segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Povo sem memória é povo condenado a sofrer


Onde ancorar nossa nau neste mundo da iniquidade?

Terminaram as "eleições" municipais brasileiras neste domingo. Sendo a urna eletrônica um instrumento seguro (seria?), o resultado do escrutínio mostra que o povo desta ex-colônia portuguesa deu permissão para os patrões bilionários e seus representantes levarem adiante a pauta de direita que vai trazer um retrocesso secular para aqueles que dependem da venda da força de trabalho de seus corpos para sobreviver.

Que falta faz ensinar história da luta de classes para os trabalhadores e seus familiares! É tão antigo e tão atual vermos a massa despolitizada sendo guiada para os matadouros através de ferramentas ideológicas bem manuseadas pelos donos de todos os meios de produção, os capitalistas que detêm os capitais, as terras, as armas, os cargos públicos dos poderes executivo, legislativo e judiciário, a "lei", o circo, as migalhas de pão para distribuir, e nossos corpos a soldo barato, pois com os empregos da terceirização total seremos somente coisas, gado, mantidos somente para manutenção da reposição do exército de reserva.

O povo que conheço tem a memória mais curta que a personagem Dory, do desenho "Procurando Nemo". Segundo parte de meus colegas bancários do BB, ativos e aposentados, o "País está quebrado" e então não temos o que fazer a não ser aceitar a PEC 241 e todas as merdas que os golpistas estão fazendo como entregar a nossa Petrobras e o Pré-sal para os articuladores do golpe contra o Brasil. Povo sem memória. Até o início de 2014, antes da Lava Jato fabricada nos EUA começar a foder as empresas e os empregos no País, além do foco central de tirar o PT do poder e todo o significado disso, estávamos resistindo à crise mundial melhor que qualquer outro país do mundo.

Em pouco menos de quarenta anos, vi o mundo dar uma volta quase completa em torno do eixo político e voltar ao mesmo ponto, com os poucos capitalistas dando todas as cartas no "Tabuleiro de war" chamado Terra.

Quando nasci, meus pais viviam sob o Brasil do AI-5. Estados Unidos financiavam golpes e ditaduras em Nuestra América. Ao mesmo tempo, ao menos um povo bravo enfrentava com brio os americanos: os vietnamitas expulsaram o invasor imperialista de sua casa.

Nos anos setenta e oitenta, cresci num mundo sem liberdade, onde o Estado podia sumir conosco, invadir nossa casa, torturar nossa gente em delegacias (nunca mudou), matar os nossos entes queridos e os veículos de comunicação da elite, que financiaram o golpe junto com os americanos, diziam que trabalhador que lutava contra toda aquela miséria era terrorista, comunista, corrupto (somos corruptos... sempre a mesma lorota). 

Mas tudo ficava bem com o circo que havia. Tínhamos Chacrinha, Silvio Santos, futebol na televisão. Novelas... (não mudou nada, só os nomes... Faustão, Luciano Huck... ainda o Silvio Santos).

Veio a Constituição Cidadã de 1988 e nos garantiu diversos direitos civis, sociais, políticos, trabalhistas, humanos... (que estão sendo desfeitos por hora, por semana)

Anos noventa, depois de uma vida de miséria minha e de milhões de gentes como nós, vimos os governos Collor e FHC destruírem a coisa pública, dando e distribuindo a riqueza de nosso país e as empresas públicas do patrimônio nacional para amigos e para os estrangeiros que cobram os butins do apoio aos golpes lesa-pátria contra o povo brasileiro. Uma pequena elite, vagabunda e sem espírito nacionalista, sempre viveu em céu de brigadeiro no brazil-colônia.

Como a elite tupiniquim não é nacionalista como os árabes, nem é preciso financiar golpes com guerras civis como os imperialistas fizeram nos países árabes, para derrubar os governos nacionais e instalar as empresas americanas de petróleo no local (os países não existem mais). Aqui nossos vira-latas vendem tudo por uns trocados porque nunca foram nacionalistas.

Durante os anos dois mil, tivemos uma ascensão nunca vista em nosso país e nos países de Nuestra América com a eleição de governos de esquerda, ou nacionalistas, ou mais progressistas e populares. Diminuiu a miséria nauseabunda de séculos e séculos para os povos de ex-colônias portuguesas, espanholas, depois sob outros donos, ou seja, a tutela de ingleses e norte-americanos.

Com os novos estilos de golpes parlamentares-jurídicos-midiáticos, voltamos neste instante à condição de antes dos anos dois mil. Eu não concordo em ficar apedrejando com blá blá blá que a culpa é do PT e seus líderes, ou do chavismo, porque é simplista e desonesto o nosso lado da classe trabalhadora ficar realimentando o que a direita fez com propriedade ao organizar a retomada do poder secular. Os erros do PT devem ser analisados sob a ótica da característica do povo em nosso país: aqui não é terra de revolucionários e nosso povo não participa dos embates políticos, sequer como os nossos vizinhos latino-americanos. Fizeram repúblicas ao nosso redor quase um século antes de nós.

Estamos na merda e será difícil sair dela. No meu cálculo de cenário, serão anos e anos de sofrimento e miséria. Mas eu não isento o povo em ser manipulado tão facilmente e docilmente pelas ferramentas ideológicas dos donos do poder secular. Se quisessem, poderiam ser mais politizados e entender como as coisas funcionam no mundo.

Nós poderíamos começar a reação hoje, se a esquerda e os progressistas se unissem com um projeto único e não fossem demasiadamente humanos com seus pecados capitais como o principal deles - a vaidade.

Sem chance para nós neste momento. Na medida em que os golpistas foram avançando, nós da esquerda fomos nos dividindo mais ainda. Preciso que me provem que a esquerda consegue se unir novamente.

Gostaria de saber onde está a maior central sindical do país? E as demais centrais? Onde estão os líderes dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais progressistas? Ninguém sabe, ninguém viu. Onde estão as lideranças dos trabalhadores? Estão todos divididos, estão todos disputando as máquinas e tentando eliminar "adversários" internos enquanto o País vira vinagre.

William


Post Scriptum:

Neste segundo turno, foi a primeira vez que votei nulo em minha vida de cidadão brasileiro. Acho isso triste, nunca quis fazer isso, mas já vivemos em estado de exceção, não há mais democracia.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Diário e reflexões - 281016



Flamboyant...
Simples e belo...

Estou em Brasília, Distrito Federal do Brasil.

Cheguei nesta sexta-feira de Maceió, Alagoas, onde estive trabalhando nos últimos dois dias. Confesso que estou cansadíssimo. Apesar de ter chegado antes das oito horas da noite, não tive a menor condição de andar ou correr por causa do prego que estou.

Sentei no sofá para dar um respiro. Saudades da família. Liguei para os meus pais lá em Minas Gerais, distantes de mim mais de 400 km. Depois liguei para minha esposa, que está a 1000 km de distância. Por fim, liguei para meu filho, mais de 700 km de distância e eu não o vejo há quase um mês. Esta tem sido minha vida há muitos anos, desde que assumi tarefas militantes no movimento dos trabalhadores. Lutar por um mundo melhor tem um alto custo pessoal, juro a vocês.

Estou precisando de umas férias... mas não terei descanso nem um respiro nos próximos meses. Semana que vem estarei em Belém do Pará, lutando pela causa da saúde e de nossa Caixa de Assistência, uma autogestão dos bancários do BB.

Não vou me alongar, estou deverás com o olho ardendo e com sono. Estou meio zumbi.


Flamboyant... ainda bem que existem as flores e a natureza...

Nesta semana, alternei momentos sociais de crença no ser humano, como ocorreu na minha agenda de trabalho junto à base social que represento; e momentos de nojo e total descrença no caráter e na ética do ser humano (no mundo intra-paredes), ao saber de certos comportamentos canalhas de pessoas que dão tapinhas nas suas costas em sua presença e tentam te destruir quando você não está presente. Que nojo disso!

Por fim, existem as flores, a beleza da natureza, o carinho de pessoas que respeitam a gente, existem as utopias para nos dar o caminho a seguir. Nós somos militantes e nossas lutas são causas que assumimos. Sigamos no front fazendo o bom combate e deixando as feridas secarem.

Tchau leitores amig@s.

William

Post Scriptum...

No silêncio do lar, não teve como não passar pela minha cabeça a busca do sentido de tudo isso... todo o esforço que fazemos em prol do coletivo, a doação pessoal... e fico lembrando da votação do povo paulista nas eleições de 2 de outubro deste ano, dando mais da metade dos votos válidos para aquele sujeito eleito (um bilionário que caga e anda para o povo e para a cidade) e o prefeito inovador Haddad recebeu 16% de votos. Depois do resultado desse fatídico dia para o povo paulistano, não paro de pensar no sentido de todo esforço que a gente faz em benefício dos trabalhadores para depois fazerem o que eles fizeram na cidade onde nasci...

Vemos e sentimos o gasto de nossa energia, nossa saúde, nosso tempo de vida (curto para tudo que gostaríamos de fazer) e fico pensando o sentido de tudo isso.

O capitalismo e a ideologia dos poucos donos de tudo acabam sempre vencendo porque é mais fácil ser ignorante, viver dopado com as drogas manipuladoras. É bem mais fácil pensar em si que nos outros... 

Nós escolhemos uma profissão de fé meio inglória.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Leituras de J Veiga e o sentimento de saudades



Livro com 3 estórias (1981)

Refeição Cultural

"O professor Santiago, especialista em psicobiologia, propõe a tese arrojada de que a Terra nunca deixou de ser redonda. (Por favor, não riam enquanto não conhecerem a tese do professor Santiago). Segundo ele, a Terra continua redonda como sempre foi. O que aconteceu foi que as pessoas, geração após geração, foram condicionadas desde pequenas a aceitar o dogma de que vivem numa Terra chata; e como só viam formas chatas por toda parte, acabaram se convencendo..." (Quando a Terra era redonda, José J. Veiga - 1981)


Acordei nesta manhã de segunda-feira antes do previsto em meu despertador. Estava amanhecendo e os pássaros já cantavam lá fora. Eu estava sonhando com meu filho ainda garotinho. Eu não o vejo desde o dia 2 de outubro, quando nos encontramos em Osasco para exercermos nossa cidadania e votar nas eleições municipais. Foi o primeiro voto de meu jovem filho. Foi meu primeiro voto em três décadas sem ver finalidade ou efeito prático dele, já que o País está sob Golpe de Estado e o consórcio golpista está na caça do partido em que voto.

Terminei no domingo à noite a leitura do livro de José J. Veiga - De jogos e festas, publicado em 1981. Com este volume, completo a sétima obra lida das dezesseis que pretendo ler.

As três estórias deste livro do início dos anos oitenta foram um pouco diferentes das estórias anteriores. Apesar do fundo ser o mesmo, o estranhamento do novo que chega, nelas temos o convívio com a perda da condição anterior de forma mais clara. Um irmão que morreu; um pai que perdeu a memória; um filho que morreu; família que se foi. 


Coleção J. Veiga sendo lida...

UM MUNDO CHATO

"A não ser que - essa ideia me ocorre agora, por influência de Emílio Sorensen e Urbano Santiago - a Terra seja mesmo redonda desde os primórdios, e ninguém a está vendo chata; todo mundo finge estar acreditando na chatice geral apenas por cansaço e também por preguiça de contestar o que foi decretado"


Uma metáfora fantástica no pequeno conto "Quando a terra era redonda" me chamou bastante a atenção e me lembrou a situação atual pela qual vivemos agora. O mundo não é mais redondo, foi tudo revisto e agora a Terra é chata. Isso foi decretado pelos golpistas e pelos capitalistas donos do mundo.

Essas estórias lidas nessas semanas em que não pude ver a família direito, em que me matei de trabalhar viajando o País e cumprindo aquilo a que me dispus em meu trabalho, e os enredos dessas estórias com seus finais tristes... me deixaram pensativo.


Momento leitura no final do domingo.

Fiquei tentando me lembrar e tive um sentimento de que não vi meu filho crescer desde que virei Secretário de Formação na Contraf-CUT (2009) e depois acumulei a função de coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (depois de 2012) e agora, como gestor da Cassi, passados esses quase oito anos, meu filho mora longe, eu quase não o vejo e isso me deixou incomodado ao me dar conta disso hoje.

A gente passa a vida na militância social, lutando por ideais de um mundo mais justo e solidário, por melhores condições de vida e trabalho de nossa classe trabalhadora, agora estou me matando para lutar pela causa da saúde, a partir da autogestão em saúde que atuo, e na dedicação no front de uma guerra inglória contra o sistema hegemônico, nossa família, nosso tempo e nossa saúde vai embora.

Que coisa isso!

Já deu a hora de banhar e sair correndo para o serviço. Será uma semana política dura em meu trabalho a partir das oito e meia da manhã desta segunda-feira.

Um beijo, meu filho! Sonhei com você nesta noite. Ontem estivemos lendo juntos, sua mãe e eu. Foi legal. Se cuida filhão!

William

domingo, 23 de outubro de 2016

Diário e reflexões - 231016



Amanhecer às 5h da manhã de 22/10 em Jaboatão dos Guararapes PE.
Por minhas agendas de trabalho, só pude ver essa paisagem
pela fresta de 15 cm da janela do hotel. Mas é bonita!
Anoitecer às 19h de 22/10 em Brasília DF. Nossos olhos cansados
tentam ao menos observar esse mundo bonito que há lá fora.


Refeição Cultural

Domingo em Brasília. Pássaros cantam lá fora. Neste mundo brasiliense, a fauna e flora amenizam os dramas humanos. É só olhar e ver a beleza da natureza, é só ouvir e prestar atenção.

Cheguei a Brasília no fim do sábado, vindo de Pernambuco, onde trabalhei por cinco dias em duas agendas diferentes - uma de gestão e contatos com a comunidade BB e Cassi e outra participando de um congresso de autogestões em saúde.


Urutaus camuflados - foto de Caio H. Franco (Wikipedia).

Na noite do sábado, ao ouvir um canto de pássaro noturno muito peculiar, pesquisamos em casa e descobrimos se tratar do urutau, ave fascinante também conhecida como emenda-toco ou mãe-da-lua. Costuma ficar camuflada junto a troncos e tocos de árvores. É possível encontrar essa ave em quase todo o território nacional. Ela passou a noite cantando perto de nossa casa.


Minha vida pessoal praticamente não tem prioridade alguma em nossa agenda de trabalho e militância social na área da saúde. Vivo enfiado em salas fechadas quando estou na burocracia da entidade de saúde que administro e a outra metade do tempo estou nas bases sociais lutando por dar conhecimento e pertencimento a uma comunidade de quase duzentos mil donos de uma autogestão em saúde. 

Em geral, os associados não fazem ideia do que seja a Cassi e muito menos da riqueza que é pertencer a uma estrutura de saúde privada baseada no modelo de Atenção Primária à Saúde. A Caixa de Assistência é vanguarda há duas décadas e mesmo assim sua comunidade assistida não a conhece minimamente.


Lá embaixo, esse nosso mundão
bonito. Ver o mundo sem lembrar
do que os humanos fazem com ele
é bom.

Estou em frangalhos fisicamente. Quebrado. Hoje não posso sair para correr porque meu corpo me avisa que não dá. Isso é preocupante porque daqui a algumas horas, segunda às 8:30h, eu já vou entrar de novo em uma semana extremamente difícil de trabalho com decisões e embates políticos e técnicos que nos consomem ao limite da resistência física e mental. Até nos destrói.

Terei duas reuniões de Diretoria Executiva, sendo a primeira para decidir sobre os rumos da Cassi para os próximos anos, após um Memorando de Entendimento assinado entre o Banco patrocinador do nosso plano de saúde dos trabalhadores e as entidades representativas dos associados.

Esse documento que vamos analisar no âmbito da Cassi nesta segunda 24 finalizou quase dois anos de processo negocial iniciado após 17 de dezembro de 2014, quando nos reunimos com a Comissão de Empresa dos funcionários do BB e pedimos apoio e calendário de lutas das entidades sindicais para defender a Cassi e os associados e seus direitos em saúde. 

(A vida tem dessas coisas... nesta sexta-feira 22, ao final do processo que ajudei a construir, a Contraf-CUT e demais entidades assinaram o acordo final sem sequer eu ser consultado a respeito do documento...)


Além da semana começar com esse tema de relevância para o futuro de nossa Caixa de Assistência, teremos outra reunião de Diretoria Executiva na terça 25 e as reuniões dos Conselhos Deliberativo e Fiscal da Cassi. E ainda estarei lá em Alagoas na sexta 28 para participar de mais uma Conferência de Saúde no Estado.


Um gestor em saúde e militante social de esquerda num instante
de reflexão em voo de volta para casa. Livro de Hobsbawn na mão.

Pergunto a mim mesmo: onde arrumo tempo para tentar reverter o processo de perda de saúde e condições físicas com uma agenda dessas? Onde consigo tempo para alimentar minha dimensão humana da inteligência e intelectualidade? Quando sobra tempo para o convívio familiar? Quase não vejo mais a própria esposa e filho, os pais, sobrinhos. Nem os amigos.

Mas o mundo que defendemos, menos bárbaro do que aquele que está no horizonte próximo, precisa que cada militante social de esquerda ache energia diária para fazer a sua parte neste mundo de merda e caos que esta fase do capitalismo implanta neste momento em nosso planeta.


"Life's a journey not a destination
And i just can't tell just what tomorrow brings..." (Amazing, Aerosmith)

Sabe o que mais me aflige? Eu não acredito que a vida é determinista, que há um destino para cada um de nós. Como o verso da música, entendo que a vida é uma jornada... e de lutas. E não sabemos o que o amanhã nos trará...

Eu sinto que ao final dessa nossa jornada, quase todo o nosso esforço terá sido em vão. Tenho leitura de cenário bem clara sobre isso na atual quadra da história, mas a gente faz o que tem que ser feito assim mesmo. É como se fosse, ao final, uma destinação da gente (um contra-senso).

William


Post Scriptum:

Então, num repente de esforço sobre-humano, fui para o Eixão após esta postagem, por volta das 15h e com temperatura de 30º, andei 4 km e dei uma leve corrida de 2 km, preocupado com os músculos sensíveis da perna. Valeu.

domingo, 16 de outubro de 2016

Neste momento da história o mal vence e se banaliza


Nós humanos fazemos da vida
 em sociedade uma merda,
mas há a beleza da natureza.

Refeição Cultural

Domingo, saí para caminhar na praia. Preciso cuidar minimamente do corpo que me carrega para enfrentar o que vem de balas e bombas no front da guerra em que me encontro, a guerra de classes.

Não pude deixar de pensar um minuto sequer em tudo que já aconteceu com o golpe contra a democracia brasileira e contra o povo ao qual pertenço e pensar em tudo que vislumbro estar por vir no cenário político e econômico atual enquanto andei mais de uma hora.

Estou seco, estou querendo silêncio. Gostaria até de poder dormir mais e não posso. Meu corpo está cansado.

Na próxima semana e nas outras até o final do ano, tenho uma agenda insana, mas necessária, para defesa da causa que abracei: a Cassi, entidade de saúde dos bancários do BB. 

Vou conjugar até o fim do ano o que já venho fazendo desde que iniciei esta tarefa (revolucionária), enfrentar agendas de reuniões semanais na sede em Brasília, inclusive com debates e embates por causa das negociações a respeito do déficit do plano de saúde dos trabalhadores, com agendas de visitas às bases onde temos atuado incansavelmente para levar informações a respeito da Caixa de Assistência e propor parcerias em defesa da própria Cassi e do modelo assistencial de cuidar dos associados ao longo da vida.

O título desta matéria é uma afirmação dura e verdadeira na opinião deste que aqui escreve aos leitores de nosso Blog.

Eu sei que não posso fazer sequer um texto com tudo o que penso porque, no momento em que nos encontramos, as pessoas não leem nada mais que demore para ler. É o tempo do curto prazo, é o tempo só do momento, do aqui e agora, não há amanhã. É foda.


E apesar de tudo, a natureza
resiste até a nós humanos.

A derrota recente de Fernando Haddad (PT-SP) nas eleições municipais brasileiras foi algo que me colocou num nível de desesperança muito grande. Fiquei dias refletindo a respeito. Nós trabalhadores explorados pelos donos de tudo perdemos; os capitalistas e seus meios de comunicação cartelizados e monopolizados, venceram.

Milhões de pobres e remediados que tiveram suas vidas melhoradas com as políticas implantadas pelo Partido dos Trabalhadores votaram nos bilionários que estão babando para retirar todas as conquistas desses milhões de ex-miseráveis. E esses miseráveis votaram neles.

Eu não tenho mais décadas para esperar ver nascer esperanças de um mundo mais justo e solidário após acabar de ver um golpe de estado e ver nascer o mesmo clima nazifascista que o mundo viveu nos anos 20 e 30 do século XX.

O governo golpista e os 366 desgraçados congressistas que podem votar e aprovar qualquer coisa que quiserem a qualquer minuto nos próximos meses não vão deixar pedra sobre pedra da ex-república Brasil. 

O avanço dos meios de comunicação de massa das últimas décadas criou seres humanos imbecilizados, mais que em qualquer época. Todo o conhecimento do mundo está digitalizado à toa. A referência na vida das pessoas são os meios de comunicação dos bilionários. São corpos marombados e tatuados, status social, dinheiro ganho de qualquer forma, jogos e mundos eletrônicos e virtuais.

As condições de luta dos trabalhadores explorados dos séculos XVIII e XIX foram umas; outras foram as do século XX. Agora também são diferentes. Nunca tivemos um sistema que manipula, engana e direciona com tanta facilidade a própria classe explorada. Fodeu!

Eu não terei saúde para enfrentar por décadas este sistema totalitário e escravizador da rede mundial de computadores, que meus pares progressistas e de esquerda achavam, anos atrás, que viria para derrotar o poder dos poucos donos capitalistas de TV, rádios, jornais e revistas. ERRARAM! Nós perdemos. Visionário foi George Orwell com sua metáfora do Grande Irmão (Big Brother).

Neste momento da história, em nosso país sob novo golpe e nos países do mundo que estão sob ataque dos imperialistas e donos das corporações mundiais das indústrias armamentistas, de óleo e gás, farmacêuticas, das modas e marcas de carro, roupa, tênis e fetiches do tipo, nós povo explorado que precisamos de emprego deles para sobreviver, teríamos que iniciar uma contraofensiva organizada para não virarmos escravos.

Não teremos chances através do processo democrático. Porque não há mais democracia real. Não temos a quem recorrer em termos de instituições do Estado, porque o Estado está tomado e as instituições estão contra nós.

Os jovens precisariam assumir a contraofensiva. Mas quem vai organizar os jovens dispersos e desunidos, juntos a velhos líderes de "esquerda" ou eles mesmos não querendo relação alguma com ninguém da "velha política" e frágeis em si mesmos com seus sonhos e utopias num mundo totalitário dos meios de comunicação de poucos donos de tudo, que eliminam adversários em meses através dos veículos de informação e com apoio dos seus apaniguados nas estruturas do Estado, legislativo, executivo, judiciário e forças policiais, unidos contra os levantes do povo sem armas?

Eu não desisto de minhas missões e tarefas, mas sei do cenário em que estamos enfiados. Se mais da metade do povo brasileiro está entorpecido pelos golpistas e seus meios de comunicação, mais da metade do povo que represento na área da saúde e no banco público que trabalho está com os golpistas que vão nos foder.

Mas eu acordo todos os dias e saio para cumprir minha missão. Como diz o poeta maior Drummond:

"Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
" (Os ombros suportam o mundo)


Sigo a ordem de meu coração e dos votos que carrego, e a confiança que depositaram em mim mais de 30 mil pessoas. E sei que é bem provável que ao final todo o sacrifício não dará em nada. Vejam o Fernando Haddad e a vitória do bilionário desgraçado eleito pelos nossos pares trabalhadores e miseráveis que pouco se lixam para a política que determina a vida deles mesmos.

Chega. Como sempre, a gente acaba escrevendo um monte. Pra quê?

William

sábado, 15 de outubro de 2016

Finalmente, o Estado Bolivariano!



Tristeza Dura, desenho de William Mendes.

Apresentação do Blog: Li este texto e achei ele fantástico. Pedi autorização para divulgá-lo. É simples e resume o momento em que vivemos no Brasil após novo Golpe de Estado no século 21.


(Texto de Sérgio Rosa)

Sabem aquele medo danado de que fosse implantado um Estado Bolivariano no Brasil? 

A imprensa seria formalmente livre, mas estaria alinhada com o Governo, alimentada com verbas generosas de publicidade das Estatais; os jornalistas que discordassem muito seriam demitidos; os blogueiros de oposição seriam perseguidos, processados e inviabilizados. 

A Justiça continuaria existindo, mas os Juízes seriam constrangidos a agir de forma parcial, com medidas de exceção, aplicando a lei de uma forma para os amigos do governo e de outra para os inimigos. 

A Polícia agiria para manter a ordem, reprimindo manifestações da oposição e protegendo as manifestações a favor do governo. Os órgãos de investigação ajudariam a perseguir os inimigos políticos, criando processos para paralisar os opositores e mandá-los para a cadeia. 

Grupos civis seriam financiados e criados para defender o governo, com liberdade inclusive para atacar opositores ou quem parecesse simpatizar com eles. 

O Governo, ao contrário de defender os interesses nacionais, passaria a defender interesses estrangeiros. No lugar da lógica e da ciência passaria a dominar a ideologia do governo. 

LEMBRAM DE TODOS ESTES MEDOS? Pois é, acabaram implantando o Estado bolivariano de direita no Brasil.

...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Na melancolia de uma novela de José J. Veiga




Refeição Cultural

"Às vezes eu tentava abrigo na leitura, mas, sem convicção também nisso, começava de maneira errada: comprava vários livros de uma vez. Em casa me instalava com eles na sala, onde agora quase ninguém entrava. Pegava um volume, folheava, pegava outro, folheava todos e não me entregava a nenhum; com livros no chão ou no colo na cadeira de balanço, os braços na nuca, procurava aflito uma saída. A falta de perspectiva aumentava a aflição e me dava uma consciência aguda do tempo. Era como no colégio em dia de prova, os minutos passando, a hora final chegando, e eu sem saber as respostas. Até o ruído do relógio grande da sala me condenava; preso nele, descobri que o ruído do escape da corda que movimenta o pêndulo e os ponteiros não é igual; cada tique-taque não difere do outro, mas na realidade cada um diz uma coisa: diz que entre ele e o anterior perdeu-se alguma coisa irrecuperável. Enquanto cada segundo ia se libertando da engrenagem que o prendia, para voltar talvez à origem misteriosa do tempo, eu continuava ali empacado, por conseguinte morto. Irritado, procurava esquecer o relógio, mas a condenação persistia. Tudo o que eu olhasse - uma aranha dormindo em sua teia no canto da sala que não era mais limpa todos os dias, uma jarra na mesa, uma fotografia na parede, uma mosca tentando varar a vidraça - me advertia da passagem do tempo. A aranha, a mosca, a fotografia não eram as mesmas que eu tinha visto da primeira vez; entre olhar e considerar, elas ficaram mais velhas. Invenção diabólica, o tempo..." (p. 51/52)


Manhãzinha de segunda-feira. Acabei de ler uma estória de José J. Veiga, autor goiano que escolhi para ler ao longo deste ano. Estou conhecendo a obra dele em ordem cronológica. Comecei com seu primeiro livro de contos Os cavalinhos de Platiplanto (1959) e agora estou no livro De jogos e festas (1980). Este, presenteado a mim por meus colegas de trabalho de Rondônia.

