terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Blog Refeitório Cultural - Retrospectiva 2024



(TEXTO EM CONFECÇÃO: ATUALIZADO EM 11/1/25, ÀS 9H20)


O ANO DE 2024

Janeiro

Ao reler as quinze postagens do mês de janeiro, percebi o quanto meu texto se tornou mais denso e maduro após os anos iniciais do blog. Só nesse período de um mês, a revisão e diagramação em word para o formato de caderno deu 70 páginas.

Fiz textos comentando os dois livros que li: um sobre o presidente Lula - "LulaLivre * LulaLivro" (ler aqui)- e o outro a respeito de um clássico da literatura - "As aventuras de Tom Sawyer", do norte-americano Mark Twain (ler aqui). Fiz um texto sobre filmes; dois capítulos da série "Natais"; e até um poema "Oração do ateu".

Desenvolvi temas complexos nos artigos do mês sobre política e as big techs. Alguns temas abordados por mim no mês: documentário com Noam Chomsky a respeito do fim do sonho americano (ler aqui); gestão de saúde e a Cassi; e comentei reportagens das revistas atuais e antigas (2005) de CartaCapital.

Amizades novas: conhecemos uma família de professores muito legais.

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Fevereiro

O mês foi marcado por minha segunda visita a Cuba. Abracei a oportunidade de retornar ao país socialista para ampliar minha experiência e conhecimento adquiridos em 2023, quando participei do 1º de Maio dos cubanos. Desta vez, participei da 32ª Feira Internacional do Livro em Havana.

A viagem foi extraordinária, deu tudo certo novamente. Conciliei os dias do pacote da Feira do Livro, hospedado em hotel, com alguns dias hospedado na Casa de Isabel. Tive oportunidade de conhecer Frei Betto, Conceição Evaristo, Ailton Krenak e Emicida. E conheci a companheira Telma Araújo, uma militante da solidariedade a Cuba, que organiza brigadas e viagens ao país.

As palestras do dominicano me marcaram profundamente. Agora sou leitor de Frei Betto. Viajei horas ao lado de Conceição Evaristo, outro momento marcante de minha viagem. Conversamos a viagem toda.

Um fato importante nas questões pessoais foi a entrega de um imóvel que alugamos por muito tempo por causa da minha transição de trabalho entre Brasília e Osasco. Fiz até um texto da série "Lembranças", o Capítulo 14, com reflexões profundas sobre o tema e também refletindo a vida (ler aqui).

Nas leituras, finalizei a leitura do livro "Pedagogia da autonomia", de Paulo Freire. Foi o terceiro livro que li do educador brasileiro. A postagem a respeito da leitura ficou para depois, li no kindle e não consegui escrever a respeito (fiz texto depois: ler aqui).

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Março

Como disse acima, meus textos de março são densos, com história e política na essência deles. Ao finalizar a revisão do mês, o caderno em word já soma mais de duzentas páginas.

Nos destaques do mês, tivemos os 60 anos do Golpe de 1964, as eleições da Cassi e minha participação como palestrante no planejamento da Unafisco Saúde, em Brasília (DF). 

Os textos sobre Cuba estão muito bons, modéstia à parte. No de número IV (ler aqui) faço uma analogia na forma como Brasil e Cuba tratam suas histórias. Enquanto nosso governo decidiu não falar dos 60 anos do Golpe de 1964, o cubano fala de história todos os dias, e foi assim que o país socialista comemorou os 65 anos da vitória revolucionária em 1959.

Reforcei em artigo (ler aqui) minha tese de que as autoridades brasileiras querem que Bolsonaro fuja para não terem que prendê-lo. Ainda penso o mesmo. Completamos dois anos de impunidade desse sujeito lesa-pátria e genocida. Ele e seus "parças" passaram o ano perambulando por aí, destruindo provas e só no fim do ano um general de merda foi preso com todo o luxo que um general está acostumado.

Não poderia deixar de destacar o artigo que fiz em março sobre a "Cultura do cancelamento" (ler aqui). Tema segue atualíssimo!

Ao reler os textos de março, tive a impressão que estava bastante inspirado naquele mês, os textos têm informações relevantes. 

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Abril

Comecei o mês fazendo um texto avaliativo sobre minha vida ao completar 55 anos. Concluí que minha existência foi de acaso em acaso até chegar onde cheguei. Mas fui esforçado e tentei levar uma vida correta, isso tenho claro. (ler aqui)

Se em março fiz vários artigos complexos, em abril foram os textos da série "Diário" que tiveram profundidade filosófica e política. Um exemplo de reflexão pode ser lida aqui em um texto no qual cito uma conclusão de Nelson Mandela sobre as formas de se enfrentar os inimigos, minha opinião sobre os fascistas atuais.

O mês foi de desafios no quesito saúde, a família em Uberlândia enfrentou doenças. Felizmente superamos e todos estão bem. 

Ajudei meu pai a renovar sua carta de motorista em São Paulo. Contamos com o apoio da família do tio Delcídio. Sou grato por isso.

Li e ou finalizei a leitura de 4 livros: A Faca da Catacumba - Arnaldo Onça (ler aqui), Mulheres são tudo isso e muito mais - Org. Cleusa Slaviero (ler aqui), Canção para ninar menino grande - Conceição Evaristo (ler aqui), O marxismo ainda é útil? - Frei Betto (ler aqui).

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Maio

O mês começou com as consequências trágicas das inundações do Rio Grande do Sul, ocorridas a partir do final de abril. A culpa é dos humanos, não é da natureza.

Fiz uma postagem com frases conceituais tiradas do livro de Paulo Freire Pedagogia da Autonomia - ler aqui. São lições profundas cada uma das frases. Vale a pena reler sempre aquelas ideias-chave.

Eu estava lidando com a questão pessoal da dúvida se deveria editar em forma de livro as minhas memórias sindicais, que escrevi em 39 capítulos no blog A Categoria Bancária. A decisão foi seguir adiante, pois já havia investido recursos na produção do material. Falta a revisão final e a impressão para o ano de 2025.

Comecei no dia 26 uma série de postagens reflexivas a serem feitas diariamente nos cem dias seguintes, pensando um pouco sobre o que fazer de minha vida. Nesta aqui faço uma declaração contundente a respeito da falta de democracia no Brasil. 

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Junho

Na releitura dos textos diários "Cem dias" fiquei impressionado com alguns deles, têm reflexões interessantes. Por mais que sejam pessoais, são avaliações da vida coletiva, principalmente do ponto de vista de alguém que foi dirigente nacional dos bancários por duas décadas.



(texto em produção, não finalizado)


Jornada nas Estrelas (Star Trek) - 1ª Temporada (1966-67)



Refeição Cultural

Após uma vida sem ter conhecido os episódios da clássica série Jornada nas Estrelas (Star Trek) que fez sucesso e marcou o mundo da cultura de ficção científica antes de eu nascer, acabei motivado a conhecer as aventuras da tripulação da USS Enterprise.

Trabalhei com um grande gestor em saúde que é apaixonado pela série Star Trek. Falo de meu amigo Sandro Sedrez, que também é escritor. Fomos funcionários do Banco do Brasil, a "comunidade imaginada" que nos uniu por pertencimento. (Comunidade imaginada é um conceito de Benedict Anderson)

Conheci neste ano de 2024 outras pessoas que adoram a série, os professores Enrique e Marili. Estivemos juntos na Praia Grande por alguns dias em janeiro na Colônia de Férias do Sinpro São Paulo. Entre os diversos intercâmbios de cultura, falamos sobre Star Trek como uma série que marcou gerações de pessoas.

