domingo, 17 de agosto de 2014

Romaria 2014 - Tal pai, tal filho! (vídeo)


Este é o vídeo que registra alguns momentos da caminhada de pai e filho entre a cidade de Uberlândia e Água Suja, em Minas Gerais, realizada entre os dias 14 e 15 de agosto de 2014. Foram momentos de concentração, apoio mútuo, resistência à dor e superação. Completamos o percurso felizes e voltamos diferentes, mais fortalecidos.


sábado, 16 de agosto de 2014

Romaria 2014 – Tal pai, tal filho!



Pai e filho na saída para a caminhada de
75 km entre Uberlândia e Água Suja MG.

A vida é uma infinidade de casualidades e oportunidades surgidas a cada segundo na existência das pessoas. A vida também é uma soma constante entre os eventos planejados e os não planejados. As realizações das pessoas podem ocorrer tanto a partir de acontecimentos planejados quanto dos inesperados.

Eu faço uma caminhada anual de dezenas de quilômetros, há muito tempo. É um momento ímpar de introspecção, teste de resistência e obstinação, e de recarregar a bateria para mais um ano com muita energia para alcançar os objetivos aos quais me proponho. Na nossa dura existência, precisamos ter uma energia de super humano para enfrentar as atribulações do mundo hostil em que vivemos e não desistir de nada.

Semanas atrás, em uma conversa de adolescentes, meus sobrinhos e meu filho trataram entre si que iriam participar da Romaria comigo. Por diversos motivos, meus sobrinhos não puderam ir. Meu filho cismou que já que tinha posto na cabeça que iria, não iria mais mudar de ideia.

Vovô e vovó levam os filhos até o bairro Alvorada.

Eu me peguei num verdadeiro dilema em relação ao respeito pelo livre arbítrio das pessoas, inclusive daquela pessoinha que eu e minha esposa educamos. Durante os dias anteriores à viagem para Minas Gerais, conversamos bastante com nosso filho do quanto era dura a caminhada, em certo sentido perigosa sim - como a mãe afirmava (este ano teve vitima fatal por atropelamento na estrada) e que ele não tinha necessidade de levar adiante o compromisso porque os primos não iriam mais. No fim, tive que conversar com a mamãe dele e decidimos que não era correto proibi-lo de ir comigo nesta caminhada. Eu mesmo a fiz pela primeira vez antes dos 17 anos.

Por fim, chegamos a Uberlândia na noite de quarta-feira 13 (eu vindo de Brasília e meu filho de Osasco SP) para pegar a estrada na quinta-feira 14 rumo a Água Suja, distante 75 km do bairro onde saímos.


A solidão da estrada não foi total, eu tinha meu filho comigo

Eu já havia feito a caminhada com momentos de grande solidão na estrada por sair em horário e dia com poucos romeiros, mas desta vez foi algo totalmente inesperado.

Apesar de fazer a Romaria há décadas, eu não sabia que as pessoas só caminhavam até o penúltimo dia da semana anterior ao dia da festa da santa (15 de agosto). Por coincidência, eu sempre fiz na última sexta anterior ao dia 15. A surpresa desagradável foi que não havia mais barracas de ajuda aos romeiros, não havia mais a multidão de gente que também caminhava, não havia praticamente mais nada.

Imaginem se eu colocaria meu filho numa situação dessas se soubesse de antemão!

Periquitos na estrada.

Pois é, então lá estávamos já caminhando quando "caiu a ficha" da solidão que teríamos pela frente sem ajuda constante de barracas. Por sorte, encontramos ainda a barraca Bethânia e a barraca da Antena, que seria desativada pouco depois do horário que passamos lá. Ainda encontramos algumas boas almas que, de carro, procuravam os últimos romeiros do ano para oferecer uma água, um pãozinho, um café, uma fruta.


A caminhada de 21 horas

Saímos do bairro Alvorada às 13h. Meus pais nos levaram até lá.

A primeira referência do mapa que tenho de distâncias percorridas a partir do Trevo para Araxá é o local chamado Olhos D’água. São cerca de 8,2 Km a partir do bairro Alvorada. Chegamos lá às 14:30h.

A caminhada inteira foi feita com dicas minhas ao meu filho sobre como andar, como pisar e coisas que só romeiros experientes sabem. Eu preparei os pés do meu filho com esparadrapos com o mesmo zelo que preparo os meus. Aprender isso anos atrás equivaleu a separar as romarias entre antes do aprendizado, com bolhas e dores impossíveis, e depois do aprendizado, com os pés que nos levam em boas condições.

Caminhamos até o Rio Araguari (que chamamos de Rio das Velhas). Chegamos bem lá por volta das 16:30h. Meu filho se encantou muito com a paisagem. Durante a caminhada da tarde estivemos sob um sol escaldante e o segredo é o pé resistir sem cozinhar.

Filhão observa a estrada na descida para o Rio Araguari.

Começamos a grande subida para cruzar outros pontos de referência como o Trevo de Miranda (+ 3,7 Km), depois o antigo Posto Triângulo que está desativado (+ 7,8 Km), depois o Trevo para Araguari (+ 3,7 Km), ainda a Aliança Agro-Florestal (+ 3,2 Km) até chegar ao Posto N. Sra. Da Guia (+ 2,8 Km). Em anos anteriores, eu calculava de caminhar do Rio das Velhas até o Posto Triângulo porque era uma esticada de 11,5 Km.

Meu filho curtiu muito o entardecer e a entrada da noite na estrada. Escureceu pouco depois das seis e dez.

Mário Augusto sobre o Rio Araguari.

Descobrimos que não haveria barracas de ajuda até a Antena e nem depois dela, quando paramos na barraca Bethânia, antes do Rio das Velhas. A surpresa e o alerta foram importantes para nós porque passamos a administrar a água e o alimento que levamos para alguma emergência.

Fizemos uma longa caminhada passando direto pela referência do antigo Posto Triângulo. Como estávamos com fome, paramos num local na estrada que tinha uma iluminação (uma escola) e comemos. Ali encontramos a irmã de um dos poucos romeiros que havia na estrada. A senhora estava dando assistência para o irmão (enquanto ele andava, ela ia de carro de tantos em tantos quilômetros acompanhando ele).

Pai e filho no posto N. Sra. da Guia
depois de andar umas 8 horas.

Bem, andamos direto até o Posto N. Sra. Da Guia. Chegamos às 21:30h. Nossos pés estavam em ordem. Achamos até uns rapazes dando um caldo quente e pão aos romeiros remanescentes como nós. Percurso realizado: 37,5 Km.


A longa caminhada até a Antena

Expliquei ao meu filho que teríamos que fazer uma longa caminhada de umas 3 horas até a Antena, onde estava a única barraca remanescente e torcer para ela estar funcionando porque depois dela seria só a cidade de Água Suja.

Meu filho ligou o seu som no celular e eu não comentei com ele minha decisão, mas preferi não ligar o meu naquele momento para me concentrar totalmente nele. Também nos agasalhamos e pegamos a estrada.

A lua apareceu às 22:20h. Esta quinta-feira 14 foi final de lua cheia, mas a dona Lua foi uma graça para nós. Após as 23h nosso chão de estrada ficou mais claro e a sensação melhorou bastante para caminhar na solidão da noite.

Tomando uma sopa na barraca da Antena
depois da 1 hora da manhã.

Meu filho estava super bem e não sofreu tanto quanto os romeiros tradicionalmente sofrem para chegar à famosa Antena, “o ponto que separa os meninos dos homens” como dizem. Chegamos à 1h da manhã. Estava aberta e tinha algumas pessoas lá, umas dormindo na palha de arroz e algumas (menos de 10) tomando uma sopa ou descansando.

Ficamos mais de meia hora lá. Eu deitei uns 20 minutos na palha porque estava com muito sono. Meu filho fez massagem no seu pé esquerdo porque estava com dores. Andamos 48,5 Km.

Apesar da dor muscular no pé e perna esquerda (meu filho pode até ter titubeado, mas deu o ok) seguimos adiante para outra longa esticada de mais 12,5 Km até amanhecer.


Caminhada madrugada adentro: frio, dor e sono

Chegamos ao Posto BR, que eu conhecia como Posto Santa Fé, às 5:10h. Emocionante! Passamos muito frio na madrugada. Eu tive muito sono e ânsia de vômito por forçar o corpo com sono e meu filho tinha muita dor na perna esquerda. Cheguei a ouvir um pouco de música, mas preferi desligar para acompanhar os gemidos e reclamos de meu filho e estimulá-lo a resistir até a chegada.

Chegamos ao Atalho. Grande jovem esse Mário Augusto.

Já teve ano que eu andei delirando noite afora na estrada. Este ano eu tive a companhia de meu filho. Eu o estimulei a seguir firme até a próxima parada e falei o quanto ele estava indo bem. Ele chegou a me puxar algumas vezes quando eu andava sonâmbulo pelo acostamento dormindo andando.

Felizmente o posto estava funcionando e tomamos até um cafezinho com pão de queijo e misto quente. Cochilamos uns 20 minutos para as etapas finais. Saímos do posto às 6h. Meu filho entendeu que ele tinha que terminar porque não tinha como voltar. Andamos até ali 61 Km. Agora era andar até o Atalho, mais 6 Km.


A emoção da chegada

A última etapa da Romaria é feita muito mais com a cabeça do que com os pés. É um momento de superação, de persistência e resistência à dor.

Este ano, a caminhada foi muito diferente para mim. Eu me concentrei tanto no que tinha que fazer ao sair da casa de meus pais com o nosso bem mais precioso, nosso filho, que eu não tive sequer preocupação com o meu corpo. Ainda quando percebi que a experiência seria mais difícil porque não havia as ajudas comuns, foquei completamente em meu filho a ida e a chegada.

O Mário Augusto se mostrou um jovem muito especial. Que coisa encantadora! Reclamou da dor como um fato real e normal, mas seguiu resistindo a ela como alguém especial. Eu conheço muito sobre romeiros. E digo a qualquer pessoa que o comportamento de meu filho foi surpreendente. Ele reclamou que estava difícil, mas foi reclamação leve. Reclamava e andava. Quanta gente desiste e fica pelo caminho... o grande jovem chegou.

Mário Augusto, vitorioso em sua caminhada.
Parabéns meu filho, você é uma pessoa especial!

Saímos andando bem lentamente do Posto BR e chegamos ao Atalho às 8:20h. Paramos uns 10 minutos e seguimos para andar até chegar à cidade de Água Suja.

Meu filho pediu que batesse uma foto dele assim que chegássemos com aquele tradicional gesto de vitória. Lindo!

Chegamos às 10h da manhã de 15 de agosto de 2014. Como era o dia da festa da Santa, foi impossível entrar na igreja. Havia milhares e milhares de pessoas em filas em caracol para entrar nela. Deve ser por isso que os romeiros não vão no dia anterior à festa.

Foram 21 horas de estrada deserta. Chegamos inteiros, felizes, realizados. Acredito que chegamos diferentes. Mais fortes em todos os sentidos.


Algumas lições e sensações finais

- As próximas romarias serão sempre na sexta-feira anterior à festa da Santa porque a estrada está cheia e tem muitas ajudas no caminho. Este fato foi uma casualidade para mim que se transformou num grande problema porque eu tinha a tiracolo meu bem mais precioso, o filho, e o risco foi muito maior desta vez.

Pai e filho, dois caminhantes decididos. Romaria 2014.