Ao longo das leituras de suas obras, fui me identificando com Veiga. A sensação que tive ao ler também A hora dos ruminantes (1966), A máquina extraviada (1967), Sombras de reis barbudos (1972), Os pecados da tribo (1976) e O professor burrim e as quatro calamidades (1978) foi de verossimilhança com a realidade que estou vendo e vivendo em um mundo em processo acelerado de degeneração, de um novo que chega e se impõe, e muda o que está, até pela força, e vai nos arrasando a todos e nos tirando de um certo conforto anterior.

Os especialistas em Veiga dizem que ele sempre buscou não aceitar associação de suas obras com o período dos anos de chumbo no Brasil. O autor afirmava que não fez obras para surtir efeitos de denúncia ou para instigar pessoas a nada. Mas queira ele ou não, o clima de melancolia que perpassa toda a obra que li até agora é o clima de alguém com consciência e visão intelectual de mundo que está sofrendo ao ver a calamidade política, econômica, humana e social que aflora ao seu redor num país sem liberdades e sob o peso violento da ditadura.

Veiga pode negar a intenção, mas não tem como fugir do contexto e conjuntura que respirou ao acordar para escrever por mais de dua décadas de produção literária.

Este leitor de Veiga que vos fala sente, a cada semana que passa, uma certa melancolia trazida pelos efeitos das ameaças e da destruição de nossos direitos por parte destes seres que chegaram, golpearam e aceleram a distribuição do butim. Sente sobretudo uma tristeza profunda ao ver destruída nossa antiga sociabilidade brasileira. com a ascensão de valores fascistas, violentos, intolerantes contra o outro.

Ao ler a novela De jogos e festas, mais uma vez me vi no início dos anos oitenta, adolescente num mundo duro, com a mesma linguagem que conheci, e vi o personagem fazendo o que as pessoas de nosso mundo faziam.

Estranho! Ao pensar aquele mundo Brasil dos anos setenta e oitenta - miserável! -, sob Estado de Exceção, e aos quase cinquenta anos ver voltar o Estado de Exceção, enfim, o que mais me deixa pusilânime é imaginar ter que passar por todo o processo de volta à democracia e à reconquista de tudo o que os golpistas estão destruindo em semanas e que custaram anos e anos de lutas em nossas vidas...

Enquanto espécie animal, sei que a minha e a classe social em que estamos devem seguir lutando porque é o que tem a se fazer, mas uma vida humana é curta demais para esses vai e vem que duram décadas. Para mim, será bem difícil passar um novo ciclo de anos e anos vivendo triste por ver um mundo fascista, com uma geração que se tornou - a partir de uma máquina de envenenamento midiático - vil, sem ética, sem caráter, com valores asquerosos.

Eu mudei minha psiquê ao longo das experiências da vida, felizmente. Penso na vida, penso nas pessoas, num mundo solidário e com valores coletivos. Mas quantos ainda estão conosco? Os donos dos meios capitalistas e de comunicação de massas (manipulação de massas) neste momento do século 21, venceram.


Interpone tuis interdum gaudia curis” ou “Mezcla placeres entre tus preocupaciones” (Catão, Dísticos, I, 18)


Minhas reflexões não são sinais de desistência, são só observações da realidade. Enquanto estiver por aqui e em condições, persisto nos ideais. Só preciso achar alguns prazeres para mesclar com as tristezas do que estamos vendo e do que vem pela frente.

William

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Indo pra Era dos Extremos - Só a luta te garante!





"Só a luta te garante!"

Noite de quarta-feira. Estamos em um hotel em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Viemos a trabalho e pela fé que temos na causa a que fomos destacados pelo voto dos trabalhadores associados da Cassi e pelas entidades sindicais e associativas que nos procuraram para disponibilizar o nosso nome para esta missão: defender a autogestão em saúde baseada em um modelo de saúde contra-hegemônico quase "revolucionário" ao compreendermos o contexto de degeneração em que se encontra o setor de saúde brasileiro, ou seja, é só olhar o contexto em que estamos metidos neste momento do mundo em que vivemos.

Estamos numa bela cidade e num belo país que sofreu uma total inversão de valores da noite para o dia, após um Golpe de Estado nos últimos meses que abriu as portas para um totalitarismo nazifascista que apenas começa. E aviso aos navegantes: não temos a quem recorrer nas instituições "partícipes" da estrutura burguesa do Estado porque toda ela foi envolvida no golpe que apeou do poder a presidenta eleita por 54,5 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2014.

Neste momento em que escrevo, o Congresso Nacional segue votando o que quer de projetos lesa-pátria. Entrega do Pré-sal, destruição de nossa Petrobras, congelamento das verbas da saúde e educação destruindo os dois pilares centrais da vida do povo, comprometendo o presente e o futuro de gerações. O país está sendo fatiado e partilhado como se tivéssemos acabado de perder uma guerra em que fomos considerados culpados e os vencedores estão distribuindo tudo que temos como butim de guerra.

Os banqueiros estão também determinados a derrotar os bancários na campanha salarial... é merda atrás de merda... e temos que lutar!

Só posso chorar por dentro ao ver tudo isso e me fortalecer para enfrentar tudo isso. Convido aos lutadores para começarmos uma formação política e de resistência para combater esses facínoras que tomaram o NOSSO país de assalto.

Não há tempo para chorar. Não há tempo para ficar culpando um ao outro no campo da esquerda e dos progressistas.

Eu vim aqui com meus recursos conversar com pessoas, com lideranças, convidar as pessoas que queiram se juntar a nós na causa da saúde e da Cassi, que faz promoção de saúde e prevenção de doenças, atenção primária, é contra-hegemônica ao sistema vigente e, assim como seus participantes, é vítima do mercado voraz de saúde (ou melhor, mercado do lucro na doença).

A luta deve seguir sempre, e por esse motivo eu percorro o país por uma causa e por ideias que acredito.

William

Post Scriptum:

ATENÇÃO! NESSE MESMO MINUTO O P.I.G. PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA, A MÁQUINA TOTALITÁRIA DE GOEBBELS, ESTÁ MANIPULANDO VOCÊS...

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Diário - 031016





Hoje é segunda-feira. Dia seguinte às eleições municipais no Brasil. 

O consórcio de golpistas, fascistas e direitistas que tomou de assalto o nosso País saiu vitorioso no processo, elegendo todo e qualquer perfil de ser humano que se declarou contra o PT e petistas (e comunistas e bolivarianos etc) para as prefeituras e para os parlamentos municipais. 

O Partido dos Trabalhadores, partido político de esquerda ou centro esquerda, alvo central do totalitarismo nazifascista implantado pelos donos dos meios de comunicação de massa (P.I.G.) foi o grande derrotado. 

Tudo indica que a imprecação "Precisamos acabar com essa raçacaminha para se realizar. Ela foi feita contra o PT em 2006 por Jorge Bornhausen, do antigo partido de direita Arena-PDS-PFL e hoje DEM, partido vindo do berço da ditadura civil-militar brasileira. 

