sábado, 7 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (7) - Llaneza, Jorge Luis Borges



Llaneza - Jorge Luis Borges 

           A Haydée Lange


Se abre la verja del jardín

con la docilidad de la página

que una frecuente devoción interroga

y adentro las miradas

no precisan fijarse en los objetos

que ya están cabalmente en la memoria.

Conozco las costumbres y las almas

y ese dialecto de alusiones

que toda agrupación humana va urdiendo.

No necesito hablar

ni mentir privilegios;

bien me conocen quienes aquí me rodean,

bien saben mis congojas y mi flaqueza.

Eso es alcanzar lo más alto,

lo que tal vez nos dará el Cielo:

no admiraciones ni victorias

sino sencillamente ser admitidos

como parte de una Realidad innegable,

como las piedras y los árboles.

---

Comentário:

Fiquei dias pensando neste poema de Borges. Na minha interpretação, o poema fala de pertencimento:

"que toda agrupación humana va urdiendo."

Cada verso, cada imagem, vai nos fazendo sentir o acolhimento que eventualmente o leitor ou leitora sinta ao chegar no ambiente ao qual pertence: 

"bien me conocen quienes aquí me rodean,"

Por outro lado, se sente também o amargor de não se ver mais pertencente a um ambiente que te compõe "cabalmente en la memoria".

Me lembrei de uma cena de cinema, do filme "Highlander" (1986), do banimento de Connor MacLeod de seu clã sem que nada de errado tivesse feito para merecer a proscrição do mundo ao qual pertencia.

Ao ler o poema "Llaneza", de Borges, senti uma "nostalgia" no sentido espanhol da palavra: "tristeza o pena que se siente al estar lejos de las personas y de los lugares queridos" (Señas, Martins Fontes, 2001)

As reuniões de família na casa da vó Deolinda, da vó Cornélia, da casa de meus pais; o pertencimento ao movimento sindical. As pessoas conheciam a gente, nossos anseios e fraquezas, mas éramos admitidos como parte daquela realidade...

Hoje não tenho mais pertencimento (me falta alcançar o mais alto...). 

Nostalgia...

William Mendes 


Bibliografia:

BORGES, Jorge Luis. Antología poética 1923-1977. Biblioteca Borges, Alianza Editorial. Madri, 2005.

Nenhum comentário: