domingo, 31 de janeiro de 2016

Diário - 310116



Bons autores, bons livros. Dois brasileiros.
Um norte-americano. Um português.

Refeição Cultural

Domingo. Fim das férias do trabalho. Férias em que trabalhei ou dediquei grande parte do mês ao trabalho por questões óbvias: meu trabalho é político, sou gestor eleito em entidade de saúde dos trabalhadores.

Fiz uma viagem com a família, pelo menos. Fomos a Pernambuco: Porto de Galinhas e Fernando de Noronha. Foi legal. Lugares bonitos. Vi ali o mesmo efeito preocupante da mão insana do homem num mundo capitalista. Perspectivas de destruição da natureza bem ali na esquina da vida. Overdose de consumismo e exploração dos meios extremamente sensíveis e esgotáveis da natureza.

Li três livros. Vários contos. Nove de J. D. Salinger (166 páginas). Doze de José J. Veiga (153 páginas). Sete de Machado de Assis (125 páginas). Contos muito diferentes. Épocas distintas e autores com estilos extremamente diversos. Machado abordando o mundo e seu mundo nos anos setenta e oitenta do século 19. Salinger, um norte-americano escrevendo nos anos quarenta e cinquenta do século 20. E finalmente conheci José J. Veiga, escrevendo no final dos anos cinquenta no Brasil.

Li mais um livro de Saramago. Me emocionei ao final. O livro "A viagem do elefante" (256 páginas) é um livro que Saramago pode escrever porque ele diz ter sido salvo por sua esposa e companheira, Pilar, que não o deixou morrer antes de 2008, quando esteve muito doente. Saiu da morte e escreveu sobre a vida de um elefante e seu cornaca, completando as lacunas da história e nos lembrando que a vida é um contar de histórias, onde vamos preenchendo as lacunas que faltam.

Depois fui ver Machado dizer a mesma coisa num conto. O narrador dizia que só completava as lacunas da história que narrava.

Nossa vida é assim: histórias e narrativas que vamos criando e narrando, e sempre completando as lacunas que faltam.

Bom, pelo menos neste mês de janeiro, pude ler umas setecentas páginas de literatura, além das dezenas de páginas de súmulas e textos da Cassi.

Vamos começar amanhã uma vida dura, difícil. De compromissos com nossas tarefas e pouco espaço para nós mesmos e nossa subjetividade. Somos cientes de nossas responsabilidades e quase que as colocamos acima de nossa existência. Devo ficar atento a isso, porque sou humano e não posso atender a todos os chamados que a militância social me faz, porque minha prioridade é a Cassi.

Eu preciso buscar de maneira obrigatória conciliar um pouco essa minha dedicação às causas que represento em nome dos trabalhadores com a minha saúde, porque sem ela, eu não poderei estar nas batalhas que enfrento, à frente das causas pelas quais milito como a gestão da Caixa de Assistência dos Funcionários do BB e as causas dos trabalhadores que defendemos com os princípios da esquerda de solidariedade, igualdade e liberdade.

Minha existência e meus compromissos são desafios grandes. Sempre foram. Vamos a eles com diligência, ética, transparência, exercício de tolerância e muito foco no que tenho que fazer e cumprir.

William Mendes

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Diário - 250116



Porto de Galinhas, Pernambuco.

Estamos em Porto de Galinhas, Pernambuco. Dias de férias. Já já vamos sair para um passeio em Maragogi, Alagoas.

Neste domingo, corri um pouco na praia. Correr neste tipo de piso é muito mais difícil que asfalto. Corri 4,5 km e andei mais 3 km. Depois, fui para os recifes de corais em frente onde estamos hospedados para aproveitar a hora e meia de maré baixa por dia.

Escolhemos os dias certos para virmos porque já conhecemos as tábuas de maré mais propícias para ver os corais. São os dias de luas cheia e nova, quando a tábua de maré chega a 0,3 e 0,4.

Nos três dias que curtimos os mergulhos nos recifes de corais, vimos muitos peixes em seu habitat natural. Dentre os animais marinhos que vi, destaco uma moreia preta e amarela.

Almoçamos no centro de Porto de Galinhas no domingo.