- Nunca na minha vida teria imaginado fazer uma caminhada dessas com meu filho. Ainda mais partindo de um desejo dele. Quando meu filho era pequeno, eu sonhava em vê-lo jovem logo para poder conversar com ele, era o desejo inverso da mãe que queria o filho sempre pequeno para o aconchego. Ele se tornou jovem e a conversa com os jovens é rara e difícil. Não é que da forma mais improvável passamos um dia todo nos ajudando e conversando sobre tudo na vida? Foi demais! É de encher os olhos d’água! Muito legal. Obrigado meu filho por sua companhia nesta caminhada!

- Neste momento em que escrevo, meu filho está na sala com o primo assistindo ao filme Na natureza selvagem. Este filme nos marcou muito, tanto a mim quanto ao meu filho e às pessoas que o assistiram. No filme, o jovem Chris McCandles descobre de maneira trágica algo sobre a felicidade: ele diz “Happiness only real when shared” (a verdadeira felicidade é aquela compartilhada). Esta caminhada foi diferente para mim e acredito que para meu filho. Nossa experiência de dor, resistência, superação e alegria na chegada ao objetivo foi compartilhada.

- Por falar em natureza selvagem, meu filho e eu pudemos perceber o quanto é prejudicial o avanço das áreas urbanas sobre as regiões que dividiam cidades e onde os animais tinham mais chances de sobrevivência. Além dos diversos cachorros mortos na beira da estrada, vimos animais mortos que nos surpreenderam: gavião, coruja, capivara, um guaxinim. Para não dizer que não falei das flores, vimos muitos ipês amarelos e outras flores.

Ipês amarelos, muitos ipês amarelos no caminho...

- A lição de conviver com a perda também fez parte dessa experiência. Meu filho foi fazendo suas fotos e seus vídeos. Era o seu registro dessa aventura marcante. Tanto ele quanto eu baixamos a guarda na atenção somente no ônibus da volta de Romaria para Uberlândia, porque estávamos cansados, sem dormir a mais de 30 horas. Nesse instante, a atenção baixou. Meu filho perdeu o celular dele no ônibus, quando viemos prostrados. Fiz o possível para recuperá-lo pelo valor pessoal das gravações que o jovem romeiro fez. A alma infeliz que o encontrou não quis devolvê-lo ao dono. Foi uma perda pessoal para meu filho. Mas a vida segue. O mundo é hostil. Essas lições de perdas fazem parte da existência.

- Eu passei este ano por momentos muito duros. Momentos que me fizeram sofrer muito. Não entro em detalhes aqui, mas digo que renasci. Estou firme, forte, focado, não permiti que o ódio me dominasse, estou trabalhando com intensidade para alcançar os objetivos que tenho em meus compromissos profissionais, militantes e de cidadão. Sigo forte e com meus princípios intactos.

- Não poderia deixar de comentar um momento inesquecível de meu dia de estrada com meu filho: os dois cantando a música “Society” do Eddie Vedder, do filme Na natureza Selvagem. Momento único em nossas vidas.

Essa é das antigas - pais e filhos em 2005.

- Vendo meu pai, os problemas que ele tem, e a postura dele no lidar com a vida, não tem como não refletir que algumas coisas nós herdamos de pai pra filho, seja por genética, seja por cultura. Vendo meu pai e meu filho, sigo pensando nisso: tal pai, tal filho!

Assim seja!

William

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Nelson Mandela, uma referência como líder democrático e pacifista



Minha esposa acerta na mosca ao
me presentear com este livro. Ela sabe
 o que tenho vivido este ano na política.

Ganhei um belo presente de dia dos pais de minha esposa e meu filho. A autobiografia de Nelson Mandela - Longa caminhada até a liberdade.

Minha vida atual não me concede o tempo que eu gostaria para ler. Atualmente só leio sobre saúde, gestão em saúde, estatutos, convênios, súmulas, súmulas, súmulas... Mas a gente é insistente. Li algumas páginas de meu presente nos voos por aí.

Estou hoje em Uberlândia (MG). Estou de abono no trabalho hoje e amanhã. Trabalhamos muito internamente nesta semana. Diferente das anteriores, quando viajei a várias cidades trabalhando, esta semana foi intensa e de trabalho e produção intelectual na sede da Cassi em Brasília.

