Histeria - T. S. Eliot (1917)
Enquanto ela ria eu me vi sendo envolvido por seu riso e me tornando parte dele, até que seus dentes fossem apenas estrelas fortuitas com talento para ordem-unida. Fui tragado por alentos curtos, inalado a cada momentânea recuperação, fiquei por fim perdido nas cavernas negras de sua garganta, machucado pelo ondular de músculos invisíveis. Um garçom idoso de mãos trêmulas estendia apressado um tecido xadrez branco e rosa sobre a mesa de ferro verde oxidado, dizendo: "Se a senhora e o cavalheiro preferem tomar seu chá no jardim, se a senhora e o cavalheiro preferem tomar seu chá no jardim...". Decidi que se fosse possível deter o balanço de seus seios alguns cacos da tarde poderiam ser recolhidos, e concentrei minha atenção com cuidadosa sutileza para tal fim.
---
COMENTÁRIO:
O poeta está no início do século passado, e seus poemas trazem temas sexuais ou erotizados que podem desconcertar as elites locais.
Na obra Prufrock e outras observações (1917), no poema "Tia Helen", vemos os prazeres da carne sendo explicitados por Eliot.
"E o lacaio sentou sobre a mesa da sala/Tendo a segunda criada no colo -/Ela, tão ciosa quando em vida da patroa."
Em "Histeria" temos a cena de uma mulher com uma boca tão sensual que o Eu-lírico fica alucinado por ela.
E para ampliar a imagem da sensualidade no poema, tem ainda o balanço dos seios...
Em ambos, performam personagens da classe trabalhadora: empregados em residências e garçons nos pequenos restaurantes.
É a vida cotidiana se desenvolvendo na sociedade, sob o olhar atento do poeta, que denuncia as hipocrisias e recalques daquela gente que se faz de "chique" ou "de família" e farsas do tipo.
Sigamos lendo poesia neste mês.
William Mendes
Bibliografia:
ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário