Orfandade - Adélia Prado
Meu Deus,
me dá cinco anos.
Me dá um pé de fedegoso com formiga preta,
me dá um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dá a negrinha Fia pra eu brincar,
me dá uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dá minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande,
ó meu Deus, meu pai,
meu pai.
Vocabulário:
Fedegoso: um tipo de plantinha comum e florida.
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COMENTÁRIO:
Escolhi conhecer hoje a poesia de Adélia Prado. Ela é uma de nossas maiores poetas brasileiras e está com 89 anos.
Ao pesquisar um pouco sobre Adélia Prado, optei por ler seu primeiro livro de poesia, Bagagem, lançado em 1976.
Li os primeiros 15 poemas do livro e gostei muito da poética dela.
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"Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina." (Com licença poética)
Os poemas de Adélia são bem prosaicos, e por isso são poemas para todos nós.
Sorte nossa termos ela para escrever os sentimentos que sentimos.
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"Procuro sol, porque sou bicho de corpo./Sombra terei depois, a mais fria." (Sensorial)
Adélia poetiza a vida, que é breve e boa, e vale ser vivida. Depois, talvez, só a sombra mais fria.
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"Que noite tão clara e quente,
ó vida tão breve e boa!
A cigarra atrela as patas
é no meu coração.
O que ela fica gritando eu não entendo,
sei que é pura esperança." (Módulo de verão)
Com os sentimentos poetizados por Adélia Prado, me lembrei de novo das palavras de Fernanda Montenegro, sobre a vida ser boa, nos dando pena de morrer.
A vida em si é esperança, pois é oportunidade a cada amanhecer.
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"Ara! que eu não nasci pra permanência desta duvidação,
mas só para o ser eu mesmo, o de todo mundo desigual,
afirmador e consequente, Riobaldo, o Tatarana.
Ixi!" (Poema com absorvências no totalmente perplexas de Guimarães Rosa)
Cada um é cada um e isso é uma riqueza tamanha, que ninguém seja igual.
Adélia Prado, adorei te conhecer!
Sigamos na leitura de poesias.
William Mendes
Bibliografia:
PRADO, Adélia. Bagagem [recurso eletrônico]. 1. ed. - Rio de Janeiro: Record, 2021.
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