Bom, esta postagem sobre Mandela é para citar um trecho onde o grande líder diz como aprendeu a respeitar a democracia, a ouvir, a construir consensos, na infância em sua aldeia e com os líderes que foram referência para ele. 

Estou vivendo neste ano, um ano de grandes desafios de resistência, de superação, envolto em grandes conflitos, em ódios, mas estou muito focado em ter um papel de liderança porque nossos projetos de trabalhadores precisam de unidade e conquistas.

Tenho me inspirado em líderes como Lula da Silva e Nelson Mandela. Vamos ao trecho que gostei e depois vou pegar a estrada para minha romaria de 75 km.


Nelson Mandela, Parte 1 - Uma infância no interior

"Todos os que desejassem falar o faziam. Era a democracia em sua forma mais pura. Podia haver uma hierarquia de importância entre os oradores, mas todos eram ouvidos, chefe e súdito, guerreiro e curandeiros, comerciante e agricultor, proprietário e trabalhador. As pessoas falavam sem serem interrompidas e as reuniões duravam muitas horas. O fundamento da auto governança era que todos os homens eram livres para expressar suas opiniões e eram iguais em seu valor como cidadãos. (As mulheres, infelizmente, eram consideradas cidadãs de segunda categoria).

Um grande banquete era servido durante o dia, e eu frequentemente ficava com dor de barriga de tanto comer enquanto escutava discurso após discurso. Notei como alguns dos oradores ficavam divagando e nunca pareciam chegar ao assunto. Percebi como outros iam ao assunto em questão, diretamente, e que faziam conjuntos de argumentações sucintas e irrefutáveis. Observei como alguns oradores usavam emoção e linguagem dramáticas, e tentavam comover a audiência com tais técnicas enquanto outros oradores eram sóbrios e equilibrados, até mesmo afastando-se das emoções.

No início, eu fiquei surpreso com a veemência - e franqueza - com a qual as pessoas criticavam o regente. Ele não estava acima das críticas, na verdade ele era quase sempre o principal alvo delas. Mas não importando o quão flagrante era a acusação, o regente simplesmente escutava, não se defendia, sem mostrar emoção alguma.

As reuniões continuavam até que alguma espécie de consenso fosse atingida. Ou elas terminavam em unanimidade, ou não terminavam. Unanimidade, no entanto, podia ser uma concordância em discordar, esperar por um momento mais propício para propor uma solução. Democracia significava que todos os homens deviam ser ouvidos, e uma decisão era tomada juntamente como um só povo. A regra da maioria era uma noção estranha a nós. Uma minoria não devia ser esmagada por uma maioria.

Apenas no final da reunião, quando o sol se punha, o regente falava. Sua intenção era resumir o que havia sido dito e formar um consenso entre as diversas opiniões. Mas nenhuma conclusão era imposta para as pessoas que discordassem. Se um acordo não pudesse ser atingido, outra reunião aconteceria. Bem no final do conselho, um cantor ou um poeta faria um panegírico aos reis antigos, assim como uma mistura de cumprimentos para a sátira sobre os chefes tribais atuais, e a audiência, liderada pelo regente, caía na gargalhada.

Como líder, eu sempre segui os princípios que me foram demonstrados pelo regente no Grande Local. Sempre procurei ouvir o que todas as pessoas, em uma discussão, tinham a dizer antes de dar a minha opinião. Muitas vezes, a minha opinião simplesmente expressava um consenso do que ouvi na discussão. Eu sempre me lembro do axioma do regente: um líder, ele falou, é como um pastor. Ele fica atrás do rebanho, deixando os mais ágeis seguirem adiante, e então os outros seguem, não compreendendo que durante todo o tempo estavam sendo guiados por trás..." (pág. 25-27)


COMENTÁRIO

Achei esse trecho maravilhoso!

