundo, está em andamento o genocídio dos povos palestinos e árabes em terras que os sionistas querem colonizar: a Palestina e o Sul do Líbano. 

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AINDA SONHO FAZER ALGO ÚTIL PARA O MUNDO

No campo pessoal eu não poderia reclamar de nada porque sigo sendo uma pessoa de sorte, privilegiada na existência dura deste mundo de bilhões de seres largados à própria sorte. Tenho o que comer, onde dormir, pessoas que amo, e acesso aos bens do espírito: cultura. Ainda não estou sem acesso a água, luz, comunicação, atendimento médico e sociabilidade. Um privilégio em 2024.

Passei o mês descadeirado, mas parei de me lembrar da lombar, sinal de que estou melhor. Tive um dente quebrado, mas já foi refeito. Minha irmã operou o ombro, mas está bem. Minha mãe está se adaptando aos medicamentos da diabetes. Somos afortunados, estamos bem pra caramba, se considerarmos a situação de nossas irmãs e irmãos brasileiros, palestinos, libaneses, haitianos, argentinos e de tantas outras localidades.

Meu pai estava quase morrendo em casa com pneumonia nos dias em que estive lá. Tive que desacatar sua vontade e chamar o Samu, que lhe salvou a vida e depois eu tive que ficar ouvindo merda porque ele não havia dado permissão de salvá-lo. Como tinha que ir embora, providenciei uma forma dele ir ao hospital ser medicado por uma semana e ele teve a pachorra de negar a solução que arrumei e isso causou um transtorno para várias pessoas. Eu fiquei muito puto com toda a situação e nem sei como vou lidar com essa merda em relação a ele. Estou puto com o cara que admirei tanto tempo na vida.

Essas coisas pessoais todo mundo vivencia. Ninguém sabe da vida dos outros. Quando a vida se resume a essas impotências domésticas, a gente perde um pouco o sentido do viver. Para alguém que já fez coisas grandes como fiz, essas merdas deixam a gente se sentindo um lixo.

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Tudo bem. Eu sigo querendo viver, aprender coisas novas, passar o conhecimento adiante e mudar o mundo. Entendo que a vida humana só tem sentido quando pensamos para além de nós mesmos, de nosso egocentrismo.

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TEMOS QUE MUDAR O RUMO DAS COISAS DO MUNDO

No que diz respeito ao mundo da porta de casa para fora, as coisas estão bem mais complexas. Nós humanos e seres vivos estamos fodidos neste instante do mundo. E isso não é uma questão de pessimismo ou determinismo, não é! É uma leitura de alguém que lê o mundo.

Se eu fosse ainda um representante de pessoas, dos meus pares da classe trabalhadora, eu não escreveria as coisas como tenho escrito, porque meu papel seria outro. 

Por duas décadas exerci meu papel de liderar movimentos de luta e aprendi como liderança a levantar o moral das pessoas que representava no dia a dia como, por exemplo, numa greve em momentos difíceis, numa batalha perdida para o patrão ou para nossos inimigos de classe etc. Isso é obrigação de uma liderança popular.

As mudanças necessárias são possíveis, pois os seres humanos são seres históricos, que fazem história diariamente, que fazem seu presente e seu futuro. Precisamos de novas lideranças, é o que vejo. Eu não sinto desejo de mudança nas classes dirigentes que estão aí nos sindicatos e nos partidos de esquerda que conheço há décadas. Falo daquelas e daqueles que estão dirigindo e não da militância.

ELEIÇÕES ANTIDEMOCRÁTICAS NO BRASIL: decidi contribuir de alguma forma no processo eleitoral das eleições municipais deste ano. Honestamente, friamente, eu não acredito mais na "democracia" de faz-de-conta do Brasil desde o golpe de Estado que tirou nossa presidenta Dilma Rousseff, "com o Supremo, com tudo". Sei que não há democracia no Brasil, que aqui é o poder violento da casa-grande que manda em tudo.

Mesmo assim, gostaria sinceramente de ver eleita nossa jovem companheira Luna Zarattini 13131, pois o trabalho dela me lembra a forma como fiz representação por duas décadas. E gostaria de ver Boulos eleito prefeito de São Paulo. Também tenho um carinho grande pelos jovens Gabi, Heber e Matheus do Coletivo JuntOz 13713 em Osasco, e Emidio.

Não tenho ilusão alguma sobre a dificuldade de mudanças e sei que está tudo dominado pelos donos do poder efetivo nesta ainda colônia continental de impérios do Norte. Nossa fragilidade está cada dia mais evidente. Os desgraçados da casa-grande, os vendilhões bancados pelos capitalistas podem tudo, são inimputáveis, as leis são só para foder os não amigos do rei. A impunidade faz com que só acreditemos na justiça feita por guerra ou por mágica, através de invenções de crenças religiosas.

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POLÍTICA PEQUENA NÃO VAI MUDAR O MUNDO, VAI CONTRIBUIR PARA A VITÓRIA DE NOSSOS INIMIGOS DE CLASSE

A raiva que passei na semana passada com meu pai, a ingratidão e desrespeito dele em relação a todas as pessoas que se preocupam com ele e que querem o bem dele e ele caga pra todo mundo, me causou um esgotamento com relação às coisas que venho vendo serem feitas comigo ao longo do tempo.

Me enchi (empapucei) de um monte de coisas. Posso falhar, sou humano, mas me esforço para não ser injusto ou ingrato com as pessoas e instituições.

Eu cansei do desrespeito da direção do nosso sindicato em relação à mim, e sei que não sou o único cancelado na política pequena da entidade. São muitas pessoas valorosas e com história em nosso sindicato que foram canceladas por qualquer bobagem da cabeça de alguém da direção. 

Sei que tem pessoas que se "magoaram" comigo por não receberem uma ligação ou babação dando parabéns por alguma função ocupada ou bobagens do tipo. O mundo acabando na luta contra nossos inimigos e gente virando a cara para militantes que não deram um "parabéns" fulana ou ciclano! Francamente!

Eu contribuí com um terço da história de nosso sindicato. Entre 1988 e 2024 são mais de três décadas de sindicalização, coisa em extinção no sindicalismo atual. Participei da construção da campanha unificada da categoria, fui grande sindicalizador, liderei os colegas do BB por quase duas décadas, e a direção atual não se dignou a me convidar para fazer uma fala nos 100 anos do sindicato. É uma coisa pequena, ridícula, fazerem isso com lideranças da entidade que alguém não goste na atualidade.

E quando penso a Caixa de Assistência dos Funcionários do BB, me vem de novo um sentimento de desrespeito da direção de nosso sindicato. Eles não têm obrigação nenhuma em relação à minha pessoa, é óbvio! Eu sei o que fiz pela Cassi, o que fiz em defesa dos direitos em saúde de quase 200 mil associados da ativa e aposentados do banco. É público o que estudei e aprendi sobre a autogestão. Um grupo de pessoas sabe o que sofri e o que paguei pessoalmente ao defender o modelo assistencial da Cassi e os direitos da parte de baixo da pirâmide funcional do banco, do povão.

Como fui um coordenador nacional das entidades e da principal força política dos bancários, sei como funciona por dentro a política no movimento sindical e partidário. Às vezes, vejo pessoas que me encontram por aí se lamentarem por mim... e fico imaginando o que inventaram contra a minha pessoa nesta lógica de cancelamento e de assassinato de reputações e histórias. Fico imaginando.

Enfim, sou um cara de sorte. Sou sim. Sempre tive o couro grosso. Já fui ruim, marrento, impossível de ser abatido. Aliás, se não fosse um cara duro como a vida me fez, talvez eu nem estivesse aqui após 2018.

Uma hora dessas, eu consigo esquecer essa gente que me dá pesadelos há anos, que me amargura o viver. Que os deuses me deem forças pra esquecer pessoas e instituições que me causam sofrimento, quem sabe depois de 6 de outubro. 

(Às vezes, vemos companheiras e companheiros adoecerem ou faleceram não tendo o devido reconhecimento pela contribuição que deram à luta histórica que empreendemos rumo a uma sociedade humana mais justa, solidária e sustentável. Registro meu respeito a cada militante que já tenha contribuído para as nossas causas. Uma das coisas mais admiráveis que percebi na sociedade socialista em Cuba é o quanto eles valorizam sua história e tod@s que fizeram parte dela)

Post Scriptum: francamente, se estando bem e lúcido não servi mais para dar minha palavra sobre o que conheço e ajudei a construir, que nenhum hipócrita fale de mim se tiver morrido ou morrendo.

William


ICL - Estudando Biologia (1)



Refeição Cultural

CICLO DO CARBONO E AQUECIMENTO GLOBAL

Assisti à primeira aula de Biologia, de Fernanda Vernier, professora do Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Gente, que aula espetacular! Que leveza e que didática para ensinar Biologia para as pessoas!

O tema da aula foi "Ciclo do Carbono e Aquecimento Global". As noções que obtive com as explicações da professora Fernanda são muito interessantes, faz a pessoa ser menos ignorante em questões básicas de um tema extremamente relevante para a nossa vida neste momento da história humana.

A aula fala sobre os processos da fotossíntese e da respiração celular. Ao final, entendi claramente a diferença, por exemplo, de se utilizar o biocombustível etanol (produzido a partir da cana-de-açúcar, beterraba e outras plantas) ou combustível fóssil em relação aos danos para as mudanças climáticas, por causa do dióxido de carbono (CO2). 

Em linhas gerais, no processo do etanol, o carbono se mantém mais ou menos na mesma quantidade que já estava na atmosfera, pois ele foi capturado na fotossíntese da planta, transformado em etanol e devolvido ao ar. No combustível fóssil, ele estava há milhares de anos sob a terra, e foi liberado para a atmosfera aumentando sua quantidade no ar.

É muito legal aprender noções das coisas. Só o Conhecimento Liberta. Se vocês ainda não são associados, façam parte dessa revolução cultural e participem do ICL.

William


domingo, 29 de setembro de 2024

Os miseráveis - Victor Hugo (XVIII)



Refeição Cultural 

Osasco, 29 de setembro de 2024. Domingo. 


INTRODUÇÃO 

"Ai! O que ele queria expulsar, havia entrado; o que ele queria cegar, olhava para ele. Era sua consciência. 

Sua consciência, quer dizer, Deus." (p. 265)


A leitura de hoje do clássico "Os miseráveis" (1862) foi de muita reflexão. 

O Livro VII da primeira parte - Fantine - faz um longo ensaio sobre a consciência e o remorso, sobre decisões a se tomar pensando não só as consequências pessoais quanto as coletivas, que impactam a vida de outras pessoas no ambiente onde se vive.

Jean Valjean, condenado às galés no passado por roubar uma côdea de pão para seus sobrinhos, sobreviveu à pena e retomou sua vida anos depois. 

Ele agora é um homem respeitado, conhecido como senhor Madeleine, e prefeito de Montreuil-sur-Mer. 

Ao saber que vão julgar outro homem por roubos e por se parecer com o condenado Jean Valjean, o verdadeiro Valjean se pega num dilema de difícil solução: se entregar e salvar o outro e voltar às galês, e condenar a coletividade que ajuda em Montreuil-sur-Mer, inclusive a jovem Fantine e Cosette, ou não?

Que dureza!

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Frases que sintetizam ideias do narrador, em tese, de Victor Hugo:

* (...) o fundo comum de ignorância da aldeia e do claustro é uma preparação completa, e nivela imediatamente o camponês ao monge. Mais amplidão ao avental e está pronta a batina." (p. 255)

* "Mentir é o absoluto do mal. Não é possível mentir pouco; quem mente, mente a mentira toda; mentir é a própria face do demônio. Satanás tem dois nomes, chama-se Satanás e chama-se Mentira." (p. 256)

* "O olhar do espírito não pode encontrar, em lugar algum, mais deslumbramentos e mais trevas do que no homem; nem fixar-se em nada mais temível, complicado, misterioso e infinito. Há um espetáculo mais grandioso que o mar, é o céu; há outro mais grandioso que o céu, é o interior da alma." (p. 262)

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Tenho lido muitos livros ao mesmo tempo. 

De romance, estou lendo três autores: Victor Hugo, Machado de Assis e Miguel Nicolelis. Autores de textos refinados.

Pensei em ler mais hoje, mas não deu. Estou curioso para saber a decisão que vai tomar Jean Valjean. 

Abraços, amig@s leitores!

William 


A Comédia Humana - Honoré de Balzac (4)



Refeição Cultural 

"Comparado com Walter Scott, seu discípulo assinala-se por uma particularidade bem francesa, de que, aliás, tinha plena consciência. O romancista escocês idealiza a paixão. Por temperamento ou para agradar a um público maior, desconhece o amor sexual e faz intervir em suas narrativas mulheres sublimes e pálidas, quase figuras de altar. O romancista francês, desde seu primeiro verdadeiro romance, explora todas as riquezas da mina das paixões. 'A paixão é toda a humanidade!', escreverá anos depois no prefácio de A comédia humana, ao reconhecer a sua dívida para com Walter Scott." (p. 41)


Seguindo na leitura da biografia de Honoré de Balzac, Paulo Rónai nos conta que o escritor escocês, Walter Scott, se tornou a referência para ele, pois seus romances históricos eram baseados em documentos, pesquisas e viagens investigativas nos locais que seriam cenários de seus livros. 

A diferença é que ao invés de romances históricos, Balzac atuaria com foco na história dos costumes da sociedade francesa da primeira metade do século XIX, período conhecido como Restauração. 

Walter Scott é outra de minhas lacunas culturais... ainda não li nenhuma obra sua. Tenho que viver bastante para ler autores e obras clássicas que nunca li.

William 


sábado, 28 de setembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural 

Osasco, 28 de setembro de 2024. Sábado.


