segunda-feira, 17 de junho de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural 

Uberlândia, 17 de junho de 2024. Segunda-feira. 


Estou no Parque do Sabiá, comendo açaí em frente ao lago. São oito horas da noite. Acabei de correr 13 Km. Este lugar tem um poder extraordinário sobre mim. Isso aqui é vida!

Enquanto relaxo após a corrida, ouço os quero-queros aqui do meu lado.

Ano passado, na semana do Natal, cheguei a Uberlândia sem acreditar ser possível correr a São Silvestre, que não corria há três anos. São 15 Km o percurso.

Vim ao Parque do Sabiá três vezes, nos dias 22, 24 e 26 de dezembro. O que aconteceu comigo foi incrível!

Eu estava com o condicionamento ruim, estava com dificuldades em superar meus limites de corrida. Além dos desgastes e dores no quadril, tive uma contusão no início dos treinos para a São Silvestre, em outubro. Lascou tudo. Quase desisti.

Corri um pouquinho em novembro e andei bastante. Uma coisa que me lembro, é que precisava correr um pouco, andar para recuperar o fôlego e voltar a correr. Achei que nunca mais embalaria nas corridas.

Aí, chego ao Paraíso, o Parque do Sabiá. Sei que naqueles três dias do período natalino, fui dando meu trotinho, andava, corria e calculava a pisada leve para não machucar o quadril desgastado. E mergulhei em mim para encontrar energia vital. 

Amig@s, naqueles três dias fiz percursos de 10 Km e no último treino, tinha a convicção de participar da São Silvestre e tentar os 15 Km. 

Deu tudo certo e completei a prova sem lesão e de forma tranquila. Foi inesquecível!

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Avalio que melhorei de lá para cá. 


Acabei de correr 13 Km em 97'. Corri direto, tranquilo, batimentos cardíacos normais, menos de 175 bpm.

Minha pisada na corrida precisa ser macia, com pouco impacto, tipo ninja correndo rsrs. Tenho me esforçado para isso.

Enfim, estou satisfeito com a corrida. Foi um momento feliz.

Amo este Parque do Sabiá!

William 


23 de 100 dias



23. Muitas pessoas sofrem o mesmo tipo de dor. Algumas dores não têm cura. São dores universais e já que os médicos não vão resolver as causas delas, vão só ensinar as pessoas a lidarem com elas, às vezes, é sofrer e seguir adiante. 

Conversando com minha mãe, ouvi a essência dessa descrição da dor da ingratidão, da falta de reconhecimento e de como essa dor não tem cura quando a causa dela ainda existe. 

De certa forma, a conversa com minha mãe me lembrou a conversa com minha companheira professora aposentada. Me lembrou meus próprios sentimentos ao acordar e perceber que estava sonhando com o mundo do trabalho de uma vida inteira ao qual não pertenço mais.

Dores pessoais que são dores universais. A dor que não tem cura. As causas externas das dores das pessoas que sofrem porque se sentem esquecidas e apagadas das histórias das vidas de outras pessoas físicas e jurídicas não vão deixar de existir, porque simplesmente a vida dessas pessoas seguiu.

Vejo nossas vidas e compreendo melhor o que antes procurava encontrar, as respostas para as perguntas existenciais. O conhecimento também é saber compreender por que as coisas são como são. Compreender não é aceitar. É reconhecer que certas coisas não são passíveis de mudança. 

É isso. Reflexões sobre a vida ao olhar para dentro de mim mesmo e ao conviver com pessoas que fizeram e fazem parte do meu caminho existencial. 

Sigo caminhando. Devemos seguir caminhando. Às vezes, é caminhando que entramos em novas veredas e novos caminhos, sem sequer perceber que as mudanças já começaram. A vida é isso.

William 

 

domingo, 16 de junho de 2024

22 de 100 dias



22. Eu gostaria de dar tons otimistas a esses textos diários que decidi fazer sobre um ciclo de 100 dias de vida. Isso seria mais apropriado para pessoas que são ou já foram de exposição pública. 

No entanto, a realidade se impõe. 

Quando penso, por exemplo, na política, o que vejo honestamente é um cenário e uma tendência à disrupção da ordem democrática brasileira e mundial e quase fim da sociabilidade humana. Só não percebe isso quem prefere se iludir ou vive capturado pelas abstrações alienantes da atualidade. 

Quando penso nas relações pessoais como, por exemplo, as familiares, avalio que será um desafio cada dia maior para as pessoas manterem suas relações familiares ativas. Os humanos nesta quadra da história foram muito influenciados pelo modo de vida capitalista, no qual tudo tem valor de troca, tudo é mercadoria, inclusive as pessoas humanas. Só temos valor de utilidade, inclusive para as relações pessoais. Prestem atenção nisso, olhem ao redor.

Ou seja, pensando num curto ciclo de dias de existência, uma centena, percebo o quanto é desafiador voltar a uma condição melhor nas relações familiares. Eu tenho o desejo de melhorar as relações familiares. Esse querer já é um passo. Estou pensando maneiras de realizar isso. No momento, o desafio é grande. Aqui nas Minas Gerais, as relações se esgarçaram muito. Ainda não desisti.

Fiquei feliz ao ouvir os relatos de minha companheira, que passou a tarde com a família em São Paulo. Fiquei feliz! Um ponto para todos nós. 

Seguimos na busca de mudanças positivas. 

William


Natais - 1974



Refeição Cultural 

Estou em Uberlândia, cidade onde moram meus pais, irmã e sobrinhos, onde moram diversos familiares, cidade onde passei minha adolescência complicada. 

Entendi que preciso vir com mais frequência à cidade, para estar com a família daqui.

Nesta série de textos sobre os natais de minha família, venho refletindo sobre nossa história familiar e, de forma simples, abordando algum contexto geral da época, local e ou internacional, para situar aquela gente simples em meio à multidão humana. 

Comecei pelo ano de 1968, quando meus pais ficaram grávidos de mim. Meus pais já tinham a Telma, com um ano e meio de idade. Aquele foi o ano do recrudescimento da ditadura brasileira, pois em 13 de dezembro o ditador Artur da Costa e Silva emitiu o Ato Institucional n° 5 (AI.5).

De certa forma, nos seis primeiros textos, expressei minha leitura da sociedade humana atual e anotei preocupações sobre o presente e o futuro da humanidade. 

Por fim, também tenho refletido sobre as mudanças em nossa família, reflexo das mudanças no comportamento humano em geral, na minha opinião, e pelo que posso observar da sociedade ocidental à qual faço parte. 

Nós todos estamos mudando rapidamente, sendo mudados, na verdade, e a cada dia será um desafio maior a manutenção de qualquer relação baseada em laços de família, amor e amizade. 

Essas relações dificilmente resistirão a qualquer divergência de ideias e opiniões. As relações humanas serão cada dia mais episódicas e utilitárias. É o que avalio.

Dito isso, sigamos refletindo e olhando para o passado, lutando pelo presente e tentando alterar as tendências de fim das relações humanas que não estejam vinculadas a interesses egoístas, de valores materiais e de poder.

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NATAL DE 1974

No Natal, eu já estava com quase seis anos de idade. Como será que foi o nosso Natal em família?

Naquele ano, um incêndio de grandes proporções atingiu o Edifício Joelma em São Paulo, matando 189 pessoas e ferindo 293. Crescemos ouvindo o pai falar sobre essa tragédia. 

No mundo, tivemos em abril uma vitória popular importante: A Revolução dos Cravos, em Portugal, depôs a ditadura do Estado Novo que já durava décadas. As colônias portuguesas estavam em luta aberta por suas independências também. 

Por aqui, eu morava naquele sobradinho alugado no Rio Pequeno e não me lembro de nada em específico daquele período. 