Curtição de rede pra uns cochilos. Leitura é mais difícil, mas estou quase acabando o livro de Saramago, A viagem do elefante.

William

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Diário - 210116



Um anoitecer qualquer no Planalto Central.
Janeiro. Foto de William Mendes.

Reflexões para 2016 (II)

Já é madrugada de quinta-feira 21. 

Nesta quarta-feira 20, consegui deixar pronto o boletim dos eleitos da Cassi, já entregue para ser publicado no site da Contraf-CUT. Também fiz as conversas políticas que eram necessárias e as relativas à minha responsabilidade como gestor.

Agora, pretendo dar uma desligada dos afazeres do trabalho, feitos durante as "férias".

Fico olhando para mim mesmo e para os meus entes queridos e fico pensando a respeito da minha relação com eles. Será que estou curtindo verdadeiramente meus pais neste momento de nossas existências? Estou fazendo o possível para transmitir algo que entenda ser fundamental para o meu filho? Estou dedicando o tempo necessário para estar com esposa, filho e meus pais? E quanto a mim, minha psique e minha saúde?

A existência humana é um átimo de tempo, um instante. Num momento, somos. No outro, não estamos, não somos nada.

Uma lição que aprendi logo que cheguei convidado ao movimento social, no caso o movimento sindical, lá no ano de 2002, é que essa coisa de ser militante e dedicar sua vida, às vezes de forma absurda, à causa para a qual está eleito ou destacado, é algo muito duro e difícil de suportar porque não existe gratidão na massa, naqueles grupos ou segmentos que representamos.

A gente nunca deveria esquecer isso. Porque acabamos por exagerar na militância e na doação de todas as nossas energias e saúde e tempo e pode ser que, num instante, você fique pelo caminho e aí só serão os seus de casa mesmo... quando muito um ou outro verdadeiro companheiro ou amigo...

Mas eu tenho uma tremenda cabeça leve a pôr no travesseiro nas noites cotidianas quando o assunto é cumprir meus compromissos com as causas para as quais estou destacado.

Já em relação aos entes queridos, a gente sempre vai ter débitos e a cabeça um pouco mais pesada no travesseiro...

Fui...

William Mendes

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Os saberes e os falsos saberes





"E não tenham medo, salomão está triste, mas não está zangado, tinha-se habituado a vocês e agora descobriu que se vão embora, E como o soube ele, Essa é uma daquelas coisas que nem vale a pena perguntar, se o interrogássemos directamente, o mais certo seria não nos responder, Por não saber ou por não querer, Creio que na cabeça de salomão o não querer e o não saber se confundem numa grande interrogação sobre o mundo em que o puseram a viver, aliás, penso que nessa interrogação nos encontramos todos, nós e os elefantes..." (página 118)

(...)

"uma boa coisa que a ignorância tem é defender-nos dos falsos saberes..." (página 119)

(A viagem do elefante, José Saramago, 2008)


COMENTÁRIO

Gostei dessas duas passagens onde Saramago aborda a questão dos saberes que carregamos conosco, muitas vezes sem explicações. 

Ele faz uma mescla com aquelas grandes perguntas que fazemos sobre alguns animais que têm em seu interior aquele saber de onde ir, como voltar e o que fazer, que nos deixam perplexos.

"uma boa coisa que a ignorância tem é defender-nos dos falsos saberes..."

Por outro lado, achei fantástica a expressão acima, que significa que, às vezes, a ignorância, o não saber e ter consciência e humildade sobre o fato nos protege também da arrogância e do exibicionismo, inclusive daqueles que abusam dos falsos saberes.

É o cuidado com a palavra, com o dizer das coisas, que encontramos nos grandes autores como Saramago.

Veja essa frase abaixo, falando sobre fazer cara de durão, de aqui ninguém passa, que fazemos nos piquetes de greve, é uma forma de dizer fantástica!

"Como comandante, eu me encarregarei dos palratórios, de vocês, nesses primeiros momentos, só desejo que cada rosto seja como um livro aberto numa página onde se encontrem escritas estas palavras, Aqui não entram." (página 126)


William

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Veredas



Por onde ir?
Cada passo, por aqui ou por ali, uma possibilidade.
Foto: William Mendes

Diário - 190116

"Em férias".

Não pude dormir ao sabor do corpo. Tinha que ler algumas súmulas importantes para dar minha opinião ao meu substituto na reunião de Diretoria Executiva que iria começar às 10 horas lá na Cassi. Por sinal, faltava parte das leituras ainda pela manhã porque consegui ler duas súmulas grandes ontem à noite. Aliás, só li parte das súmulas porque passei o dia todo em reuniões políticas sobre a nossa entidade de saúde.

Barriga roendo porque não quis ir buscar pão antes de acabar as leituras e fazer o contato telefônico para os apontamentos finais.

Saio para ir à padaria. Ao chegar à porta da padaria, num repente de decisão, prefiro entrar na porta ao lado, a farmácia, porque tinha que comprar um remédio recomendado a mim pelo médico de família onde estou cadastrado, um remédio como auxílio para ver se volto à condição ideal de pressão arterial.

Não tinha quase ninguém na farmácia, mas o atendimento demora horrores. Fiquei vários minutos para poder pagar o bendito do remédio.

Saio da farmácia e entro na padaria. Tem uma pessoa antes de mim sendo atendida no balcão dos pães. Ela sai com um saquinho contendo cinco ou seis pães. Pergunto à atendente se vão repor o cesto praticamente vazio de pães. Ela diz que acabaram e que só à tarde, depois das duas horas.

Olho no cesto e tem um pão com aparência satisfatória. Os outros quatro eram horríveis, como verduras de fim de feira. Olho o cesto, olho a atendente, e saio.

Tive que ir bem mais longe, ao supermercado, para poder comprar pães para fazer um agrado a minha esposa, que fica feliz quando consigo comprar pães de manhã. 

Durante o caminho, fiquei meditando sobre a questão das escolhas, das veredas constantes em nossa vida. O que aconteceu naquele instante que não entrei na padaria e fui ao lado primeiro e depois voltei e vi alguém pegar os últimos pães na minha frente, acontece o tempo inteiro, a vida inteira e com todo mundo, com todos os seres vivos.

Eu não tenho crença alguma hoje, como tive no passado, sobre destino, carma e darma, retorno e recorrência etc. Para mim, a existência, o funcionamento de tudo no Universo, é assim. A cada instante, decidimos conscientemente ou não sobre tudo, sobre o instante seguinte de nossa vida, ou decidem por nós, e vamos indo ou deixamos de ir a qualquer momento em nossa jornada existencial.

Por fim, refletindo sobre a mesma temática e ritmo das veredas que escolhemos a cada instante, após andar mais, demorar mais, acabei passando em frente à doceria que vende uma torta chamada "Fantasia" que minha esposa adora e que não comia há quase dois meses. Dias atrás, fui comprar e não tinha. Hoje entrei e perguntei e tinha.

Vejam como são as coisas. Não comprei pão onde fui buscar. Perdi um tempão que não poderia, porque apesar das "férias" estou atrasado para escrever um boletim e sair correndo para uma mesa de negociação com o Banco do Brasil sobre a nossa entidade de saúde, onde sou gestor eleito. 

Mas com tudo isso a minha esposa ganhou com essa vereda um belo pedaço da torta Fantasia que ela tanto queria.

Veredas... 

William


"Em férias" (mentirinha deslavada... é um truque de autoengano)

domingo, 17 de janeiro de 2016

Diário - 170116



Domingo de chuva.
Foto: Ione.

O domingo em Brasília amanheceu nublado, com ventos fortes e chuvisco.

Li dois contos de José J. Veiga, do livro Os cavalinhos de Platiplanto (1959). Li "Tia Zi rezando" e "Fronteira".

Fui ao mercado.

Depois do café, era para voltar a ler, mas perdi um tempo na internet.

Fiquei esperando a chuva passar para sair para correr. Queria aproveitar o domingo para correr no Eixão, já que fiquei fora de Brasília por algumas semanas. Como a chuva demorou, demorei a correr.

Fui para a corrida depois das quatro horas da tarde, sem almoçar. Corri 6k num ritmo bom. Não tinha ninguém no Eixão. A pista molhada e com garoa fina era só minha. Foi muito diferente. Depois que cheguei ao local e durante o tempo da corrida, cruzei com meia dúzia de pessoas, de bike ou correndo.

A paisagem do Eixão é sempre diferente conforme a época do ano. É muito interessante. Não é época de flores rosas, roxas e amarelas dos ipês. Nem amarelas, vermelhas e alaranjadas dos flamboyants. Verde, verde e verde. Tudo muito verde por causa da temporada de chuva.

Os pássaros que encantaram o meu caminho desta vez foram os quero-quero na pista, lindos! Na volta, acabei sendo premiado pelo maior bando de curicacas juntas que já vi, do lado de casa, oito bichonas com seus bicos curvos catando bichos na grama molhada. Show! Deslumbramento!


Curicacas em Brasília. Neste dia que bati a foto eram duas.
Hoje, num domingo de chuva, vi oito juntas.

Depois do almoço-janta, assistimos ao Planeta Terra, na TV Cultura, um canal que eu adorava e que agora virou um lixo politizado 24h por dia, pró governo paulista do PSDB e contra o governo federal do PT. Vimos mais um episódio da série da BBC de Londres, Planeta Humano. Neste episódio, abordou-se a vida no Polo Ártico: como nós humanos conseguimos sobreviver naquela terra inóspita. É de nos por a pensar muito sobre o quanto somos seres fantásticos quando se trata de sobrevivência no Planeta.

Agora no final do dia, assisti a um programa com uma entrevista a uma professora da FFLCH-USP abordando o grande escritor tcheco Franz Kafka e sua obra principal O processo, que peguei para reler semanas atrás.

Comecei a ler hoje o conto de Machado de Assis, Teoria do medalhão, e tive que interromper várias vezes. Que saco! Vou terminar a leitura antes de dormir.

Fim do domingo!

Dublinenses - James Joyce, 1914




Início da madrugada de domingo, 17 de janeiro.

Estou em minha residência em Brasília. O filho jogando videogame e a esposa com os seus afazeres.

Cá estou com minhas leituras e releituras: Machado, Frans de Waal, Saramago, José J. Veiga. Salinger. Relendo meu blog.

Reli um dos contos do clássico "Dublinenses", de James Joyce.


UM CASO DOLOROSO

Foi a quarta leitura deste conto: fevereiro e junho de 2002, agosto de 2012 e agora. É narrado em Discurso Indireto Livre.

"O senhor James Duffy morava em Chapelizold porque desejava viver o mais afastado possível da cidade a que pertencia e porque julgava os outros bairros de Dublin vulgares, modernos e pretensiosos. Morava numa casa velha e sombria..."


Joyce cita outros autores:

"Os livros nas prateleiras brancas estavam arrumados de acordo com o tamanho: as obras completas de Wordsworth ocupavam uma das pontas da prateleira mais baixa e um exemplar do Maynooth Catechism, dentro da capa de pano de um livro de notas, completava a divisão mais alta. Apetrechos para a escrita encontravam-se sempre sobre a mesa, onde havia também uma tradução manuscrita do Michael Kramer de Hauptmann..."


Caracterização do personagem:

"Duffy detestava tudo o que lembrasse desordem física ou mental. Um médico da Idade Média o classificaria como saturnino. Seu rosto, que trazia as marcas de todos os seus anos, tinha a mesma cor escura das ruas de Dublin. Em sua cabeça, larga e comprida, crescia um cabelo seco e negro e os bigodes de tom castanho, não chegavam a dissimular a expressão hostil de sua boca. As maçãs do rosto também lhe davam uma aparência dura, mas não havia aspereza em seus olhos que, contemplando o mundo debaixo de sobrancelhas também castanhas, sugeriam tratar-se de um homem sempre pronto a descobrir nos outros qualidades redentoras, mas que geralmente se decepcionava..."


Algumas franquezas no cardápio: que diabo de expressão é essa?

"Às quatro da tarde deixava o trabalho. Jantava num restaurante da rua George, onde se sentia livre da juventude dourada de Dublin e onde havia algumas franquezas no cardápio..."


Personagem é um recluso:

"Não tinha amigos, nem companheiros, nem igreja, nem credo. Vivia espiritualmente isolado de todos, visitando os parentes no Natal e acompanhando-os ao cemitério quando morriam. Cumpria esses dois deveres sociais em respeito à tradição, nada mais concedendo às convenções que regem a vida do cidadão..."


A outra personagem e nova frase bem estranha na descrição de algo:

"Seu rosto, que devia ter sido belo, conservara-se inteligente. Era um rosto oval com traços fortemente marcados. Os olhos eram de um azul muito profundo e resolutos. Seu olhar começava com uma nota de desafio, mas abrandava-se no que parecia um deliberado desfalecer da pupila na íris, revelando, por um instante, um temperamento de grande sensibilidade. A pupila recompunha-se rapidamente e aquela natureza, apenas revelada, recolhia-se de novo ao reino da prudência..."


"Chamava-se Emily Sinico. O bisavô do marido viera de Leghorn. O marido era capitão de um navio mercante que fazia a linha entre Dublin e a Holanda. Tinham apenas uma filha."


Abaixo, temos a descrição de um adultério com "justificativa social". O marido marinheiro não liga mais para a esposa e chega a achar que a visita de Duffy é por interesse na filha e não na esposa:

"(...) Pensando tratar-se da mão de sua filha, o capitão Sinico encorajou-lhe as visitas. Tão sumariamente dispensara a esposa da galeria de seus prazeres, que não imaginava pudesse alguém se interessar por ela..."


Crítica ao Partido Socialista Irlandês:

"(...) contou-lhe que durante certo tempo frequentara reuniões do Partido Socialista Irlandês, nas quais se sentira como um corpo estranho entre uma vintena de circunspectos operários, reunidos num sótão sob a luz precária de um lampião a óleo. Quando o partido se dividiu em três facções, cada qual ficou com seu líder e seu sótão (...) Percebera que eram realistas empedernidos e que lhes faltava o rigor de pensamento resultante de um ócio fora do alcance deles. Por alguns séculos ainda, acrescentou, nenhuma revolução social perturbaria Dublin."


Um dia, o romance acaba:

"Os encontros terminaram quando, numa noite em que dera mostras de inusitada agitação, a senhora Sinico agarrou-lhe apaixonadamente a mão e apertou-a contra o rosto."

(...)

"Concordaram em romper relações. Todo vínculo, disse ele, é um vínculo para o sofrimento."


O autor Joyce acelera o tempo e mostra a próxima cena quatro anos depois:

"Quatro anos se passaram. Duffy retornara à vida monótona de sempre..."


Cita a seguir duas obras de Nietzsche:

"(...) e entre os livros havia dois volumes de Nietzsche: Assim falou Zaratustra e A gaia ciência. Ele raramente escrevia nas folhas de papel que estavam sobre a escrivaninha. Uma frase, anotada dois meses após o último encontro com a senhora Sinico, dizia: 'O amor entre dois homens é impossível porque não deve haver relação sexual e a amizade entre homem e mulher é impossível porque é preciso haver relação sexual'..."


Comentário do blog: sem fazer juízo de valores, é bom lembrarmos que a obra é de 1914 e o contexto é a Irlanda e os usos e costumes da época, que Joyce tanto criticava, por sinal.

O desfecho final do conto é "um caso doloroso"... Não vou descrever aqui.

Todos os contos deste livro de estréia de James Joyce são eivados de críticas ao povo irlandês. As críticas são no sentido de o autor achar que as pessoas são cheias de crendices, exageros no cumprimento de dogmas religiosos, que as pessoas não se renovam, que os preconceitos emperram a vida e o progresso da cidade etc.

É isso!

William

sábado, 16 de janeiro de 2016

Diário - 160116





Reflexões para 2016

O ano de 2014 pode ter sido um dos anos mais intensos de minha vida em relação ao trabalho. Nunca havia trabalhado tanto em um só ano, quase que sete dias por semana, mês a mês. E o meu trabalho não é só físico, de execução, nem só intelectual. É político, negocial, intelectual e também de execução.

Aí entrou o ano de 2015 e minha determinação para o que teria que fazer em meu trabalho, um trabalho de gestor eleito em entidade de saúde com crise financeira, me levou a montar uma agenda que ampliou sobremaneira o que foi meu trabalho em 2014. Mais de doze horas por dia, semana a semana, mês a mês. Esgotei física e psicologicamente ao final do ano.

Nestes dias de "férias" - apesar de já ter trabalhado uns cinco dias nestes quinze passados -, estou refletindo sobre o quanto é possível trabalhar e não quebrar. Toleima... Se eu adoecer, não trabalharei mais, e também não cumprirei minha tarefa e meus compromissos com os associados que me elegeram.

Tenho que encontrar a sabedoria do caminho do meio, do meio termo, encontrar o limite para fazer o máximo possível, sem quebrar.

Esse será o desafio da observação de mim mesmo. Neste momento, sinto que não estou cem por cento. Preciso melhorar, porque mesmo no caminho do meio, no limite, o ano será duro, duríssimo, como diria o agregado dos superlativos, José Dias, do clássico Dom Casmurro.

William

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Tendo aprendido a lutar, mesmo o animal pacífico não para mais





Refeição Cultural



“Valente animal, exclamou com falso entusiasmo o comandante, Veio aonde o trouxeram, a força e a resistência nasceram com ele, não são virtude própria, Vejo-te muito severo com o pobre do salomão, Talvez seja por causa da história que um dos ajudas me acabou de contar, Que história é essa, perguntou o comandante, A história de uma vaca...”


A história de uma vaca, As vacas têm história, tornou o comandante a perguntar, sorrindo, Esta, sim, foram doze dias e doze noites nuns montes da galiza, com frio, e chuva, e gelo, e lama, e pedras como navalhas, e mato como unhas, e breves intervalos de descanso, e mais combates e investidas, e uivos, e mugidos, a história de uma vaca que se perdeu nos campos com a sua cria de leite, e se viu rodeada de lobos durante doze dias e doze noites, e foi obrigada a defender-se e a defender o filho, uma longuíssima batalha, a agonia de viver no limiar da morte, um círculo de dentes, de goelas abertas, as arremetidas bruscas, as cornadas que não podiam falhar, de ter de lutar por si mesma e por um animalzinho que ainda não se podia valer, e também aqueles momentos em que o vitelo procurava as tetas da mãe, e sugava lentamente, enquanto os lobos se aproximavam, de espinhaço raso e orelhas aguçadas. Subhro respirou fundo e prosseguiu, Ao fim de doze dias a vaca foi encontrada e salva, mais o vitelo, e foram levados em triunfo para a aldeia, porém o conto não vai acabar aqui, continuou por mais dois dias, ao fim dos quais, porque se tinha tornado brava, porque aprendera a defender-se, porque ninguém podia já dominá-la ou sequer aproximar-se dela, a vaca foi morta, mataram-na, não os lobos que em doze dias vencera, mas os mesmos homens que a haviam salvo, talvez o próprio dono, incapaz de compreender que, tendo aprendido a lutar, aquele antes conformado e pacífico animal não poderia parar nunca mais.” (pág. 114/115)



(A viagem do elefante, José Saramago, 2008)


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Diário - 110116



Com meu pai, dias atrás, lá em Uberlândia.

Já é madrugada de terça 12, mas o dia em questão é segunda 11. Foi um dia chuvoso e quente neste janeiro em Osasco.

Meu pai embarcou para Uberlândia nesta segunda à noite. Apesar de seus 73 anos e diversos problemas crônicos de saúde, ele empreendeu a loucura de fazer um bate e volta de ônibus para São Paulo. Meu pai é muito safo, sempre se vira e dá um jeito nas coisas. Viajou a noite toda vindo de MG para SP para passar por uma consulta na USP. Depois da consulta, conseguiu ir a um cartório no Bairro Butantan pegar uma segunda via de certidão de nascimento de minha irmã. Foi até a casa de um dos irmãos durante a tarde. E nos encontramos no início da noite por cerca de duas horas antes dele embarcar de novo para mais uma noite mal dormida em um ônibus para MG. Foi bom ficar essas duas horas com ele.

Antes, pela tarde, estive na minha agência bancária de origem, a Vila Iara. Acabei ficando lá a tarde toda, revendo os amigos e conversando um pouco.