Como disse, nunca assisti Jornada nas Estrelas, sou leigo na questão. Por ter amig@s que falam tão bem da série, e por ela estar disponível em um dos streaming que assino - a Netflix -, decidi ver alguns episódios da primeira versão dos anos sessenta. 

São bem interessantes, ainda mais quando penso como deve ter sido a repercussão dos temas tratados para aquela época.

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PRIMEIRA TEMPORADA (1966-1967)

Pelo que já consegui de informação, a primeira temporada foi exibida entre os anos de 1966 e 1967. 

O que a Netflix apresenta como 1º Episódio "Pilot: The Cave" foi um episódio gravado bem antes, em 1965, e que não foi aprovado à época. Ele foi apresentado bem depois, nos anos oitenta.

O que ficou sendo um segundo "piloto" foi o "Where No Man Has Gone Before", que está como o 4º episódio na Netflix e já com a equipe da USS Enterprise liderada pelo Capitão James T. Kirk. 

Mas na numeração da série Star Trek em outras fontes, o episódio "Onde nenhum homem jamais esteve" seria o 3º em 29 episódios daquela 1ª temporada dos anos sessenta.

Então, em respeito ao local onde assisti e conheci a série clássica Star Trek, vou manter a numeração da Netflix, sabendo que em outras fontes há um episódio a menos na numeração: são 29 episódios da 1ª temporada, sendo 30 na Netflix por incluir o piloto "The Cave" como nº 1.

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EPISÓDIOS DA 1ª TEMPORADA

1. PILOTO: A JAULA ("THE CAVE")

Assisti em 22/3/24

SINOPSE: O Capitão Christopher Pike é preso e submetido a testes por alienígenas que têm o poder de projetar ilusões incrivelmente realistas.

COMENTÁRIO: Durante a Guerra Fria o tema do controle da mente era algo muito falado quando se pensava em temáticas científicas. Queiramos ou não, as big techs acabaram por conseguir parte desse poder no primeiro quarto do século XXI. Poucos humanos donos dessas empresas podem manipular o comportamento de bilhões de seres humanos... (perdemos?)

Neste primeiro episódio, não é o Capitão Kirk que atua ainda. Este piloto não foi aprovado pela produção e só viria a público nos anos oitenta.

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2. O SAL DA TERRA ("THE MAN TRAP")

Assisti em 23/3/24

SINOPSE: A Enterprise chega ao planeta M-113 para procedimentos de rotina e contatos com o casal Crater. O Dr. Leonard McCoy teve um relacionamento antigo com Nancy Crater. Os tripulantes são perseguidos por uma criatura mutante que mata os humanos sugando todo o sal de seus organismos. A criatura é trazida à bordo acidentalmente e o Dr. McCoy terá de tomar uma decisão difícil em relação a ela. 

A partir desse 2º episódio da Netflix (que é considerado o 1º em outras fontes), o capitão da USS Enterprise passa a ser James T. Kirk (William Shatner).

COMENTÁRIO: Como no 1º piloto da série, a ideia de um ser com capacidade de iludir a visão e a mente das pessoas é tema do episódio. Imaginem como essa questão era desejo naquela época! Hoje, os algoritmos dos conglomerados donos de todos os meios (mídias) de comunicação (as big techs) conseguem fazer milhares de pessoas verem coisas que só elas veem e nem adianta querer convencê-las do contrário. (perdemos?)

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3. O ESTRANHO CHARLIE ("CHARLIE X")

Assisti em 24/3/24

SINOPSE: O poderoso vidente adolescente Charlie sobe à bordo. Embora queira agradar, o jovem começa a atacar a tripulação e só será detido se o Capitão Kirk descobrir o segredo de seus poderes.

COMENTÁRIO: O episódio aborda a questão de um jovem que não aprendeu a conviver com a negativa para seus desejos. Um "não" pode ser fatal para a pessoa que o desacatou porque ele tem poderes paranormais muito poderosos. Eu diria que a temática da ficção é a mesma: controle da mente e do desejo das pessoas, só acrescentando o poder de destruir coisas por parte do "vilão" da história.

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4. ONDE NENHUM HOMEM JAMAIS ESTEVE (PILOTO 2: "WHERE NO MAN HAS GONE BEFORE")

Assisti em 26/3/24

SINOPSE: Enquanto Spock e Kirk investigam uma tragédia, um amigo do Capitão Kirk, tripulante na USS Enterprise, adquiri poderes divinos. Para detê-lo, Kirk apela para um plano arriscado.

COMENTÁRIO: A pouca variação no tema de controle da mente das pessoas e poderes paranormais de interferir no mundo físico com o poder telecinético demonstra a fixação da época. Os cientistas já haviam criado bombas com poder de destruição em massa, mas ainda não sabiam como manipular milhões de pessoas. Era um desejo de Estado do período da Guerra Fria. O episódio repete a temática.

A questão das mulheres: nos primeiros episódios, fica evidente a forma como os homens tratam as mulheres de maneira chula, machista e sexista. Não é sem motivo a cultura do estupro ser tão antiga. Pelo que se percebe nos roteiros, as mulheres são coisas, corpos a serem apreciados e talvez abusados pelos homens. Foda isso!

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5. TEMPO DE NUDEZ ("THE NAKED TIME")

Assisti em 28/3/24

SINOPSE: Um vírus faz com que a tripulação da USS Enterprise perca o autocontrole. Por causa disso, Sulu ameaça os colegas com uma espada, enquanto Dr. McCoy corre atrás de um antídoto.

COMENTÁRIO: Primeira variação de tema, desta vez não é um ser consciente que domina o comportamento das pessoas, mas um vírus, que faz a mesma coisa, como as drogas que liberam os sentimentos reprimidos que cada pessoa tem, que tira a máscara social. O episódio é humorado. Veremos também um planeta próximo do fim.

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6. O INIMIGO INTERIOR ("THE ENEMY WITHIN")

Assisti em 11/4/24

SINOPSE: Com defeito, o transportador da USS Enterprise leva à bordo da nave uma versão maligna do Capitão Kirk. Sulu e outros tripulantes estão presos em um planeta congelante e o tempo está correndo para salvar a vida da tripulação em solo.

COMENTÁRIO: Achei o episódio interessante. Ao duplicar o ser que passou pelo transportador - um animal local e o Capitão Kirk - a cópia concentrou as características mais selvagens e agressivas do ser. Com o passar das horas, Spock percebe que o Capitão Kirk original, o bom, está perdendo o poder de liderança e de decisão. A teoria de Spock é que um líder precisa conciliar os dois grupos de caracteres que estão separados nas duas pessoas: os bons e os ruins. Achei uma ideia boa para reflexão.

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7. AS MULHERES DE MUDD ("MUDD'S WOMEN")

Assisti em 17/4/24

SINOPSE: O Capitão Kirk e sua tripulação resgatam Harry Mudd e três mulheres muito bonitas de seu serviço de casamento. Mudd tenta evitar que Kirk o entregue à justiça.

COMENTÁRIO: É o segundo episódio desse primeiro ano de Jornada nas Estrelas que traz no roteiro algum tipo de poção que deixa as pessoas com aparências diferentes das reais. As três "beldades" do episódio são três mulheres lindas, mas cujas personagens são tratadas como mercadorias para comércio por parte do tal Mudd. Um episódio desses hoje pegaria muito mal porque todos os personagens masculinos da tripulação da USS Enterprise se portam como uns idiotas, tarados, homens fora de controle por verem mulheres bonitas. Enfim...

