Hemingway e eu, em Cuba. |
Refeição Cultural - Abril e Maio
Osasco, 31 de maio de 2023. Quarta-feira.
INTRODUÇÃO: UMA REFLEXÃO
Achei interessante uma ideia que vi dias atrás sobre a idade das pessoas. Pelo conceito que vi, eu não tenho 54 anos, eu só tenho o tempo que me resta de vida, eu não tenho o tempo que já passou. E nem sei se "temos todo o tempo do mundo" como diz a Legião Urbana. O que fazer com o tempo que me resta é uma questão a se avaliar o tempo todo neste exato momento.
O tempo é implacável com as coisas da natureza. Hoje eu não poderia mais ser qualquer coisa que meu cérebro estabelecesse para mim como em outros tempos já passados. Minha natureza mudou como tudo que mudou ao meu redor. Mudança é a única certeza. Biologicamente ainda posso muita coisa, o William (cérebro e identidade) está até mais preparado que antes. Sei da plasticidade do cérebro humano. Contudo, a natureza já me restringe e me lembra que sou animal, sou material, e tenho em mim as marcas do tempo.
Infelizmente, ou felizmente, vai saber!, sigo não sendo o condutor de minha vida, sigo vivendo ao acaso, me vendo em veredas da vida ora interessantes, ora complicadas. Por uma dessas veredas, conheci dias atrás Cuba. E isso após uma vida militante e dirigente sem nunca ter ido ao único país socialista de Nuestra América. Um acaso me levou até a Ilha.
Vejam como são as coisas em minha jornada por este grande sertão... conheci a Espanha e a Itália por um mero acaso, fui a trabalho. Não planejei nada. Fui duas vezes aos Estados Unidos também por me pegar numa vereda que parou lá. E agora conheci Cuba assim, por aparecer o atalho que me pôs no caminho. Grande sertão: veredas...
Estou procurando... passei a vida procurando. A música que embalava minha busca era "I Still Haven't Found What I'm Looking For" (U2). A busca foi mudando ao longo do percurso. Por décadas, procurava respostas como fazem os demais humanos curiosos e filosóficos. Encontrei bem recentemente várias respostas para as perguntas que martelavam no meu cérebro. Parece que as respostas me deram até um vazio...
Agora, já que ainda estou no sertão, olho pro chão e pro horizonte, procurando atalhos, veredas, ou solos passíveis de se embrenhar e, de repente, criar novos caminhos, já que não há caminhos, já que o poeta nos diz que os caminhos se fazem ao andar. É isso... só me resta, só nos resta, caminhar adiante. Aprendi do viver que a vida é uma oportunidade... então, caminhar.
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BRASIL
Ditadura x Democracia: narrativas que prevalecem como verdade...
Neste fechamento do mês de maio, cinco meses de governo Lula, pudemos acompanhar derrotas importantes de pautas defendidas e eleitas pela maioria do povo brasileiro nas eleições de 2022. Neste momento em que escrevo, último dia do mês, o Presidente da República, Lula, está na correria para ver se o tal Lira, chefão do Parlamento, aprova a estrutura do seu governo implantada no início do ano por Medida Provisória - os ministérios -, para poder seguir os trabalhos do governo no mês de junho... Se Lira não quiser aprovar a MP, mais da metade dos ministérios do governo deixam de existir em junho...
Ontem, 30/5, aquela maioria da Câmara Federal "eleita" através da compra de votos com o orçamento secreto, com dinheiro público, e outras falcatruas denunciadas durante o processo eleitoral de 2022, aprovou o Projeto de Lei 490, o tal "Marco Temporal", decretando a destruição da Amazônia e demais biomas do país, o genocídio dos povos indígenas, e forçando a Suprema Corte do país a se posicionar sobre a ilegalidade da decisão daquela maioria canalha de parlamentares. Supõe-se que o objetivo da pressa em votar essa lei criminosa e genocida seja para alimentar a narrativa da extrema-direita bolsonarista de que o país vive sob uma "ditadura" do judiciário.
(Post Scriptum: no final do ano, mesmo após o STF se posicionar contra o "Marco Temporal" e o presidente Lula vetar o projeto do Congresso Nacional de maioria reacionária e de direita, o parlamento derrubou o veto presidencial e manteve a lei inconstitucional...)
O pior é que de certa forma é verdade, vivemos sob algumas formas de ditaduras estabelecidas no país. O judiciário brasileiro implantou uma ditadura durante as ações penais conhecidas como "Mensalão" e "Lava Jato". Pasmem! Nestes dias, um juiz da Suprema Corte confessou em público que condenou injustamente José Genoino, um dos réus da Ação Penal 470, a de nome fantasia "Mensalão". A mais importante Corte do país assumiu que condena réus por questões políticas! Genoino quase morreu durante sua prisão injusta... E prenderam por 580 dias numa masmorra em Curitiba a figura pública mais popular e importante do país para retirá-lo das eleições de 2018, o atual presidente da república, Lula. Os tribunais responsáveis por esses crimes, essa ditadura do judiciário, seguem cometendo crimes e nada parece interromper isso: falo da 13ª Vara de Curitiba, do TRF4 et caterva.