Pela manhã, fiquei em casa, mas li por algumas horas a pauta da reunião da Diretoria Executiva desta terça 12, que ocorrerá em meu trabalho em Brasília. Estou em férias, mas não deixo de ser diretor eleito na empresa.

Enfim, nesta segunda-feira não caminhei, não corri, não li literatura...

Mas vi meu pai, vi amigos do trabalho, vivi mais um dia em Osasco, minha pátria.

A chateação foi medir minha pressão antes de ir dormir, crente que ela estava normal e ver os números de quase 10 x 13. Vai pro inferno com isso!

domingo, 10 de janeiro de 2016

A inspiração em Caieiro


A necessidade de escrever continua.
É importante buscar a felicidade 
ou mais prazer no existir.
Caieiramente, 
existe o Sol 
e o luar 
e os montes 
e as flores 
e as árvores.

Preciso achar o meu Sol 
e a minha Lua 
e as minhas árvores 
e os meus montes 
e as minhas flores.

Sei que os dele são concretos,
mas os meus podem ser metafóricos.

Meu Sol, que a tudo dá vida,
pode ser as Letras, os livros.
Quem sabe minha Lua 
não seja a música?

Minha família consubstancia
as árvores e suas raízes.
Os montes projetam 
o meu prazer pelo esporte
e pelo silêncio e frescor 
dos cimos altos 
que me apaixonam.

As flores... 
bem, as flores são as flores, 
pois que isso me convém.


Wmofox
08/04/06

sábado, 9 de janeiro de 2016

Diário - 090116



Visão de meu mundo.

Dias passados em Osasco, São Paulo.

Caminhando e correndo um pouco no Parque Continental. Quase que diariamente.

Em termos de leituras, estou focado em ler contos. Já li os nove contos do livro Nove Estórias, do escritor americano J. D. Salinger, publicado em 1953. Li alguns contos de Machado de Assis. Li um conto de Edgar Allan Poe e estou lendo neste momento os contos do livro Os Cavalinhos de Platiplanto, de José J. Veiga, publicado em 1959.

Também reli um pouco Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis.

Peguei um livro estranho nas pilhas de coisas velhas e comecei a lê-lo. É um livro publicado no início dos anos oitenta nos Países Baixos e traduzido no Brasil nos anos noventa: O livro secreto dos gnomos. É um livro em gravuras belíssimas. Muito interessante. Lembrou-me os tempos passados, quando eu cria em tudo que era coisa esotérica.

Ahh, e estou avançando bem na leitura de A viagem do elefante (2008), de José Saramago.

Fico olhando minhas pilhas de livros, fitas cassete em VHS, DVDs, revistas, e zilhões de papéis de anotações de minha faculdade de Letras e, então, bate tanta coisa em minha mente. 

Fico vendo meus livros em diversas línguas, meus livros didáticos, dicionários e gramáticas de várias línguas e de novo vêm as reflexões a respeito de minhas intenções passadas de aprender aquelas línguas e ler os livros em seus idiomas originais.

Como desfazer de grande parte desse volume de coisas?

William

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Mentes perigosas - O desafio de educar





Refeição Cultural




SINOPSE (FILME DE 1995)

Uma ex-oficial da marinha abandona a vida militar para ser professora de inglês. Só que logo na primeira escola em que começa a lecionar, ela vai se deparar com diversas barreiras. Sendo um colégio de negros, latinos, e na maioria, de pessoas pobres, ela terá que lidar com a rebeldia dos alunos. Como a professora Louanne Johnson não consegue através de métodos convencionais a atenção da sua classe, ela parte para outra forma de ensino. Passa a dar aulas com karatê e músicas de Bob Dylan, tentando ajudar a turma através de métodos pouco convencionais.



REFLEXÕES NO MOMENTO DA CATARSE

Faz tempo que eu não escrevo algum comentário sobre filmes.

Este filme estrelado por Michele Pfeiffer é de 1995. Aborda a velha e sempre atual questão das dificuldades enfrentadas pelos professores na educação e formação de jovens, principalmente em comunidades carentes e onde o imperativo para os alunos é a lei da sobrevivência.

Faz tempo que eu não me emocionava ao assistir a um filme. Ao rever este, neste momento, quedei cabisbaixo e pensativo.