Antes de registrar reflexões baseadas um pouco no pessimismo da razão, é importante dizer que estou engajado nas campanhas eleitorais de Guilherme Boulos e Luna Zarattini 13131, em São Paulo, e também tenho feito o que posso pelo Coletivo JuntOz 13713 e Emidio, em Osasco. É a minha contribuição prática pela democracia e pela classe trabalhadora a qual pertenço. 

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Dias atrás, registrei um certo desabafo pelo cansaço que venho sentindo por inúmeros atos de desrespeito em relação à minha pessoa: algum desrespeito por parte de alguém próximo ou por instituição social à qual eu tenha dedicado o melhor de mim.

Sinto também um certo cansaço pelas atitudes das instituições sociais às quais me filio ou sinto pertencimento, as tais "comunidades imaginadas", descritas magnificamente por Benedict Anderson. Certa decepção com as abstrações criadas pela mente humana, também explicadas pelo neurocientista Miguel Nicolelis. 

Estou insatisfeito com o nosso sindicato, partido e governo. Avalio que não seria politizado por eles hoje como fui no passado. E com o meu pai, como já disse. Ele seria atualmente uma referência do que eu não gostaria de ser na relação com os outros. E nada garante que eu não seja igual a ele.

Meu pai, o nosso sindicato e sua corrente política hegemônica, o partido, o governo, e a Cassi do BB são referências de decepções que martirizam meu coração, uma forma poética de dizer que essas instituições me causam sofrimento, que se transforma em problemas de saúde no organismo do animal que sofre.

Minhas decepções são pessoais, são baseadas em minha formação e experiência políticas. São decepções quanto às concepções e práticas políticas das instituições às quais me filio há décadas. Boa parte da militância segue lutando, está nas ruas, vejo isso onde milito.


Pelo menos de onde observo o mundo, vejo o trabalho da militância da Frente de Solidariedade e Luta (FSL/ZO), do Diretório do PT do Butantã, liderado pelo combativo Daniel Kenzo, da jovem Luna Zarattini e sua equipe, dos jovens Heber, Gabi e Matheus do JuntOz. Tem muita gente boa na luta!

Minha decepção política é com as direções das instituições políticas, é com a burocratização, é com o autoritarismo que beira às práticas de nossos inimigos da direita e extrema-direita. A decepção é com as práticas de pessoas que se tornaram estranhas por tanta indiferença e desrespeito ao que pensa diferente. 

Enfim, não me parece que vá haver mudanças nas instituições e pessoas que tinha como referência de vida. Não é o que o cenário local e mundial demonstra para aqueles que sabem ler nas entrelinhas e sabem ler para além das palavras. Aprendi um pouco isso na minha formação política pelos bancários da CUT em outros tempos. 

(Acabaram-se as conciliações e diplomacias, agora é imposição pela força: a esquerda terá que perceber isso, antes que desapareça)

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Domingo 6 de outubro está aí. Espero que nossa classe consiga superar alguma coisa do poder econômico dos donos do mundo e consiga eleger nossas candidaturas progressistas. Estamos trabalhando para isso. É difícil, mas estamos nas lutas. Depois dessa data, vou pensar o que fazer da vida.

William Mendes


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Born to Run - Bruce Springsteen (2)



Refeição Cultural 

Na leitura anterior, a primeira centena de páginas, Bruce Springsteen nos contou como se deu o início e o fim de sua primeira banda, The Castiles.

No capítulo seguinte - "Terra" -, que li agora, o cantor nos conta o perrengue que foi o dia que recebeu do governo a convocação para ir para a Guerra do Vietnã. Era 1968 e Bruce deu um jeito de ser declarado inapto para servir ao exército dos Estados Unidos. 

No capítulo "O Upstage Club", o jovem Springsteen vê sua família deixar Freehold, em Nova Jérsei, e ir para o outro lado do país, a California. 

O Usptage Club em Asbury seria o local da cena musical da região. Bruce viria a conhecer parceiros da banda Steel Mill, que depois comporiam o núcleo central da E Street Band.

Durante a leitura da autobiografia de Bruce Springsteen, ouvi os álbuns "Greatest Hits" (1995), "Nebraska" (1982), e o disco 1 do "The River" (1980).

Seguimos lendo a conhecendo as diversas culturas da sociedade humana. 

William 


Memorial de Aires - Machado de Assis (5)



Refeição Cultural 

"8 de abril

Papel, amigo papel, não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia. Querendo servir-me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que eu me vá desta vida, sem tempo de te reduzir a cinzas, os que me lerem depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, podem cuidar que te confio cuidados de amor." (p. 28)


Amigas e amigos leitores do blog, sou um fã e admirador de Machado de Assis. Como é gostoso ler textos do mestre! A construção das frases, a ironia dos personagens... tudo é encantador em Machado. 

Este romance é organizado em forma de diário, o diário do Conselheiro Aires, um diplomata aposentado. 

Podemos dizer que Machado esboça através do personagem e do enredo a sociedade da época na qual a história é ambientada, o Brasil de 1888 e 1889.

Além das confissões de Aires para seu diário, que "vazaram" para nós leitores, como vemos na citação acima, preocupado ele que alguém ache que ele está amando, duas passagens me chamaram a atenção:

Uma é pelo cenário que o narrador nos apresenta do dia 13 de maio, achei muito interessante. (Páginas 31 e 32 da minha edição)

Outra passagem delicada, lendo o romance ambientado em 1888, publicado em 1908 e lido em 2024, é sobre a condição das mulheres. A opinião do personagem é machista e misógina e temos que refletir com sabedoria sobre isso.

"Maria Rita, já pela minha carta, já pelas notícias de hoje, correu a ter comigo. Senhoras não deviam escrever cartas; raras dizem tudo e claro; muitas têm a linguagem escassa ou escura..." (p. 34)

Quem está falando para si mesmo de forma honesta e espontânea é um diplomata educado do Império do Brasil de 1888. Percebem?

Como leitor em 2024 de um romance de Machado de Assis de 1908, ambientado em 1888, preciso ter noções sobre essa questão. O que acabamos de ler é em linhas gerais o pensamento de época. 

Seria um exagero e até uma ilação se eu começasse aqui a julgar o autor Machado por aquilo que acabamos de ler. Não tenho como julgá-lo por essa passagem de um de seus romances em relação ao que pensava ou não sobre as mulheres.

É isso. Sigamos lendo o mestre Machado de Assis. 

William 


Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (9)



Refeição Cultural 

"Uma Brainet em mãos erradas também poderia ser usada para induzir bilhões de pessoas a se conformar, a se comportar de forma adequada, de acordo com os padrões estritos de conduta humana impostos pelos Overlords para toda a humanidade. Nenhuma dissidência de nenhuma forma seria tolerada, nem mesmo no pensamento, do nascimento até a morte..." (p. 138)


Terminei a leitura do nono capítulo do romance de Miguel Nicolelis. A ficção científica nos coloca a pensar sobre o futuro da humanidade e do planeta. 

