Este é o vídeo que registra alguns momentos da caminhada de pai e filho entre a cidade de Uberlândia e Água Suja, em Minas Gerais, realizada entre os dias 14 e 15 de agosto de 2014. Foram momentos de concentração, apoio mútuo, resistência à dor e superação. Completamos o percurso felizes e voltamos diferentes, mais fortalecidos.
domingo, 17 de agosto de 2014
Romaria 2014 - Tal pai, tal filho! (vídeo)
Este é o vídeo que registra alguns momentos da caminhada de pai e filho entre a cidade de Uberlândia e Água Suja, em Minas Gerais, realizada entre os dias 14 e 15 de agosto de 2014. Foram momentos de concentração, apoio mútuo, resistência à dor e superação. Completamos o percurso felizes e voltamos diferentes, mais fortalecidos.
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William Mendes
sábado, 16 de agosto de 2014
Romaria 2014 – Tal pai, tal filho!
Pai e filho na saída para a caminhada de 75 km entre Uberlândia e Água Suja MG. |
A vida é uma infinidade de casualidades e oportunidades
surgidas a cada segundo na existência das pessoas. A vida também é uma soma
constante entre os eventos planejados e os não planejados. As realizações das
pessoas podem ocorrer tanto a partir de acontecimentos planejados quanto dos
inesperados.
Eu faço uma caminhada anual de dezenas de quilômetros, há
muito tempo. É um momento ímpar de introspecção, teste de resistência e
obstinação, e de recarregar a bateria para mais um ano com muita energia para
alcançar os objetivos aos quais me proponho. Na nossa dura existência,
precisamos ter uma energia de super humano para enfrentar as atribulações do
mundo hostil em que vivemos e não desistir de nada.
Semanas atrás, em uma conversa de adolescentes, meus
sobrinhos e meu filho trataram entre si que iriam participar da Romaria comigo.
Por diversos motivos, meus sobrinhos não puderam ir. Meu filho cismou que já
que tinha posto na cabeça que iria, não iria mais mudar de ideia.
Vovô e vovó levam os filhos até o bairro Alvorada. |
Eu me peguei num verdadeiro dilema em relação ao respeito
pelo livre arbítrio das pessoas, inclusive daquela pessoinha que eu e minha
esposa educamos. Durante os dias anteriores à viagem para Minas Gerais,
conversamos bastante com nosso filho do quanto era dura a caminhada, em certo
sentido perigosa sim - como a mãe afirmava (este ano teve vitima fatal por
atropelamento na estrada) e que ele não tinha necessidade de levar adiante o
compromisso porque os primos não iriam mais. No fim, tive que conversar com a
mamãe dele e decidimos que não era correto proibi-lo de ir comigo nesta
caminhada. Eu mesmo a fiz pela primeira vez antes dos 17 anos.
Por fim, chegamos a Uberlândia na noite de quarta-feira 13 (eu vindo de Brasília e meu filho de Osasco SP) para pegar a estrada na quinta-feira 14 rumo a Água Suja, distante 75 km do
bairro onde saímos.
A solidão da estrada
não foi total, eu tinha meu filho comigo
Eu já havia feito a caminhada com momentos de grande solidão
na estrada por sair em horário e dia com poucos romeiros, mas desta vez foi
algo totalmente inesperado.
Apesar de fazer a Romaria há décadas, eu não sabia que as
pessoas só caminhavam até o penúltimo dia da semana anterior ao dia da festa da santa (15 de
agosto). Por coincidência, eu sempre fiz na última sexta anterior ao dia 15. A surpresa
desagradável foi que não havia mais barracas de ajuda aos romeiros, não havia
mais a multidão de gente que também caminhava, não havia praticamente mais
nada.
Imaginem se eu colocaria meu filho numa situação dessas se
soubesse de antemão!
Periquitos na estrada. |
Pois é, então lá estávamos já caminhando quando "caiu a ficha" da solidão que teríamos pela frente sem ajuda constante de barracas. Por sorte,
encontramos ainda a barraca Bethânia e a barraca da Antena, que seria
desativada pouco depois do horário que passamos lá. Ainda encontramos algumas
boas almas que, de carro, procuravam os últimos romeiros do ano para oferecer
uma água, um pãozinho, um café, uma fruta.