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8. E AS MENINAS, DO QUE SÃO FEITAS? ("WHAT ARE LITTLE GIRLS MADE OF?")

Assisti em 21/4/24

SINOPSE: À procura do noivo da enfermeira Chapel - renomado exobiologista Roger Korby -, no planeta deserto Exo III, o Capitão Kirk e sua equipe correm perigo após descobrirem que as duas pessoas que estão com o cientista são robôs e que Korby pode duplicar pessoas.

COMENTÁRIO: Este episódio abordou temática interessante sobre androides, tema que viria a ser destaque nas décadas seguintes em ficções como o filme "Blade Runner" (1982). Seria possível migrar uma consciência humana para um robô? Robôs podem ter sentimentos? É o que veremos na estória.

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9. MIRI ("MIRI")

Assisti em 25/4/24

SINOPSE: Depois de descobrir o que parece ser uma duplicata do planeta Terra, o Capitão Kirk e seu grupo de desembarque encontram uma população devastada por uma doença, que parece afetar somente adultos.

COMENTÁRIO: Vendo o episódio, fiquei pensando que Star Trek deve ter influenciado muito os roteiros do cinema nos anos posteriores à série. Nesta estória com as crianças, fiquei me lembrando do filme "Mad Max III - Além da Cúpula do Trovão" (1985). Bom roteiro.

SONOPLASTIA

Observação sobre todos os episódios: a sonoplastia é a essência da série. Praticamente todos os efeitos futuristas são feitos simplesmente com sons: o raio das armas, as portas e movimentos das coisas, e o suspense de cada episódio.

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10. O PUNHAL IMAGINÁRIO ("DAGGER OF THE MIND")

Assisti em 07/05/24

SINOPSE: Durante uma missão de abastecimento, um médico louco foge de uma prisão planetária e acaba na USS Enterprise. Ao investigar, o Capitão Kirk sofre uma lavagem cerebral do diretor maníaco da colônia.

COMENTÁRIO: O episódio trabalha o tema do apagamento da memória das pessoas. Para não sair do comum, temos a questão da mulher vista de forma inadequada, como objeto do desejo de algum personagem masculino, no caso o próprio Kirk.

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11. O ARDIL CARBOMITE ("THE CARBOMITE MANEUVER")

Assisti em 20/05/24

SINOPSE: A USS Enterprise é ameaçada por uma nave alienígena gigante, cujo comandante condena a tripulação à morte. A nave inimiga parece superpoderosa e seu comandante recusa qualquer tipo de negociação e contato, forçando Kirk a utilizar uma estratégia pouco ortodoxa para salvar sua nave.

COMENTÁRIO: Spock não consegue achar soluções lógicas do jogo de xadrez na batalha com a espaçonave adversária de Balok que aprisionou a USS Enterprise, mas o Capitão Kirk usa outro estratagema, as técnicas do jogo de pôquer: blefar. Há uma lição moral no episódio: os humanos são de paz e querem resolver os conflitos sem guerra e sem eliminar o inimigo... (seria ótimo se fosse verdade!)

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12. A COLEÇÃO - PARTE 1 ("THE MENAGERIE")

SINOPSE: Spock sequestra a USS Enterprise para levar seu desabilitado antigo capitão, Christopher Pike, para o planeta proibido de Talos IV. Ele então enfrenta uma Corte Marcial onde usa os eventos do episódio "The Cage" para contar a história de como Pike foi prisioneiro no planeta anos antes.

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13. A COLEÇÃO - PARTE 2 ("THE MENAGERIE, PART II")

Assisti ao episódio duplo em 11/06/24

SINOPSE: Spock continua detalhando no tribunal os acontecimentos no planeta Talos IV. Ele se diz testemunha dos poderes mentais de ilusão dos talosianos. O Capitão Kirk percebe que Spock quer retornar Pike para Talos IV, onde poderá viver o restante de sua vida com saúde (ele perdeu todos os movimentos do corpo e está em um aparelho).

COMENTÁRIO: Mais um episódio envolvendo extraterrestres com poderes de ler a mente e iludir os humanos. Era uma obsessão dos humanos à época: manipular a mente das pessoas. Já é possível isso hoje em dia. Os negacionistas acreditam em qualquer maluquice ou informação mentirosa que digam a eles. Chegamos ao futuro.

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14. A CONSCIÊNCIA DO REI ("THE CONSCIENCE OF THE KING") 

Assisti na madrugada de 03/07/24

SINOPSE: (essa e outras são mesclas de informações da Wikipedia e Netflix, com alterações do blog): enquanto visita um velho amigo, o Capitão Kirk suspeita que um ator shakespeariano possa na verdade ser Kodos, assassino procurado por massacre na Colônia de Tarsus IV. Kirk é uma das poucas testemunhas da época que poderiam identificar Kodos. O Capitão convida a companhia de teatro para se apresentar a bordo da USS Enterprise para poder investigar. Porém, tentativas de assassinato começam a ocorrer na nave.

COMENTÁRIO: Episódio bem desenvolvido! Gostei da trama. As ações levam os telespectadores a pensarem numa solução para o caso e ao final surpresas acontecem. Óbvio que não poderia faltar a porção machista insuportável de se colocar mulheres deslumbrantes (neste episódio, a atriz Barbara Anderson no papel de Lenora, filha de Kodos). Repito, a estória foi uma das melhores até agora.

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15. O EQUILÍBRIO DO TERROR ("BALANCE OF TERROR")

Assisti em 18/08/24

SINOPSE: Uma espaçonave romulana destrói bases da Federação, e a USS Enterprise a persegue. Os romulanos têm um dispositivo de camuflagem muito bom. As duas naves entram numa batalha estratégica como num jogo de xadrez. As semelhanças entre os romulanos e os vulcanos acaba provocando preconceito contra Spock.

COMENTÁRIO: O tema da discriminação dos tripulantes em relação a Spock por ter aparência semelhante à dos inimigos foi interessante. Se até hoje o tema é bandeira de luta identitária, imaginem nos anos sessenta, quando até as leis discriminavam as pessoas em países como os EUA e a África do Sul com seu regime de Apartheid.

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16. A LICENÇA ("SHORE LEAVE")

Assisti em 09/09/24

SINOPSE: A tripulação da USS Enterprise vai passar as férias em um belo planeta em tese desabitado no sistema Omicron Delta, mas Sulu e Bones (Dr. McCoy) são atacados por um samurai e um cavaleiro sanguinário. O planeta está sugando a energia da nave.

COMENTÁRIO: Primeiro, tripulantes da nave veem o coelho apressado e a pequena Alice correndo atrás dele. Depois, Don Juan. Um samurai ataca Sulu. Era para ser uns dias de férias para toda a tripulação, mas ao identificar coisas estranhas, o Capitão Kirk interrompe a descida da tripulação. O episódio se desenvolve ao inconfundível efeito das sonoplastias - efeito central na série - e o final surpreende o telespectador. Episódio interessante! 

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17. O PRIMEIRO COMANDO ("THE GALILEO SEVEN")

Assisti em 12/09/24

SINOPSE: Spock e outros tripulantes são atacados por gigantes mortais em um planeta. Spock arrisca a vida de todos por uma chance mínima de resgate.