Os petistas foram escorraçados pelo povo brasileiro, inclusive a classe trabalhadora que foi a grande beneficiária das políticas econômicas e sociais que geraram milhões de empregos, que aumentaram como nunca o Salário Mínimo, que incluíram dezenas de milhões de pessoas nas classes C, D e E, que incluíram os negros e despossuídos nas escolas e universidades públicas e privadas, enfim, o povo que melhorou de vida com o PT votou por extirpar o PT e suas lideranças do mapa brasileiro.

A derrota mais acachapante e que me põe com muito desejo de não mais falar, não mais escrever e que me colocou muito pensativo sobre seguir dando minha vida, minha inteligência, minha saúde pelos trabalhadores foi a derrota do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. 

Ele fez um mandato com políticas progressistas em nível do que há de mais avançado nas capitais do mundo. E a gente percebe que é uma pessoa que se doou ao mandato, com puro interesse coletivo e na vida da cidade e da cidadania do povo. Haddad obteve 16,7% dos votos do povo paulistano e o mega bilionário Doria obteve 53,3% dos votos.

Eu e minha esposa ficamos pensando a respeito disso tudo, desse massacre da esquerda, da ascensão da direita, primeiro via golpe midiático-parlamentar-jurídico, sem nenhuma reação das massas na rua que surtisse efeito prático, e agora via voto do povo trabalhador e mais humilde nos seus algozes...

Vale a pena lutar pela classe trabalhadora? Vale a pena se engajar até o limite da vida e da saúde pelas causas dos trabalhadores? No final dos processos, eles acabam votando contra aqueles que deram até o melhor de suas vidas pelas causas sociais e coletivas. E não aceito esse papo de que isso está certo porque no lado popular tem erros etc. 

É evidente que sempre tem erro de todos os lados, mas as políticas sociais e para o povo foram evidentes também e mudaram a vida desse mesmo povo, que não tem memória alguma que resista a uma máquina de propaganda de todos os meios monopolizados pelos empresários e capitalistas.

Estou me sentindo muito esquisito. Minha esposa até me cobrou que reveja ficar horas de minha vida tentando fazer textos de formação e informação para cumprir um papel que sempre expliquei a ela que é central na luta de classes: formar politicamente a classe que representamos. E ela me pergunta com certa razão: pra que?

O que vale a pena? Eu realmente estou me questionando neste momento pós ascensão da direita e véspera do massacre daqueles que represento.

William

sábado, 1 de outubro de 2016

A incerteza entre o medo e a esperança - Boaventura de Sousa Santos


Apresentação do texto:

"A incerteza da democracia. A democracia liberal foi concebida como um sistema de governo assente na incerteza de resultados e na certeza dos processos. A certeza dos processos garantia que a incerteza dos resultados fosse igualmente distribuída por todos os cidadãos. Os processos certos permitiam que os diferentes interesses vigentes na sociedade se confrontassem em pé de igualdade e aceitassem como justos os resultados que decorressem desse confronto. Era esse o princípio básico da convivência democrática. Essa era a teoria mas na prática as coisas foram sempre muito diferentes, e hoje a discrepância entre a teoria e a prática atinge proporções perturbadoras"


Olá amig@s leitores,

Temos que fazer a resistência no que diz respeito às tendências atuais do fim das leituras reflexivas, de fôlego e que alimentam perspectivas de mudanças ao estado de degeneração da sociedade mundial, fruto do avanço do sistema hegemônico do capital, que amplia a desigualdade e acelera a destruição do planeta, sistema movido por pouquíssimos atores globais.

O texto é denso e merece leitura acurada e analítica. Eu me emocionei várias vezes ao ver o autor tecendo questões que sempre penso a respeito. Eu gostaria depois de fazer uma releitura com comentários porque poderia citar várias coisas a cada tema tratado por Boaventura.

Abraços e boas reflexões aos que fizerem a leitura.

William Mendes


Texto e foto publicado em Carta Maior.

Vivemos em um mundo em que as incertezas, descendentes ou ascendentes, se transformam cada vez mais em incertezas abissais


Diz Espinoza que as duas emoções básicas dos seres humanos são o medo e a esperança. A incerteza é a vivência das possibilidades que emergem das múltiplas relações que podem existir entre o medo e a esperança. Sendo diferentes essas relações, diferentes são os tipos de incerteza. O medo e a esperança não estão igualmente distribuídos por todos os grupos sociais ou épocas históricas. Há grupos sociais em que o medo sobrepuja de tal modo a esperança que o mundo lhes acontece sem que eles possam fazer acontecer o mundo. Vivem em espera, mas sem esperança. Estão vivos hoje, mas vivem em condições tais que podem estar mortos amanhã. Alimentam os filhos hoje, mas não sabem se os poderão alimentar amanhã. A incerteza em que vivem é uma incerteza descendente, porque o mundo lhes acontece de modos que pouco dependem deles. Quando o medo é tal que a esperança desapareceu de todo, a incerteza descendente torna-se abissal e converte-se no seu oposto: na certeza do destino, por mais injusto que seja. Há, por outro lado, grupos sociais em que a esperança sobrepuja de tal modo o medo que o mundo lhes é oferecido como um campo de possibilidades que podem gerir a seu bel-prazer. A incerteza em que vivem é uma incerteza ascendente na medida em que tem lugar entre opções portadoras de resultados em geral desejados, mesmo que nem sempre totalmente positivos. Quando a esperança é tão excessiva que perde a noção do medo, a incerteza ascendente torna-se abissal e transforma-se no seu oposto: na certeza da missão de apropriar o mundo por mais arbitrária que seja.


A maioria dos grupos sociais vive entre esses dois extremos, com mais ou menos medo, com mais ou menos esperança, passando por períodos em que dominam as incertezas descendentes e outros em que dominam as incertezas ascendentes. As épocas distinguem-se pela preponderância relativa do medo e da esperança e das incertezas a que as relações entre um e outra dão azo.


Que tipo de época é a nossa?


Vivemos em uma época em que a pertença mútua do medo e da esperança parece colapsar perante a crescente polarização entre o mundo do medo sem esperança e o mundo da esperança sem medo, ou seja, um mundo em que as incertezas, descendentes ou ascendentes, se transformam cada vez mais em incertezas abissais, isto é, em destinos injustos para os pobres e sem poder e missões de apropriação do mundo para os ricos e poderosos. Uma porcentagem cada vez maior da população mundial vive correndo riscos iminentes contra os quais não há seguros ou, se os há, são financeiramente inacessíveis, como o risco de morte em conflitos armados em que não participam ativamente, o risco de doenças causadas por substâncias perigosas usadas de modo massivo, legal ou ilegalmente, o risco de violência causada por preconceitos raciais, sexistas, religiosos ou outros, o risco de pilhagem dos seus magros recursos, sejam eles salários ou pensões, em nome de políticas de austeridade sobre as quais não têm qualquer controle, o risco de expulsão das suas terras ou das suas casas por imperativos de políticas de desenvolvimento das quais nunca se beneficiarão, o risco de precariedade no emprego e de colapso de expectativas suficientemente estabilizadas para planejar a vida pessoal e familiar ao arrepio da propaganda da autonomia e do empreendedorismo.