A caminhada de 21
horas
Saímos do bairro Alvorada às 13h. Meus pais nos levaram até
lá.
A primeira referência do mapa que tenho de distâncias
percorridas a partir do Trevo para Araxá é o local chamado Olhos D’água. São cerca
de 8,2 Km a partir do bairro Alvorada. Chegamos lá às 14:30h.
A caminhada inteira foi feita com dicas minhas ao meu filho
sobre como andar, como pisar e coisas que só romeiros experientes sabem. Eu preparei
os pés do meu filho com esparadrapos com o mesmo zelo que preparo os meus. Aprender
isso anos atrás equivaleu a separar as romarias entre antes do aprendizado, com
bolhas e dores impossíveis, e depois do aprendizado, com os pés que nos levam
em boas condições.
Caminhamos até o Rio Araguari (que chamamos de Rio das
Velhas). Chegamos bem lá por volta das 16:30h. Meu filho se encantou muito com
a paisagem. Durante a caminhada da tarde estivemos sob um sol escaldante e o
segredo é o pé resistir sem cozinhar.
Filhão observa a estrada na descida para o Rio Araguari. |
Começamos a grande subida para cruzar outros pontos de
referência como o Trevo de Miranda (+ 3,7 Km), depois o antigo Posto Triângulo
que está desativado (+ 7,8 Km), depois o Trevo para Araguari (+ 3,7 Km), ainda
a Aliança Agro-Florestal (+ 3,2 Km) até chegar ao Posto N. Sra. Da Guia (+ 2,8
Km). Em anos anteriores, eu calculava de caminhar do Rio das Velhas até o Posto
Triângulo porque era uma esticada de 11,5 Km.
Meu filho curtiu muito o entardecer e a entrada da noite na
estrada. Escureceu pouco depois das seis e dez.
Mário Augusto sobre o Rio Araguari. |
Descobrimos que não haveria barracas de ajuda até a Antena e
nem depois dela, quando paramos na barraca Bethânia, antes do Rio das Velhas. A
surpresa e o alerta foram importantes para nós porque passamos a administrar a
água e o alimento que levamos para alguma emergência.
Fizemos uma longa caminhada passando direto pela referência
do antigo Posto Triângulo. Como estávamos com fome, paramos num local na
estrada que tinha uma iluminação (uma escola) e comemos. Ali encontramos a irmã
de um dos poucos romeiros que havia na estrada. A senhora estava dando
assistência para o irmão (enquanto ele andava, ela ia de carro de tantos em
tantos quilômetros acompanhando ele).
Pai e filho no posto N. Sra. da Guia depois de andar umas 8 horas. |
Bem, andamos direto até o Posto N. Sra. Da Guia. Chegamos às
21:30h. Nossos pés estavam em ordem. Achamos até uns rapazes dando um caldo
quente e pão aos romeiros remanescentes como nós. Percurso realizado: 37,5 Km.
A longa caminhada até
a Antena
Expliquei ao meu filho que teríamos que fazer uma longa
caminhada de umas 3 horas até a Antena, onde estava a única barraca
remanescente e torcer para ela estar funcionando porque depois dela seria só a
cidade de Água Suja.
Meu filho ligou o seu som no celular e eu não comentei com
ele minha decisão, mas preferi não ligar o meu naquele momento para me
concentrar totalmente nele. Também nos agasalhamos e pegamos a estrada.
A lua apareceu às 22:20h. Esta quinta-feira 14 foi final de
lua cheia, mas a dona Lua foi uma graça para nós. Após as 23h nosso chão de
estrada ficou mais claro e a sensação melhorou bastante para caminhar na
solidão da noite.
Tomando uma sopa na barraca da Antena depois da 1 hora da manhã. |
Meu filho estava super bem e não sofreu tanto quanto os
romeiros tradicionalmente sofrem para chegar à famosa Antena, “o ponto que
separa os meninos dos homens” como dizem. Chegamos à 1h da manhã. Estava aberta
e tinha algumas pessoas lá, umas dormindo na palha de arroz e algumas (menos de
10) tomando uma sopa ou descansando.