Conversando com minha mãe, ela me contou como eles se viravam para pagar as contas e criar os dois filhos. Meu pai era taxista e minha mãe era uma costureira de mão cheia, como se dizia. E mesmo assim, com duas rendas, a vida deles era difícil. A ditadura era boa para a elite, os ricos.

Quanto a mim, o menino de cinco para seis anos, era quase um "privilegiado", pois só brincava.

Tenho em casa carrinhos de ferro em miniaturas fabricados no ano de 1974. Talvez tenha ganhado eles nesse ano ou pouco depois, quiçá no Natal. 

São da marca Matchbox, da série Superfast: um Mustang amarelo e um Renaut laranja. Eu brincava com eles no tapete da sala e na frente do sobrado onde morávamos. Tenho os carrinhos na estante até hoje.

Brasil afora, muitas crianças da minha idade não tinham o que comer e, ao invés de brincarem, trabalhavam... 

Só fui conhecer essa realidade de trabalhar com uns onze anos de idade, quando saímos de São Paulo e fomos para Minas Gerais...

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Na foto da postagem, apresento três carrinhos que alegraram a minha infância. Na época, as crianças de nossa geração tinham habilidades manuais. Não era um mundo digital.  Alteravámos e criávamos coisas com cinco, seis, sete anos de idade. Antes dos dez, eu fazia pipas, cerol, carrinho de rolemã etc.

William 


sábado, 15 de junho de 2024

21 de 100 dias



21. Pela manhã, vejo meu pai se dirigindo a um amontoado de panos de tirar pó das coisas, trapos. Ele está com os óculos na mão procurando algo para limpá-los. Falo a ele pra não passar nenhum daqueles panos porque eles vão arranhar e inviabilizar os óculos. Meu pai pega o primeiro daqueles panos que alcança e passa nos óculos... o mundo está assim. As pessoas estão assim.

Como pessoa observadora do mundo, faz tempo que venho tirando algumas conclusões sobre nossa espécie, sobre o quanto estamos regredindo enquanto espécie homo sapiens. É minha impressão. 

Coisas estúpidas sempre fizemos. Do nada alguém faz alguma bobagem com consequências talvez irreversíveis porque as pessoas cometem coisas estúpidas - tipo aquelas de perder a vida em penhascos para tirar uma simples foto. 

No entanto, me parece que nós estamos nos tornando uma espécie de seres estúpidos. 

E a estupidez é uma pandemia, não adianta falarmos que somos os bons etc e que estamos vacinados contra o vírus da estupidez. 

Fico indignado comigo mesmo quando percebo que cometi uma estupidez qualquer. É uma praga isso! 

Para ficar no tema dos óculos, do início da reflexão, o primeiro arranhão em meu óculos novo e caro à epoca foi por estupidez minha.

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Enfim, neste 21°dia de busca de sentidos, mudanças e realizações pessoais, fomos na festa de aniversário da Olga, que completou dois aninhos. 

Minha mãe e eu visitamos minha tia, primo e sua companheira. 

Fui ao Parque do Sabiá para correr e ficar um pouco só, em companhia da natureza. 

William 


sexta-feira, 14 de junho de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural 

Uberlândia, 14 de junho de 2024. Sexta-feira. 


Efeméride do dia: em 14/06/1928 nasceu Ernesto Guevara de la Serna, em Rosário, Argentina. Que o exemplo do Comandante CHE siga sendo uma referência para todas as pessoas que lutam por um mundo mais justo, fraterno e sustentável! Hasta la victoria, siempre, comandante CHE!


Enquanto caminhava no Parque do Sabiá refletia sobre algumas coisas inacreditáveis que estão acontecendo em nosso país. 

Os temas que refleti são pesados, mas a beleza do cenário, a luminosidade do fim de tarde, o lusco-fusco, mereceu a captura do instante numa foto, que abre a postagem. 

GOVERNO LULA/PT INSISTE EM NÃO CONCEDER REAJUSTE AOS PROFESSORES 

É inacreditável a insistência do governo Lula em não dar reajuste adequado de salários aos professores universitários. 

Minha opinião: que porra de birra tosca é essa nesta altura do campeonato entre a civilização X a barbárie, quando a barbárie deu tudo aos bárbaros durante os regimes de exceção fascistas de Temer e Bolsonaro? Os caras passaram 7 anos dando aumento e promoções e benefícios para militares, forças de repressão e apaniguados e o Lula e seus subalternos não querem dar reajuste aos professores... que merda isso!

A HIPOCRISIA DA QUESTÃO DO ABORTO

Outra coisa que já encheu o saco é a esquerda escamotear os debates sobre as pautas de "costumes"...

Minha opinião: "costumes" é um eufemismo para não chamar cada questão por aquilo que ela significa. No caso do aborto se trata de dois temas de fato: direitos humanos e propriedade. 

Vou falar sobre o que pouco se fala: a questão dos homens acharem que mulheres são coisas, propriedades da sociedade dos machos.

Propriedade é o motivo central para existir a questão do "aborto" como algo que interesse a qualquer porra de pessoa que não seja a única interessada direta: a mulher que tem em si um óvulo fecundado por algum espermatozoide, desses que os homens passam a vida jogando na privada ou no lixo quando batem uma punheta.

São várias as formas de uma mulher ou menina ou criança ter um óvulo fecundado, muitas delas através de violência ou formas não consentidas pela pessoa do gênero feminino (que pode ser vítima de estupro). 

Os homens do século 21 ainda acham que as mulheres são suas propriedades. Sempre agiram assim. A forma de manter suas propriedades é através da violência direta ou de outras ferramentas como as ideologias. Inclusive, a religião é uma forma de ideologia como outra qualquer. 

Por focar quase sempre a questão eleitoral - episódica e imediata -, a esquerda que conhecemos no Brasil escamoteia o tema aborto e só se posiciona quando não tem jeito mesmo... é uma vergonha isso! 

Para ser direto, afirmo que ter ou não ter uma gravidez adiante e uma criança dessa gravidez é uma decisão absolutamente da mulher com o óvulo fecundado por algum espermatozoide.

O corpo da pessoa é só dela, quando ela não está escravizada. Não importa qual o gênero da pessoa humana. O meu corpo é meu, faço com ele o que quiser: corto um braço, entupo ele com colesterol, dou o cu se quiser, faço essas cirurgias estúpidas de lipo que matam pessoas por erro médico toda hora etc. 

Nem é preciso entrar na questão das estatísticas gigantescas do número de mulheres que criam crianças sozinhas, sem o macho dono do espermatozoide envolvido na gravidez. Via de regra, em qualquer dificuldade, o homem foge, abandona a pessoa mãe. 

Enfim, que chateação acompanhar essa birra sem sentido do nosso governo Lula em relação aos professores e trabalhadores das universidades federais e essa hipocrisia asquerosa da questão do aborto, com o Congresso atual querendo tipificar como assassinato o aborto.

Pimenta no cu dos outros não arde...

Peço perdão aos leitores e leitoras do blog por usar neste texto de opinião palavrões. Me perdoem! Achei necessário. 

William 


20 de 100 dias



20. Estou em Uberlândia, visitando a família. Estar com as pessoas queridas é um objetivo neste momento da existência. Ontem à noite, passei algumas horas com minha irmã Telma e o cunhado Tulio, e o Kalvin. Comemos pão de queijo, bolo, café e chá, afinal de contas estamos em Minas Gerais. 

Hoje já andei bastante, estou procurando solução para o aquário de minha mãe, que está com vazamento. Ela tem dois acarás. Comprar outro como pensei vai sair muito caro. Vou andar mais para ver como resolvo o problema. 

Andando pelo bairro, já me encontrei com um familiar e até domingo vou ver mais pessoas da família. 

