terça-feira, 31 de julho de 2012

Montevidéu, Uruguai - Ponto de vista (I)


Encontro ocorreu em Montevidéu, Uruguai.

Estive em Montevidéu (Uruguai) neste mês de julho de 2012 a trabalho. Fui para a 8ª Reunião Conjunta de Bancos Internacionais. Estivemos presentes com uma delegação brasileira e com pessoas de vários países.

AEBU-PIT/CNT: bancários uruguaios têm grande história 
de lutas. São 70 anos de existência do sindicato.

O primeiro dia de trabalho foi na Associação dos Bancários do Uruguai - AEBU. O local é grande e abriga vários espaços como local de recreação para crianças e adultos, escritórios, cooperativa, auditório de reuniões etc.

A temperatura dentro dos ambientes é sempre mantida à base de calefação e aquecedores. Lá fora, a temperatura ambiente esteve na casa dos 5º e com o vento forte e gelado fica difícil de passar horas nas ruas.

Bela Igreja ao lado do 
Banco de la República del Uruguay.

Só foi possível sair e andar um pouquinho nos dois últimos dias. Na primeira saída, fui até o mercado municipal. É sempre o local onde gosto de ir quando chego a uma cidade.

A estrutura do Mercado del Puerto
é do século XIX e é de ferro.

O mercado é bem antigo e feito com estrutura de ferro vinda do exterior para ser montada em Montevidéu. Praticamente, é um local para se comer. Cada restaurante mais legal que o outro.

E aí, vai uma Patricia?

Eu e o Zanon encontramos o pessoal do HSBC almoçando um rodízio de carnes. Como já havíamos almoçado, resolvemos tomar uma Patricia. Muito gostosa!

Vai de Patricia ou de Don Pascual?

Os companheiros do HSBC são mais "chiques" e estavam tomando um Don Pascual. Eu confesso que sou tomador de cerveja e uma pinguinha. Só.

Ferro fundido e luminária. Foto de William Mendes.

Olha na foto acima que legal a estrutura do Mercado do Porto em ferro fundido.

Aquecedor de ambiente no Mercado del Puerto. 
Montevideo - Uruguay.

Acima, é possível ver como são mantidos aquecidos os ambientes na fria Montevidéu. Ao fundo, temos o restaurante onde ficamos - Cabaña Verónica.


Vista da cidade velha e do Rio da Prata.
Montevidéu - Uruguai.

Quando voltamos do Mercado do Porto, fizemos outro caminho. Fomos pelo calçadão do Rio da Prata. Um vento e um frio de "rachar bobina" como dizemos lá em Minas Gerais.

Foto multifuncional.

Na foto acima é possível ver o Hotel NH onde ficamos, o Palacio Salvo (depois farei uma postagem contando a história dele), o Templo Inglês, e as direções de outros locais.

Río (mar?) de la Plata y la ciudad de Montevideo. 
Foto de William Mendes.

E por fim, mais uma foto de uma tarde fria de julho em Montevidéu.

Na outra postagem, veremos a segunda caminhada que fiz para ir ao Teatro Solís, Praça da Independência e portal da cidade velha, andando até a Avenida 18 de Julho.

Hasta luego!!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O CINISMO DE UMA SOCIEDADE ATRAVÉS DOS PERSONAGENS MACHADIANOS


Não sei a autoria do desenho, mas a fonte é O Estadão.

O CINISMO DE UMA SOCIEDADE através dos personagens machadianos

BRÁS CUBAS
&
EUGÊNIA – a “flor da moita” e a “Vênus Manca”


A flor da moita

( -Não, senhor, sou coxa de nascença)

Machado não poupou nenhuma crítica àquela sociedade. Brás Cubas exala naturalmente todas as canalhices do homem que representa. Veja aqui suas observações sobre a jovem Eugênia, fruto de um beijo adultero de 1814, em casa do menino Brás:

"O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu ia fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma..."

"ao pé da minha Vênus Manca"

Após essas duras e cínicas palavras, o defunto autor lança o capítulo seguinte para não deixar dúvidas sobre seu narrar a qualquer alma sensível que esteja incomodada com a canalhice.

CAPÍTULO 34 - A Uma Alma Sensível

Há aí, entre as cinco ou dez pessoas que me lêem, há aí uma alma sensível, que está decerto um tanto agastada com o capítulo anterior, começa a tremer pela sorte de Eugênia, e talvez.., sim, talvez, lá no fundo de si mesma, me chame cínico. Eu cínico, alma sensível? Pela coxa de Diana! esta injúria merecia ser lavada com sangue, se o sangue lavasse alguma coisa nesse mundo. Não, alma sensível, eu não sou cínico, eu fui homem; meu cérebro foi um tablado em que se deram peças de todo gênero, o drama sacro, o austero, o piegas, a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias, um pandemônio, alma sensível, uma barafunda de coisas e pessoas, em que podias ver tudo, desde a rosa de Esmirna até a arruda do teu quintal, desde o magnífico leito de Cleópatra até o recanto da praia em que o mendigo tirita o seu sono. Cruzavam-se nele pensamentos de vária casta e feição. Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo. Retira, pois, a expressão, alma sensível, castiga os nervos, limpa os óculos, - que isso às vezes é dos óculos, - e acabemos de uma vez com esta flor da moita.
Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Editora Klick da coleção de O Estado de São Paulo. Julho de 1997.

domingo, 29 de julho de 2012

Montevidéu, Uruguai - Impressões


Uruguai, Teatro Solís, julho de 2012.

