quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (4) - O Albatroz, Baudelaire



O Albatroz - Baudelaire 


Às vezes, por prazer, os homens de equipagem

Pegam um albatroz, enorme ave marinha, 

Que segue, companheiro indolente de viagem, 

O navio que sobre os abismos caminha.


Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,

Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado, 

Deixa doridamente as grandes e alvas asas

Como remos cair e arrastar-se a seu lado.


Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!

Ave tão bela, como está cômica e feia!

Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo, 

Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!


O Poeta é semelhante ao príncipe da altura

Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;

Exilado no chão, em meio à corja impura,

As asas de gigante impedem-no de andar.


Recriação de Guilherme de Almeida 

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Comentário:

Charles Baudelaire é outro clássico que não conheço bem. Esse poema fantástico "O Albatroz" já conhecia por tê-lo visto em sala de aula na USP.

A imagem do albatroz no convés do navio todo desajeitado por não ser ali seu ambiente de glória, os céus, comparado ao poeta que não se sente à vontade fora de seu mundo idealizado é incrível!

Claro que Baudelaire pertenceu a uma escola de arte, a uma época específica, que não representa a totalidade dos poetas. 

Para muitos poetas, estar no seio do povo (a corja) seria estar como o albatroz soberano nos céus. 

Seguimos lendo poesia neste mês de dezembro. 

William Mendes 


Bibliografia:

ALMEIDA, Guilherme de. Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire. Introdução de Manuel Bandeira. Carvões de Quirino. Ilustrações de Rodin. Clássicos de Bolso, Ediouro/20349.


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