COMENTÁRIO: Episódio interessante ao abordar o embate entre uma suposta racionalidade sem pitada alguma de emoção - tudo seriam análises probabilísticas -, como seria o caso de Spock, e seu oposto, um cotidiano de decisões humanas normalmente influenciadas por impulsos movidos a paixões e emoções arbitrárias: sentimentos bem típicos dos humanos. (no comando, as decisões que Spock precisa tomar são parecidas com aquelas que socorristas têm que tomar ao escolher quem tem mais perspectivas de salvamento e tempo de vida)

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18. O SENHOR DE GOTHOS ("THE SQUIRE OF GOTHOS")

Assisti em 03/10/24

SINOPSE: Quando um alienígena imaturo e admirador de Napoleão captura a USS Enterprise, o Capitão Kirk oferece a sua vida em troca da liberdade da tripulação.

COMENTÁRIO: Trelane é um excêntrico habitante de um planeta órfão à deriva no espaço. Ele tem poderes incríveis. Ao perceber a proximidade de uma espaçonave, começa a brincar com a tripulação. No final, Kirk sobrevive por interferência dos pais do terrível Trelane, que não passava de um imaturo de uma espécie muito mais poderosa que a dos humanos. Tiveram dó do capitão e sua tripulação: os pais de Trelane disseram que não sabiam que os humanos eram tão frágeis... 

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19. ARENA ("ARENA")

Assisti em 21/12/24

SINOPSE: A USS Enterprise é atacada por alienígenas desconhecidos - os Gorns - enquanto investiga a quase destruição da colônia de Cestus III. Outra raça, os Metrons, captura Kirk e o gorn e obriga que eles lutem entre si para libertar o vencedor e sua nave e destruir o perdedor. Kirk se recusa a lutar nessas condições.

COMENTÁRIO: Episódio interessante. O capitão Kirk está sedento de vingança ao ver que a população de Cestus III foi dizimada pelos Gorns, de forma impiedosa. Como "polícia" do espaço, Kirk está decidido a atacar e eliminar os Gorns para que não cometam mais os atos que cometeram. Spock tentou convencer Kirk a não atacar os Gorns, mas obedeceu ao Capitão. O final traz uma esperança de que num futuro distante, uns mil anos à frente, nós humanos sejamos um pouco menos violentos como espécie que resolve tudo na base da guerra e morte.

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20. AMANHÃ É ONTEM ("TOMORROW IS YESTERDAY")

Assisti em 21/12/24

SINOPSE: Uma estrela negra manda a USS Enterprise de volta à Terra dos anos 60. Antes de voltarem, porém, o Capitão Kirk e a tripulação terão de eliminar todas as evidências de sua visita.

COMENTÁRIO: Achei um dos melhores episódios que vi até o momento. A questão a ser resolvida pelos tripulantes da USS Enterprise foi realmente complexa. Ao serem vistos por uma pessoa dos anos sessenta, e precisar levá-la a bordo, não podiam devolver alguém que soubesse do futuro, pois isso colocaria em risco o próprio futuro. Aí se desenvolve a trama de como fazer para resolver o problema. Muito bom!

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21. CORTE MARCIAL ("COURT MARTIAL")

Assisti em 24/12/24

SINOPSE: Um oficial da USS Enterprise é morto em um acidente estranho, e os registros do computador indicam que o Capitão Kirk é o culpado.

COMENTÁRIO: Um dos melhores episódios da série. Este e o anterior ganharam muito em complexidade e qualidade no enredo. O episódio coloca em debate a questão que seria o futuro da humanidade: o computador erra? Ele é infalível? Pode um homem ser julgado e condenado baseado somente na certeza de uma máquina? E olha que o episódio é anterior ao clássico "2001 - Uma odisseia no espaço", de 1969. Muito bom!

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22. A HORA RUBRA ("RETURN OF THE ARCHONS")

Assisti em 25/12/24

SINOPSE: Ao chegar a um planeta em que uma nave da Frota Espacial desapareceu anos atrás, a tripulação da USS Enterprise descobre um computador tirano que domina o povo.

COMENTÁRIO: Uma sociedade perfeita, que vive em paz e sem conflito. Sem alma. Humanos como autômatos. Neste episódio, Capitão Kirk, Spock e Dr. McCoy tentam enfrentar "Landru", o governo invisível, e libertar o povo. A diversidade ainda é a melhor alternativa para a sociedade, é o que concluo da estória. 

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23. SEMENTE DO ESPAÇO ("SPACE SEED")

Assisti em 26/12/24

SINOPSE: A USS Enterprise encontra uma raça violenta liderada por Khan Noonien Singh, que briga com Kirk pelo controle da nave, colocando um colega de confiança contra a Frota Estelar.

COMENTÁRIO: Episódio tenso. Achei interessante. Sempre que vejo episódios da série, me concentro no fato de saber que foram exibidos nos anos sessenta. Khan é um homem de séculos atrás em relação ao tempo da tripulação da USS Enterprise, dos anos noventa do século XX. Ele é mais forte que os humanos normais porque naquela época, a humanidade estava fazendo eugenia para melhorar a espécie e havia produzido super-homens. Isso deu merda, porque segundo Spock ao se criar homens superiores eles irão querem ser superiores aos demais. A humanidade sucumbiu às guerras e ditadores. Temática bem atual se pensarmos o momento hoje.

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24. UM GOSTO DE ARMAGEDON ("A TASTE OF ARMAGEDDON")

Assisti em 28/12/24

SINOPSE: Ao chegar a um planeta em que a tripulação está condenada à morte, o Capitão Kirk descobre uma guerra virtual em que se comete suicídio para evitar o combate real.

COMENTÁRIO: Um episódio pra lá de interessante! O seriado antecipa em décadas uma possibilidade que viria a ser a realidade no século XXI: um mundo dominado por computadores que simulam a realidade alterando comportamento de populações inteiras. Na estória, dois planetas estabelecem um acordo que já dura 500 anos no qual uma espécie de jogo de batalha naval virtual estabelece que os alvos de um ou de outro planeta foram atingidos e assim, bovinamente, um determinado número de mortos daquele alvo entram em um câmara de desintegração e se suicidam em nome de uma suposta "paz", ou seja, enquanto vão se destruindo alvos virtuais e matando de verdade pessoas em nome desse jogo - 3 milhões de vítimas por ano - se evita uma guerra de verdade nas estruturas dos dois planetas. Uma coisa estúpida, burocrática e que segue por séculos. Bom episódio!

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25. DESTE LADO DO PARAÍSO ("THIS SIDE OF THE PARADISE - FALSCHE PARADIESE")

Assisti em 29/12/24

SINOPSE: A tripulação chega a um planeta em que todos ficam calmos e apaixonados. O Capitão Kirk logo descobre o verdadeiro motivo por trás disso.

COMENTÁRIO: Um planeta inviável para a vida humana e de animais domésticos por causa de um tipo de radiação que mata aos poucos as células. Uma colônia de humanos que vai para esse planeta e de forma inexplicável segue viva. A tripulação da USS Enterprise desce ao local para verificar o que houve e de repente vemos Spock virar um "bicho grilo" apaixonado e sem lógica alguma. Depois a nave inteira fica deserta ao ver a tripulação ir curtir a vida naquele planeta "paz e amor". O segredo era uma planta tóxica que expelia um fungo que alterava o comportamento dos humanos e servia de antídoto aos raios mortais. Episódio doido. Interessante!