Montevidéu, Uruguai - Impressões

É impossível ter uma boa avaliação ou conhecimento de causa para falar de um lugar onde se tenha ficado apenas quatro dias, todos eles enfiados em reuniões de trabalho. A ida ao Uruguai foi para o 8º Encontro das Redes de Bancos Internacionais da UNI Américas Finanças e para a 5ª reunião da Rede Banco do Brasil da UNI.

Bom, mesmo assim é possível apontar algumas impressões sobre a cidade de Montevidéu e de hábitos culturais dos habitantes locais.

A visita à cidade foi neste mês de julho e posso afirmar com tranquilidade que nunca vi um lugar com o vento mais gelado que Montevidéu. Cara, como todos os ambientes têm calefação e aquecimento, olhamos pelas janelas e vemos aquele solzinho enganador, porém, quando saímos porta afora é um frio desgraçado (entre 5º e 8º C ou 41º a 46,4º F).

Congelando: eu, Alan, Liliane e Zanon em
Montevidéu, Uruguai. 
Julho 2012.

Ficamos em um hotel defronte do Río de La Plata. Dá para ver a força do vento formando ondas e pendendo as palmeiras. Pelo que nos disseram, a água é marrom quando o vento vem do rio para o mar e é bem mais clara quando o vento vem do mar. Fizemos a pergunta por que de fato a cor da água muda mesmo.

Acolhida fraterna dos companheiros uruguaios

A hospitalidade dos uruguaios dirigentes sindicais foi maravilhosa. Gente muito hospitaleira. Muito obrigado!

Fomos tratados com uma atenção admirável pelos companheiros da AEBU - o Sindicato dos Bancários Uruguaios. Evidente que estendo o agradecimento pela atenção dedicada por todos que pertencem à UNI Américas Finanças.

Obrigado, companheiros uruguaios, pela calorosa
acolhida aos brasileiros. 
Saludos a AEBU y PIT-CNT!

Hábitos uruguaios que pude observar

a) Horário rígido para servir refeições

Dos hábitos dos uruguaios, me chamou a atenção algumas coisas. A primeira é em relação à rigidez no horário para servir o almoço. Cara, o restaurante serve a comida na ordem certa, para todos ao mesmo tempo.

Ao servir a entrada, se alguém chegar no meio do serviço, fica sem a parte que já serviram. É sério! Teve gente que chegou e só deram o postre (sobremesa). Outros chegaram e perderam o primeiro prato e por sorte pegaram o prato principal (pequeno pra burro!). É lógico que isto não quer dizer que na casa das pessoas seja assim. Fica a minha dúvida.

b) Cocô de cachorro na rua

Cara, é impressionante como essa coisa dos cachorros domésticos ("pets") dominaram a urbanidade moderna. Acredito que varia de lugar para lugar a conscientização das populações, pois se tem cachorrada em tudo quanto é cidade, por que algumas são super limpas e outras não?

Andei pela cidade dois dias. Num dia fui ao mercado municipal pelas ruas internas da cidade antiga e voltei pelo calçadão que acompanha o rio. No dia seguinte fui para o outro lado e andei até o Teatro Solís, Praça da Independência e área mais movimentada.

NUNCA vi tanto cocô de cachorro no chão em minha vida. Tinha muito toroço e muito, mas muito cocô pisado. A gente anda literalmente na merda.

Não estou desfazendo do povo local por isso, até porque o Brasil tem o mesmo problema. Meu bairro também é uma aventura quando andamos pelas ruas no entorno dos prédios onde moro. É corrida de obstáculos (cocô) mesmo!

c) Patriotismo

Essa coisa de patriotismo é algo que me chamou a atenção. Estivemos lá no dia do jogo de estreia da seleção uruguaia na Olimpíada de Londres. A Celeste começou perdendo o jogo e conseguiu virar. Cara, vi aquele clima que só me lembro no Brasil quando era criança. Todo mundo estava na frente da TV. Ao sair para caminhar, tinha bandeirinha do país em tudo, nos carros, nas bancas de revistas, nas janelas.

Senti a mesma coisa quando estive no Chile, no início do ano.

Também é um povo que preserva sua memória. Vimos isso no movimento sindical. Vimos isso pelas ruas da cidade.

d) O beijo fraterno

Eu acho muito bonito o cumprimento de homens com um beijo no rosto. É algo que só fui fazer pela primeira vez com meu pai aos 27 anos. É um gesto que considero de fraternidade. Os uruguaios se cumprimentam assim.

e) Carros velhos

Quando estive no Chile, fiquei impressionado por não ver carro velho. Eram novos e importados. E caros.

No Uruguai chama a atenção a grande quantidade de carros de fabricação antiga. Não sei por que é assim, mas fiquei curioso. Andei pela cidade vendo carros do meu tempo de adolescência. Hoje não sei o nome de carro algum. Para mim são todos iguais. Mas as ruas têm um monte de Voyage, Gol quadrado, Fiat 147, Belina, e mais um monte de carros dos anos oitenta. E tem mais um detalhe: todos amassados e sem mandar consertar. Com faróis quebrados etc.