Ficamos mais de meia hora lá. Eu deitei uns 20 minutos na
palha porque estava com muito sono. Meu filho fez massagem no seu pé esquerdo
porque estava com dores. Andamos 48,5 Km.
Apesar da dor muscular no pé e perna esquerda (meu filho
pode até ter titubeado, mas deu o ok) seguimos adiante para outra longa
esticada de mais 12,5 Km até amanhecer.
Caminhada madrugada
adentro: frio, dor e sono
Chegamos ao Posto BR, que eu conhecia como Posto Santa Fé,
às 5:10h. Emocionante! Passamos muito frio na madrugada. Eu tive muito sono e ânsia
de vômito por forçar o corpo com sono e meu filho tinha muita dor na perna
esquerda. Cheguei a ouvir um pouco de música, mas preferi desligar para
acompanhar os gemidos e reclamos de meu filho e estimulá-lo a resistir até a
chegada.
Chegamos ao Atalho. Grande jovem esse Mário Augusto. |
Já teve ano que eu andei delirando noite afora na estrada. Este
ano eu tive a companhia de meu filho. Eu o estimulei a seguir firme até a próxima
parada e falei o quanto ele estava indo bem. Ele chegou a me puxar algumas
vezes quando eu andava sonâmbulo pelo acostamento dormindo andando.
Felizmente o posto estava funcionando e tomamos até um cafezinho
com pão de queijo e misto quente. Cochilamos uns 20 minutos para as etapas
finais. Saímos do posto às 6h. Meu filho entendeu que ele tinha que terminar
porque não tinha como voltar. Andamos até ali 61 Km. Agora era andar até o
Atalho, mais 6 Km.
A emoção da chegada
A última etapa da Romaria é feita muito mais com a cabeça do
que com os pés. É um momento de superação, de persistência e resistência à dor.
Este ano, a caminhada foi muito diferente para mim. Eu me
concentrei tanto no que tinha que fazer ao sair da casa de meus pais com o
nosso bem mais precioso, nosso filho, que eu não tive sequer preocupação com o
meu corpo. Ainda quando percebi que a experiência seria mais difícil porque não
havia as ajudas comuns, foquei completamente em meu filho a ida e a chegada.
O Mário Augusto se mostrou um jovem muito especial. Que coisa
encantadora! Reclamou da dor como um fato real e normal, mas seguiu resistindo
a ela como alguém especial. Eu conheço muito sobre romeiros. E digo a qualquer
pessoa que o comportamento de meu filho foi surpreendente. Ele reclamou que
estava difícil, mas foi reclamação leve. Reclamava e andava. Quanta gente
desiste e fica pelo caminho... o grande jovem chegou.
Mário Augusto, vitorioso em sua caminhada. Parabéns meu filho, você é uma pessoa especial! |
Saímos andando bem lentamente do Posto BR e chegamos ao
Atalho às 8:20h. Paramos uns 10 minutos e seguimos para andar até chegar à
cidade de Água Suja.
Meu filho pediu que batesse uma foto dele assim que
chegássemos com aquele tradicional gesto de vitória. Lindo!
Chegamos às 10h da manhã de 15 de agosto de 2014. Como era o dia da festa da Santa, foi impossível entrar na igreja. Havia milhares e milhares de pessoas em filas em caracol para entrar nela. Deve ser por isso que os romeiros não vão no dia anterior à festa.
Foram 21
horas de estrada deserta. Chegamos inteiros, felizes, realizados. Acredito que
chegamos diferentes. Mais fortes em todos os sentidos.
Algumas lições e
sensações finais
- As próximas romarias serão sempre na sexta-feira anterior
à festa da Santa porque a estrada está cheia e tem muitas ajudas no caminho. Este fato foi uma casualidade para mim que se transformou num grande
problema porque eu tinha a tiracolo meu bem mais precioso, o filho, e o risco foi muito maior desta vez.