Em contrapartida, grupos sociais cada vez mais minoritários em termos demográficos acumulam poder econômico, social e político cada vez maior, um poder quase sempre baseado no domínio do capital financeiro. Essa polarização vem de longe, mas é hoje mais transparente e talvez mais virulenta. Consideremos a seguinte citação:


Se uma pessoa não soubesse nada acerca da vida do povo deste nosso mundo cristão e lhe fosse perguntado “há um certo povo que organiza o modo de vida de tal forma que a esmagadora maioria das pessoas, noventa e nove por cento delas, vive de trabalho físico sem descanso e sujeita a necessidades opressivas, enquanto um por cento da população vive na ociosidade e na opulência. Se o tal um por cento da população professar uma religião, uma ciência e uma arte, que religião, arte e ciência serão essas?” A resposta não poderá deixar de ser: “uma religião, uma ciência e uma arte pervertidas”.


Dir-se-á que se trata de um extracto dos manifestos do Movimento Occupy ou do Movimentos dos Indignados do início da presente década. Nada disso. Trata-se de uma entrada do diário de Liev Tolstói no dia 17 de março de 1910, pouco tempo antes de morrer.


Quais as incertezas?


Como acabei de referir, as incertezas não estão igualmente distribuídas, nem quanto ao tipo nem quanto à intensidade, entre os diferentes grupos e classes sociais que compõem as nossas sociedades. Há pois que identificar os diferentes campos em que tais desigualdades mais impacto têm na vida das pessoas e das comunidades.


A incerteza do conhecimento. Todas as pessoas são sujeitos de conhecimentos e a esmagadora maioria define e exerce as suas práticas com referência a outros conhecimentos que não o científico. Vivemos, no entanto, uma época, a época da modernidade eurocêntrica, que atribui total prioridade ao conhecimento científico e às práticas diretamente derivadas dele: as tecnologias. Isso significa que a distribuição epistemológica e vivencial do medo e da esperança é definida por parâmetros que tendem a beneficiar os grupos sociais que têm mais acesso ao conhecimento científico e à tecnologia. Para estes grupos a incerteza é sempre ascendente na medida em que a crença no progresso científico é uma esperança suficientemente forte para neutralizar qualquer medo quanto às limitações do conhecimento atual. Para esses grupos, o princípio da precaução é sempre algo negativo porque trava o progresso infinito da ciência. A injustiça cognitiva que isso cria é vivida pelos grupos sociais com menos acesso ao conhecimento científico como uma inferioridade geradora de incerteza quanto ao lugar deles num mundo definido e legislado com base em conhecimentos simultaneamente poderosos e estranhos que os afetam de modos sobre os quais têm pouco ou nenhum controle. Trata-se de conhecimentos produzidos sobre eles e eventualmente contra eles e, em todo caso, nunca produzidos com eles. A incerteza tem uma outra dimensão: a incerteza sobre a validade dos conhecimentos próprios, por vezes ancestrais, pelos quais têm pautado a vida. Terão de os abandonar e substituir por outros? Esses novos conhecimentos são-lhes dados, vendidos, impostos e, em todos os casos, a que preço e a que custo? Os benefícios trazidos pelos novos conhecimentos serão superiores aos prejuízos? Quem colherá os benefícios, e quem, os prejuízos? O abandono dos conhecimentos próprios envolverá um desperdício da experiência? Com que consequências? Ficarão com mais ou menos capacidade para representar o mundo como próprio e para transformá-lo de acordo com as suas aspirações?


A incerteza da democracia. A democracia liberal foi concebida como um sistema de governo assente na incerteza de resultados e na certeza dos processos. A certeza dos processos garantia que a incerteza dos resultados fosse igualmente distribuída por todos os cidadãos. Os processos certos permitiam que os diferentes interesses vigentes na sociedade se confrontassem em pé de igualdade e aceitassem como justos os resultados que decorressem desse confronto. Era esse o princípio básico da convivência democrática. Essa era a teoria mas na prática as coisas foram sempre muito diferentes, e hoje a discrepância entre a teoria e a prática atinge proporções perturbadoras.


Em primeiro lugar, durante muito tempo só uma pequena parte da população podia votar e por isso, por mais certos e corretos que fossem os processos, eles nunca poderiam ser mobilizados de modo a ter em conta os interesses das maiorias. A incerteza dos resultados só em casos muito raros poderia beneficiar as maiorias: nos casos em que os resultados fossem o efeito colateral das rivalidades entre as elites políticas e os diferentes interesses das classes dominantes que elas representavam. Não admira, pois, que durante muito tempo as maiorias tenham visto a democracia de pernas para o ar: um sistema de processos incertos cujos resultados eram certos, sempre ao serviço dos interesses das classes e grupos dominantes. Por isso, durante muito tempo, as maiorias estiveram divididas: entre os grupos que queriam fazer valer os seus interesses por outros meios que não os da democracia liberal (por exemplo, a revolução), e os grupos que lutavam por ser incluídos formalmente no sistema democrático e assim esperar que a incerteza dos resultados viesse no futuro a favorecer os seus interesses. A partir de então as classes e os grupos dominantes (isto é, com poder social e econômico não sufragado democraticamente) passaram a usar outra estratégia para fazer funcionar a democracia a seu favor. Por um lado, lutaram para que fosse eliminada qualquer alternativa ao sistema democrático liberal, o que conseguiram simbolicamente em 1989 no dia em que caiu o Muro de Berlim.


Por outro lado, passaram a usar a certeza dos processos para os manipular de modo a que os resultados os favorecessem sistematicamente. Porém, ao eliminarem a incerteza dos resultados, acabaram por destruir a certeza dos processos. Ao poderem ser manipulados por quem tivesse poder social e econômico para tal, os processos democráticos, supostamente certos, tornaram-se incertos. Pior do que isso, ficaram sujeitos a uma única certeza: a possibilidade de serem livremente manipulados por quem tivesse poder para tal.


Por essas razões, a incerteza das grandes maiorias é descendente e corre o risco de se tornar abissal. Tendo perdido a capacidade e mesmo a memória de uma alternativa à democracia liberal, que esperança podem ter no sistema democrático liberal? Será que o medo é de tal modo intenso que só lhes reste a resignação perante o destino? Ou, pelo contrário, há na democracia um embrião de genuinidade que pode ser ainda usado contra aqueles que a transformaram numa farsa cruel?


A incerteza da natureza. Sobretudo desde a expansão europeia a partir do final do século XV, a natureza passou a ser considerada pelos europeus um recurso natural desprovido de valor intrínseco e por isso disponível sem condições nem limites para ser explorado pelos humanos. Esta concepção, que era nova na Europa e não tinha vigência em nenhuma outra cultura do mundo, tornou-se gradualmente dominante à medida que o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado (este último reconfigurado pelos anteriores) se foram impondo em todo o mundo considerado moderno. Esse domínio foi de tal modo profundo que se converteu na base de todas as certezas da época moderna e contemporânea: o progresso. Sempre que a natureza pareceu oferecer resistência à exploração tal foi visto, quando muito, como uma incerteza ascendente em que a esperança sobrepujava o medo. Foi assim que o Adamastor de Luís de Camões foi corajosamente vencido e a vitória sobre ele se chamou Cabo da Boa Esperança.