Pode ser um sinal importante de que o carro para os uruguaios não seja símbolo de status e sim um modo de locomoção. Neste sentido, brasileiros e norte-americanos são o cúmulo da estupidez.

Sindicato dos bancários uruguaios.
70 anos de muita luta!!

Comentário final: povo de luta

O sindicalismo uruguaio é muito aguerrido. Esta é a melhor impressão que trouxe. Povo de luta.

Um banco tem que pensar bem antes de demitir um trabalhador bancário, pois existe uma cultura no país de lutar para não permitir nenhuma demissão e para realocar qualquer bancário que perder o emprego.

Pelo que os companheiros me disseram, o Banco do Brasil resolveu fechar a agência que havia no país anos atrás e pagou caro por isso. Teve que indenizar pesado cada trabalhador que deixou na mão.

Povo uruguaio, até a volta!


William

sábado, 28 de julho de 2012

3 IRMÃOS DE SANGUE - Henfil, Betinho e Chico Mário


Cartaz do documentário.

3 IRMÃOS DE SANGUE (2006)
Direção de Ângela Patrícia Reiniger


Quando soube tempos atrás que havia um documentário sobre a vida dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário, fiquei louco para assistir e não consegui comprar o filme.


Hoje estava mudando canais em casa e justamente na hora que coloquei na TV Brasil estava começando o documentário.


Assisti e me emocionei várias vezes. Quanto conhecimento novo me trouxe! Eu não sabia absolutamente nada sobre eles.


Nos anos oitenta eu era um adolescente não-envolvido com movimento social e não tinha conscientização política.


QUEM SÃO OS IRMÃOS?


Betinho é sociólogo e brasileiro. Fundador da Campanha Contra a Fome e a Miséria e Pela Vida. Faleceu em 1997.


Henfil é cartunista e brasileiro. Criou a expressão "Diretas Já" nos anos oitenta pela volta da democracia. Faleceu em 1988.


Chico Mário é músico e brasileiro. Lutou pela liberdade e indenpendência atravé da música. Também faleceu em 1988.


O documentário nos apresenta assim os irmãos porque ademais de tudo que vamos conhecer sobre a vida deles, eles são brasileiros apaixonados por seu país e lutaram pela democracia e pela liberdade da pátria.


Os três irmãos nasceram com hemofilia, uma doença que faz com que não haja coagulação no sangue. Imaginem a dificuldade dessa família em cuidar de crianças que não podiam se machucar sob risco de morrerem se esvaindo em sangue.


O DOCUMENTÁRIO


Aprendi muito sobre os irmãos e fiquei emocionado e orgulhoso de tê-los como brasileiros.


O que mais me chamou a atenção foi a questão da Solidariedade. Eles viveram uma época dura do país e lutaram por liberdade, democracia e por justiça social.


Senti (e sinto) uma falta tão grande de solidariedade nos dias de hoje! 


Naqueles anos sessenta, setenta e oitenta a ditadura militar e a carestia uniam os milhões de brasileiros em busca de objetivos comuns.


Juro que não sinto na atualidade aquela solidariedade daqueles tempos.


O SANGUE


Como o próprio Betinho conta, aquela família foi marcada duramente por duas tragédias ligadas diretamente ao sangue, sangue que é a vida.


Além de nascerem com hemofilia, os três irmãos contraíram AIDS por causa do Estado e do Governo. Milhões de pessoas foram afetadas por doenças transmitidas por transfusão de sangue como AIDS, hepatite etc.


Lembro-me que nos anos setenta, minha mãe teve uma forte hemorragia interna e quase morreu. Quando voltou do hospital estava com hepatite. Depois acabei pegando a doença também.


A saúde pública tratava os cidadãos como coisas (e não avançamos muito nisso, mesmo após a constituição de 1988).


UM DOCUMENTÁRIO PARA RESGATAR O SENTIMENTO DE SOLIDARIEDADE


Recomendo o documentário principalmente aos jovens de hoje. Vivemos em um mundo onde é pouco perceptível a solidariedade entre as pessoas, independente de condição social, concepção religiosa ou formação formal.


Para melhorar um pouco nossa aldeia global temos que recuperar a solidariedade e o amor incondicional aos seres vivos, em especial aos seres humanos.


Como diz Betinho em uma de suas bem colocadas palavras: 


Se um país não é pra todos, não é pra ninguém.


Essa é a mensagem.


Veja mais sobre o documentário em:
http://www.3irmaosdesangue.com.br/

domingo, 15 de julho de 2012

O LEVIATÃ - O poder limitado dos fóruns deliberativos

Nesta postagem cito alguns trechos que achei interessantes neste capítulo. A metodologia do autor em descrever sistemas e como eles devem funcionar é impressionante. A leitura deste capítulo e dos dois seguintes me pareceram estar lendo a constituição federal (de algum país). Os subtítulos antes das citações e comparações políticas feitas aqui são de minha total responsabilidade.

