Llaneza - Jorge Luis Borges
A Haydée Lange
Se abre la verja del jardín
con la docilidad de la página
que una frecuente devoción interroga
y adentro las miradas
no precisan fijarse en los objetos
que ya están cabalmente en la memoria.
Conozco las costumbres y las almas
y ese dialecto de alusiones
que toda agrupación humana va urdiendo.
No necesito hablar
ni mentir privilegios;
bien me conocen quienes aquí me rodean,
bien saben mis congojas y mi flaqueza.
Eso es alcanzar lo más alto,
lo que tal vez nos dará el Cielo:
no admiraciones ni victorias
sino sencillamente ser admitidos
como parte de una Realidad innegable,
como las piedras y los árboles.
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Comentário:
Fiquei dias pensando neste poema de Borges. Na minha interpretação, o poema fala de pertencimento:
"que toda agrupación humana va urdiendo."
Cada verso, cada imagem, vai nos fazendo sentir o acolhimento que eventualmente o leitor ou leitora sinta ao chegar no ambiente ao qual pertence:
"bien me conocen quienes aquí me rodean,"
Por outro lado, se sente também o amargor de não se ver mais pertencente a um ambiente que te compõe "cabalmente en la memoria".
Me lembrei de uma cena de cinema, do filme "Highlander" (1986), do banimento de Connor MacLeod de seu clã sem que nada de errado tivesse feito para merecer a proscrição do mundo ao qual pertencia.
Ao ler o poema "Llaneza", de Borges, senti uma "nostalgia" no sentido espanhol da palavra: "tristeza o pena que se siente al estar lejos de las personas y de los lugares queridos" (Señas, Martins Fontes, 2001)
As reuniões de família na casa da vó Deolinda, da vó Cornélia, da casa de meus pais; o pertencimento ao movimento sindical. As pessoas conheciam a gente, nossos anseios e fraquezas, mas éramos admitidos como parte daquela realidade...
Hoje não tenho mais pertencimento (me falta alcançar o mais alto...).
Nostalgia...
William Mendes
Bibliografia:
BORGES, Jorge Luis. Antología poética 1923-1977. Biblioteca Borges, Alianza Editorial. Madri, 2005.
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