Pai e filho, dois caminhantes decididos. Romaria 2014. |
- Nunca na minha vida teria imaginado fazer uma caminhada
dessas com meu filho. Ainda mais partindo de um desejo dele. Quando meu filho
era pequeno, eu sonhava em vê-lo jovem logo para poder conversar com ele, era o desejo inverso da mãe que queria o filho sempre pequeno para o aconchego. Ele se
tornou jovem e a conversa com os jovens é rara e difícil. Não é que da forma
mais improvável passamos um dia todo nos ajudando e conversando sobre tudo na
vida? Foi demais! É de encher os olhos d’água! Muito legal. Obrigado meu filho
por sua companhia nesta caminhada!
- Neste momento em que escrevo, meu filho está na sala com o
primo assistindo ao filme Na natureza selvagem. Este filme nos marcou muito, tanto a mim quanto ao meu filho e às
pessoas que o assistiram. No filme, o jovem Chris McCandles descobre de maneira
trágica algo sobre a felicidade: ele diz “Happiness
only real when shared” (a verdadeira felicidade é aquela compartilhada). Esta
caminhada foi diferente para mim e acredito que para meu filho. Nossa
experiência de dor, resistência, superação e alegria na chegada ao objetivo
foi compartilhada.
- Por falar em natureza selvagem, meu filho e eu pudemos
perceber o quanto é prejudicial o avanço das áreas urbanas sobre as regiões que
dividiam cidades e onde os animais tinham mais chances de sobrevivência. Além dos
diversos cachorros mortos na beira da estrada, vimos animais mortos que nos
surpreenderam: gavião, coruja, capivara, um guaxinim. Para não dizer que não
falei das flores, vimos muitos ipês amarelos e outras flores.
Ipês amarelos, muitos ipês amarelos no caminho... |
- A lição de conviver com a perda também fez parte dessa
experiência. Meu filho foi fazendo suas fotos e seus vídeos. Era o seu registro
dessa aventura marcante. Tanto ele quanto eu baixamos a guarda na atenção
somente no ônibus da volta de Romaria para Uberlândia, porque estávamos cansados,
sem dormir a mais de 30 horas. Nesse instante, a atenção baixou. Meu filho
perdeu o celular dele no ônibus, quando viemos prostrados. Fiz o possível para
recuperá-lo pelo valor pessoal das gravações que o jovem romeiro fez. A alma
infeliz que o encontrou não quis devolvê-lo ao dono. Foi uma perda pessoal para
meu filho. Mas a vida segue. O mundo é hostil. Essas lições de perdas fazem
parte da existência.
- Eu passei este ano por momentos muito duros. Momentos que
me fizeram sofrer muito. Não entro em detalhes aqui, mas digo que renasci. Estou
firme, forte, focado, não permiti que o ódio me dominasse, estou trabalhando
com intensidade para alcançar os objetivos que tenho em meus compromissos
profissionais, militantes e de cidadão. Sigo forte e com meus princípios intactos.
- Não poderia deixar de comentar um momento inesquecível de
meu dia de estrada com meu filho: os dois cantando a música “Society” do Eddie Vedder, do filme Na natureza Selvagem. Momento único em
nossas vidas.
Essa é das antigas - pais e filhos em 2005. |
- Vendo meu pai, os problemas que ele tem, e a postura dele
no lidar com a vida, não tem como não refletir que algumas coisas nós herdamos
de pai pra filho, seja por genética, seja por cultura. Vendo meu pai e meu
filho, sigo pensando nisso: tal pai, tal filho!
Assim seja!
William
William
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William Mendes
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Nelson Mandela, uma referência como líder democrático e pacifista
Minha esposa acerta na mosca ao me presentear com este livro. Ela sabe o que tenho vivido este ano na política. |
Ganhei um belo presente de dia dos pais de minha esposa e meu filho. A autobiografia de Nelson Mandela - Longa caminhada até a liberdade.
Minha vida atual não me concede o tempo que eu gostaria para ler. Atualmente só leio sobre saúde, gestão em saúde, estatutos, convênios, súmulas, súmulas, súmulas... Mas a gente é insistente. Li algumas páginas de meu presente nos voos por aí.