Thomas Hobbes

CAPÍTULO XXII


DOS SISTEMAS SUJEITOS, POLÍTICOS E PRIVADOS

"Depois de ter falado da geração, forma e poder de um Estado, cabe agora falar das partes que o constituem. E em primeiro lugar dos sistemas, que se parecem com as partes semelhantes, ou músculos de um corpo natural. Por sistema entendo qualquer número de homens unidos por um interesse ou um negócio. De entre os sistemas, alguns são regulares e outros são irregulares. Os regulares são aqueles onde um homem ou uma assembleia é instituído como representante de todo o conjunto. Todos os outros são irregulares.

Dos regulares, alguns são absolutos e independentes, sujeitos apenas a seu próprio representante, e só são deste tipo os Estados, dos quais já falei nos cinco últimos capítulos. Outros são dependentes, quer dizer, subordinados a um poder soberano, do qual todos,  incluindo seu representante, são súditos.

Dos sistemas subordinados, uns são políticos e outros são privados. Os políticos (também chamados corpos políticos ou pessoas jurídicas) são os que são criados pelo poder soberano do Estado. Os privados são os que são constituídos pelos próprios súditos entre si, ou pela autoridade de um estrangeiro..."


Percebam o quanto Hobbes é metódico para descrever os sistemas de seu Leviatã. Ao longo deste e dos outros capítulos ele vai comparando a estrutura do Estado às partes do corpo humano.


UM FÓRUM SÓ DELIBERA SOBRE O QUE TEM PODER E ALÇADA

"Num corpo político, se o representante for um homem, qualquer coisa que faça na pessoa do corpo que não seja permitida por suas cartas ou pelas leis, é seu próprio ato, e não o ato do corpo, ou de qualquer dos membros deste além de si mesmo. Porque para além dos limites estabelecidos por suas cartas e pelas leis ele não representa a pessoa de ninguém a não ser a de si próprio."


IMPORTÂNCIA DA DECLARAÇÃO DE VOTOS

"Fica assim manifesto que, nos corpos políticos subordinados e sujeitos ao poder soberano, por vezes se torna não apenas legítimo, mas também útil, que um indivíduo abertamente proteste contra os decretos da assembleia representativa, fazendo que sua discordância seja registrada ou testemunhada. Caso contrário esse indivíduo poderia ser obrigado a pagar dívidas contraídas, ou tornar-se responsável por crimes cometidos por outrem."

Porém vale esclarecer que aqui Hobbes está falando de um fórum ilegítimo ou fazendo algo ilegítimo. Outro caso é se o fórum for legítimo para tal deliberação:

"Mas numa assembleia soberana essa liberdade desaparece, tanto porque quem aí protesta ao mesmo tempo nega a soberania da assembleia, quanto porque tudo o que é ordenado pelo poder soberano é perante o súdito (embora nem sempre aos olhos de Deus) justificado pela própria ordem, pois de tal ordem um dos súditos é autor."


CONCEITO DE "PROVÍNCIA" NA OBRA DE HOBBES

"A palavra 'província' significa um cargo ou função que aquele a quem pertence a função delega a um outro, para que este o administre por ele e sob sua autoridade."


TENDÊNCIA: QUEM ESTÁ NO PODER, SÓ O DELEGA ÀQUELE AO QUAL TEM CONFIANÇA

"Pois embora todo homem, quando por natureza pode estar presente, deseje participar do governo, apesar disso quando não pode estar presente se inclina, também por natureza, a delegar o governo de seus interesses comuns a uma forma monárquica, de preferência a uma forma popular de governo. O que também é claramente visível nos homens que têm grandes propriedades territoriais, que quando não querem dar-se ao cuidado de administrar seus negócios preferem confiar num único servo a confiar numa assembleia, quer de seus amigos, quer de seus servos."


SEGUNDO HOBBES, VALE PAGAR PARA DEFENDER INTERESSES NOS FÓRUNS (DESDE QUE NÃO PERTENÇA AO PRÓPRIO FÓRUM DELIBERATIVO)

Nesse trecho, ficou evidente que não podemos concordar com tudo o que o pensador defende para o seu sistema social.

"Mas que aquele cujo interesse particular vai ser objeto de debate, e julgado pela assembleia, faça o maior número de amigos que puder, não constitui nenhuma injustiça, porque neste caso ele não faz parte da assembleia. Ainda que suborne esses amigos com dinheiro (salvo se houver uma lei expressa contra isso), mesmo assim não há injustiça. Porque às vezes (dados os costumes humanos como são) é impossível obter justiça sem dinheiro, e cada um pode pensar que sua própria causa é justa até o momento de ser ouvida e julgada."


MESA DE NEGOCIAÇÃO NÃO É ASSEMBLEIA COM CENTENAS DE PESSOAS

Lembrei-me do que vivo explicando aos grupamentos de oposição sindical que, por não ganharem a eleição dos sindicatos, ficam querendo transformar mesa de negociação entre os bancos e as comissões de negociação da Contraf-CUT / Comando Nacional (10 federações representadas) em assembleias, pois a proposta dessas oposições é eleger na base representantes para as negociações. Como são mais de cem sindicatos, a mesa não seria uma mesa de negociação, seria uma assembleia entre empresa e trabalhadores. Não dá né?