Houve povos que nunca aceitaram esta ideia da natureza porque aceitá-la equivaleria ao suicídio. Os povos indígenas, por exemplo, viviam em tão íntima relação com a natureza que esta nem sequer lhes era exterior; era, pelo contrário, a mãe-terra, um ser vivente que os englobava a eles e a todos os seres vivos presentes, passados e futuros. Por isso, a terra não lhes pertencia; eles pertenciam à terra. Essa concepção era tão mais verosímil que a eurocêntrica e tão perigosamente hostil aos interesses colonialistas dos europeus que o modo mais eficaz de a combater era eliminar os povos que a defendiam, transformando-os num obstáculo natural entre outros à exploração da natureza. A certeza desta missão era tal que as terras dos povos indígenas eram consideradas terra de ninguém, livre e desocupada, apesar de nelas viver gente de carne e osso desde tempos imemoriais.


Essa concepção da natureza foi de tal modo inscrita no projeto capitalista, colonialista e patriarcal moderno que naturalizar se tornou o modo mais eficaz de atribuir um caráter incontroverso à certeza. Se algo é natural, é assim porque não pode ser doutro modo, seja isso consequência da preguiça e da lascívia das populações que vivem entre os trópicos, da incapacidade das mulheres para certas funções ou da existência de raças e a “natural” inferioridade das populações de cor mais escura.


Essas certezas ditas naturais nunca foram absolutas, mas encontraram sempre meios eficazes para fazerem crer que eram. Porém, nos últimos cem anos elas começaram a revelar zonas de incerteza e, em tempos mais recentes, as incertezas passaram a ser mais verossímeis que as certezas, quando não conduziram a novas certezas de sentido oposto. Muitos fatores contribuíram para isso. Seleciono dois dos mais importantes. Por um lado, os grupos sociais declarados naturalmente inferiores nunca se deixaram vencer inteiramente e, sobretudo a partir da segunda metade do século passado, conseguiram fazer ouvir a sua plena humanidade de modo suficientemente alto e eficaz a ponto de a transformar num conjunto de reivindicações que entraram na agenda social política e cultural. Tudo o que era natural se desfez no ar, o que criou incertezas novas e surpreendentes aos grupos sociais considerados naturalmente superiores, acima de tudo a incerteza de não saberem como manter os seus privilégios senão enquanto não contestados pelas vítimas deles. Daqui nasce uma das incertezas mais tenazes do nosso tempo: será possível reconhecer simultaneamente o direito à igualdade e o direito ao reconhecimento da diferença? Por que continua a ser tão difícil aceitar o metadireito que parece fundar todos os outros e que se pode formular assim: temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza?


O segundo fator é a crescente revolta da natureza perante tão intensa e prolongada agressão sob a forma das alterações climáticas que põem em risco a existência de diversas formas de vida na terra, entre elas a dos humanos. Alguns grupos humanos estão já definitivamente afetados, quer por verem os seus habitats submersos pela elevação das águas do mar, quer por serem obrigados a deixar as suas terras desertificadas de modo irreversível. A terra mãe parece estar a elevar a voz sobre as ruínas da casa que era dela para poder ser de todos e que os humanos modernos destruíram movidos pela cobiça, voracidade, irresponsabilidade, e, afinal, pela ingratidão sem limites. Poderão os humanos aprender a partilhar o que resta da casa que julgavam ser só sua e onde afinal habitavam por cedência generosa da terra mãe? Ou preferirão o exílio dourado das fortalezas neofeudais enquanto as maiorias lhes rondam os muros e lhes tiram o sono, por mais legiões de cães, arsenais de câmeras de vídeo, quilômetros de cercas de arame farpado e de vidros à prova de bala que os protejam da realidade mas nunca dos fantasmas da realidade? Estas são as incertezas cada vez mais abissais do nosso tempo.


A incerteza da dignidade. Todo o ser humano (e, se calhar, todo o ser vivo) aspira a ser tratado com dignidade, entendendo por tal o reconhecimento do seu valor intrínseco, independentemente do valor que outros lhe atribuam em função de fins instrumentais que lhe sejam estranhos. A aspiração da dignidade existe em todas as culturas e expressa-se segundo idiomas e narrativas muito distintas, tão distintas que por vezes são incompreensíveis para quem não comungue da cultura de que emergem. Nas últimas décadas os direitos humanos transformaram-se numa linguagem e numa narrativa hegemônicas para nomear a dignidade dos seres humanos. Todos os Estados e organizações internacionais proclamam a exigência dos direitos humanos e propõem-se defendê-los. No entanto, qual Alice de Lewis Carrol, em Through the Looking-Glass [Através do Espelho], atravessando o espelho que esta narrativa consensual propõe, ou olhando o mundo com os olhos da Belimunda do romance de José Saramago, Memorial do Convento, que viam no escuro, deparamo-nos com inquietantes verificações: a grande maioria dos seres humanos não são sujeitos de direitos humanos, são antes objetos dos discursos estatais e não estatais de direitos humanos; há muito sofrimento humano injusto que não é considerado violação de direitos humanos; a defesa dos direitos humanos tem sido frequentemente invocada para invadir países, pilhar as suas riquezas, espalhar a morte entre vítimas inocentes; no passado, muitas lutas de libertação contra a opressão e o colonialismo foram conduzidas em nome de outras linguagens e narrativas emancipatórias e sem nunca fazerem referência aos direitos humanos. Essas inquietantes verificações, uma vez postas ao espelho das incertezas que tenho vindo a mencionar, dão azo a uma nova incerteza, também ela fundadora do nosso tempo. A primazia da linguagem dos direitos humanos é produto de uma vitória histórica ou de uma derrota histórica? A invocação dos direitos humanos é um instrumento eficaz na luta contra a indignidade a que tantos grupos sociais são sujeitos ou é antes um obstáculo que desradicaliza e trivializa a opressão em que se traduz a indignidade e adoça a má consciência dos opressores?


São tantas as incertezas do nosso tempo, e assumem um caráter descendente para tanta gente, que o medo parece estar a triunfar sobre a esperança. Deve esta situação levar-nos ao pessimismo de Albert Camus que em 1951 escreveu amargamente: “Ao fim de vinte séculos a soma do mal não diminuiu no mundo. Não houve nenhuma parusia, nem divina nem revolucionária”? Penso que não. Deve apenas levar-nos a pensar que, nas condições atuais, a revolta e a luta contra a injustiça que produz, difunde e aprofunda a incerteza descendente, sobretudo a incerteza abissal, têm de ser travadas com uma mistura complexa de muito medo e de muita esperança, contra o destino auto-infligido dos oprimidos e a missão arbitrária dos opressores. A luta terá mais êxito, e a revolta, mais adeptos, na medida em que mais e mais gente se for dando conta de que o destino sem esperança das maiorias sem poder é causado pela esperança sem medo das minorias com poder.


Fonte: Carta Maior (21/9/16)