As big techs e suas corporações capitalistas dominaram de forma tão completa a vida dos seres humanos que uma nova espécie estaria surgindo para disputar o mesmo ambiente que nós, Homo sapiens. A espécie Homo digital.

Poderia ocorrer conosco o que teria ocorrido 40 mil anos atrás quando os neandertais perderam a batalha para os Homo sapiens e foram extintos. 

"(...) Eu diria que, já neste momento, membros dessa nova espécie podem estar andando no meio de todos nós, sem que nós tenhamos a menor ideia disso. Talvez esse fenômeno tenha ocorrido também com os neandertais..." (p. 141)

Será que perderemos a batalha da humanidade para os zumbis digitais?

Seguimos na leitura. 

William 


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Operação Cavalo de Tróia (11) - J. J. Benítez



Refeição Cultural 

"Pouco depois, os três irmãos prostraram-se diante do rabi, agradecendo-lhe o que havia feito. Mas Jesus, tomando Lázaro pelas mãos, levantou-o, dizendo: 'Meu filho, o que sucedeu a ti sucederá a todos aqueles que creiam no Evangelho: ressuscitarão sob a forma mais gloriosa. Tu serás o testemunho vivo da verdade que tenho proclamado: eu sou a ressurreição e a vida. Agora vamos tomar o alimento para nossos corpos físicos'." (p. 116)


Benítez conta aos leitores o que está registrado no Diário do Major. São as primeiras horas na Palestina do ano trinta. 

Acabamos de ler o relato da ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus.

Ao final do primeiro dia, 30 de março, Jasão (o Major) aceitou a hospitalidade de Lázaro e pernoitou na casa do ressuscitado. 

"As emoções do dia haviam-me despertado o apetite e, ante o olhar comprazido de meus novos amigos, não tardei em dar boa conta do grão tostado, dos figos secos, das tâmaras, do mel e da terrina de leite de cabra que compunham minha ceia." (p. 122)

Seguimos com a leitura. 

William 


segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Natais - 1980

 


Refeição Cultural 

Uberlândia, 23 de setembro de 2024. Segunda-feira.


As incertezas que tinha em relação ao Natal em família neste ano se confirmaram. Não haverá reunião e Natal em família com nossa presença paulista em Uberlândia. 

Estamos em setembro e a vida segue cada dia mais imprevisível, tanto em relação à vida privada quanto em relação ao mundo "lá fora", no espaço público. 

O termo "lá fora" é um autoengano comum ao acharmos que a vida de uma pessoa se desenvolve normalmente sem sofrer as consequências da vida pública, coletiva, da sociedade humana. 

Tenho registrado impressões e lembranças sobre os natais em nossa família, uma típica família brasileira pobre que atravessou o século vinte tentando sobreviver e se estabelecer socialmente num dos países mais injustos e violentos do mundo, fruto de séculos de invasões europeias, escravidão forçada de africanos e genocídio dos povos originários.

Sou da geração que nasceu nos anos sessenta e setenta, ainda na ditadura, e que foi adolescente nos anos oitenta e noventa. Anos terríveis para o povo trabalhador do ponto de vista do emprego e renda e de muita luta de classe do ponto de vista social e político. 

As incertezas da vida privada são as comuns. A saúde é a principal delas. Nunca sabemos quais de nós estarão vivos amanhã. E as relações humanas, que estão impossíveis, são outras dificuldades na questão das reuniões e confraternizações. 

As incertezas do espaço público, da vida lá fora, estão aumentando. Existe um novo estado fascista invasor de "espaços vitais" como foi no passado a Alemanha nazista de Adolf Hitler: o Estado de Israel, governado por Netanyahu, líder do regime sionista, racista e xenófobo. Os caras querem uma guerra mundial. 

Como se já não fosse injustificável a expulsão e o extermínio dos palestinos na Faixa de Gaza e toda a Palestina, Israel passou a atacar o Sul do Líbano, usando as desculpas de sempre: extermina e expulsa dois milhões de palestinos por causa do Hamas, e agora ataca e mata civis no Líbano por causa do Hezbollah. Só hoje são centenas de mortos, incluindo mulheres e crianças. 

Sem contar a guerra por procuração dos Estados Unidos contra a Rússia, usando o povo ucraniano como bucha de canhão. O decadente império norte-americano quer o fim do mundo se não for para eles serem os donos desse quintal que gira ao redor do sol.

Tempos duros.

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NATAL DE 1980

Como terá sido o nosso Natal em família? Eu não sei ao certo quando fomos embora de São Paulo, provavelmente fomos após o término do ano letivo de 1979, um ano de rupturas, e no ano seguinte estaríamos morando em Uberlândia, o primeiro Natal em MG. 

Minha vida mudaria para sempre. Minha infância em Uberlândia foi o inverso do que era em São Paulo. 

Eu sei que em fevereiro daquele ano, no mundo dos adultos, a classe trabalhadora brasileira fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), um marco na história política do país, ainda sob a ditadura civil-militar. 

Lula, a maior liderança do partido, seria decisivo nas lutas populares por décadas, sendo presidente do Brasil duas vezes (2003 a 2010) e ainda voltaria à presidência no início de 2023, após o período mais nefasto da história política do país, um período sob um golpe de Estado "com o Supremo, com tudo", golpe operado por uma tal operação Lava Jato.

Voltemos a 1980...

Nesse ano, o Papa João Paulo II veio ao Brasil inaugurar a Basílica de N. Sra. Aparecida (SP). 

Em julho, seria lançado o álbum de rock "Back in Black", do AC/DC. Eu tenho o vinil até hoje. É um dos mais vendidos e tocados da história do rock. 

A morte de John Lennon, assassinado no dia 8 de dezembro, foi algo que nunca me esqueci. Eu tinha onze anos e até hoje me lembro de um jornal na TV anunciando o fato e a matéria terminando com um óculos redondo caindo e se estilhaçando ao chão ("The Dream Is Over")... 

No meu histórico escolar em Uberlândia, no leque de Educação Geral, vejo as matérias que fiz na 5ª série na E. E. Hortêncio Diniz: L. Port. (81,5); Mat. (83); Hist. (62); Geog. (77); Ciências (90); Ed. Art. (MB); e umas matérias exóticas: Ed. M. e Cívica (B); Ensino Religioso (MB) e Técn. Agrícolas (Ótimo), no leque de Form. Especial.

Nós morávamos numa casinha de fundo lá na Dona Nenzinha, benzedeira do Marta Helena. 

É isso. A vida é mudança, como a própria natureza é. 

William 


Ainda o cansaço do desrespeito e dos humanos



Refeição Cultural 

Uberlândia, 23 de setembro de 2024. Parque do Sabiá, segunda-feira.


Mesmo depois de salvo e medicado, meu pai arrotava do alto de sua arrogância que eu (o Samu, na verdade) o tirei de casa sem autorização dele. Deve ser o tal do livre-arbítrio e algum dos conceitos de liberdade. Pelos sinais, achei que ele estava infartando e depois se constatou uma pneumonia que derruba uma pessoa de 82 anos.