"Pode ser legítimo que um milhar de pessoas faça uma petição para ser apresentada a um juiz ou magistrado, mas se um milhar de pessoas for levar essa petição trata-se de uma assembleia tumultuosa, porque para tal fim um ou dois são bastantes."


SISTEMA MUSCULAR DO LEVIATÃ

"E isto é tudo quanto eu tinha a dizer relativamente aos sistemas e assembleias de pessoas, que podem ser comparados, conforme já disse, às partes semelhantes do corpo do homem: os que forem legítimos, aos músculos, e os que forem ilegítimos aos tumores, cálculos e apostemas, engendrados pelo afluxo antinatural de humores malignos."


COMENTÁRIO FINAL SOBRE O CAPÍTULO

Cara, Hobbes é polêmico com suas preferências políticas ou religiosas, mas tem uma maneira incrível de descrever e dissertar defendendo seus sistemas.



Bibliografia:
HOBBES DE MALMESBURY, THOMAS. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. Coleção Os Pensadores. Nova Cultural, edição 1999.

sábado, 14 de julho de 2012

X Files - Arquivo X


X FILES – ARQUIVO X

PARA RELAXAR...

ASSISTI A ALGUNS EPISÓDIOS DE ARQUIVO X PARA DESCONTRAIR MINHA PSIQUE. O SERIADO ME REMETE A OUTRA ÉPOCA DE MINHA VIDA, ANTES DE ME TORNAR ESSE CARA SINDICALISTA CHATO E FECHADO QUE SOU.




1X01
PILOT – Piloto

Log line: fbi agent dana scully is paired with maverick agent fox mulder, who has made it his life’s work to explore unexplained phenomena. The two are dispatched to investigate the mysterious deaths of a number of high school classmates…

O episódio piloto é do ano de 1993. Naquele ano eu era um recém-admitido no bb. Naquele ano eu era cristão, tinha fé, acreditava que havia algo além de nosso mundo físico conhecido. Eu era mais parecido com Mulder do que com a cética scully.


1x02
Deep throat – a verdade está lá fora

Log line: acting on a tip from an inside source (deep throat), mulder and scully travel to Idaho to investigate unusual disappearances of army test pilots.

Neste episódio, mulder pergunta ao final para o garganta profunda se “eles” estão entre nós e a resposta é: eles estão aqui há muito, muito tempo!


1x03
Squeeze – assassino imortal

Log line: mulder and scully try to stop a mutante killer, Eugene tooms, who can gain access through even the smallest spaces and awakens from hibernation every 30 years to commit murder.

Neste episódio, scully quase morre pela primeira vez, vítima do mutante. É clássico. Fala sério, que existem mutantes, existem! Estão por aí...


1x04
Conduit – elo de ligação

Log line: a teenage girl is abducted by aliens, compelling mulder to confront feelings about his own sister’s disappearance.

este episódio tem cenas comoventes. Mulder vincula o desaparecimento da jovem com o de sua irmã. Ao final, mulder está chorando em umA igreja e scully está só, ouvindo uma fita sobre uma sessão de regressão de mulder, onde ele descreve o dia do sumiço da irmã e ele conta ouvir uma voz que diz que sua irmã está bem. Ele então diz “eu quero acreditar”.


HOJE,
SOU MAIS CÉTICO QUE UM POSTE. OS TEMPOS SÃO OUTROS. MAS GOSTO DE REVER OS EPISÓDIOS E TAMBÉM DE REVER O QUE EU ERA.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O apanhador no campo de centeio – J. D. Salinger (1951)


Foto de William Mendes.

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO – J. D. SALINGER (1951)

CLÁSSICO DA LITERATURA NORTE-AMERICANA

Introdução

A primeira vez que ouvi o nome de Salinger foi em 2010 (se ouvi antes, nada me motivou a guardar o nome). Li algum comentário sobre o falecimento dele aos 91 anos de idade.

Se não me engano, o comentário que li a respeito dele falava de algo sobre percebermos que estamos envelhecendo à medida que passamos a frequentar mais enterros de parentes e pessoas próximas a nós.

As relações criadas em nossa vida são muitas vezes arbitrárias. Se o que eu disse acima ocorreu ou não, o fato é que ficou aquela impressão descrita de relação com a morte.

Fui atrás do livro no dia em que minha avozinha Cornélia Gomes morreu. Achei o livro dias depois. Li e ele não tem nada a ver com a questão da morte. Nem ele nem o autor.

A estória

O romance aborda a juventude. Aborda a revolta dos jovens e a alienação, que muitas vezes acompanha a adolescência.

Um dos destaques da obra é a linguagem. Acredito que para uma obra escrita no final dos anos quarenta, a linguagem vulgar deve ter sido bastante impactante no meio literário.

O texto é escrito em primeira pessoa, revezando discursos diretos e indiretos.

O adolescente Holden Caulfield fala muitas palavras obscenas e vulgares do início ao fim dos fatos que ele narra desde sua expulsão do Internato Pencey até dias depois, quando tem alguma crise nervosa ou esgotamento e diz que se encontra em algum lugar se tratando e que espera sair em breve.