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BRASIL SE DESFAZENDO

O mundo humano está complicado. As consequências decorrentes das eleições legislativas de 2022 estão a todo vapor na pior base parlamentar da história do Brasil. 

As eleições foram realizadas sob cenário muito adverso para nós que lutamos por um mundo mais justo e sustentável e nossos inimigos têm maiorias simples e qualificada para derrubar novamente o nosso presidente eleito, Lula, e estão votando "leis" que não podem ser acatadas por nós. 

Sempre expliquei que o povo da classe trabalhadora e suas lideranças não devem ser papagaios de auditório e ficar repetindo mantras estúpidos do tipo "lei não se discute, se cumpre...".

Não se discute o caralho! Se cumpre o cacete!

Esse Congresso vai votar que mulheres e crianças estupradas são assassinas se fizerem aborto e nós vamos "cumprir a lei"?

Esse Congresso comprado com dinheiro público do orçamento secreto vai votar a volta da escravidão e nós vamos acatar a tal "lei"?

Nossas lideranças devem ter postura de lideranças e atiçar o povo pra luta!

William 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

19 de 100 dias



19. Uma das coisas que sei que devem ser mais frequentes na minha vida é estar com pessoas presencialmente. Nos próximos dias estarei com meus pais e familiares de Minas Gerais. Isso é imprescindível.

Dentro do conceito de "carpe diem", avalio que devemos estar sempre que possível com pessoas queridas e que acrescentem algo positivo em nossa existência.

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FREI BETTO

Na estrada, lendo a biografia do dominicano Frei Betto, na parte na qual ele e companheiros estão como presos políticos no presídio paulista de Presidente Venceslau, no Natal de 1972, tem uma cena emocionante quando a advogada Eny Moreira promove um abraço aos 400 presos, durante a Missa do Galo (p. 203). 

Eu me lembrei de minha palestra em Curitiba, em 2019, quando promovi também um abraço coletivo para despertar os participantes do encontro - era um final de tarde e o pessoal estava cansado pelos debates do dia. 

Nada como um bom e carinhoso abraço para energizar as pessoas!

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O capítulo "Libertad aplazada", termina com a liberdade dos dominicanos, após cumprirem pena de prisão política, e com Frei Betto recebendo a notícia em agosto de 1974 da morte de Frei Tito, na França. O suicídio foi a única maneira que a vítima encontrou de se ver livre de seu torturador Sérgio Paranhos Fleury.

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O capítulo seguinte é muito didático ao falar sobre a Teologia da Libertação (TdL): "La Teología de la Liberación y la nueva Iglesia".

Frei Betto desenvolveu uma prática em seu cotidiano no cárcere que o auxiliou em suas reflexões e descobertas pessoais: a produção de cartas para o contato com o mundo exterior. 

Estou ficando sem luz solar no ônibus ao final de tarde na estrada. Vou encerrar a leitura e a postagem sobre meus dias de buscas.

Não consigo fazer citações do livro sobre Frei Betto. 

Gostei de uma passagem que explica a essência da Teologia da Libertação, que coloca a injustiça social como pecado praticado por aqueles que exploram o povo. 

Houve uma conferência católica na Colômbia em 1968 que definiu as bases da TdL. Os irmãos Leonardo Boff e Clodovis Boff foram importantes formuladores da TdL.

Os cristãos devem se empenhar em combater as estruturas sociais que causam a miséria do povo.

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Enfim, pôr do sol na estrada. Vamos abraçar os familiares em Uberlândia. 

William 

Post Scriptum: é a primeira vez que faço postagem direto do celular, não tinha esse hábito. 

 

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 12 de junho de 2024. Quarta-feira.


Nos últimos dias, tenho trabalhado em casa a organização de minha coleção de mídias, uma quantidade de materiais que fui adquirindo ao longo de décadas de vida. São livros, revistas, apostilas, mídias audiovisuais, papéis e mais papéis.

Cada documento é um encanto maior que o anterior. Ao assistir a alguns vídeos e documentários sobre a luta da classe trabalhadora brasileira, sinto um espírito de pertencimento que emociona a gente ao relembrar toda aquela luta da qual fui semente e participei nos meus trinta anos de categoria bancária.

Hoje, estou com o sentimento disperso, não tenho conseguido sentir pertencimento como senti ao longo de minha vida de trabalhador da categoria bancária. Avalio que são diversos os motivos que me fazem estar em busca de sentidos e motivações enquanto militante que viveu de forma intensa e por dentro as principais lutas da classe trabalhadora dos anos noventa para cá.

AUGUSTO CAMPOS

A riqueza do material que tenho é grande! Nesses últimos dias, li entrevistas de grandes figuras da nossa categoria bancária que participaram da criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT). Li depoimentos de Gilmar Carneiro, Olívio Dutra, Jacy Afonso e Luiz Azevedo. Que histórias incríveis! (ver comentário aqui)

Uma figura foi central no depoimento de todos eles: Augusto Campos.

Hoje, ao ver um documentário de 2014, com entrevistas realizadas em outubro daquele ano com o companheiro Augusto Campos, um material excepcional feito pelo pessoal do Crivelli Advogados Associados em parceria com o Sindicato, senti emoções profundas ao ouvir uma de nossas referências e ver que o que fui durante a representação sindical e o que sou como pessoa traz na essência as ideias e conceitos de figuras humanas como o Augustão. (diria que só não sou tão pacifista quanto ele foi)

O fazer sindical junto às bases, a forma democrática de organizar a classe trabalhadora, a clareza da necessidade de organizar o povo de forma ampla, não só olhando para o seu grupo, e uma das concepções que marcaram a criação da CUT, a de que as proposições das direções sindicais precisam ter ressonância na massa, a representatividade de uma liderança se dá quando a massa compartilha das ideias dessa liderança, acredita ser possível conquistar aquilo pelo qual estão lutando.

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OS TEMPOS DUROS DEVEM SER ENFRENTADOS COM UNIDADE, CRIATIVIDADE E SOLIDARIEDADE DE CLASSE

Essa geração do Augusto Campos, Gushiken, Lula, Olívio Dutra, Genoino, José Dirceu, Dilma Rousseff, Marisa Letícia, e tantas companheiras e companheiros que nos legaram o Brasil da Constituição Federal de 1988 enfrentaram a violência dos donos do poder econômico em todas as suas formas mais perversas e nos garantiram direitos e esperanças de uma vida melhor desde meados do século passado.

Ao ver o cenário atual, brasileiro e mundial, vejo semelhanças com os cenários dos tempos mais complexos que a humanidade vivenciou no século vinte: as duas guerras mundiais, as diversas formas de totalitarismo como o nazismo, o fascismo, o macarthismo e os erros do comunismo real, as guerras e ditaduras coloniais patrocinadas pelo imperialismo e os inúmeros conflitos que causaram extermínio e miséria de populações. Por trás de todos eles, todos, o capitalismo.

Tempos duros! Tempos duros!

E todos nós que temos formação política, que somos de esquerda, que fomos forjados na ideologia de lideranças como as que citei aqui, todos nós, sabemos que a vida é luta, que a vida é um bem precioso, sabemos que a humanidade precisa ser educada e ter acesso aos conhecimentos e culturas diversas para poder se libertar das opressões e das ignorâncias e manipulações dos donos do poder econômico, sabemos que não há chances para a humanidade sob a hegemonia do capitalismo. Só com a derrota do capitalismo poderemos salvar a vida no planeta Terra.

William Mendes


18 de 100 dias



18. Enquanto caminhava hoje pela manhã, pensei tanta coisa que acho uma pena as ideias se perderem depois que se chega em casa. Refletia sobre a minha busca de sentidos e objetivos para um viver de curto prazo: realizar alguma coisa a cada centena de dias.