Vai ver é direito dele morrer no sofá de casa com a família insistindo para levá-lo a um hospital e vai saber se seria algum crime ou ilegalidade levá-lo a força a um hospital. A pessoa que tenta salvar outra pode ser acusada de maltratar idosos.

Num mundo de merda, sem pactos sociais e referências legais, numa anomia como o fascismo do capitalismo nos colocou, um escroto qualquer com dinheiro é inimputável, pode tudo e não tem lei pra ele - ele é a lei -, e o restante das pessoas, a plebe, sofre os rigores discricionários de qualquer guardinha de merda da esquina. Imaginem a discricionariedade (arbitrariedade) de um merda qualquer empossado em uma função de poder de polícia ou de julgamento... no Brasil, discricionariedade é sinônimo de arbitrariedade, que normalmente é uma ilegalidade. 

Enfim, as merdas que ouço e vejo meu pai falar e praticar me fazem ver a vida inteira como num filme acelerado, a vida e o mundo. Talvez todos sejamos como ele, somos unidades de amostras de seres humanos. 

Vai ver a liberdade do meu pai de não aceitar absolutamente nada que alguém fale ou sugira pra ele é a mesma liberdade de humanos encherem suas casas de fuzis e armas de grosso calibre num país de merda chamado Estados Unidos. 

Vai ver é a mesma liberdade de praticar qualquer tipo de mentira com nome em inglês (fake news) ou crimes tipificados em papéis velhos chamados de leis, coisas como assassinatos de reputações, ilações que destroem pessoas físicas e jurídicas, liberdade de acreditar em abstrações chamadas de religiões ou outras ideologias que permitem pais não levarem crianças às escolas ou não salvarem a vida delas por discordarem de transfusões de sangue ou aplicação de vacinas.

O que sei após 55 anos de existência é que o crime ou mal-feito compensam conforme as pessoas que os praticam. 

Vejam um exemplo: uma mulher idosa (alguns idosos não são fáceis) de uma comunidade da qual fiz parte por décadas inventou mentiras contra mim, publicou em redes sociais, e uma década depois ela é chefona na instituição na qual eu trabalhava quando sofri os ataques mentirosos, e ela é chefona com o apoio do grupo político ao qual eu pertencia e defendia quando ela inventou mentiras a meu respeito. O mal-feito compensa!

Estou cansado do desrespeito, dos seres humanos, de gente que acha que pode maltratar pra sempre os outros. 

William 

 

domingo, 22 de setembro de 2024

Cansei de desrespeito, de ser humano



Refeição Cultural 

Uberlândia, 22 de setembro de 2024. Domingo. 


É um desabafo, mas espero que seja uma mudança de atitude, de modo de viver. 

Hoje rompi com alguém que me desrespeitou de forma insuportável nos últimos anos. Chega! Não suporto mais desrespeito. Vá se foder quem me desrespeita de forma constante. 

A pessoa morreu pra mim. 

Devo estar de saco cheio como muita gente está atualmente. 

Ter um pouquinho de noção das coisas e viver num mundo sendo destruído e ver que não há sinais de mudança de tendência nas perspectivas dos acontecimentos, exige da gente alguma explosão ou ruptura com as coisas. Se não fizer algo, não dá pra seguir vivendo. 

Está insuportável viver num mundo injusto. E viver num mundo injusto sendo desrespeitado e gerando no ser uma sensação de ingratidão por parte das pessoas e comunidades às quais fez parte torna a existência mais insuportável ainda.

Explodi de muitas formas na adolescência e primeira vida adulta. Foi uma merda! Fui um merda em muitos sentidos. 

Após os trinta anos, a vida me presenteou com oportunidades de formação política que não havia tido antes. Fui salvo por um movimento sindical com concepções e práticas formativas e libertadoras: o Novo Sindicalismo da CUT. 

(Hoje não seria "salvo" pelos bancários da CUT, não seria. Nem assembleias presenciais fazem mais! Dá a impressão que têm medo de oposição. Acham que serão eternos impedindo vozes dissonantes)

Depois me ensinaram a ter esperanças e lutar e ter pertencimento a algo que dava sentido ao viver: a luta de classes. 

Se o tempo humano não seria suficiente para ver nossos objetivos de classe, por ser o tempo histórico diferente do tempo de uma vida humana, ao menos nos sentíamos parte de um projeto coletivo que dava sentido à nossa vida. Teríamos sido um tijolinho na construção de um novo ser humano e uma nova sociedade. Aprendi isso numa aula do Mauro Iasi, no "Café Filosófico".

Me tiraram todas as ligas que me davam história e pertencimento como um ser humano que havia deixado seu tijolinho na construção de seres humanos e comunidades melhores. 

As pessoas e as instituições pelas quais tinha uma relação de pertencimento, hoje só me causam decepção e descrença no ser humano. E isso tem sido insuportável para mim: pessoas próximas, o nosso sindicato, a Cassi, o governo Lula.

Estou falando nessa reflexão e desabafo, de pessoas e instituições, estou falando de nosso país, da sociedade humana, do planeta no qual vivemos e morremos, de nosso governo, que ajudei a eleger. Estou falando de seres humanos e política. 

Vivemos numa anomia na qual a esquerda faz o papel de defender as normas do sistema (capitalismo neoliberal imperial) que só fodem o planeta e os seres vivos, incluindo humanos. O socialismo saiu do horizonte do Partido dos Trabalhadores. Já ouvi isso numa entrevista do presidente paulista do Partido. 

Não é uma contradição o que disse sobre anomia: as "normas" do sistema neoliberal capitalista - que a esquerda tradicional tem defendido acreditando ser possível "humanizar" - é não ter normas, nem direitos. Pode tudo quem tem o poder da força do dinheiro. Uma anomia para todos nós dos 99%, um mundo sem normas.

É muita coisa. Chega de escrever por enquanto. 

William 


Marília de Dirceu - Tomás Antônio Gonzaga



Refeição Cultural 

"Não vês aquele velho respeitável

          Que à muleta encostado

Apenas mal se move e mal se arrasta?

Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo!

          O tempo arrebatado,

          Que o mesmo bronze gasta.


Enrugaram-se as faces, e perderam

          Seus olhos a viveza;

Voltou-se o seu cabelo em branca neve;

Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo;

          Nem tem uma beleza 

          Das belezas, que teve.

Assim também serei, minha Marília, 

          Daqui a poucos anos, 

Que o ímpio tempo para todos corre:

Os dentes cairão e os meus cabelos. 

          Ah! sentirei os danos

          Que evita só quem morre." (Lira XVIII, Parte 1)


Que lira fantástica!

Ao ler me identifiquei com o eu-lírico e me vi também como o objeto em estudo. Me vi adiante sob o implacável efeito do tempo.

Enquanto passava o dia na estrada, indo de São Paulo a Uberlândia, fiz o download (é de domínio público) do clássico "Marília de Dirceu", publicado em Lisboa em 1792.