O início

“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield, mas, para dizer a verdade, não estou com vontade de falar sobre isso. Em primeiro lugar, esse negócio me chateia e, além disso, meus pais teriam um troço se eu contasse qualquer coisa íntima sobre eles. São um bocado sensíveis a esse tipo de coisa, principalmente meu pai. Não é que eles sejam ruins – não é isso que estou dizendo – mas são sensíveis pra burro. E, afinal de contas, não vou contar toda a droga da minha autobiografia nem nada. Só vou contar esse negócio de doido que me aconteceu no último Natal, pouco antes de sofrer um esgotamento e de me mandarem para aqui, onde estou me recuperando. Foi só isso o que contei ao D. B., e ele é meu irmão e tudo. Ele está em Hollywood. Não é muito longe deste pardieiro, e ele vem me visitar quase todo fim de semana. Quando eu voltar para casa, talvez no mês que vem, é ele quem vai me levar de carro. Comprou há pouco tempo um Jaguar, um desses carrinhos ingleses que fazem uns trezentos quilômetros por hora e que custou uns quatro mil dólares. D. B. agora vive nadando em dinheiro, mas antigamente a coisa era outra. Quando morava conosco era apenas um escritor. Se é que nunca ouviram falar nele, foi D. B. quem escreveu aquele livro de contos fabuloso, O Misterioso Peixinho Dourado. O melhor conto do livro era a estória do garotinho que não deixava ninguém ver seu peixe dourado, só porque o tinha comprado com seu próprio dinheiro. Achei o máximo. Agora D. B. está em Hollywood, se prostituindo. Se há coisa que eu odeie, é cinema. Não posso nem ouvir falar de cinema perto de mim...”

A juventude é natureza em ebulição, sempre

Eu não tive a casualidade de conhecer a obra na adolescência. Porém, ao refletir sobre a revolta do jovem Holden, lembrei-me de minha própria revolta na adolescência e, neste momento, me peguei pensando na revolta de outros jovens como meu próprio filho.

Assim como fez o velho professor Spencer, aquele que Holden mais respeitava, ao querer lhe dar conselhos antes que ele deixasse o internato, também passei um tempo tentando dar conselhos ou dicas para meu filho.

A atitude só valeu para uma coisa: fazer aquele garoto sentir o mesmo que o personagem do romance. As coisas da juventude parecem cíclicas e atemporais, mesmo quando os tempos e as necessidades são outras.

Não adianta querermos julgar se a revolta dos jovens é com causa ou sem causa. A revolta é revolta. Eles são jovens. Seus corpos estão em revolução. As transformações que sofrem são alucinantes.

Penso que cabe a nós torcermos para que os jovens atravessem a revolução biológica de seus corpos com saúde e sem sequelas. É o que penso.

Intertextualidades literárias e metalinguagem

O jovem Holden nos fala um pouco sobre literatura da época (nos fala do seu jeito).

“Estava lendo um livro que tinha apanhado por engano na biblioteca. Me deram o livro errado e só notei quando já estava de volta no quarto. Haviam me dado Fora da África, de Isak Dinesen. Pensei que ia ser uma droga, mas não era não. Até que era um livro muito bom. Sou bastante ignorante, mas leio um bocado. Meu autor preferido é meu irmão D. B. e, em segundo lugar, Ring Lardner. Meu irmão me deu um livro do Ring Lardner no meu aniversário, antes de eu ir para o Pencey. Tinha uma porção de peças malucas, engraçadas pra burro, e um conto sobre um guarda de trânsito que se apaixona por uma garota muito bonita, que dirigia sempre em excesso de velocidade. Só que o guarda era casado, e por isso não podia casar com ela nem nada. Aí a garota acaba morrendo, porque dirigia sempre em excesso de velocidade. Achei essa estória infernal. O que eu gosto mesmo é de livro que seja engraçado, pelo menos de vez em quando. Li uma porção de livros clássicos, como A Volta do Nativo, e tudo, e gostei deles; li também vários livros de guerra e de mistério, mas nenhum desses me deixou maluco. Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer. Eu até que gostaria de telefonar para esse tal de Ring Lardner, só que o D. B. me disse que ele já morreu. Mas, por exemplo, esse livro do Somerset Maugham, A Servidão Humana, que li no verão passado. É um livro bom pra chuchu e tudo, mas não me dá vontade de telefonar para o Somerset Maugham. Sei lá. Não é o tipo de sujeito que a gente tenha vontade de telefonar para ele, essa é que é a verdade. Preferiria telefonar para o Thomas Hardy. Gosto muito da tal da Eustacia Vye.”

A eterna dúvida: pra onde vão os patos no inverno?

Essa questão fica na cabeça do jovem Holden o tempo todo. Ele cresceu ali nos arredores de Manhattan em Nova York. E aí, pra onde é que vão os patos durante o inverno, quando o lago fica congelado?

Veja a pergunta de Holden para um taxista que acha que ele tá querendo gozar com a cara dele:

“-Escuta aqui, você sabe onde ficam aqueles patos que vivem no lago lá pro lado sul do Parque? Aquele laguinho? Você sabe por acaso para onde eles vão, os patos, quando fica tudo congelado? Será que você tem uma ideia?

Calculei que era uma chance num milhão. Ele se virou para trás e me olhou como se eu fosse maluco.

- Quê que há, ó meu, tá querendo me gozar?

- Não, só que eu estava interessado em saber. Só isso.”

