terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (24) - Canção excêntrica, Cecília Meireles



Canção excêntrica - Cecília Meireles


Ando à procura de espaço

para o desenho da vida.

Em números me embaraço

e perco sempre a medida.

Se penso encontrar saída,

em vez de abrir um compasso,

projeto-me num abraço

e gero uma despedida.


Se volto sobre o meu passo,

é já distância perdida.


Meu coração, coisa de aço,

começa a achar um cansaço

esta procura de espaço

para o desenho da vida.

Já por exausta e descrida

não me animo a um breve traço:

- saudosa do que não faço,

- do que faço, arrependida.


Vaga música, 1942.

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COMENTÁRIO:

Também "Ando à procura de espaço/para o desenho da vida". E meu coração nem de aço é mais, agora é só um pedaço do aço que já foi um dia. 

Meu coração "começa a achar um cansaço".

Lendo algumas vezes este poema de Cecília Meireles, fui me vendo como o próprio Eu-lírico.

Faz alguns anos a canção da minha vida virou uma canção extravagante, fora da ordem na qual se encontrava; afastada do habitual. Uma "Canção excêntrica".

Meu ritmo entrou em completo descompasso... 

Não desisto, ainda busco o compasso.

"Se volto sobre o meu passo,/é já distância perdida."

Sei que o compasso está no amanhã, não no passado. Mas é tão difícil!!!

Sigamos lendo poesia. Enquanto há vida, há espaço "para o desenho da vida".

William Mendes


Bibliografia:

MEIRELES, Cecília. Poesia completa. Coordenação André Seffrin; apresentação: Alberto da Costa e Silva - 1° ed. - São Paulo: Global, 2017.


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