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26. O DEMÔNIO DA ESCURIDÃO ("DEVIL IN THE DARK")

Assisti em 30/12/24

SINOPSE: Um monstro mata vários homens em uma mina; Kirk e Spock vão investigar. Spock descobre que a criatura é inteligente e tem um motivo válido para matar.

COMENTÁRIO: Como nos episódios anteriores, a temática foi interessante. Os humanos invadem um planeta para explorar seus minerais colocando em risco uma espécie que vive por lá. Imaginem o que nós humanos fazemos diariamente: destruímos uma Amazônia inteira para uns fdp pegarem um pouco de ouro. A tripulação da USS Enterprise, por ter um ser humano diferente, Spock, que consegue se comunicar com a criatura, consegue firmar uma espécie de acordo, uma convivência entre os colonizadores do planeta e a espécie que lá vive há milhares de anos.

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27. MISSÃO DE MISERICÓRDIA ("ERRAND OF MERCY - KAMPF UM ORGANIA")

Assisti em 30/12/24

SINOPSE: Kirk tenta criar uma base da Federação no planeta dos Organianos. Contudo, quando os Klingons atacam, os Organianos mostram toda a sua evolução.

COMENTÁRIO: O episódio é do final dos anos sessenta, mas a postura imperialista do Capitão Kirk foi a de sempre, os caras se acham donos do mundo, quer dizer, do Universo. A USS Enterprise percebe que um povo guerreiro vai invadir um planeta e decide que os norte-americanos vão intervir e se oferecem para proteger as vítimas, os Organianos (a Federação da série Star Trek é a OTAN da atualidade). Enquanto Kirk insiste com o Conselho dos Organianos para aceitarem a ajuda da Federação, eles dizem que são contra violência e não querem ajuda de ninguém. Episódio muito legal! Ao final, as supostas vítimas são uma raça superior, mais evoluída, e impede os bárbaros da Federação e os Klingons de guerrearem. Kirk faz uma confissão ao Spock, diz que sentiu raiva de perceber que eles não mandam porra nenhuma no Universo, que tem gente bem mais poderosa que eles... (né!!!)

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28. O FATOR ALTERNATIVO ("THE ALTERNATIVE FACTOR - AUF MESSERS SCHNEIDE")

Assisti em 30/12/24

SINOPSE: Kirk conhece Lazarus, um homem que muda constantemente. Lazarus explica que busca constantemente seu eu paralelo no espaço e tempo.

COMENTÁRIO: Episódio fraco e confuso, se pensar os últimos que vi. Quando a estória não ajuda, a gente fica incomodado com as falhas de verossimilhança. Como um sujeito doido, que não pertence à tripulação da USS Enterprise, com crises de doidura, pode ficar perambulando pela nave como o tal Lazarus, que causa curto em painéis de controle, rouba cristais de energia etc. O tema até que era bom, sobre matéria e antimatéria, mas o episódio não foi dos melhores.

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29. A CIDADE À BEIRA DA ETERNIDADE ("THE CITY ON THE EDGE OF FOREVER")

Assisti em 31/12/24

SINOPSE: Bones (McCoy) volta aos anos 30 e, sem querer, destrói o futuro. Para reverter o estrago, Kirk e Spock vão ao passado, e lá, Kirk se apaixona.

COMENTÁRIO: Outro grande episódio envolvendo viagem no tempo. Desta vez, o dilema envolve não interferir no passado na morte de uma pessoa. Esse tema de possibilidade de viagem no tempo foi um sonho dos humanos no auge das descobertas científicas do século vinte. Neste episódio, se uma pessoa não morresse, os EUA teriam adiado a entrada na 2ª GM e Hitler teria vencido a guerra... ou seja, os americanos é que salvaram o mundo... pqp!

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30. OPERAÇÃO: ANIQUILAR ("OPERATION ANNIHILATE - SPOCK AUBER CONTROLLE")

Assisti em 01/01/25

SINOPSE: Alienígenas matam o irmão de Kirk e acabam infectando Spock em outro planeta, mas a tentativa de Bones de curá-lo provoca efeitos colaterais inesperados.

COMENTÁRIO: Um ser que se parece com uma ameba, unicelular, que se apodera das pessoas através de uma dor insuportável que faz a pessoa sucumbir. Em um momento de definição sobre o que fazer para impedir que os organismos tomem outros planetas habitados por humanos - já haviam destruído outras populações -, o Capitão Kirk chega a pensar em eliminar meio milhão de pessoas desse planeta em questão. Felizmente, a última tentativa de eliminar o organismo dá certo...

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AVALIAÇÃO GERAL DA PRIMEIRA TEMPORADA

Ao ver séries do passado nos tempos atuais, é necessário, na minha opinião, um esforço para se colocar ou imaginar como as pessoas daquela época receberam os episódios.

A primeira temporada de Jornada nas Estrelas se deu nos anos sessenta, momento de grandes embates políticos no mundo. Só para lembrarmos algumas questões na pauta dos países e das pessoas: 

- Os jovens revolucionários de Cuba, liderados por Fidel Castro, colocaram para correr o ditador bancado pelos EUA;

- URSS e EUA disputavam corações e mentes no mundo, a tal Guerra Fria entre o socialismo real e o capitalismo; e a Guerra do Vietnã;

- Os jovens do mundo impulsionavam uma revolução cultural com a invenção da pílula anticoncepcional, os shows de Rock and Roll, a luta pelos direitos civis e políticos;

- Os EUA financiavam golpes de Estado e ditaduras sanguinárias em toda a América do Sul e Central;

- URSS e EUA estavam na corrida armamentista e de conquista do espaço. Os soviéticos já haviam mandado para o espaço naves que conseguiram voltar como, por exemplo, a nave Sputnik 2 com a cachorrinha Laika.

- Os EUA investiam pesado na indústria cultural para manipular os desejos e o imaginário dos povos do mundo através do "American Way of Life". Hollywood era parte dessa indústria da narrativa dos norte-americanos.

Enfim, eu imaginei esse cenário ao ver cada episódio de Star Trek. Ao tecer comentários após cada episódio, me lembrei dessas coisas. 

São muito American Way of Life: a forma machista e sexista como se tratava (ainda se trata) as mulheres, a predominância de homens brancos nas posições de poder, a forma arrogante e opressora na qual o Capitão James T. Kirk se apresenta nos episódios etc.

Por outro lado, a série antecipou várias tecnologias que se tornariam realidade no cotidiano das pessoas no mundo. O telefone celular é um exemplo. Transmissões por satélite e instantâneas em qualquer parte do mundo é outro exemplo.

Gostei de ter assistido e conhecido a famosa série Jornada nas Estrelas. Claro que agora vou ver as outras duas temporadas. É inevitável a referência da série quando se fala em ficção científica no mundo do cinema. Vi episódios que anteciparam "2001: Uma odisseia no espaço" e "Blade Runner".

Sigamos conhecendo coisas novas, ainda que as novidades sejam coisas velhas... (rsrs)

William


Livro: Esconderijos do tempo - Mario Quintana



Refeição Cultural

Dezembro de 2024


"Os poemas


Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

no maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti..."


Estou encerrando o ano cultural com a diminuição de minhas lacunas culturais. Consegui ler alguma coisa de grandes autores e autoras dos quais nunca havia lido nada. Nossa capacidade de leitura é sempre aquém do que desejamos, mas é bom conhecer culturas novas.