E as tais narrativas? O que é ditadura e o que é democracia? A eleição do parlamento nacional do Brasil veio sofrendo interferências políticas decisivas do dinheiro público e privado a cada eleição nos últimos pleitos e continuam chamando de democracia o regime político brasileiro... é uma piada! Derrubaram a presidenta Dilma sem crime algum e ficaram de blá blá blá chamando isso de democracia...
O parlamento de 2014 foi o pior da história, aí o parlamento de 2018 foi pior ainda, e o atual, de 2022, foi constituído com todo o processo de orçamento secreto e compra de votos que está vindo a público agora - com bilhões roubados da Caixa Federal, com a PRF impedindo eleitores de votar no Nordeste etc -, tudo começa a se apurar após a não-eleição do genocida mafioso que estava no poder e que vem sendo acusado de um alfabeto inteiro de crimes de todas as formas possíveis e imagináveis.
Vivemos numa democracia? Que porra de democracia é essa com aquelas centenas de pessoas constituintes do parlamento nacional estando lá de forma injusta e grande parte de forma incorreta e à margem das regras básicas da democracia? Essa gente colocada lá assim, de formas ilegais, votando contra tudo que o povo elegeu em outubro de 2022, é uma ditadura, ditadura do 1% contra os 99%, ditadura. Que merda é essa de chamar Cuba de ditadura e chamar o Brasil de democracia? Que democracia é essa desse Congresso ilegal, eleito ilegalmente? Democracia o cacete!
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LEITURAS
Antes de fazer essa postagem fechando os primeiros cinco meses do ano, reli todas as postagens de fechamento de mês e reli as postagens sobre os livros e mangás que li. Foi bom relembrar o percurso cultural até agora, há um esforço honesto de minha parte em buscar conhecimento e melhorar minha consciência em todas as dimensões humanas.
Em janeiro li dois romances, o livro A estranha vontade de um morto, do amigo Sandro Sedrez (ver aqui) e o de Itamar Vieira Junior, Torto arado (aqui). Em fevereiro li um belo livro de poesia - rio pequeno - abordando a região onde nasci, Rio Pequeno (aqui), e li o diário do bandeirante Roberto Buzzo (aqui). Reli o Manifesto do Partido Comunista, em seu 175º aniversário (aqui).
Em março finalizei a leitura de mais quatro livros: A vida não é útil, de Krenak, que me deixou muito pensativo (ver aqui); li livros relacionados à política, história e literatura: A Ilha, de Fernando Morais (aqui), Os sentidos do lulismo, de André Singer (aqui) e O homem que amava os cachorros, de Leonardo Padura (aqui).
Entre abril e maio, um período marcado pela minha viagem a Cuba, li mais três livros: O trono no morro, de José J. Veiga (aqui), O governo no futuro, de Noam Chomsky (aqui) e o livro de Henry Bugalho, A impureza da minha mão esquerda (aqui), perfazendo 12 livros até aqui.
Também estou lendo mangás, uma forma de cultura que não manuseava até pouco tempo, mas que incluí no meu cotidiano de leitura.
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VEREDAS E CAMINHOS
Os meses de abril e maio foram os meses da realização de nossa viagem a Cuba, planejada por quase um ano. Nosso grupo de professores e bancários aposentados e um estudante, meu filho, esteve em Cuba entre os dias 27 e 11 de maio. Correu tudo bem na viagem, voltamos com novas experiências e temos um olhar e impressões muito melhores hoje em relação ao país socialista de Nuestra América. Tenho feito postagens sobre a viagem a Cuba aqui no blog.
As veredas da vida já me levaram por alguns caminhos neste ano. Fomos à Praia Grande em janeiro, nós adoramos a simplicidade da colônia dos professores do Sinpro SP. Conheci Guarapari (ES) em viagem com a esposa. Vi a família em Uberlândia (MG). E agora conheço um novo país, a República Socialista de Cuba.
Corri na calçada do Capitólio em Cuba. |
Fico feliz por meus familiares adoecidos estarem resistindo e estarem entre nós. Fico feliz por meu filho ter retomado os estudos. Sigo atento a fazer a minha parte para estar vivo e com a oportunidade de estar entre pessoas que nos consideram. Corri 8 vezes nesse período, inclusive em Havana, imaginem vocês, corri 30' ao redor do Capitólio Nacional de Cuba! Demais, né não?
Fecho o registro desses cinco meses do ano. Estou refletindo sobre novos objetivos a perseguir, objetivos de curto e médio prazo. Não posso me esquecer das palavras de Ailton Krenak, para sermos menos arrogantes e lembrarmos que não sabemos se haverá amanhã, o amanhã não está à venda.
William