O Albatroz - Baudelaire
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O Poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.
Recriação de Guilherme de Almeida
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Comentário:
Charles Baudelaire é outro clássico que não conheço bem. Esse poema fantástico "O Albatroz" já conhecia por tê-lo visto em sala de aula na USP.
A imagem do albatroz no convés do navio todo desajeitado por não ser ali seu ambiente de glória, os céus, comparado ao poeta que não se sente à vontade fora de seu mundo idealizado é incrível!
Claro que Baudelaire pertenceu a uma escola de arte, a uma época específica, que não representa a totalidade dos poetas.
Para muitos poetas, estar no seio do povo (a corja) seria estar como o albatroz soberano nos céus.
Seguimos lendo poesia neste mês de dezembro.
William Mendes
Bibliografia:
ALMEIDA, Guilherme de. Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire. Introdução de Manuel Bandeira. Carvões de Quirino. Ilustrações de Rodin. Clássicos de Bolso, Ediouro/20349.
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