O poema é dividido em três partes, sendo a primeira com 33 liras, a segunda com 38 liras e a terceira com 9 liras e 13 sonetos. 

Terminei a primeira parte.

Ao chegar à casa dos pais em Minas Gerais, o tempo do ócio inexistiu. Foram só tensões e doenças na família...

Sigamos na leitura quando possível for.

William 


quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (8)



Refeição Cultural 

Hoje li o capítulo oito ("Um dérbi paulistano como nenhum outro") na estrada, durante a viagem entre São Paulo e Uberlândia.

O capítulo é ambientado no tempo presente do romance, em 2036. O autor caprichou em descrições culturais. A história do Teatro Amazonas foi muito legal. 

"(...) Essa verdadeira ousadia permitiu que os barões da borracha de Manaus conseguissem atrair o imortal tenor italiano Enrico Caruso, oferecendo o maior cache jamais pago até então para um tenor, para despencar no meio de lugar nenhum e se apresentar na estreia da montagem de La Gioconda, a produção que inaugurou o 'Teatro da Selva' - como o Teatro Amazonas ficou conhecido na Europa da época - no dia 7 de janeiro de 1897." (p. 121)

Uma parte bem interessante é quem manda no mundo de 2036: os Overlords, uma união das BigTechs, das BigMoney e das BigOil, formando as Big 3. (p. 124)

Se fosse usar conceitos antigos de escolas literárias, eu brincaria que o romance de Nicolelis seria uma ficção realista. É realista pra caramba!

William 


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Operação Cavalo de Tróia (10) - J. J. Benítez



Refeição Cultural 

"- Isso é o que eles dizem. Os longos anos de dominação estrangeira têm fortalecido a esperança nesse Messias, convertendo-o em um chefe político que libere Israel do jugo romano. Os sacerdotes sabem que o mestre predica outro tipo de 'liberação' e consideram-no um impostor. Isso seria suficiente para acabar com a vida de Jesus. Mas não é tudo..." (p. 107)


Jasão (da Tessalônica), a denominação do Major a partir do momento da saída do módulo e do contato com as pessoas na Palestina do ano 30, está na casa de Lázaro, amigo de Jesus, morto por doença e depois ressuscitado pelo Nazareno.

Os moradores da casa de Lázaro explicam ao estrangeiro Jasão, os receios que têm em relação a segurança e à vida do Mestre. São as primeiras horas do Major na Palestina. 

Amiga e amigo leitor, a releitura desse livro apenas começou. 

William 


Zé Dirceu: memórias (2)



Refeição Cultural 

"Vida nova do ponto de vista individual. Estava fora de meu meio pela terceira vez. Deixei a vida na militância estudantil e na universidade em São Paulo. Deixei meu apartamento e minha família em Minas. Depois a refiz, bem ou mal, no exílio, com novos laços afetivos: a Casa dos 28, o Molipo, a relação forte com Cuba. Voltei aos meses de guerra e risco em São Paulo. Eram perdas muitas e profundas. Precisava buscar energia para recomeçar no Paraná. Em cinco anos, minha vida se transformara, a morte e as perdas pesavam e temia ser tragado pelo abismo." (p. 143)


Amigas e amigos leitores do blog, o livro de memórias de José Dirceu é incrível! Bate de dez em muitos romances ficcionais que já li. Com a vantagem de ser um enredo não ficcional, é a vida de um brasileiro que nos enche de orgulho por ser um dos nossos. 

A partir de meados dos anos setenta, o militante de esquerda Zé Dirceu passaria  a ser o pacato cidadão Carlos Henrique, dono de alfaiataria estabelecido no Paraná, sócio do senhor Bellini, e depois proprietário da loja Magazine do Homem. 

Zé Dirceu só não aceitou mudar de time, seguiu sofredor, corintiano.

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Terminei a leitura do capítulo 10 - "Sim, eu voltei" -, um texto extraordinário de história do Brasil. 

Nos rabiscos que fiz na primeira leitura deste capítulo, em setembro de 2018, eu estava em Uberlândia. Minha irmã estava internada e minha mãe também teria que fazer exames do coração.

Vou amanhã para Uberlândia, visitar meus familiares. A saúde deles merece atenção, minha irmã fez nova cirurgia e meus pais têm seus problemas de saúde. 

Vou lá dar um abraço neles e rever a família. 

William 


O Hamas conta o seu lado da história (2)



Refeição Cultural 

"Aqui, lembramos que o problema judaico, em essência, era um problema europeu, enquanto o ambiente árabe e islâmico foi, ao longo da história, um refúgio seguro para o povo judeu e para outras pessoas de outras crenças e etnias. O ambiente árabe e islâmico foi um exemplo de convivência, interação cultural e liberdades religiosas." (p. 75)


O regime político sionista que governa a região da Palestina como ocupante invasor, denominado hoje Estado de Israel, de Benjamin Netaniahu, segue matando diariamente palestinos e árabes dentro e fora da Palestina de todas as formas conhecidas e ainda inovadoras na forma de matar.

Entre ontem e hoje, centenas de pessoas árabes foram vítimas no Líbano de explosões simultâneas de aparelhos pagers e walkie-talkies de membros do Hezbollah. 

Os atentados foram atribuídos pelas vítimas ao governo de Israel. Morreram mais de 20 pessoas, entre elas crianças, e centenas tiveram ferimentos nas mãos, nos rostos e na região do abdômen. 

Semanas atrás, uma das principais lideranças políticas dos palestinos, Ismail Hanié, foi assassinado no Irã. 

Leio as declarações e versões dos palestinos, através de suas lideranças do Hamas neste livro, como alguém preocupado em ouvir os dois lados do conflito. 

Pergunto a vocês, amigas e amigos leitores do blog, se vocês têm facilidade de acesso ao que dizem os palestinos? Sei que não. Só nos chega a voz do colonizador, do invasor, dos donos do poder hegemônico do mundo ocidental, a voz dos capitalistas imperialistas.

Então, é importante a leitura do lado massacrado deste conflito, a versão dos povos árabes e palestinos.

Informa o Hamas:

1. O Movimento de Residência Islâmica "Hamas" é um movimento palestino de libertação nacional e resistência islâmica. Seu objetivo é libertar a Palestina e confrontar o projeto sionista. Sua referência é o Islã, que determina seus princípios, objetivos e meios. O Hamas rejeita a perseguição a qualquer ser humano ou a subversão de seus direitos, por motivos nacionalistas, religiosos ou sectários. (p.74/75)

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Ler e estudar, ouvir todos os lados e pensamentos, é parte da formação política da cidadania de um mundo democrático. 

William 


segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Frei Betto: una biografía (2)



Refeição Cultural 

"Durante la reunión, Betto conversó largo y tendido con Lula. Días después, a invitación de este último, la conversación continuó en São Bernardo do Campo, y dio por resultado una nueva amistad y una prolongada asociación entre el fraile dominico y el dirigente obrero." (p. 285)


Esse excerto faz parte do capítulo "La República del ABC".