O poeta Mario Quintana é uma de minhas descobertas neste ano de leituras. Ao decidir ler um pouco de poesia diariamente em dezembro, optei por dar preferência a autores e autoras que ainda não havia lido. Não foi possível fazer isso todos os dias, mas deu certo em conhecer gente nova.

O livro de Quintana é maravilhoso, do início ao fim. É um livro da fase madura do poeta. Agora me falta conhecer suas obras das primeiras fases de sua poética.

Sigamos lendo e conhecendo cultura nova.

William


Livro: Número um - Genésio dos Santos



Refeição Cultural

Dezembro de 2024


"CHOQUE DA CONFRONTAÇÃO

Nestes dias,

o que já se delineava claramente

aos meus olhos

se confirmou:

os que professam

e os professados

são feitos de um mesmo barro

e moldados por um mesmo oleiro,

são queimados em um mesmo forno

e em uma mesma olaria,

se partem com um único choque

e se transformam em areia, em barro moído.

Quando se partem em pedaços,

o mesmo oleiro que antes os moldara

os moldará de novo.


Há que procurar um outro barro

se se pretende um barro forte.

Há que procurar um outro oleiro

se se pretende um jarro de outro molde.

Há que procurar um outro forno

se se pretende um jarro resistente.

Há que procurar uma outra olaria

se se pretende um jarro diferente.


Há que romper

com o antigo barro

com o antigo oleiro

com o antigo forno

com a antiga olaria.


Há que começar,

de novo."


Reli o livro de poesia do amigo e companheiro Genésio dos Santos. Trabalhamos no Banco do Brasil e militamos juntos no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Genésio foi uma grande referência em minha formação política. Militamos na Articulação Sindical na época em que era permitido ter opiniões próprias e divergir até alcançar o "consenso progressivo".

O autor do livro "Número um" é uma dessas pessoas que vale a pena sentar-se para conversar e jogar conversa fora, uma grande figura. Além de ser poeta, o amigo é conhecedor de outras áreas do conhecimento humano. Aprendi muito com ele.

Uma das habilidades que desenvolvi após me tornar representante sindical de milhares de colegas bancários foi a prática de escutar e escrever. Poderia dizer que um pouco dessa longa jornada de produção textual nos blogs que desenvolvo há duas décadas teve um pouco do incentivo do Genésio.

Quando comecei o trabalho de base no Sindicato, Genésio sempre dizia a mim e aos outros companheiros que a gente deveria sempre relatar o trabalho de base, o contato com os trabalhadores nas agências e departamentos. Eu acabei pegando gosto em fazer isso. 

Pouco tempo depois de virar sindicalista, criei o primeiro blog e passei a escrever sobre o mundo do trabalho. Com o tempo, passei a ter uma agenda pública e durante mais de uma década de representação qualquer pessoa de qualquer lugar do país poderia saber o que eu fazia, onde estava, o que pensava e defendia.

Anos depois, quando montaram um lawfare contra mim no mandato que exercia numa autogestão em saúde, lawfare para destruir minha história e reputação, a maior defesa que tive para desfazer todas as mentiras inventadas através de carta anônima foram meus blogs. Os advogados disseram que nunca viram uma agenda tão pública de um dirigente quanto a minha.

Voltando às poesias do Genésio, o poeta tem uma facilidade enorme com as palavras, ritmos, rimas e todas as técnicas sofisticadas dos grandes autores.

Genésio mantem um blog de poesia extraordinário! A disciplina dele em postar todos os dias um poema de algum autor ou autora do mundo inteiro é impressionante!

Vale a pena a visita à página dele: versoeconversa.blogspot.com

O poema que postei na abertura do texto é para o ano que começa daqui a pouco.

Sigamos no Ano Novo lendo, estudando, compartilhando conhecimento e lutando por um mundo menos ignorante, mais justo e solidário, e sustentável. 

Procuro quem luta pelo fim do capitalismo, não é possível seguir na mesmice. HÁ QUE SE TER CONFRONTAÇÃO!

William


Leitura de poesia (31) - A chuva e o choro, Wmofox



A CHUVA E O CHORO - WMOFOX


A chuva chove chuva.
Chuviscos, chiados...
Suave som das gotas.
Gotas úmidas, molhadas.
A chuva chove.

O choro chora choro.
Lágrimas, suspiros...
Leve ardor das gotas.
Gotas úmidas, molhadas.
O choro chora.

O mundo chora.
Meu mundo chora.
Nossa natureza transige.
Somos um só.

A chuva chora.
O choro chove.

Suave som, suspiros...
As gotas de lágrimas.
Lágrimas que choro.

Olhos molhados.
Gotas molhadas.
Que choro.


Wmofox, 13.09.2002

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COMENTÁRIO:

Para fechar o mês de leitura de poesia, acabei fazendo um exercício de reler poemas meus já publicados no blog. São algumas dezenas de poemas nessas quase duas décadas de existência do Refeitório Cultural.

Li os primeiros vinte poemas publicados para escolher um deles. Deu trabalho! Gostei neste momento de uns cinco ou seis com temas sensíveis para escolher um para hoje.

Ler os próprios poemas é muito diferente de ler poemas de outros autores e autoras. Sei o que se passava com o autor e o Eu-lírico em cada um deles. Momentos duros, momentos singulares. 

Como disse no "Poema marciano número dois", de Mario Quintana, que escolhi ontem, "Tudo é singular". Eu também sou. Todos somos.

Durante muito tempo usei o pseudônimo Wmofox em meus poemas. Coisas de criação poética e literária.

Quase escolhi o poema "Comala" (ler aqui) em homenagem ao escritor mexicano Juan Rulfo e o clássico "Pedro Páramo", recém-lançado como filme e que não vi ainda. Li o livro duas vezes e sou apaixonado pela obra.

Também balancei com a leitura do poema "Escalar" porque ele me agrada muito (ler aqui). Quase escolhi ele, mas minha fase da vida é outra.

Escolhi "A chuva e o choro" por achá-lo adequado para o momento do mundo, talvez do autor também. Poderia ter escolhido "A fome do homem" porque também é de temática muito atual (ler aqui).

O genocídio do povo palestino é uma das realidades que mais sofrimento causa ao meu coração. A miséria imposta ao povo cubano pelos EUA é de chorar, é de cortar o coração. A destruição dos biomas, a morte da natureza também me amargura diariamente. Dureza. De chorar!

Enfim, encerro o mês de leitura de poesia. Conheci autoras e autores novos, agucei um pouco minha sensibilidade para imagens poéticas.

Sigamos vivendo e lendo poesia, lendo clássicos da literatura, tentando ser uma pessoa correta, tentando melhorar o mundo do jeito que der. Sigamos.

William

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (30) - Poema marciano número dois, Mario Quintana


Van Gogh


Poema marciano número dois - Mario Quintana


Nós, os marcianos,

não sabemos nada de nada,

por isso descobrimos coisas

que

de tão visíveis

vocês poderiam até sentar em cima delas...

Não brinco! Não minto! um dia um de nós (Van Gogh) pintou

uma cadeira vulgar,

uma dessas cadeiras de palha trançada...

Mas, quando a viram na tela, foi aquela espantação:

“uma cadeira!”, exclamaram.

Uma cadeira? Não, a cadeira.

Tudo é singular.

Até as Autoridades sabem disso...

Se não, me explica

por que iriam fazer tanta questão

das tuas impressões digitais?!

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COMENTÁRIO:

Tudo é singular! Assim é o olhar do poeta, singular.

Passei o mês de dezembro descobrindo a singularidade de alguns poetas, algumas poéticas singulares.

Ao ler poemas diariamente, talvez tenha passado os dias mais sensível que o costume.

Como um marciano, que nada sabe, vi e percebi coisas neste mês sensível que ou já via e não percebia ou já sabia e fazia de conta que não sabia.

Vi a falta de consideração, vi a coisa utilitária que sou, vi as coisas como um marciano.

Não quero mais me sentir assim. Mudar é um desejo.

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“uma cadeira!”, exclamaram.
Uma cadeira? Não, a cadeira.
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Vi que sou uma cadeira. E não a cadeira.

Somos todos singulares, por mais que nos julguem cadeiras descartáveis.

É isso! Vou mudar. Quero seguir percebendo o mundo como marciano, mas não posso ser tratado e percebido como os terráqueos autômatos veem tudo.

Não sou uma cadeira.

William

Bibliografia:

QUINTANA, Mario. Esconderijos do tempo [recurso eletrônico]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.


domingo, 29 de dezembro de 2024

Vendo filmes (XXIV)



Refeição Cultural

Já que a ficção virou realidade, talvez tivéssemos que criar blade runners que caçassem e aposentassem os extremistas ditadores que querem destruir o mundo e a vida humana em benefício próprio


Rever o filme Blade Runner e a ideia de um mundo convivendo com robôs idênticos aos seres humanos, só que mais fortes e passíveis de falhas e desobediência aos seus programas é um entretenimento que mescla ficção e realidade. Então, é inevitável refletirmos sobre o mundo atual.

Estamos há duas décadas, mais ou menos, com uma nova realidade no mundo humano por causa da plataformização da sociedade. Meia dúzia de humanos concentra sozinha um poder de manipular o comportamento de bilhões de pessoas independente das fronteiras dos países. Essa ficção virou a realidade. 

As big techs, corporações que juntam bancos, meios de comunicação e empresas que destroem a natureza, controlam o mundo e o comportamento dos seres humanos. Democracias viraram ficção. Liberdade humana é uma ficção.

Poucos homens podem destruir todas as florestas que restam, todas as terras onde há algum tipo de minério, todos os mares e oceanos que quiserem inviabilizar a vida, e pagam políticos e ideólogos para isso. 

A distopia virou a realidade. Um fdp faz o que quer em um país inteiro; num território como São Paulo no Brasil, por exemplo, um fdp faz o que quer e não pega nada contra ele.

Sei lá. Para o bem do planeta Terra, da diversidade da vida no planeta e para o bem da maioria dos seres humanos, talvez fosse o caso de se criar blade runners que aposentassem esses poucos humanos sem alma e sem consideração com a coletividade do único planeta habitável no universo conhecido até o momento.

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FILMES

Blade Runner - O caçador de androides (1982) - Direção: Ridley Scott. Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Daryl Hannah.

SINOPSE (do DVD): O "Cult Movie" da ficção científica, ficou ainda mais fantástico mostrando uma chocante visão do futuro, realizado pelo consagrado diretor Ridley Scott. Por volta do ano 2000, o planeta Terra está em total decadência. Os poucos habitantes vivem aglomerados em gigantescos arranha-céus. A engenharia genética se tornou uma das maiores indústrias criando os replicantes, criaturas dotadas de extraordinária força e inteligência, praticamente indistinguíveis dos humanos. Nessa nova versão (1991), surpreendentes revelações em torno do romance entre Deckard (Harrison Ford) e Rachel (Sean Young). Qual será a verdadeira origem de o "Caçador de Androides"?

COMENTÁRIO: 

"Vi coisas que vocês jamais imaginariam... e agora tudo se perde, como as lágrimas se perdem na chuva. Agora morro..." 

Ver um filme clássico, de décadas atrás, é diferente de ver os filmes de hoje. Toda vez que vejo filmes antigos fico com essa ideia. O clássico de Ridley Scott é encantador, fisga o telespectador, encanta a gente. Desde a cena inicial daquela Los Angeles futurista, de 2019 (quatro décadas no futuro), até a questão central da história, os robôs replicantes, idênticos aos humanos. E ainda temos a trilha sonora de Vangelis.

No filme, uma corporação (Tyrell) cria e comercializa robôs idênticos a nós para serem utilizados nos piores trabalhos humanos e em exploração espacial. São tão perfeitos que só alguns especialistas conseguem através de jogos de perguntas identificar um replicante. São os caçadores de androides, os blade runners

Depois do projeto de produção dos replicantes ter sido interrompido por uma rebelião dessas máquinas, a ordem é aposentá-los (eufemismo para exterminá-los). Um blade runner aposentado, Deckard (Ford), é convocado para eliminar quatro replicantes que estão na cidade em busca de mais tempo de vida.

O filme do início dos anos oitenta aponta no enredo diversas consequências do que seria a sociedade globalizada e capitalista do futuro: um mundo destruído pelo excesso de produção e consumismo que acabou com a natureza, uma sociedade humana sem moral e sem valores e com uma ciência de ponta usada nesse contexto. Vejam se não é o mundo de 2024.

TEMPO - O tema central da ficção é o tempo, mais tempo. Os robôs são feitos com um tempo de vida determinado. Os nexus-6 têm 4 anos de vida. A temática do tempo restante - o tempo de vida das coisas - é uma grande temática para se refletir. Cada um de nós, em algum momento, terá que lidar com a questão central que move os replicantes: o tempo.

Eu lido com essa temática no dia a dia. Queria mais tempo com saúde. Não seria jovem demais para ter hoje o problema de desgaste no quadril e não poder mais sonhar projetos de corridas e outras atividades físicas? Será que estarei andando daqui a 4 anos? Como faço para pedir mais tempo ao meu criador como fez Roy Batty (Hauer) ao Dr. Tyrrel (Joe Turkel)?

O filme ainda nos traz a reflexão sobre o tempo de utilidade das coisas numa sociedade gerida pela lógica capitalista. Nada é feito para durar, pois se as coisas durarem os capitalistas e seus CEOs não terão o lucro cada vez maior. Dane-se a natureza sendo esgotada. O amanhã não importa.

Filmão! Poderia refletir sobre diversas dimensões que o filme nos abre. Vale a pena ver e rever.

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Blade Runner 2049 (2017) - Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Hampton Fancher e Michael Green. Elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Sean Young, Robin Wright, Sylvia Hoeks, Jared Leto.

SINOPSE (NETFLIX): O conteúdo de um túmulo secreto chama a atenção de um poderoso empresário, que envia o caçador de replicantes K em uma missão para encontrar uma lenda perdida.

COMENTÁRIO: 

Nesta sequência de Blade Runner e os replicantes, a questão da memória foi uma das coisas que mais me chamaram a atenção. K recebe a missão de encontrar e eliminar tudo que se relacione a uma provável reprodução de um replicante por parto. Logo suas memórias começam a associá-lo ao caso. O replicante caçador de androides, K, começa a questionar o que é memória implantada e o que é memória real. O que seria real e o que seria memória criada?

"Os replicantes levam vidas difíceis, criados para fazerem o que não queremos (...), mas posso lhes dar boas memórias, para vocês recordarem e sorrirem..."

Memória - Eu ando impactado pela trágica ameaça a qualquer um de nós por doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson. Recentemente, vi o filme "Ainda estou aqui" e a história de Eunice Braga, que terminou seus dias com Alzheimer, me deixou muito pensativo. Ninguém merece ter uma doença dessas, na qual a essência do que somos vai desaparecendo e vai ficando só um corpo vazio sem nós e aquilo que chamamos de nossa identidade, nossa alma, nosso espírito.