O que quero ter feito até dois de setembro, primeira centena de dias de vida desde que pensei nesta forma episódica de viver em ciclos curtos de existência? 

100 dias pode ser muito tempo e pode ser tempo nenhum para determinadas coisas da existência e da natureza.

Uma pessoa pode melhorar sua saúde em 100 dias ou pode ter sua condição de saúde fodida em uma centena de dias... (minhas dores no quadril vão melhorar ou piorar, por exemplo?)

Uma pessoa pode aprender algo que mude sua vida em 100 dias e pode também passar a viver de negacionismo e desinformação numa espiral tão maluca que vire uma merda em forma humana...

Eu olho ao meu redor e o que vejo é horrível! Que merda virou o mundo! Da mesma forma que olho para fora, olho para dentro de minha vida e também percebo que não estou satisfeito. Sou um homem de sorte, por um lado, e sou uma pessoa que não tem encontrado realização pessoal, por outro. Que fazer?

Não defini um ou mais objetivos claros para perseguir em meu primeiro ciclo de 100 dias. Com o passar dos dias de busca de sentidos e de mudanças para a condição de insatisfação permanente, tenho obtido algumas noções de coisas a fazer.

Tenho que melhorar minha condição de saúde integral. Estou mais atento a isso. Sem a realização dessa tarefa, qualquer outra vai pro saco! Sem saúde e energia não sou nem estou no mundo de forma plena.

Tenho grande insatisfação por ter me tornado uma pessoa desorganizada na vida pessoal, sendo alguém que atuou para organizar o mundo lá fora durante minha militância e representação política. Casa de ferreiro, espeto de pau!

Avaliei nestes 18 dias de buscas por mudanças e sentidos que preciso organizar as mídias que tenho de cultura em geral. Fazer uma espécie de centro de documentação (cedoc), que inclua os livros que tenho, filmes, revistas, apostilas, cadernos, os mais de 5 mil textos que fiz em blogs e que estão em nuvens... ou seja, podem se perder a qualquer momento.

NUVENS

Uma das coisas que pensei enquanto caminhava é sobre essa questão das nuvens. É um erro crasso da humanidade confiar em depositar nossos conhecimentos e culturas em nuvens... ou seja, em meios digitais que estão mantidos em máquinas dos grandes donos do mundo, dos capitalistas, um bando de fdp fascistas que estão destruindo a humanidade e a natureza com todas as formas de vida.

É um erro não guardarmos nossos conhecimentos e culturas em meios físicos. As nuvens, os tais meios digitais servem de backup, mas não se pode deixar que toda a nossa produção humana esteja somente nas máquinas dos fdp donos do mundo, uns merdas como os donos das big techs!

Enfim, enquanto vou vivendo, acho que tenho que organizar o meu cedoc e que isso sirva pra alguma coisa (ou não), mas que esteja por aqui em algum lugar disponível. Podem pôr fogo depois, não sabemos o dia de amanhã. 

Que eu deveria organizar a quantidade enorme de conhecimentos e culturas que sei que tenho, isso deveria! Então, mãos à obra, caralho!

Fiz isso nos últimos dias.

William


terça-feira, 11 de junho de 2024

17 de 100 dias



17. Uma das coisas que estou fazendo mais uma vez e quem sabe agora eu vá adiante nesses 100 dias de busca de sentidos é manusear e definir o que faço com a grande quantidade de mídias que tenho guardadas em casa sobre a história do movimento sindical e dos trabalhadores do Brasil. Ainda tenho que ver o que farei com as pilhas de materiais xerocados da Faculdade de Letras e com as centenas de revistas que tenho.

Estou apartando um grupo de materiais de formação para enviar a um companheiro de Belém (PA) que demonstrou interesse pelo material que anunciei e estou preparando outro grupo de materiais para um companheiro e amigo do BB de Guarulhos, aqui na região metropolitana de São Paulo. E um amigo do sindicato me pediu o material específico que tenho sobre negociação coletiva.

Seguindo no manuseio das mídias de estudos e cultura do mundo do trabalho, vou organizar um pequeno cedoc próprio, catalogado para facilitar o uso. Parte do que estou avaliando vai ficar neste meu acervo cultural.

Somarei ao cedoc os cadernos dos blogs de cultura e sindical, que tenho revisado e impresso aos poucos. Esse trabalho de organização vai compilar de certa forma minha formação política e cidadã dos últimos vinte e poucos anos de vida, a fase adulta de maior produção intelectual deste homo sapiens.

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A DÉCADA DA PERVERSIDADE (BRASIL E RS, DE COLLOR A FHC)

Hoje vi o vídeo produzido em 2010 pelo SindBancários abordando a terrível década dos anos noventa fazendo um contraponto com a década de oitenta, sendo esta de grandes manifestações e avanços populares conseguidos através das mobilizações do povo brasileiro.

O documentário tem quase uma hora e os depoimentos me fizeram recordar um período duro de nossas vidas de classe trabalhadora. Além de Collor, tivemos os dois governos do Fernando Henrique Cardoso, de privatizações e ataque violento aos direitos do povo trabalhador. Durante aquele período, dezenas de pessoas cometeram suicídio nas empresas públicas que sofreram processos de enxugamento e assédio moral institucional. Foi terrível!

É isso!

William


segunda-feira, 10 de junho de 2024

A geração que criou a CUT: lá estavam os bancários!



Refeição Cultural

Osasco, 10 de junho de 2024. Segunda-feira.


Estou lendo aos poucos as entrevistas excelentes das lideranças da classe trabalhadora brasileira que criaram a nossa Central Única dos Trabalhadores e o nosso Partido dos Trabalhadores. 

Que trabalho bonito fez para nós a equipe da edição do livro e que histórias extraordinárias ficamos sabendo ao lermos as entrevistas!

Seguem abaixo algumas citações de companheiros da categoria bancária.

Ao ver a história contatada pelos entrevistados fico contente por ter um sentimento de pertencimento ao fazer sindical que esse pessoal nos legou. Procurei seguir o exemplo deles durante todo o tempo em que atuei como dirigente cutista da classe trabalhadora.

William Mendes 

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GILMAR CARNEIRO (entrevista em abril de 2021)

"Então, assim, a CUT, o PT tem que voltar a discutir: 'Qual é o projeto que nós temos para o Brasil?'. Tem que discutir isso com as pessoas. 'Ah, mas não é papel da CUT?'. É! A esquerda que não discute o projeto de país, não tem país. O país acaba'." (Gilmar Carneiro, p. 73)

Conheço o companheiro Gilmar Carneiro há mais de duas décadas. Grande figura! Sempre que nos encontrávamos nos espaços de luta e reflexão, fazíamos bons debates. Agora nos vemos pouco. Tenho muito respeito e admiração por ele.

SOBRE AUGUSTO CAMPOS: ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO 

Ao falar da vitória da eleição sindical de 1979, Gilmar nos lembra da visão de vanguarda de Augusto Campos ao instituir o Boletim Diário do Sindicato para falar com os trabalhadores, disputar a hegemonia da comunicação. (p. 64)

PISO SALARIAL NA CATEGORIA 

Outra estratégia da direção sindical (1979-82) foi ampliar o piso salarial da categoria bancária. Até hoje, nosso piso, somado a algumas conquistas como tíquetes, é bem maior que o salário mínimo nacional. 