Estou hoje em Uberlândia (MG). Estou de abono no trabalho hoje e amanhã. Trabalhamos muito internamente nesta semana. Diferente das anteriores, quando viajei a várias cidades trabalhando, esta semana foi intensa e de trabalho e produção intelectual na sede da Cassi em Brasília.
Bom, esta postagem sobre Mandela é para citar um trecho onde o grande líder diz como aprendeu a respeitar a democracia, a ouvir, a construir consensos, na infância em sua aldeia e com os líderes que foram referência para ele.
Estou vivendo neste ano, um ano de grandes desafios de resistência, de superação, envolto em grandes conflitos, em ódios, mas estou muito focado em ter um papel de liderança porque nossos projetos de trabalhadores precisam de unidade e conquistas.
Tenho me inspirado em líderes como Lula da Silva e Nelson Mandela. Vamos ao trecho que gostei e depois vou pegar a estrada para minha romaria de 75 km.
Nelson Mandela, Parte 1 - Uma infância no interior
"Todos os que desejassem falar o faziam. Era a democracia em sua forma mais pura. Podia haver uma hierarquia de importância entre os oradores, mas todos eram ouvidos, chefe e súdito, guerreiro e curandeiros, comerciante e agricultor, proprietário e trabalhador. As pessoas falavam sem serem interrompidas e as reuniões duravam muitas horas. O fundamento da auto governança era que todos os homens eram livres para expressar suas opiniões e eram iguais em seu valor como cidadãos. (As mulheres, infelizmente, eram consideradas cidadãs de segunda categoria).
Um grande banquete era servido durante o dia, e eu frequentemente ficava com dor de barriga de tanto comer enquanto escutava discurso após discurso. Notei como alguns dos oradores ficavam divagando e nunca pareciam chegar ao assunto. Percebi como outros iam ao assunto em questão, diretamente, e que faziam conjuntos de argumentações sucintas e irrefutáveis. Observei como alguns oradores usavam emoção e linguagem dramáticas, e tentavam comover a audiência com tais técnicas enquanto outros oradores eram sóbrios e equilibrados, até mesmo afastando-se das emoções.
No início, eu fiquei surpreso com a veemência - e franqueza - com a qual as pessoas criticavam o regente. Ele não estava acima das críticas, na verdade ele era quase sempre o principal alvo delas. Mas não importando o quão flagrante era a acusação, o regente simplesmente escutava, não se defendia, sem mostrar emoção alguma.
As reuniões continuavam até que alguma espécie de consenso fosse atingida. Ou elas terminavam em unanimidade, ou não terminavam. Unanimidade, no entanto, podia ser uma concordância em discordar, esperar por um momento mais propício para propor uma solução. Democracia significava que todos os homens deviam ser ouvidos, e uma decisão era tomada juntamente como um só povo. A regra da maioria era uma noção estranha a nós. Uma minoria não devia ser esmagada por uma maioria.
Apenas no final da reunião, quando o sol se punha, o regente falava. Sua intenção era resumir o que havia sido dito e formar um consenso entre as diversas opiniões. Mas nenhuma conclusão era imposta para as pessoas que discordassem. Se um acordo não pudesse ser atingido, outra reunião aconteceria. Bem no final do conselho, um cantor ou um poeta faria um panegírico aos reis antigos, assim como uma mistura de cumprimentos para a sátira sobre os chefes tribais atuais, e a audiência, liderada pelo regente, caía na gargalhada.
Como líder, eu sempre segui os princípios que me foram demonstrados pelo regente no Grande Local. Sempre procurei ouvir o que todas as pessoas, em uma discussão, tinham a dizer antes de dar a minha opinião. Muitas vezes, a minha opinião simplesmente expressava um consenso do que ouvi na discussão. Eu sempre me lembro do axioma do regente: um líder, ele falou, é como um pastor. Ele fica atrás do rebanho, deixando os mais ágeis seguirem adiante, e então os outros seguem, não compreendendo que durante todo o tempo estavam sendo guiados por trás..." (pág. 25-27)
COMENTÁRIO
Achei esse trecho maravilhoso!