A minha história política mais recente, desde que aprendi a ser dirigente e representante dos trabalhadores, tem muito do conteúdo dessas frases citadas na infância formativa de Mandela: ouvir as pessoas, construir consensos, não esmagar minorias...

Minha nossa! Onde estão estas atitudes nos dias que correm entre nós da militância? Não sei!

Mas eu não esmoreço! Sigo fazendo a política do jeito que aprendi.

Abraços e vamos para a estrada refletir muito andando umas vinte e tantas horas...

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Nelson Mandela - Longa caminhada até a liberdade. Editora Nossa Cultura. 3ª Edição.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O amor ao meu pai me faz sentir a sua dor



Meu pai querido. Te amo!

Neste domingo (10), dia dos pais, liguei para o meu paizinho e conversamos um pouco, com direito a nos vermos na tela. Disse de meu amor por ele e o quanto eu gostaria de ajudá-lo a resolver seus problemas de saúde, que tanto lhe aborrecem e lhe causam dor.

A saúde de meu pai é um drama que vivemos juntos há muito tempo. Mas a dor física quem sente é ele, apesar de sentirmos juntos a dor que ele sente.

Meus pais nunca tiveram um plano de saúde. Sempre tiveram que se virar no Sistema Único de Saúde. Por diversas vezes nesta vida, foi um drama complicado conseguir atendimento para uma emergência deles, principalmente lá em Uberlândia, onde residem.

Eu acabei virando bancário do Banco do Brasil em 1992 e perante a minha família, passei a ser quase um "privilegiado" por ter um plano de saúde. Nunca alguém me disse isso. Mas sempre me senti mal por isso. Sempre evitei ir ao médico através de convênio porque meus pais não tinham como ter acesso ao mesmo direito. Em décadas de vida, foram dezenas as vezes que estive doente e fiquei em casa até sarar sozinho.

Hoje sou diretor eleito da entidade de saúde de nossos trabalhadores do Banco do Brasil. Começamos faz poucas semanas a participar da gestão.

Ao conversar com meu paizinho neste domingo, falei a ele que eles terão um plano de saúde agora. Vou incluí-los no plano conforme as possibilidades vigentes me permitem para parentes até 3º grau.

Meu paizinho, do alto de sua grande sabedoria de vida (apesar da pouca educação formal) me disse uma verdade impressionante! Ele intuiu que por mais que eu vá incluí-lo num plano, há carências a cumprir nele, e que eu e as demais pessoas da gestão estamos buscando formas de melhorar para o próximo período a entidade de saúde que gerimos, mas que ele sabe que mudanças são de médio e longo prazo.

E... disse que os problemas de saúde na área que lidamos têm dificuldades a serem superadas assim como a saúde pública que está aí.

Por fim, me disse que a dor crônica que ele sente há meses, 24 horas por dia, precisaria ser extirpada agora, ele não tem esse amanhã lá na frente, porque estamos planejando para melhorar e perpetuar nossa entidade por décadas adiante.

Meu pai sente dores hoje. Eu não posso tirar as dores de meu pai. Essa realidade nos dá uma sensação de impotência dolorosa. Nos dá também um senso de humildade e de importância na busca de soluções no agora.

Desejei-lhe forças e disse o quanto eu o amo e o quanto ele é importante pra mim e uma referência de vida.

Obrigado por você estar aqui entre nós meu paizinho, mesmo com seus problemas de saúde. Eu, o senhor e nossa família sabemos que você e a mãe fazem o possível para estarem vivos e alimentarem meu coração pra juntos seguirmos lutando, nós todos, todos nós.

Um beijo meu pai querido.

William Mendes

domingo, 3 de agosto de 2014

Reflexões sobre liberdade, esperança nos humanos e foco na tolerância



Mandela aprende com um companheiro mostrando a mão aberta
 e depois fechada (estava revoltado com a injustiça contra
 os negros): cada dedo era um e juntos eram todos - fortes!


Refeição Cultural


O que tenho de refeição cultural neste fim de semana? O que vi, li e fiz em meu descanso em casa em Osasco após duas semanas de trabalho ininterrupto?