Uma verdade: ao se exibir demais, deixamos de ser bons

Holden está vendo uma peça de teatro e faz um comentário sobre os artistas principais: Alfred Lunt e Lynn Fontanne. A verdade que o jovem comenta é muito legal.

“O Alfred Lunt e a Lynn Fontanne faziam o papel do casal velho e trabalhavam muito bem, mas não gostei muito deles. Que eles eram diferentes, isso eram. Não agiam feito gente, mas não representavam como atores. É difícil de explicar. Agiam assim como se soubessem que eram famosos e tudo. Quer dizer, eram bons, mas eram bons demais (...) Se a gente faz uma coisa bem demais, aí, depois de algum tempo, se não tiver muito cuidado, começa a se exibir. E aí a gente deixa de ser bom de verdade.

Ser um apanhador no campo de centeio (para Holden)

A revelação na conversa com a irmãzinha querida Phoebe.

“- Você sabe o quê que eu quero ser? – perguntei a ela. – Sabe o que é que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?

- O quê? Para de dizer nome feio.

- Você conhece aquela cantiga: ‘Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio’? Eu queria...

- A cantiga é ‘Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio’! – ela disse. – É dum poema do Robert Burns.

- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.

Mas ela tinha razão. É mesmo ‘Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio’. Mas eu não sabia direito.

- Pensei que era ‘Se alguém agarra alguém’ – falei. – Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer, ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.

A danada da Phoebe ficou calada um tempão. Aí, quando resolveu falar, foi para dizer: - Papai vai te matar.”

A literatura tem os seus caminhos

Pois é, foi assim, de forma torta, que preenchi mais uma lacuna cultural e li mais um clássico da literatura mundial.

Estou um grãozinho de nada menos ignorante hoje do que ontem. Aliás, na minha ida para Brasília ontem, achei, na livraria do Aeroporto de Congonhas, totalmente por acaso, outro livro do Salinger - Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira & Seymour, uma apresentação.

Viu como são as coisas?! Já estou lendo.


Bibliografia:

SALINGER, J. D. O apanhador no campo de centeio. Editora do Autor. 17ª edição.

domingo, 8 de julho de 2012

Ando com poucas palavras (subjetivas)

REFEIÇÃO CULTURAL 94

No frio de Atibaia, no 3º módulo de formação do Seeb SP.

Tenho escrito pouco nas últimas semanas. Semanas difíceis nos fazem ter poucas palavras a dizer.

Meus alimentos culturais foram diversos. Hoje, li um conto de Jean Paul Sartre que dá nome ao livro de contos dele - O muro.

O conto aborda uma dura situação vivida pelos militantes das Brigadas Internacionais durante a Guerra Civil Espanhola. Um conto duro. Gostei. Após a leitura, acabei indo ler outras coisas a respeito desta história marcante vivida por um povo no século XX.

Após a morte da minha avozinha, dias atrás, comprei o livro de J. D. Salinger - O apanhador no campo de centeio. Já havia tido interesse em lê-lo outras vezes, em outras épocas. Porém, não sei o porquê, fiquei com o nome dele na cabeça desde que recebi a notícia.

Li o livro, que foi publicado em 1951, e o livro não tinha nada que ver com a morte de minha avó. É engraçado essa coisa de como chegamos a um livro ou filme.

Já cheguei a obras diversas por vários motivos: por acaso, quando vi filmes como Ghost; por me sentir atraído pelo nome, como em Cem anos de solidão (livro), O céu que nos protege (filme); por indicações várias, seja por dizerem que vou me informar com a obra ou porque ela teria tudo a ver comigo: Na natureza selvagem (filme e livro), Cabra cega (filme); Eles não usam black tie (filme), Peões (filme); por querer saber realmente do que se tratava, sem me basear na opinião dos outros: O príncipe (livro), Raízes do Brasil (livro), Ulisses (livro), Dom Quixote (livro), A montanha mágica (livro) etc etc etc.

Depois farei um texto específico sobre o livro de Salinger.

Desde que adquiri a coleção completa do seriado dos anos noventa Arquivo X, vez por outra, acabo pondo vários episódios em casa para assistir. Vi vários deles nesta sexta e sábado. Gosto muito.

Bom, realmente, estou nuns dias com poucas palavras até para partilhar o parco conhecimento que adquiro por aí...

Seguimos adiante.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Instantes - Algo de sentimento da morte

A morte e o cavaleiro - cena do filme "Sétimo Selo" de Ingmar Bergman.

Não sei se começo de trás pra frente ou de frente pra trás.

Fiquei semanas esperando a ligação fatídica, aquela que recebi lá no Ceará informando que minha avó havia acabado de morrer.

As coisas não têm relação lógica. Não sei porque fiquei com o nome e o desejo de ler naquela hora o livro de J. D. Salinger - O apanhador no campo de centeio.

Procurei o livro no aeroporto em Fortaleza e não o encontrei. Procurei o livro no aeroporto de Brasília e não o encontrei. Fui para o velório, para a dor e a tristeza em Uberlândia. Não consegui chorar hora nenhuma naquela noite que passei ao lado do caixão de minha avó.

Fui uma das quatro pessoas da família que se ofereceram pra passar a noite ao lado do corpo de minha avó.