A minha história política mais recente, desde que aprendi a ser dirigente e representante dos trabalhadores, tem muito do conteúdo dessas frases citadas na infância formativa de Mandela: ouvir as pessoas, construir consensos, não esmagar minorias...
Minha nossa! Onde estão estas atitudes nos dias que correm entre nós da militância? Não sei!
Mas eu não esmoreço! Sigo fazendo a política do jeito que aprendi.
Abraços e vamos para a estrada refletir muito andando umas vinte e tantas horas...
William
Bibliografia:
MANDELA, Nelson. Nelson Mandela - Longa caminhada até a liberdade. Editora Nossa Cultura. 3ª Edição.
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segunda-feira, 11 de agosto de 2014
O amor ao meu pai me faz sentir a sua dor
Meu pai querido. Te amo! |
Neste domingo (10), dia dos pais, liguei para o meu paizinho e conversamos um pouco, com direito a nos vermos na tela. Disse de meu amor por ele e o quanto eu gostaria de ajudá-lo a resolver seus problemas de saúde, que tanto lhe aborrecem e lhe causam dor.
A saúde de meu pai é um drama que vivemos juntos há muito tempo. Mas a dor física quem sente é ele, apesar de sentirmos juntos a dor que ele sente.
Meus pais nunca tiveram um plano de saúde. Sempre tiveram que se virar no Sistema Único de Saúde. Por diversas vezes nesta vida, foi um drama complicado conseguir atendimento para uma emergência deles, principalmente lá em Uberlândia, onde residem.
Eu acabei virando bancário do Banco do Brasil em 1992 e perante a minha família, passei a ser quase um "privilegiado" por ter um plano de saúde. Nunca alguém me disse isso. Mas sempre me senti mal por isso. Sempre evitei ir ao médico através de convênio porque meus pais não tinham como ter acesso ao mesmo direito. Em décadas de vida, foram dezenas as vezes que estive doente e fiquei em casa até sarar sozinho.
Hoje sou diretor eleito da entidade de saúde de nossos trabalhadores do Banco do Brasil. Começamos faz poucas semanas a participar da gestão.
Ao conversar com meu paizinho neste domingo, falei a ele que eles terão um plano de saúde agora. Vou incluí-los no plano conforme as possibilidades vigentes me permitem para parentes até 3º grau.
Meu paizinho, do alto de sua grande sabedoria de vida (apesar da pouca educação formal) me disse uma verdade impressionante! Ele intuiu que por mais que eu vá incluí-lo num plano, há carências a cumprir nele, e que eu e as demais pessoas da gestão estamos buscando formas de melhorar para o próximo período a entidade de saúde que gerimos, mas que ele sabe que mudanças são de médio e longo prazo.
E... disse que os problemas de saúde na área que lidamos têm dificuldades a serem superadas assim como a saúde pública que está aí.
Por fim, me disse que a dor crônica que ele sente há meses, 24 horas por dia, precisaria ser extirpada agora, ele não tem esse amanhã lá na frente, porque estamos planejando para melhorar e perpetuar nossa entidade por décadas adiante.
Meu pai sente dores hoje. Eu não posso tirar as dores de meu pai. Essa realidade nos dá uma sensação de impotência dolorosa. Nos dá também um senso de humildade e de importância na busca de soluções no agora.
Desejei-lhe forças e disse o quanto eu o amo e o quanto ele é importante pra mim e uma referência de vida.
Obrigado por você estar aqui entre nós meu paizinho, mesmo com seus problemas de saúde. Eu, o senhor e nossa família sabemos que você e a mãe fazem o possível para estarem vivos e alimentarem meu coração pra juntos seguirmos lutando, nós todos, todos nós.
Um beijo meu pai querido.
William Mendes
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domingo, 3 de agosto de 2014
Reflexões sobre liberdade, esperança nos humanos e foco na tolerância
Mandela aprende com um companheiro mostrando a mão aberta e depois fechada (estava revoltado com a injustiça contra os negros): cada dedo era um e juntos eram todos - fortes! |
Refeição Cultural
O que tenho de refeição cultural neste fim de semana? O que
vi, li e fiz em meu descanso em casa em Osasco após duas semanas de trabalho
ininterrupto?
