segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (30) - Poema marciano número dois, Mario Quintana


Van Gogh


Poema marciano número dois - Mario Quintana


Nós, os marcianos,

não sabemos nada de nada,

por isso descobrimos coisas

que

de tão visíveis

vocês poderiam até sentar em cima delas...

Não brinco! Não minto! um dia um de nós (Van Gogh) pintou

uma cadeira vulgar,

uma dessas cadeiras de palha trançada...

Mas, quando a viram na tela, foi aquela espantação:

“uma cadeira!”, exclamaram.

Uma cadeira? Não, a cadeira.

Tudo é singular.

Até as Autoridades sabem disso...

Se não, me explica

por que iriam fazer tanta questão

das tuas impressões digitais?!

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COMENTÁRIO:

Tudo é singular! Assim é o olhar do poeta, singular.

Passei o mês de dezembro descobrindo a singularidade de alguns poetas, algumas poéticas singulares.

Ao ler poemas diariamente, talvez tenha passado os dias mais sensível que o costume.

Como um marciano, que nada sabe, vi e percebi coisas neste mês sensível que ou já via e não percebia ou já sabia e fazia de conta que não sabia.

Vi a falta de consideração, vi a coisa utilitária que sou, vi as coisas como um marciano.

Não quero mais me sentir assim. Mudar é um desejo.

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“uma cadeira!”, exclamaram.
Uma cadeira? Não, a cadeira.
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Vi que sou uma cadeira. E não a cadeira.

Somos todos singulares, por mais que nos julguem cadeiras descartáveis.

É isso! Vou mudar. Quero seguir percebendo o mundo como marciano, mas não posso ser tratado e percebido como os terráqueos autômatos veem tudo.

Não sou uma cadeira.

William

Bibliografia:

QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.


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