Só consegui chorar no cemitério, depois que todos saíram da frente do túmulo e tive alguns instantes com minha avó e tia Alice - duas pessoas simples que marcaram muito minha vida.


Em fevereiro deste ano, também vivi a sensação de achar que perderia um dos pilares de minha vida. Meu pai infartou e fiquei uma semana ao lado dele nas noites e madrugadas, aguardando pela sua sobrevivência.


No intervalo de quase dois meses de internação de minha avó, minha mãe fraturou a coluna e hoje se encontra numa cama torcendo para se recuperar e voltar a andar.


Trouxemos meu pai para São Paulo no último domingo à noite, pois minha mãe ligou dizendo que meu pai estava quase morrendo em casa e se negava a aceitar chamar a ambulância para levá-lo para o SUS de Uberlândia - a UFU. Trouxemos, então, meu pai para São Paulo. Fomos buscá-lo no aeroporto de Campinas no domingo à noite.

Meu paizinho tem diversos problemas de saúde e é  um sobrevivente e lutador. Mas o cara é um camarada difícil de lidar. Tá no sangue!

Fui na segunda-feira de manhã com meu pai para o HU da USP. Após umas cinco horas de espera, conseguimos ser atendidos. Após mais umas doze horas de espera e exames, constatou-se pneumonia em meu pai e a internação foi inevitável.

Passei 26 horas acordado ao lado de meu pai novamente e felizmente ele foi mandado no dia seguinte para se tratar na casa de meu tio, ali próximo da USP, por risco de infecção hospitalar.

Precisei ir ao Sindicato naquela tarde de terça e só pude dormir uma hora e quinze minutos entre sair do lado de meu pai no HU e chegar ao centro de São Paulo, onde tinha uma reunião.


EXPERIÊNCIA MARCANTE

Quando voltei para ficar com o meu pai na casa de meu tio no início da noite, passei por uma experiência difícil. Estava dormindo em pé e quando desci do ônibus em que vim para a casa de meu tio, acabei entrando na frente do ônibus após andar alguns metros.

Foi tão rápido! Só percebi que ao virar, dei com o ônibus e o baque me levou de volta pro meio-fio e não pra baixo do ônibus. Até agora me lembro daquele milésimo de segundo. Como o acaso nos pega em uma fração de segundos...

Não quis comentar nada quando cheguei a casa de meu tio. Meu pai estava lá, com um pouco mais de cor e já aguentando ficar em pé ao menos para ir ao banheiro.

Em pouco mais de uma hora, meu pai começou a dizer seus desaforos a mim e ao meu tio e tia, dizendo que já ia voltar de novo pra Uberlândia e que ninguém seguraria ele. Não adiantou dizermos que ele estava com pneumonia e só não estava internado por risco de infeção hospitalar. Ele não poderia ir a lugar algum nos próximos dias.

Eu ainda estava com aquela coisa do baque do ônibus que não me matou e meu pai fazendo desaforos a mim e aos meus tios como se não importasse todo o sacrifício que fizemos para trazê-lo de Uberlândia e buscar salvar a vida dele.

Eu mandei meu pai olhar na minha cara, falei umas verdades pra ele e chamei ele de ingrato, disse que quase morri por andar dormindo por ter cuidado dele no dia anterior e sai revoltado.


Ainda descendo a avenida Franz Voegeli perto de casa, totalmente deserta em período sem aulas das faculdades, estava disposto a qualquer merda que fizesse acabar minha tristeza e revolta com a ingratidão da vida.

As três regiões ao redor da minha casa têm muitos assaltos a pedestres. A passarela da estação de trem da CPTM - Altino (já fui assaltado lá) e as duas grandes avenidas que quando estão desertas são um perigo. No meio da descida, um carro passou por mim e parou alguns metros à frente, não vi nada dentro pelos vidros escuros. Desgraçados, eu não temia nada. O carro andou e parou umas duas vezes pro meu lado. Fiquei esperando algum filho da puta sair do carro e vir até mim. Seria a segunda vez naquela noite que eu teria uma experiência com riscos.

Naqueles segundos eternos, esperei... e o carro acabou me deixando de lado e foi embora.


Estou em dias difíceis. Passei ontem e hoje com dormência na língua, boca e com o braço esquerdo formigando. Estou em dias difíceis!

A relação com pai e filho está uma merda. Meus pais estão vivos, mas só sobrevivem. Acho que o mundo é um lugar de gente ingrata. Eu tenho minhas culpas pela ausência na família. Sempre digo que a vida é dura e que o mundo é um lugar hostil.

(Também parou em minha mente a imagem de uma garota adolescente, de aparência humilde, chorando hoje agachada e encostada em uma pilastra no metrô República em meio à multidão. Fiquei tocado por aquilo...)

Que merda estar usando meu blog de cultura pra escrever isso. Foda-se!




E O LIVRO DE SALINGER?


Estou acabando a leitura. Sou um quarentão e acabei escrevendo da mesma forma e com a mesma linguagem do personagem adolescente Holden Caulfield. Que merda!




FUNDO MUSICAL


Passei a última hora e meia ouvindo "knockin' on heavens' door" nas interpretações de Bob Dylan, Guns N' Roses e Avril Lavigne...