Refeição Cultural
Quando comprei este livro em dezembro, na semana do Natal de 2018, repeti o gesto que faço há anos ao namorar livros em estantes de livrarias: deixei o impulso do desejo de conhecimento falar mais alto e o levei para casa, para se somar aos inumeráveis livros que tenho e que por diversas desculpas ficam lá em casa sem a leitura ou com a leitura iniciada e nunca acabada.
Um de meus livros que tem essa "história de leitura" é o livro do historiador marxista britânico Eric Hobsbawn (falecido em 1/10/2012), A era dos extremos, publicado em 1994. Já iniciei a leitura desta obra fantástica diversas vezes ao longo de anos e nunca passei da metade do livro.
O professor universitário, cientista político e historiador brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira faleceu em 10/11/2017, após uma vida dedicada aos estudos das relações internacionais. Ele deixou uma extensa obra que eu só passei a conhecer ao ler sobre ele na rede mundial e dentro do próprio livro A desordem mundial, último lançado por ele em março de 2016.
Desta vez, a (minha) história da leitura do livro de Moniz Bandeira foi outra, felizmente. Por diversos motivos, inclusive porque os tempos são outros, li o grosso volume em menos de um mês.
Amigos leitores, eu recomendo a leitura a vocês que têm o desejo de saber como o mundo funciona realmente há dezenas de anos, há séculos, eu diria. As causas e consequências das coisas da realpolitik.
O nome completo da obra já nos diz a respeito: "A desordem mundial, o espectro da total dominação - guerras por procuração, terror, caos e catástrofes humanitárias". Entenderam o que aborda a obra? Se algum de vocês ainda tinha alguma inocência, ela deixará de existir após as 600 páginas percorridas.
Uma dica para os leitores que forem encarar o livro: se possível, leiam com acesso a algum programa de tradução, porque o autor faz citações com frequência nas línguas originais em inglês e francês, e algumas vezes em outras línguas como latim, alemão etc. Eu usei o google tradutor, que vem melhorando bastante em verter textos de uma língua para outra.
Após passar os últimos anos com minha atenção voltada quase que exclusivamente para estudar, conhecer e lidar com os temas de saúde e gestão de saúde por causa de meu último trabalho, a leitura do livro de Moniz Bandeira foi como o abrir das cortinas para a apresentação de uma peça clássica: adentrei num novo mundo. E como toda boa peça de teatro, ópera ou musical e seu efeito modificador, saí da leitura diferente, talvez amargo, mas muito mais consciente do mundo em que vivemos e dos porquês das coisas.
Hoje conheço muito mais a respeito das questões internacionais envolvendo Estados Unidos, Rússia, disputa de hegemonia do petróleo e gás (Oriente, Ucrânia, Venezuela, Brasil e Petrobras/Pré-sal), as guerras nada "espontâneas" ou "por democracia" (por "direitos humanos!") nos países ao redor dos grandes eixos imperialistas; as guerras e quedas de governos na Líbia, Síria, Arábia Saudita, Ucrânia, Egito, Iraque. Sei mais sobre a Otan. Sobre Israel, Palestina, Líbano, Irã, Turquia.
Confesso que a leitura de muitos dos capítulos nos dá quase ânsia de vômito por descobrir o quanto é nojento o papel de governos americanos nas desgraças do mundo. Para quem não tinha muita simpatia por um dos clãs de presidentes dos Estados Unidos, os Bush, vocês não têm noção do papel desempenhado pelo senhor Obama, prêmio Nobel da Paz (Putz! É inacreditável!).
Após a leitura, fica muito mais fácil entender este momento em que estamos, quando nos sentimos como se estivéssemos dentro de um pesadelo e não conseguimos acordar.
Vale a pena a leitura desta obra de Moniz Bandeira. Fiquei muito mais atento aos acontecimentos ao redor do mundo quando vejo as notícias diárias, porque tudo está imbricado e o mundo é um só. O que estamos vivendo no Brasil não é algo isolado, de maneira alguma.
William