PRIVATIZAÇÕES DOS BANCOS ESTADUAIS E REGIONAIS

"Hoje, nenhum Estado tem banco! Nem banco privado, nem banco público. 'Ah, mas você tem o Banco do Brasil e a Caixa.' Depende de São Paulo. Você pega o Banco do Brasil e a Caixa é por volta de 40% de tudo o que movimenta o Banco do Brasil, é em São Paulo. Então, assim, há um processo de concentração de poder financeiro e de poder político da economia neoliberal em São Paulo. É o que eu chamo de 'Golpe Branco'." (p. 67)

SOBRE A CONTAG, CONSCIÊNCIA DE CLASSE E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 

"Mas, quem vai se preocupar com o campo, hoje em dia? Porque não é à toa que teve os congressos da Contag e não saiu nada no boletim da CUT (...) Aí, eu fui tirar satisfação: 'Por que não discutia?'. 'Não, porque não é filiado a CUT '. 'E a consciência de classe? E o planejamento estratégico?' 'Não! Não tem mais'." (p. 68)

SINDICATO E PARTIDO FOCADOS EM ELEIÇÕES 

"(...) Estas ousadias, você não vê mais, o movimento sindical refletindo sobre isso. Os partidos políticos também não estão discutindo, porque eles têm que se reeleger, essa obsessão, essa necessidade de eleição, é angustiante, você vive em função disso." (p. 74)

Gilmar faz críticas importantes e contundentes sobre a terceirização ter sido pouco enfrentada nos governos do PT. 

COTAS PARA NEGROS NO MOVIMENTO: POR QUE NÃO TEM? 

"Quer ver um debate mais importante que a CUT nunca fez direito? Além dos terceirizados: a questão da mulher e do negro. Por que tem cota para mulher e não tem cota para negro?" (p. 74/75)

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OLÍVIO DUTRA (entrevista em maio de 2021)

"O sindicato de antes de 64, era um sindicato, na verdade, de muitos pelegos, né? Nós começamos na nossa luta sindical contra os pelegos que eram aqueles que tinham eternamente cargos nos sindicatos. Não saíam das direções do sindicato e, às vezes, criavam outros sindicatos, para ter um número 'x' de sindicatos na federação para criar uma federação para depois se candidatar a juiz da Justiça do Trabalho. Havia um processo de corrupção enorme no sindicalismo pré-golpe." (p. 81)

DITADURA ROUBAVA OS SALÁRIOS DA CLASSE TRABALHADORA EM BENEFÍCIO DOS EMPRESÁRIOS 

"(...) E tinha uma salinha na agência, que era pra tomar um cafezinho e um quadrinho para a gente colocar ali as notícias no muralzinho e eu trazia do sindicato as notas do DIEESE sobre política econômica da ditadura - o Delfim Neto baixando o salário nacional para todo mundo e escamoteando dados e aquela coisa toda! Se descobriu, então, aquela 'tungada' no percentual de reajuste do salário mínimo - porque era o salário nacional..." (p. 81)

FOCO NA FORMAÇÃO POLÍTICA DA BASE

"(...) Convidávamos pessoas para dar palestras, para conversar sobre a história do movimento sindical, história do povo brasileiro, essas coisas todas." (p. 82)

A CRIAÇÃO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES FOI UMA NECESSIDADE 

"(...) Então, aos poucos, esse sentimento de resistência à política, à formação partidária, ele foi desaparecendo pela realidade da vida..."

e

"(...) as ideias foram se clareando... E não houve ninguém que de uma hora [para outra] se sentiu "iluminado". Isso foi um processo que nos levou a entender que não tinha como levar uma luta exclusivamente categorial ou sindical ou econômica. " (p. 84)

PRECISAVA TER PLURALIDADE

"(...) Precisava ter uma pluralidade - que o Lula tinha, o Lula tinha! E eu penso que ele ainda tem. Trabalhar com essa pluralidade, com essa diversidade..." (p. 85)

Comentário: vendo as imagens da 26a Conferência Nacional dos Bancários, é difícil não perceber a falta de renovação e pluralidade de ideias em um dos principais ramos de nossa Central. E sei que os motivos são os mais variados. 

CLT

"(...) A CLT foi uma legislação avançada para a época, inspirada inclusive no fascismo; era para conter o socialismo, comunismo e [para] os trabalhadores não se encantarem com esse tipo de discurso, e não compartilharem com o 'capital', com o resultado no desenvolvimento. Para a época foi um progresso, evidentemente! Porque antes disso a questão social era uma questão de polícia - continua sendo de polícia, mas mais sofisticadamente." (p. 87)

A TECNOLOGIA ERA PARA REDUZIR A JORNADA DE TRABALHO 

"A grande luta nossa é a redução da jornada de trabalho, sem a redução de salário - a tecnologia tem que ser para isso! Para possibilitar que as pessoas possam viver sem um trabalho estressante, repetitivo e poder produzir, ter maior produtividade e maior integração na sua comunidade, na sua categoria (...) O ser humano [deveria] ser o maior beneficiário desses avanços! Mas a tecnologia na mão dos grupos privados, das grandes empresas, dos seus representantes, aquilo ali ao invés de resolver is problemas, ela cria novos problemas e a desigualdade permanece. A necessidade, portanto, da luta organizada dos trabalhadores é algo constante." (p. 90)

INDIVIDUALIDADE NÃO É INDIVIDUALISMO

"A construção coletiva não pode impedir a individualidade. Agora, a individualidade não pode ser o individualismo, o egoísmo, então tem todas essas questões. Às vezes, tá no 'fio da navalha'. O que é a individualidade? O que é o individualismo? Bom, o sistema capitalista e sua fala neoliberal instigam o individualismo, o egoísmo, cada um por si e tal. E o empreendedorismo é uma conversa deles para as pessoas se desgarrarem da relação comunitária, do sindicato, da associação, da construção coletiva de um caminhar." (p. 93)

Enfim, a parte final da entrevista, na qual Dutra fala do sindicato cidadão, é muito legal!

Ele termina falando que a revolução tecnológica está fazendo um progresso da humanidade ao contrário, concentrando a riqueza. 

E afirma: a grande luta é pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários. 

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JACY AFONSO (entrevista em nov/2021 e maio/2022)

"Então, na assembleia que elege os delegados para a CONCLAT, é o divisor de águas. Um setor mais ideológico do Partidão percebe que eu seria caso perdido, que eu iria para o PT, então eles não votam em mim para delegado, eu fico como 9º delegado dos 8 delegados de base que o sindicato tinha, eu fiquei em 9º lugar na votação, então eu não fui." (p. 328)

Esse é o amigo e companheiro Jacy! Eu o conheço desde meados dos anos noventa. Entrei no banco em 1992 e já nos primeiros encontros nacionais, seja do banco, seja da corrente política Articulação Sindical, conheci e passei a admirar Jacy. Figura humana e de uma sabedoria incrível!

BOM SINDICALIZADOR

Jacy conta como atuava junto à base dos bancários na W3 em Brasília, mesmo sem ser diretor do Sindicato. E ele era bom sindicalizador.

"Então, tem uma campanha de sindicalização e eu sou o cara que mais sindicalizo pessoas na campanha. Eu fui campeão de sindicalização de novos sócios do sindicato." (p. 328)

Me lembrei na hora do quanto eu sindicalizava bancários também. Já no Unibanco, eu sindicalizei todo mundo na agência do CAU. Depois no BB, ganhei até prêmios de campanha de sindicalização pelo tanto que eu sindicalizava. 

Como negociamos com a direção local do BB ir à posse dos novos funcionários, eu sindicalizei centenas de colegas. Por toda minha vida de dirigente, encontrei colegas que disseram que foram sindicalizados por mim quando começaram no banco.

