terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (3) - Prelúdios, T. S. Eliot



Prelúdios - T. S. Eliot (1917)

I

O entardecer de inverno se acomoda, 

Cheiro de bife que entre as casas passa.

Seis da tarde. 

As pontas desses dias de fumaça. 

E agora a chuva repentina inunda

A escória imunda 

Das folhas murchas postas aos teus pés 

E dos jornais do terreno baldio;

A chuva cai mofina

Em persianas rotas, chaminés, 

E preso a um coche logo ali na esquina, 

Ferve um cavalo inquieto no frio.


E logo cada poste se ilumina.

(...)


Tradução:

Caetano W. Galindo

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Comentário:

Eliot é mais uma de minhas lacunas culturais. A lista de autores dos quais nunca li nada é enorme. Confesso com humildade. 

Após ler os primeiros poemas de seu primeiro livro "Prufrock e outras observações", de 1917, escolhi postar a parte I do poema "Prelúdios". É a que mais gostei até agora. 

Seu poema mais famoso é "A terra devastada", de 1922.

Ao ler algumas páginas do excelente "Posfácio" feito por Galindo fiquei perplexo com as curiosidades da vida do autor, que foi um bancário e depois editor.

T. S. Eliot foi contemporâneo a Ezra Pound, Virginia Woolf, James Joyce e outras celebridades do mundo das artes e cultura de sua época. 

Ele ganhou o Nobel de Literatura. Eliot nasceu nos Estados Unidos e desenvolveu boa parte de sua carreira na Inglaterra. 

É isso. Contatei nesses três primeiros dias de leitura de poesia poetas que não havia lido ainda: Jorge Luis Borges, Maiakóvski e T. S. Eliot. 

Vamos ver o que invento para amanhã. 

William Mendes


Bibliografia:

ELIOT, T. S. Poemas. Org. tradução e posfácio Caetano W. Galindo. - 1a ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2018.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (2) - Porto, Maiakóvski



Porto - Maiakóvski (1912)


Lençóis de água sob um ventre pando.

Rasgam-se em ondas contra dentes brancos.

Amor. Lascívia. Como o uivo que escorre 

das chaminés por gargalos de cobre.

No berço-embocadura barcos presos

aos mamilos de madres de ferro.

À orelha surda dos navios agora

rebrilham brincos de âncora. 


Tradução: Haroldo de Campos

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Comentário:

Consegui ler os primeiros poemas de Maiakóvski num silêncio meio raro em casa*.

Li algumas vezes as duas traduções do poema "Noite". Depois li o poema "Manhã".

Ao ler o poema "Porto" compreendi um pouco melhor a poética do autor. O mesmo quando li "Eu".

Maiakóvski brinca com as imagens: orelha de navio com brinco de âncora, barcos presos aos mamilos do porto etc **.

Não são poemas como aqueles que estou acostumado a ler. Legal.

* Além de estar um ambiente silencioso no momento, estou surdo faz uns quatro dias, após um voo com as fossas nasais congestinadas.

** No livro (p. 35), Boris Schnaiderman diz sobre esse poema: "(...) a estranheza aparece sublinhada pelo contraste entre as imagens ousadas e os elementos tradicionais na construção do poema..."

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O desafio de ler poesias neste mês será interessante. Vou experimentar o novo, o diferente, e quando for poeta que conheço, poemas que não tive contato ainda. 

William Mendes 


Bibliografia:

MAIAKÓVSKI, Vladimir. Poemas. Tradução: Boris Schnaiderman, Haroldo de Campos, Augusto de Campos. Ed. especial rev. e ampl. - São Paulo: Perspectiva, 2017.


domingo, 1 de dezembro de 2024

Leitura de poesia (1) - El Sur, Jorge Luis Borges



El Sur - Jorge Luis Borges


Desde uno de tus patios haber mirado

las antiguas estrellas,

desde el banco de sombra haber mirado

esas luces dispersas 

que mi ignorancia no ha aprendido a nombrar

ni a ordenar en constelaciones,

haber sentido el círculo del agua

en el secreto aljibe,

el olor del jazmín y la madreselva,

el silencio del pájaro dormido,

el arco del zaguán, la humedad

- esas cosas, acaso, son el poema.

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Comentário:

Ler este poema de Jorge Luis Borges, tendo voltado esta semana de Ushuaia, na Argentina, me fez pensar no céu que se vê de lá. A foto que ilustra a postagem é um instante do céu de Ushuaia, no Extremo Sul da Argentina.

Pretendo ler poesia neste mês de dezembro, ao menos um poema por dia. Comecei com Borges por ainda estar encantado com a viagem que fizemos à Tierra del Fuego, ou Terra do Fim do Mundo.

El Sur, é lá que estivemos. 

William Mendes


Bibliografia:

BORGES, Jorge Luis. Antología poética 1923-1977. Biblioteca Borges - Alianza Editorial. Publicado originalmente em 1981. Décima reimpresión: 2005.