Filme – Mandela, o caminho para a liberdade
"Mandela, você não pode combater a injustiça sozinho. Cada um de nós é pequeno demais para fazer algo. (mostra a mão fechada com os dedos unidos) Juntos, nós temos o poder!"
Assisti ao filme baseado na autobiografia do grande líder
sul-africano Nelson Mandela. A história do povo negro sul-africano pelo fim da
política do Apartheid é um exemplo de luta pela igualdade e pelos direitos civis,
políticos e sociais dos povos do mundo.
Me chamou a atenção no filme a questão da divisão interna
entre os sul-africanos negros sobre a forma de buscar a solução contra a
discriminação e falta de direitos em relação à população sul-africana branca.
Após décadas preso, Mandela se vê numa encruzilhada. O país
está à beira da guerra civil com mortes e assassinatos e os sul-africanos
negros, vítimas por décadas das violências do Apartheid, querem a vingança em
sangue e extermínio dos brancos.
Mandela diz nas discussões políticas que apesar de seu povo
querer a guerra e o sangue dos brancos, o papel das lideranças é liderar e para
buscar a paz no país é preciso que as vítimas do Apartheid perdoem o que
fizeram com eles. Em troca, os direitos políticos e civis serão conquistados e
os dois lados, brancos e negros, precisarão aprender a conviverem juntos como
povos sul-africanos.
A história de vida e de luta de Nelson Mandela mais que
nunca é um exemplo e uma referência para mim que passei por grandes momentos de
ódio em minha vida, misérias e violências e humilhações como usa acontecer com
a classe trabalhadora.
Leituras – A era da
empatia, de Frans de Waal
Após duas semanas ininterruptas e intensas de trabalho e
militância política, cheguei para o descanso no fim de semana precisando ler
algo que me desse um norte, uma certeza de que a melhor opção para construir
boas políticas para a classe trabalhadora é "engolindo sapo" às vezes por algumas pequenezas feitas
contra a gente para utilizar nossa energia naquilo que é mais importante.
Olhei para a estante e acabei pegando o livro de Frans de
Waal. A linha de argumentação científica que ele defende é bem interessante. A
natureza está repleta de exemplos de que nós somos animais gregários e que a
base da teoria do Darwinismo Social é uma leitura “científica” forçada pelos
defensores do liberalismo político e econômico de que o egoísmo é bom para os
humanos e para a sociedade humana.
A obra está repleta de exemplos inversos. Assim como há
diversos casos na natureza, os animais humanos são seres sociais e precisam uns
dos outros para sobreviver. A natureza dá exemplos, mas não prescreve nada. Ela
é referência para estudos, mas nós humanos temos que ter a capacidade de dar um
salto adiante e resolver os problemas de convivência em sociedade e preservação
humana. A solução está em nossas mãos.
Preparação física
para caminhar 75 km daqui a alguns dias
Pois é, daqui a alguns dias farei a minha Romaria anual lá
em Minas Gerais, e como tem ocorrido nos últimos anos, chegarei com muito pouca
preparação física, além de estar trabalhando num ritmo alucinante há muitos
meses.
Até tinha corrido quase todos os dias no meio do mês de
julho. No entanto, acabei entrando num ritmo de duas semanas ininterruptas de
trabalho e só voltei a correr ontem e hoje. Corri pouco porque estou muito
cansado fisicamente.
Terei uma longa semana de trabalho de novo e praticamente só
farei mais uma ou duas caminhadas preparatórias para a Romaria, dia 14 de
agosto.
Entretanto, meu corpo, mente e coração já entraram num ritmo de concentração. Eu vou conseguir caminhar direto e chegarei bem ao destino. Após as dificuldades que terei, estarei com mais energia ainda para enfrentar os desafios, dificuldades e alcançarei os objetivos que estou buscando para os trabalhadores que represento.
O momento será único como todas as vezes que já fiz o
percurso.
Vamos para uma semana que será muito intensa novamente. Vamos
com energia!
William
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