JACY CONHECE GILMAR CARNEIRO E LUIZ GUSHIKEN

"Eu fui na posse do Sindicato dos Bancários de São Paulo em 1982. Em março de 82 lá no Sindicato dos Químicos, na chapa que foi reeleita - a diretoria foi eleita em 79, e aí, eu vou lá, eu vou representando os bancários do PT na posse, e não foi gente do sindicato daqui. E eu fui representando. Então, eu conheci o Gilmar Carneiro, fui na casa do Gushiken, eu fui junto com... o pessoal [que] tinha ganhado a eleição da Bahia, com o Laranjeira..." (p. 328)

Na entrevista, Jacy nos conta das idas e vindas do pessoal do grupo Pró-CUT em relação à CONCLAT. Nos fala sobre as "Diretas, Já!", a constituinte e a participação do movimento sindical nessas lutas. Sobre o III CONCUT, Jacy nos fala sobre a Tese 10.

DESAFIOS DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL

UNIDADE

"(...) por isso que eu falo que o estatuto precisa ser trocado como um todo, não dá para fazer remendo. Então, na hora de ir dialogar é o seguinte, não tem mais estrutura orgânica da CUT, tem estrutura filiada. Na estrutura filiada nós vamos construindo a unidade, nós podemos trazer todos os bancários para a CONTRAF, nós podemos trazer todos os metalúrgicos, porque é uma coisa real no cotidiano..." (p. 335)

COMENTÁRIO: sobre a construção da unidade nacional da categoria bancária, eu posso dar o meu depoimento, pois ajudei a construir essa estrutura e a Convenção Coletiva de Trabalho. De fato, ter superado essa questão de só fazer parte da estrutura quem era orgânico foi fundamental. Tanto é que a CCT abrange federações e sindicatos que não são da estrutura orgânica da CUT e sequer filiados à Central. A unidade é feita no cotidiano, como diz Jacy. O Comando Nacional dos Bancários, que criamos de 2006 adiante (ampliando a Executiva Nacional), tem esse caráter de colocar na mesa todas as forças que queiram participar da unidade.

CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS TÊM QUE TER DELEGAÇÃO DE BASE

"(...) Então eu colocaria como um dos critérios a volta do delegado de base, você obrigaria... hoje é muito fácil, não é um congresso de trabalhadores, é um congresso de dirigentes sindicais, então se você não levar a base para refletir, para você fazer um esforço e fazer isso... então eu voltaria à obrigatoriedade, no estatuto da CUT, de ter uma parcela da delegação de base, não pode ser [só] dirigente sindical..." (p. 336)

LUTA DE CLASSE ESTÁ FRAGMENTADA

"Então você começa a discutir meio ambiente, você começa a discutir a questão nacional, você começa a discutir a questão da juventude, das mulheres, e assim por diante, eu acho que isso fragmenta a ação sindical, não o tema, estou falando da ação sindical, aí você pulveriza a ação, você começa a fragmentar e perde o caráter de classe mais importante, da exploração do trabalho pelo capital." (p. 337)

COMO CRIAR PERTENCIMENTO NUM MUNDO UBERIZADO E SEM TRABALHO FIXO EM CATEGORIAS?

"Eu estou dizendo que o sentimento da pessoa, é que quando ela perde o emprego ela perde o vínculo com o sindicato, nós precisávamos mudar isso, ele tinha que ter um sentimento de pertencimento, que ele podia estar colocado, então ele teria uma carteirinha, tá certo? Tipo uma carteirinha da CUT, por exemplo, o cara teria uma carteirinha da CUT, claro que a organização é para o sindicato, mas a carteirinha seria do sindicato, a palavra sindicato e tal, aí depois você teria lá um código, uma coisa, que você mostraria que o cara era do sindicato dos bancários, dos metalúrgicos e assim por diante... mas haveria um sentimento..." (p. 337/338)

Enfim, ao longo dessas décadas, sempre vi o companheiro Jacy como um pensador. Chegamos a fazer debates divergentes com artigos publicados a respeito de visões do BB quanto a adquirir bancos no exterior ou não. Antes, era permitido fazer debates no movimento sindical cutista... hoje é bem mais complicado isso.

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LUIZ AZEVEDO (entrevista em junho de 2021)

Emoção logo no início da leitura da entrevista do Luizinho, companheiro do Banco do Brasil, do coletivo de diretores do BB no Sindicato do qual participei por décadas na minha vida. 

Luizinho tomou posse na agência do BB da Antônio Agú (Osasco), local no qual tenho uma das histórias mais bonitas de minha vida sindical, quando fiz reunião com todo mundo furando a greve de 2010 e que, depois da reunião que fiz no 2º andar, saíram todos os bancários e bancárias, com direito a choro de muitos de nós pela emoção do debate. Foi um dia inesquecível para mim.

Amig@s, a entrevista do Luizinho é legal demais! Estou gostando de todas as entrevistas, mas essa me lembrou muita coisa das concepções e práticas sindicais que balizaram meu fazer sindical.

Se eu fosse citar tudo que risquei e anotei no livro, faria uma enciclopédia aqui na postagem. Cito só algumas passagens.

A CUT E A CLT

"Nasce uma reação muito forte de parte da CUT que era assim, inicialmente, o pessoal falava: 'a CUT é contra a CLT!'. A CUT e nós bancários, não é que 'éramos contra a CLT' ou 'contra direito individual', nós éramos contra que a contratação que predominava sobre a vida do trabalhador, fosse individual e não coletiva, que é o que é a CLT! A CLT é basicamente direito individual. Então a gente defendia que o direito tinha que ser coletivo! Por causa de uma frase que o Augusto sempre dizia e que, na minha opinião, define a personalidade do Augusto Campos, ele dizia o seguinte: 'o processo de conscientização é produto do processo de negociação, porque a negociação coletiva, ela explicita o conflito e revela a correlação de forças'." (p. 139)

Essa concepção foi muito importante na minha formação também. Todas as teses que defendi como sindicalista tinham essas concepções que o Augustão e o Gushiken nos legaram sobre Organização nos Locais de Trabalho (OLT) e politização dos trabalhadores na base.

LUIZINHO VÊ OLÍVIO DUTRA FAZENDO TRABALHO DE BASE

"(...) O Olívio Dutra fez uma revolução no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre: ele instalou o processo do trabalho pela base, como a coisa mais importante. Eu fui a Porto Alegre com o Olívio e ele falou: 'Luizinho, me desculpa, eu não vou poder ficar contigo porque eu tenho que fazer minha base'. Eu saí com ele e fomos fazer a base juntos. Ele ia bancário por bancário, conversando com um por um." (p.143)

Emocionante depoimento!

Fiquei feliz ao saber que a forma como fiz trabalho de base foi a mesma que grandes lideranças dos bancários fizeram antes de mim. Segui a concepção sindical de minhas referências.

O III CONCUT E A ARTICULAÇÃO SINDICAL

"Essas lições, eu acho que tudo isso, com a experiência da Constituinte, explode no III Congresso de 1988 e, praticamente, na Tese 10. A Tese 10 consegue capturar. Então às vezes as pessoas falam assim: 'Luizinho, o que é Articulação pra você?'. Nós não montamos, quando a gente criou a Articulação Sindical que começa lá nos 113 e tal, mas não foi assim, 'vamos criar uma corrente!'; a questão é pra gente poder assegurar que haja sindicalismo de massa e que haja partido de massa, a gente tem que se articular, porque senão as correntes levam tudo para o gueto das disputas delas. Foi esse o motivo pelo qual nasceu a Articulação." (p. 146/147)

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COMENTÁRIO FINAL

Amigas e amigos leitores do blog, que livro incrível esse livro sobre A Geração que criou a CUT

Temos que agradecer muito o trabalho extraordinário da equipe responsável pelas entrevistas, edição e conclusão de uma obra imprescindível para qualquer pessoa que queira conhecer um pouco de nossa história.

Obrigado por essa preciosidade companheiras e companheiros Claudio Nascimento, Iram Jácome Rodrigues, João Marcelo P. dos Santos, Maria Silva Portela de Castro e Sandra Oliveira Cordeiro da Silva. Obrigado!