O filme é bom, eu gostei. A questão dos robôs replicantes, máquinas quase idênticas a nós, é um tema permanente de preocupações e reflexões. 

Na sequência da primeira estória, que se passa numa Los Angeles do futuro, em 2019, os replicantes que estão no cotidiano da sociedade humana em 2049 não têm prazo determinado de vida, vivem por tempo indeterminado. A humanidade e a sociedade humana estão uma merda, um mundo quase inabitável, o planeta destruído por nós humanos, uma sociedade humana decadente.

O cenário da ficção de 2049 é o cenário atual, não é mais distopia, agora é o mundo verdadeiro, com trumps e bolsonarios lixos se organizando mundialmente para desgraçar a vida dos bilhões de humanos e da infinidade de seres vivos que habitam esse único planeta em condições de abrigar vida.

As ficções distópicas viraram crônicas do dia a dia de um mundo em falência total.

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É isso! Os dois filmes distópicos me fizeram refletir sobre um monte de questões atuais.

Caso haja interesse em ler mais textos criados a partir de filmes é só clicar aqui para ver o anterior.

William 


Leitura de poesia (29) - O Gosto do Nada, Baudelaire



O Gosto do Nada - Baudelaire


Morno espírito, antigamente afeito à luta,

A Esperança, que te esporeava outrora o ardor

Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor,

Cavalo que tropeça em tudo e em vão reluta.


Dorme, ó meu coração; desiste, ó massa bruta!


Espírito vencido, em ti, velho impostor,

Já não tem gosto o amor, nem o tem a disputa;

Não mais a voz do cobre ou da flauta se escuta!

Deixa esta alma sombria, ó Prazer tentador!


Perdeu a Primavera o seu cheiro de flor.


E o Tempo me devora em marcha resoluta,

Como a ampla neve um corpo rijo de torpor;

Contemplo do alto o globo túmido e incolor,

E nele nem procuro o abrigo de uma gruta!


Vais levar-me, avalancha, em tua queda abrupta?


Recriação de Guilherme de Almeida 

Fonte: Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire (1943)

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COMENTÁRIO:

"A Esperança, que te esporeava outrora o ardor

Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor,"


Nos tempos atuais, nem sei mais dizer se a esperança de amor ainda cavalga em mim... os tempos são de relações utilitárias, utilitaristas. Vai saber quantas pessoas amam só por amar mesmo.

"Dorme, ó meu coração; desiste, ó massa bruta!"

Eu amo só por amar. Tem gente que ama sim, só por amar. Amor qualquer - carnal, filial, contemplativo, de amizade - enfim, tem sim amor por amar. Ainda vejo isso. Não desistamos do amor!

"Perdeu a Primavera o seu cheiro de flor."

Quero crer que ainda temos a primavera e os cheiros diversos das flores, ainda. No entanto, a tendência não é boa, nem para os amores, nem para as flores. As primaveras resistem, os amores ainda existem, mas os riscos são claros.


Neste mês que vai se encerrando, fiz um esforço militante para manter a disciplina que defini a mim mesmo para ter contato diário com a poesia. Nada perdi, só ganhei com isso. 

Sigamos aprendendo coisas novas, pois somos a espécie animal que pode ser educada, como ensina o educador Paulo Freire: só se ensina gente. Sou gente e quero ser ensinado, quero aprender o novo sempre.

William


Bibliografia:

ALMEIDA, Guilherme de. Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire. Introdução de Manuel Bandeira. Carvões de Quirino. Ilustrações de Rodin. Clássicos de Bolso, Ediouro/20349.


sábado, 28 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (28) - Voo rasante, Genésio dos Santos



Voo rasante - Genésio dos Santos


Quisera voar

e nenhum deus me deu asas.

Daí eu não poder cantar 

o voo das gaivotas

nem a cor dos céus.

Daí eu não poder cantar 

o pico das montanhas, 

eu, que nem alpinista sou.


Tudo deve ser tão belo

mas minha visão não alcança. 


Meus olhos só veem

o que se passa aqui no chão

que é onde rastejo.

Meus olhos veem fome.

Meus olhos veem sede.

Meus olhos veem guerra. 


Muitas vezes 

eu passo sobre monturos

e com eles me confundo.

Eu os envolvo,

eles me envolvem

e nós nos deterioramos.


O voo das gaivotas,

a cor dos céus, 

o pico das montanhas, 

ficam cada vez mais longe.


A arte de transpor muros

não é tão fácil. 

Ser poeta o é. 


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COMENTÁRIO:

O

Que

Faço 

Para

Parar

A

Matança 

Do

Povo

Palestino?


Meus olhos veem fome.

Meus olhos veem sede.

Meus olhos veem guerra.


William 


Bibliografia:

SANTOS, Genésio dos. Número um. São Paulo: G. dos Santos, 1978.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (27) - Martín Fierro (VI), José Hernández



El gaucho Martín Fierro - José Hernández


VI

Vamos dentrando recién

a la parte más sentida,

aunque es todita mi vida

de males una cadena:

a cada alma dolorida

le gusta cantar sus penas.


(...)


Dende chiquito gané

la vida con mi trabajo,

y aunque siempre estuve abajo

y no sé lo que es subir,

también el mucho sufrir

suele cansarnos, ¡barajo!


(...)


¡Quién no sentirá lo mesmo

cuando ansí padece tanto!

Puedo asigurar que el llanto

como una mujer largué.

¡Ay mi Dios, si me quedé

más triste que Jueves Santo!


(...)


Los pobrecitos muchachos

entre tantas afliciones

se conchabaron de piones;

¡mas qué iban a trabajar,

si eran como los pichones

sin acabar de emplumar!


(...)


Y la pobre mi mujer

¡Dios sabe cuánto sufrió!

Me dicen que se voló

con no sé qué gavilán,

sin duda a buscar el pan

que no podía darle yo.


(...)


¡Tal vez no te vuelva a ver,

prenda de mi corazón!

Dios te dé su proteción

ya que no me la dió a mí,

y a mis hijos dende aquí

les echo mi bendición.


(...)


Yo he sido manso primero,

y seré gaucho matrero

en mi triste circunstancia,

aunque es mi mal tan projunto;

nací y me he criao en estancia,

pero ya conozco el mundo.


(...)


Aunque muchos cren que el gaucho

tiene un alma de reyuno,

no se encontrará ninguno

que no lo dueblen las penas;

mas no debe aflojar uno

mientras hay sangre en las venas.


Vocabulário:

Reyuno: algo de má qualidade, relés, desprezível; grosseiro.


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COMENTÁRIO:

A história do gaucho Martín Fierro é universal, sendo sul-americana, sendo de um mundo colonial.

Nesta parte da história, Fierro nos conta como viu sua família ser desfeita, no momento em que foi sequestrado pelas autoridades. 

Muitos dos acontecimentos narrados pelo gaucho acontecem diariamente em nosso mundo miserável das periferias do Brasil e dos países ainda com realidades coloniais. 

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"Yo he sido manso primero,

y seré gaucho matrero"

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Quantos de nós não éramos mansos em nossas misérias até nos maltratarem, barbarizarem, nos prenderem e nos transformarem em bichos-feras.

Eu sei disso tudo. Eu sei...

William 


Bibliografia:

HERNÁNDEZ, José. Martín Fierro. - 1a ed. - La Plata: Terramar, 2007.