Filme – Mandela, o caminho para a liberdade

"Mandela, você não pode combater a injustiça sozinho. Cada um de nós é pequeno demais para fazer algo. (mostra a mão fechada com os dedos unidos) Juntos, nós temos o poder!"


Assisti ao filme baseado na autobiografia do grande líder sul-africano Nelson Mandela. A história do povo negro sul-africano pelo fim da política do Apartheid é um exemplo de luta pela igualdade e pelos direitos civis, políticos e sociais dos povos do mundo.

Me chamou a atenção no filme a questão da divisão interna entre os sul-africanos negros sobre a forma de buscar a solução contra a discriminação e falta de direitos em relação à população sul-africana branca.

Após décadas preso, Mandela se vê numa encruzilhada. O país está à beira da guerra civil com mortes e assassinatos e os sul-africanos negros, vítimas por décadas das violências do Apartheid, querem a vingança em sangue e extermínio dos brancos.

Mandela diz nas discussões políticas que apesar de seu povo querer a guerra e o sangue dos brancos, o papel das lideranças é liderar e para buscar a paz no país é preciso que as vítimas do Apartheid perdoem o que fizeram com eles. Em troca, os direitos políticos e civis serão conquistados e os dois lados, brancos e negros, precisarão aprender a conviverem juntos como povos sul-africanos.

A história de vida e de luta de Nelson Mandela mais que nunca é um exemplo e uma referência para mim que passei por grandes momentos de ódio em minha vida, misérias e violências e humilhações como usa acontecer com a classe trabalhadora.


A solução, a luz, está em nossas mãos.

Leituras – A era da empatia, de Frans de Waal

Após duas semanas ininterruptas e intensas de trabalho e militância política, cheguei para o descanso no fim de semana precisando ler algo que me desse um norte, uma certeza de que a melhor opção para construir boas políticas para a classe trabalhadora é "engolindo sapo" às vezes por algumas pequenezas feitas contra a gente para utilizar nossa energia naquilo que é mais importante.

Olhei para a estante e acabei pegando o livro de Frans de Waal. A linha de argumentação científica que ele defende é bem interessante. A natureza está repleta de exemplos de que nós somos animais gregários e que a base da teoria do Darwinismo Social é uma leitura “científica” forçada pelos defensores do liberalismo político e econômico de que o egoísmo é bom para os humanos e para a sociedade humana.

A obra está repleta de exemplos inversos. Assim como há diversos casos na natureza, os animais humanos são seres sociais e precisam uns dos outros para sobreviver. A natureza dá exemplos, mas não prescreve nada. Ela é referência para estudos, mas nós humanos temos que ter a capacidade de dar um salto adiante e resolver os problemas de convivência em sociedade e preservação humana. A solução está em nossas mãos.



Preparação física para caminhar 75 km daqui a alguns dias

Pois é, daqui a alguns dias farei a minha Romaria anual lá em Minas Gerais, e como tem ocorrido nos últimos anos, chegarei com muito pouca preparação física, além de estar trabalhando num ritmo alucinante há muitos meses.

Até tinha corrido quase todos os dias no meio do mês de julho. No entanto, acabei entrando num ritmo de duas semanas ininterruptas de trabalho e só voltei a correr ontem e hoje. Corri pouco porque estou muito cansado fisicamente.

Terei uma longa semana de trabalho de novo e praticamente só farei mais uma ou duas caminhadas preparatórias para a Romaria, dia 14 de agosto.

Entretanto, meu corpo, mente e coração já entraram num ritmo de concentração. Eu vou conseguir caminhar direto e chegarei bem ao destino. Após as dificuldades que terei, estarei com mais energia ainda para enfrentar os desafios, dificuldades e alcançarei os objetivos que estou buscando para os trabalhadores que represento.

O momento será único como todas as vezes que já fiz o percurso.


Vamos para uma semana que será muito intensa novamente. Vamos com energia!

William