William Mendes


16 de 100 dias



16. Fiquei sensibilizado com o depoimento de um amigo escritor ao comentar que seu livro lançado no ano passado teve a tiragem de algumas dezenas de unidades. Muito pouco se avaliarmos a excelência do conteúdo. Foi um livro que me fez rir muito e eu considero o livro uma obra de arte. O trabalho que ele teve de pesquisa para produzir a obra é inimaginável para quem não acompanha o dia a dia da produção de uma obra cultural. É decepcionante isso! Deixa a gente desanimado com relação ao mundo humano. Eu fico desanimado com isso. (estou falando do livro do amigo Roberto Buzzo)

Uma das coisas que tenho refletido para a sequência de minha hipotética existência é justamente atuar com a produção de textos, escrever. E tenho noção da história da leitura no Brasil. Nossos principais escritores não viveram de suas produções de cultura para o povo brasileiro. Eram empregados de repartições públicas ou tinham algum tipo de rendimento que lhes permitiam sobreviver sem precisar de um tostão que fosse de suas criações culturais. Aliás, muitos de nossos escritores bancavam edições de suas obras com recursos próprios para presentearem a um pequeno grupo de amigos. Essa é a realidade tristíssima da produção cultural do nosso país.

Por esse motivo e por outros, não pretendo fazer lançamento nem estardalhaço a respeito de uma edição impressa de minhas memórias sindicais, textos que produzi em um de meus blogs durante a pandemia de Covid-19. Gastei boa soma de recursos próprios para confeccionar a edição em livro. Vou fazer algumas unidades e presentear pessoas que demonstrarem interesse em ler o livro.

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MEU CEDOC

Em relação aos materiais sindicais e de formação que estou organizando para doar às pessoas que demonstraram interesse neles, vi hoje mais um vídeo excelente!

O documentário "Por dentro do $istema", feito pela Contraf-CUT em julho de 2006 é uma aula de história sobre o Sistema Financeiro do Brasil, os bancos que atuaram aqui desde 1808 e sobre as lutas da categoria bancária. Que vídeo legal!

É um material muito bom para ser visto e servir como suporte de formação.

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Outro vídeo que assisti é o documentário do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região comemorativo dos "30 anos da retomada" do sindicato da mão dos pelegos no final dos anos setenta, na eleição de 1979, vencida pela nossa oposição.

Que vídeo bacana! Quanta história!

No vídeo original, feito em 1989, vemos Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro, Tita Dias, Lucas Buzato e Luizinho Azevedo falando sobre aquela luta histórica.

Num momento, vemos a companheira Tita Dias falando sobre as intervenções do regime ditatorial nos sindicatos dos bancários de São Paulo, metalúrgicos do Abc, metroviários de São Paulo e petroleiros de Campinas.

Material incrível! 

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Vou doar uma parte dos materiais de história e política que acumulei durante anos de representação sindical.

No entanto, decidi ao começar a manusear o material que preciso guardar uma parte comigo. Nunca se sabe o dia de amanhã. Vou catalogar o material de cultura que tenho, incluindo livros e mídias diversas.

No dia em que faltar, até para se desfazer do material, a família terá um conhecimento melhor do que tem. De repente, alguma entidade de classe ou alguma pessoa receba o material de cultura.

William


domingo, 9 de junho de 2024

15 de 100 dias



15. Sigo em busca de mudanças, de sentidos para a existência. Estou sem pertencimento às coisas. Para seguir existindo, aliás, tenho que fazer a minha parte em relação ao meu corpo, o condutor de minha pessoa, de minha personalidade. Como o meu envelhecimento tem se mostrado desafiador, pois acredito que abusei do meu organismo animal, estou em busca de diagnósticos para identificar se tenho apenas desgastes nos quadris e mais alguns envelhecimentos de sistemas internos ou se tenho algo a mais para tentar resolver. Tenho uns exames em andamento para identificar meu estado de saúde. Estranho dizer que estou me acostumando a viver com dores... (que merda, isso!).

Como é de responsabilidade exclusivamente minha revigorar meu organismo, sei que tenho que fazer um pouco de musculação para recuperar a massa muscular perdida (sarcopenia) e tenho que atuar com periodicidade para manter e melhorar minhas capacidades cardiorrespiratória, musculoesquelética e circulatória, é minha obrigação manter esses sistemas em bom funcionamento. Correr, andar e pedalar são as minhas preferências em relação a isso, atividades aeróbicas. Desde que iniciei esse período de 100 dias, pratiquei atividades físicas em 9 dias, sendo 3 corridas, 4 dias de musculação e 2 de caminhadas. Estou atento a isso.

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Em relação aos materiais de educação e formação política e sindical, estou separando mídias que podem ser úteis às lideranças sindicais que me disseram que têm interesse nos materiais que estou separando para doar.

Hoje assisti a dois vídeos muito bons, que nos emocionam pelo que retratam.

TODAS AS LETRAS

O primeiro vídeo é sobre o projeto de alfabetização de jovens e adultos "Histórias e Sonhos com Todas as Letras". O documentário aborda a experiência entre os anos de 2005 a 2008 e os depoimentos de educandos e educadores nos tocam profundamente. Durante o projeto, mais de 200 mil pessoas tiveram a oportunidade de se alfabetizarem.

1º DE OUTUBRO DE 1981 - DIA NACIONAL DE LUTA (DF)

O segundo vídeo é um documentário histórico feito pelos companheiros de Brasília sobre o 1º de outubro de 1981, um dia de lutas organizativo para a Conclat na Praia Grande. No vídeo, nos emociona ouvir depoimentos e ver imagens daquele período.

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Passando adiante essas mídias, espero contribuir de alguma forma para que elas encontrem pessoas que se interessam por nossa história da classe trabalhadora brasileira.

William


Leitura: Gen Pés Descalços (8)



Refeição Cultural 

Gen Pés Descalços 

Volume 8


Os acontecimentos neste volume sobre a história da família Nakaoka e dos amigos de Gen se passam alguns anos depois da bomba atômica em Hiroshima (06/08/45) e Nagasaki (09/08/45) e o fim da 2a Guerra Mundial.

Mas, infelizmente, o enredo começa com informações sobre uma nova guerra no início dos anos cinquenta: a Guerra na Coreia, dividida no Paralelo 38° entre Coreias do Norte e do Sul. Os amigos do inteligente garoto Gen acham que isso não é com eles, só que uma das bases de ataque à Coreia do Norte está no Japão, sob domínio dos EUA. 

Gen explica aos amigos o perigo disso, pois a Coreia do Norte pode atacar a base inimiga no Japão. Gen e seu professor, pacifistas, atuam para que o Japão nunca mais se envolva em guerra alguma.

A história terá alguns arcos também. Veremos as tretas entre Gen e o jovem órfão Aihara, que mesmo sendo vítima da guerra, defende o militarismo e a violência. Os leitores vão conhecer a história do garoto bom de beisebol.

Veremos a lábia de comerciante de Ryuta, vendendo as roupas feitas por Natsue e Katsuko.

Óbvio que os leitores verão muita violência no HQ. Os pacifistas vão enfrentar a fúria das autoridades por se manifestarem. O cenário é de brutalidade, qualquer coisa se resolve com tapa na cara e porrada.

Neste volume teremos contato com drogas por causa das questões sociais: alcoolismo e uma droga injetável chamada Philopon ou Pon (uma metanfetamina).

E sofreremos juntos com Gen e Ryuta por causa dos efeitos da bomba na vida de todos os habitantes de Hiroshima. 

Ao final dos arcos deste volume, Gen terá cerca de 13 anos.

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A LUTA CONTRA AS INJUSTIÇAS 

O volume oito aborda temas políticos bastante atuais. Nakazawa faz os leitores refletirem sobre injustiças cotidianas da sociedade capitalista em qualquer época. 

