Terceira parte
Economia escravista mineira (século XVIII)
XV. Regressão econômica e expansão da área de subsistência
Esse pequeno capítulo fecha a terceira parte do livro de Celso Furtado. As primeiras linhas do capítulo resumem o desfazimento do sistema de mineração dessa grande região que vai do litoral de São Paulo até o Mato Grosso, Sudeste e Centro-Oeste, sendo a área principal o Estado de Minas Gerais.
"Não se havendo criado nas regiões mineiras formas permanentes de atividades econômicas - à exceção de alguma agricultura de subsistência - era natural que, com o declínio da produção de ouro, viesse uma rápida e geral decadência. Na medida em que se reduzia a produção, as maiores empresas se iam descapitalizando e desagregando. A reposição da mão-de-obra escrava já não se podia fazer, e muitos empresários de lavras, com o tempo, se foram reduzindo a simples faiscadores. Dessa forma, a decadência se processava por uma lenta diminuição do capital aplicado no setor mineratório..." (p. 89)
Furtado diz que se os colonizadores daqui (invasores) tivessem optado por investir em algum tipo de industrialização e processos de manufaturas as coisas poderiam ser diferentes daquilo que ocorreu, uma imensidão continental com gente vivendo espalhada por meios básicos de subsistência. Citou como exemplo o ocorrido na Austrália:
"Houvesse a economia mineira se desdobrado num sistema mais complexo, e as reações seguramente teriam sido diversas. Na Austrália, três quartos de século depois, o desemprego causado pelo colapso da produção de ouro constituiu o ponto de partida da política protecionista que tornou possível a precoce industrialização desse país." (p. 89)
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ATENÇÃO! OU NÓS OU ELES, OS FDP DO AGRO "POP"
Fecho o comentário do capítulo citando mais um trecho de Furtado que nos faz pensar nos desgraçados do agro "pop" que insistem em fazer do Brasil um pasto continental exportador de commodities em benefício deles próprios, uns milhares de sujeitos, em prejuízo de 210 milhões de brasileiros:
"A necessidade de absorver o enorme excedente de mão-de-obra que se foi criando na medida em que diminuiu a produção de ouro - problema tanto mais grave quanto os setores lanífero e agrícola haviam introduzido técnicas poupadoras de mão-de-obra no período anterior para poder subsistir - contribuiu para formar no Estado de Vitória uma consciência clara de que só a industrialização poderia resolver o problema estrutural da região..." (p. 89)
E VEJAM O QUE SERIA DA AUSTRÁLIA SE LÁ PREVALECESSE AS IDEIAS LIBERAIS DOS CARAS DO AGRO "POP":
"Tivesse o país permanecido sob a influência exclusiva dos grupos exportadores de lã, e a predominância das ideias liberais teria impedido qualquer política de industrialização por essa época." (p. 90)
Furtado termina o capítulo explicando as consequências da desarticulação do sistema de mineração no Brasil. O povão vai se espalhar e produzir em regime de subsistência.
"Em nenhuma parte do continente americano houve um caso de involução tão rápida e tão completa de um sistema econômico constituído por população principalmente de origem europeia." (p. 90)
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É isso. Por mais triste que tudo possa parecer hoje num país destruído pelo golpe de 2016 e dominado pelo crime organizado desde o governo até os órgãos do Estado, acho importante conhecer a história, a nossa história nesse caso.
William
Leiam aqui os comentários do capítulo seguinte.
Bibliografia:
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.