Lula acabaria preso semanas depois do contato com Frei Betto por causa da greve de 1980. O dominicano foi testemunha da prisão arbitrária do sindicalista, pois estava pernoitando em sua casa. 

"(...) En la madrugada del 19 de abril, Betto y Geraldo Siqueira, entonces diputado por el PT de São Paulo, pernoctaban en la casa de Lula y fueron testigos de la detención del dirigente metalúrgico." (p. 285)

O movimento operário estava bem organizado para a greve, com comando de greve descentralizado (425 pessoas) e com apoio da igreja católica. (p. 287)

O livro biográfico de Frei Betto cita o papel vergonhoso de um jornalista atuante até hoje como figura que expôs o dominicano de forma perigosa. Se trata de José Nêumanne Pinto, que fez artigo de página inteira com o título "La policía cambia de táctica y la huelga se apoya en la Iglesia". (p. 286).

Betto respondeu ao jornalista, desmentindo as ilações e informações mentirosas do sujeito. 

"Como era de esperar, al día siguiente Betto respondió en el mismo periódico a las afirmaciones del reportaje. Calificándolo de 'muy infeliz', aclaró que no podía haber participado en el 'episodio Marighella' por encontrarse fuera de São Paulo en ese momento. Señalaba que el episodio de la 'delación' y el asesinato del líder del ALN era una farsa montada y divulgada por la policía. Además, decía que nunca había abandonado el país y que, por tanto, no podía haber regresado a Brasil semiclandestino... Betto negaba también haber intervenido en la campaña salarial de los metalúrgicos del ABC, y concluía: 'Mi presencia es pastoral y de amistad con Lula y su familia'." (p. 288)

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COMENTÁRIO 

A cada dia que passa, mais encantado fico com Frei Betto. Que ser humano extraordinário!

Espero ter a oportunidade de ler muitas de suas obras e ensinamentos. 

Sou um materialista e não acredito em concepções existenciais que imaginem outras possibilidades de vida além da única que temos na Terra. 

Muito menos creio em deuses ou demônios. No entanto, tive fé católica até perto dos trinta anos, foi meu ambiente formativo como pessoa. 

Minha visão de mundo é mais um motivo para estar aberto às ideias de Frei Betto. Eu posso estar errado e ele certo nesta questão existencial. 

Sigamos lendo e estudando e respeitando as opiniões e conhecimentos diferentes dos nossos. 

William 


domingo, 15 de setembro de 2024

Os miseráveis - Victor Hugo (XVII)



Refeição Cultural 

Osasco, 15 de setembro de 2024. Domingo. 


INTRODUÇÃO 

O pequeno Livro VI, contendo dois capítulos, traz uma grande quantidade de informações a respeito dos antecedentes do embate que ocorreu entre Javert e o prefeito Madeleine. 

Os leitores ficam sabendo das suspeitas de Javert em relação ao senhor Madeleine e o que ele fez em relação a isso.

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PRIMEIRA PARTE - FANTINE 

LIVRO VI - JAVERT 

I. Início do repouso

Neste capítulo, vemos o acolhimento que estão dando a Fantine, adoecida dos pulmões. 

O senhor Madeleine está fazendo o que pode por Fantine, após descobrir todo o martírio ao qual ela foi submetida. 

O prefeito está tentando trazer a pequena Cosette para junto de sua mãe, Fantine. 

No entanto, o casal canalha, os Thénardier, entenderam que reter a pequena Cosette é uma forma de obter dinheiro fácil do senhor Madeleine. 

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II. Como Jean pode tornar-se Champ

Capítulo denso. Javert tentou se vingar do prefeito por causa daquela questão de mandar libertar Fantine da prisão. 

Javert entra no escritório do prefeito pedindo a ele que o demita. Disse que o denunciou como um antigo condenado da justiça, um tal Jean Valjean.

"- Eu acreditava nisso. Havia muito eu tinha essas ideias. Alguma semelhança, algumas informações que o senhor mandou pedir em Faverolles, a força que tem nas costas, o caso do velho Fauchelevent, sua perícia em atirar, o jeito que tem de arrastar a perna... que sei eu? Tolices! Mas, enfim, tomava-o por um tal Jean Valjean." (p. 249)

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COMENTÁRIO 

O que mais me chama a atenção no clássico de Victor Hugo é a maneira como o escritor descreve as nuanças da história que está narrando. O cara é bom demais!

É incrível a forma como Hugo coloca Javert justificando ao prefeito por que ele não deve ser perdoado pela autoridade traída, dizendo que ele mesmo, Javert, seria implacável consigo se estivesse na posição do prefeito. 

Amigas leitoras e leitores, vale a pena ler textos como esse!

William 


Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (7)



Refeição Cultural 

"Por volta de 2024, as pessoas começaram a expandir ainda mais o tempo despendido on-line, ignorando a importância fundamental das interações sociais reais, bem como o contato com o mundo natural, ambos fatores essenciais que serviram, por milhões de anos, como forças evolucionárias vitais para moldar o cérebro humano moderno." (p. 107)


O capítulo 7 do livro ficcional Nada mais será como antes (2024), de Miguel Nicolelis, é uma espécie de síntese de seu livro de ciências O verdadeiro criador de tudo (2020), em relação às explicações sobre as possibilidades de uso da capacidade do cérebro humano, usos para o bem e para o mal. 

A leitura em 2021 do livro O verdadeiro criador de tudo foi definitiva para a compreensão e as explicações que tenho hoje a respeito da sociedade humana e do próprio planeta Terra. Me marcou demais a leitura. Me modificou.

As explicações científicas de Miguel Nicolelis sobre o cérebro humano foram para mim o ponto de não retorno a qualquer tipo de ilusão ou explicação mágica para as coisas relativas à organização da vida humana na Terra. 

A mãe com a criança no farol hoje de manhã ao buscar pão; as dores que vão aumentando em meu corpo; os incêndios e destruição do único mundo no qual vivemos; as pessoas capturadas por um mundo digital como marionetes e se perdendo para sempre... tudo isso eu compreendo melhor hoje, após ter claro como funciona a mente de um ser humano. 

O difícil ainda é interpretar intelectuais como Frei Betto, um cristão que crê piamente em outras concepções de existência para além dessa na qual estamos materialmente e fisicamente. E lendo a respeito dele e lendo ele, após tê-lo conhecido em Havana, o admiro mais a cada dia.

Sou um materialista ateu que conhece com propriedade como veem o mundo as pessoas que creem, porque cri por décadas em minha existência. Sigo respeitando muito a fé e visão de mundo de cada pessoa, principalmente aquelas que imagino serem de "boa-fé", de boa índole. 

Sigamos lendo, estudando e tentando compreender o mundo. Já tive capacidade e condições de mudar o mundo. Avalio que hoje essa possibilidade é bem menor. Mas estou por aqui e escrevo o que penso. 