Nas páginas 150 e 151 Gen fala sobre guerras por procuração. A cena mostra a Guerra da Coreia e os beneficiários por traz dela como, por exemplo, os Estados Unidos e os empresários japoneses que estão lucrando com a venda de armas: quanto mais guerra, mais lucro para os capitalistas japoneses. 

Depois, na página 194, Gen Nakaoka, sua família e diversas famílias pobres e vítimas da bomba atômica se veem envolvidas numa grave situação de risco de perda de suas moradias por causa de decisão tomada pela prefeitura de Hiroshima de desapropriação para construção da "Cidade da Paz".

Gen vê dois homens ao lado de sua casa e ao perguntar o que querem, eles informam da decisão estatal de desapropriação e dão um mês para a família Nakaoka sair dali e se virar.

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DEMOCRACIA DEVE RESPEITAR AS MINORIAS

Informaram que foi decisão de assembleia e Gen pergunta:

"Mas se, de dez pessoas, nove são a favor e uma é contra, o que acontece com a opinião dela? Ouvir os motivos e tentar resolver o problema desse único voto contra não seria a verdadeira democracia?"

E finaliza a argumentação certeira:

"Ficam dizendo que precisam seguir a democracia e decidem tudo na base do voto da maioria." (p. 194)

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Comentário: vejam o que está acontecendo neste exato momento no Brasil: alguns homens decidem privatizar as escolas, alguns homens decidem privatizar a água pública (Sabesp) etc e as maiorias que se danem, representadas pelos poucos votos contrários nas "assembleias", porque os processos eleitorais são corrompidos e comprados (uma plutocracia). É muito atual o enredo do HQ.

Mais um volume lido de Gen Pés Descalços. Vamos para o nono volume. O comentário sobre o primeiro mangá pode ser lido aqui.

William


sábado, 8 de junho de 2024

14 de 100 dias



14. Se eu tivesse deixado de existir na noite passada ou na madrugada, o que fariam meus familiares com a infinidade de papéis, apostilas, revistas e livros que acumulei na existência? Tenho pensado nisso.

É hora de me desfazer das coisas. Não sei como farei. Tendo hoje a consciência um pouco mais clara que antes, sei que a tendência é que muita coisa que tenho acumulada vire material sem utilidade para outras pessoas. 

Perguntei em rede social se havia alguém interessado no material de formação política e sindical que tenho. Felizmente, três pessoas demonstraram querer o material. Vou enviar para elas. São textos de economia, apostilas dos cursos da Contraf-CUT, negociação coletiva, Contag e CUT.

Os textos de formação política são uma pequena parte do que tenho de mídias de estudos. Terei que ver o que farei com muita coisa ainda.

Provavelmente, alguma coisa terei que colocar em caixas de papelão lá na área de materiais recicláveis do condomínio. Quem vai querer, na atualidade, edições impressas de revistas? Quem iria querer pilhas de xerox de meu curso de Letras da USP?

O dia que tiver coragem para me desfazer dos materiais, terei ferido meu coração, com certeza, pois tenho apego por toda a história e cultura que existe em minhas mídias de leitura.

É isso. Tenho que mudar as coisas na vida.

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Para não considerar inútil o meu dia, ao menos separei os materiais de formação política que serão doados às três pessoas. Ainda vou incluir mais materiais nos próximos dias. 

Não fui ao evento paulista de solidariedade a Cuba, como falei ontem, e também não fui à plenária do Partido dos Trabalhadores com os pré-candidatos Boulos e Marta. Que bom que foi uma ótima atividade! 

Como disse, estou meio sem pertencimento às comunidades imaginadas às quais pertenci boa parte de minha vida. No caso dos compas do partido no município de São Paulo, nem votar neles posso porque sou de outro município. 

William 


sexta-feira, 7 de junho de 2024

13 de 100 dias



"Capitalismo:
Prateleiras cheias de mercadorias.
E o povo passando fome sem alimentos."

13. Acabei de voltar do supermercado. A sensação de impotência e injustiça é enorme. Enquanto o nosso governo se esforça de forma honesta para reduzir os preços dos alimentos e dos produtos da cesta básica, poucos capitalistas fdp, canalhas donos do poder, fazem o que querem com o povo. Aumentam preços e reduzem tamanhos e quantidades nas embalagens para aumentarem seus lucros, ou seja, foda-se o povo! Tínhamos que expropriar todos esses fdp! Todos!

Dias atrás, num momento de reflexão sobre a vida, e sem sentimento de pertencimento a quase nada, me peguei meio que na mesma condição de quando iniciava a vida adulta: sem rumo. Estou sem rumo.

Ao ouvir hoje uma palestra de importante liderança do MST, o companheiro Gilmar Mauro, fiquei ao mesmo tempo admirado e triste. Admirado por termos do nosso lado da classe trabalhadora pessoa tão sabia e preparada. Triste por tomar conhecimento das informações que ele nos contou sobre o cenário político no qual nos encontramos neste momento da história humana.

A aula de Gilmar Mauro acrescentou muitas informações às poucas que sei. O companheiro nos explicou sobre a destruição acelerada das condições de vida na Terra causada pelo capitalismo e pelos capitalistas, donos das decisões entre morrermos todos em consequência da decisão desses poucos ou revertermos nossa trajetória no planeta Terra.

Foi depois da palestra impactante de Gilmar Mauro que fui a um supermercado e ali fiquei refletindo sobre a merda na qual nos enfiaram (nos enfiamos).

Não há chances para nós e para o planeta sob a ordem hegemônica capitalista. Não há! E, mesmo assim, o socialismo sumiu do horizonte e dos objetivos dos sindicatos e dos partidos de esquerda. Pelo menos dos maiores. É proibido sonhar! (a não ser que o sonho seja ter dinheiro para consumir tudo que os capitalistas consomem e do jeito que eles consomem)

Ao ver aquelas prateleiras lotadas e coloridas e cheias de porcarias à base de substratos que fazem mal para a saúde humana, de mercadorias caras e abusivas e inacessíveis para mais da metade da população do Brasil, me lembrei do povo cubano e de outros povos como os palestinos, por exemplo, que não têm acesso a alimentação adequada (prateleiras vazias) por interferência política de alguns homens e governos como os EUA (bloqueio criminoso a Cuba) e Israel (que decidiu ocupar toda a Palestina expulsando ou eliminando os povos árabes que lá estão/estavam: os sionistas já mataram dezenas de milhares e expulsaram muitos mais). 

Na centena de dias que decidi avaliar o que fazer de minha vida, e estou sem rumo de verdade, sem objetivos claros, possíveis ou utópicos, estou identificando algumas coisas que não quero mais na minha vida. Olhando ao meu redor, vejo as coisas com a experiência que acumulei, e vejo o quanto algumas coisas me deprimem ou me empapuçam, me dão raiva, me dão nojo. E o pior é que, muitas vezes, não podemos fazer nada a respeito daquilo que não queremos para nossa vida ou nosso entorno. É a impotência. 

Amanhã iria a um evento político de solidariedade a Cuba. Iria, mas não vou. Sou solidário a Cuba e ao povo cubano. Sou grande admirador da altivez e amor-próprio do combativo povo cubano. Quem dera os brasileiros tivessem uma porcentagem da alma cubana! Já teríamos nos libertado daqueles capitalistas fdp que citei no início, os canalhas donos do poder que fodem com 90% do povo, como os poucos donos das mercadorias "alimentos".

Repito: - Toda a nossa solidariedade a Cuba! E toda a nossa solidariedade ao povo palestino!

(Olho ao meu redor da porta para dentro de minha casa e vejo o caos. Santo de casa não faz milagre...)

Que canseira...

William