William Mendes 

 

sábado, 14 de setembro de 2024

Operação Cavalo de Tróia (9) - J. J. Benítez



Refeição Cultural 

"30 DE MARÇO, QUINTA-FEIRA 

(...) Às dez horas e quinze minutos o módulo pousou, por fim, sobre o cimo do Monte das Oliveiras..." (p. 90)


Enfim, vencidas dezenas de páginas introdutórias, o leitor e a leitora de Benítez pousam na Palestina do ano trinta de nosso calendário. Vamos viajar no tempo com o astronauta da Operação Cavalo de Tróia.

"Apesar de estar vendo com meus próprios olhos, quão difícil me foi, naquelas primeiras horas, adaptar-me à ideia de que retrocedera no tempo e que o que me cercava era a Palestina do Imperador Tibério!" (p. 99)

Denominações de Jesus de Nazaré à época, segundo o autor, ou segundo o Diário do Major:

"(...) 'O Galileu, de fato, recebia o apelido de tecton - como carpinteiro, construtor ou ferreiro - de acordo com a versão que sobre esse termo dava o escrito rabínico Shabbat, 31a. Também Marcos faz alusão a tecton em 6,3'." (p. 100)

O Major, já entre os habitantes da época, avista Lázaro:

"(...) No jardim, sobre um banco de pedra, à sombra de frondosa figueira, estava sentado um homem. Vestia uma túnica com franjas verticais vermelhas e azuis, de compridas e amplas mangas. Umas três dezenas de homens rodeavam-no, alguns sentados a seus pés. Absortos, aqueles judeus escutavam e contemplavam o homem de corpo enxuto e rosto picado de varíolas. Era Lázaro!" (p. 101/102)

É isso! Começamos a aventura no passado...

William 


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Memorial de Aires - Machado de Assis (4)



Refeição Cultural 

"Diferença de vocações: o casal Aguiar morre por filhos, eu nunca pensei neles, nem lhes sinto a falta, apesar de só. Alguns há que os quiseram, que os tiveram e não souberam guardá-los." (p. 21)


Quem falou acima? O personagem Conselheiro Aires? O escritor por trás do personagem Aires?

Essas são algumas das elucubrações que deliciam os leitores dos grandes autores da literatura universal. 

Machado de Assis e Carolina Augusta não tiveram filhos. Carolina faleceu em 1904 e Machado nunca superou a perda de sua esposa, amiga e cara-metade.

Este romance de 1908 é, na minha leitura, muito autobiográfico. Vejo o autor o tempo todo por trás do intelectual aposentado, o Conselheiro Aires.

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E eu, o leitor do Machado e do Aires?

Bateu uma identificação forte com o Machado de 1908 e com o retirado Conselheiro Aires...

...

William 


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

A Comédia Humana - Honoré de Balzac (3)



Refeição Cultural 

"(...) Teremos a ocasião de mostrar que nem por isso A comédia humana, este grandioso fresco da sociedade da Restauração, ficaria manchada de parcialidade, pois o gênio do autor felizmente sobrepujou as tendências de seu espírito. Mas o homem nunca se libertaria desse deplorável esnobismo que lhe faria buscar as rodas aristocráticas, estragando-lhe a felicidade." (p. 36)


É muito interessante conhecer a biografia de figura tão singular da literatura universal do século XIX.

Paulo Rónai vai aos poucos nos apresentando não só as características do escritor francês Honoré de Balzac, como a sociedade francesa das primeiras décadas do século XIX. 

"As tendências monarquistas de Balzac originadas em seu esnobismo (lembre-se o caso da partícula 'de'!) devem ter sido fortalecidas pela atmosfera geral da época, em que era moda entre os jovens literatos ser favorável à Restauração - da qual precisamente o futuro apóstolo republicano, Victor Hugo, era o poeta oficial -, pelo exemplo de certos amigos e, principalmente, de certas amigas..." (p. 35)

O biógrafo nesta parte que li nos apresenta alguns casos amorosos do jovem Balzac. Dois deles, com mulheres mais velhas que ele. A principal delas, a sra. de Berny - a "Dilecta" -, e também a duquesa de Abrantes.

Por fim, a última curiosidade, Balzac publicou em escala "industrial" romances ruins sob pseudônimos, ele tentava se sustentar através da literatura. 

"(...) é que não punha seu nome em nenhum deles, mas publicava-os sob pseudônimos - Lord R'hoone (anagrama de Honoré), Horace de Saint-Aubin etc. - ou anonimamente. Mais tarde, embora necessidades de dinheiro o tenham forçado a negociar outra vez os direitos dessas obras, não as quis jamais reconhecer expressamente." (p. 31)

É isso! Legal essa preparação para mergulhar em A Comédia Humana

William 


Zé Dirceu: memórias



Refeição Cultural 

"Repito: não foi sem sentido histórico e sem memória que elegemos a resistência armada. Foi sem sentido temporal e sem a compreensão dos erros de 1935 e dos acertos de 1961, esta é a questão. Faltou-nos capacidade para combinar a luta popular, social e política com a resistência e/ou a rebelião popular armada..." (p. 121)


Adquiri o livro de memórias do companheiro Zé Dirceu,  do Partido dos Trabalhadores, logo após o lançamento em 2018. 

Li 200 páginas à época. Mas vivia meu inferno pessoal e pouco me lembro daquele ano em termos culturais e intelectuais. 

Retomei a leitura recentemente, desde o início da obra. E tive a felicidade de estar com Zé Dirceu numa reunião do Partido, momento em que ele me fez a dedicatória no livro.

Não termos o livro de memórias do companheiro Zé Dirceu impresso e disponível para o povo brasileiro seria uma perda insuperável a respeito de nossa história. 

Obrigado, companheiro Zé Dirceu, por nos brindar com sua luta e sua história!

William 


Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (6)



Refeição Cultural 

"(...) Eu gosto de chamá-lo de O Verdadeiro Criador de Tudo, depois de um livro com este título que eu li dezesseis anos atrás..." (p. 81)


Que interessante! (Risos)

E não é que eu li esse livro que o personagem Omar Cicurel contou a Tosca Cohen!

(...) Mas em vez de construirmos essa vila global utópica, nós rapidamente retornamos ao tribalismo primitivo como a forma primordial de organização das nossas sociedades. Na realidade, nós estamos vivendo o maior processo de tribalização de toda a história da humanidade. Nenhum consenso de qualquer sorte é possível hoje em dia, porque existem dezenas ou mesmo centenas de milhões de tribos digitais espalhadas pelo metaverso que não conseguem se comunicar ou compartilhar nada umas com as outras, muito menos concordar sobre qualquer tópico. Isso ocorre porque cada uma dessas tribos digitais é mantida atrelada por uma visão de mundo e uma peculiar definição da realidade que foi transmitida para cada uma das mentes dos seus membros por meio de um novo tipo de infecção viral para o qual não existe vacina." (p. 89/90)

Amigas e amigos leitores, é uma ficção não ficcional... o mundo distópico é agora. 

William