O desejo de ter sido professor ficou lá no fundo de meu ser, ficou lá martelando. Cheguei a entrar em uma faculdade de Letras, já depois dos trinta anos. Foi quando passei mais perto da chance de ter ido para a área da educação.

Mas nessa vida passageira, quer dizer, onde somos passageiros e as coisas acontecem de um dia para o outro, fui me pegar sendo tudo quanto é coisa depois dos trinta anos, menos professor.

Nosso sertão, nossas veredas...

Por vezes, durante o filme, me peguei chorando porque não tinha como não lembrar a minha adolescência, no Hortêncio Diniz, no Bairro Marta Helena. As gangues, a violência, a miséria. Eu vi tantos jovens como aqueles do filme. Fins trágicos. Adolescências perdidas.

É engraçado! No meu trabalho de representação, sempre, em todo esse tempo que passei pelo movimento sindical e nesses 18 meses de mandato em entidade de saúde de trabalhador, ao falar, ao me comunicar sobre o que defendo e o que tenho que fazer, procuro atuar como se eu fosse um professor no grande desafio de estar em uma sala de aula, me esforçando para conquistar com humildade e firmeza as pessoas para o que estamos responsáveis por fazer.

A vida me encaminhou para várias missões e tarefas, e todas elas sempre muito desafiadoras. Não fui professor de nada, mas admiro muito muito essa categoria de pessoas especiais que enfrentam os desafios diários da profissão para educar crianças, jovens e adultos.

A educação e a formação política são, sem dúvidas para mim, as melhores perspectivas de mudança no mundo. São as coisas mais revolucionárias da existência humana.

O filme mexeu comigo hoje.

William

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Diário - 050116


A natureza, uma árvore. Foto de 2009, em Torino (Itália).
Estava hoje a visitar fotos desta viagem que fiz a trabalho.

Hoje é terça-feira, 5 de janeiro. Osasco, São Paulo.

Pela manhã, li José Saramago. Comecei, há três dias, a leitura de A viagem do elefante. Saramago é tudo de bom, porque além das estórias, têm as reflexões existenciais.

Li um pouquinho de Machado de Assis ontem à noite - um conto: Na arca (1878). Comprei um livro anteontem com cinquenta contos machadianos, organizado por John Gledson. 

Machado é tudo de bom, é atemporal. Ele também tem, além das estórias, a crítica social, a crítica a tudo que era o "normal", o padrão, naquela sociedade patriarcal, machista, branca, católica, patrimonial, escravagista. Machado é o cara!

Por dever de ofício, apesar das férias, tive que ler por algumas horas, no dia de ontem, as súmulas da pauta da reunião semanal de diretoria do meu trabalho.

Estou caminhando, correndo um pouco. Preciso voltar minha saúde para o ponto de equilíbrio. Minha pressão arterial está desregulada. Está alta.

Revi papéis. Joguei fora alguns. Salvei algumas anotações. Reli postagens no Blog, fiz comentários em um monólogo comigo mesmo, o hoje com o ontem.

Vi fotos antigas. Não tão antigas assim.

Saí com minha esposa para acompanhá-la em algumas obrigações.

Fim do dia.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Diário - 030116



Pode?

Refeição Cultural


Janeiro de 2016.

Terminei a leitura de meu primeiro livro nas férias: Nove estórias, de J. D. Salinger, livro que reúne contos e foi publicado em 1953.

Depois de assistir ao filme de Chaplin, Luzes da cidade (1931), assistimos ontem ao filme O garoto (1921). Os filmes de Charles Chaplin são muito bons. Esse cara deixou alguma coisa para a posteridade. Continua sendo lembrado, para além de seus últimos familiares.

Uma coisa corriqueira quando tenho algum tempo para pensar é refletir a respeito da vida, do mundo, e sobre a minha vida. O que já fiz, o que já se passou na minha breve existência humana, o que ainda poderia acontecer ou se fazer, a velha questão de valer a pena; se a vida acabar-se neste instante, o que ficará de mim? Não deixa de ser algo egocêntrico, afinal, por que haveria de ter que ficar algo de mim neste mundo, neste Universo, além de meus átomos dispersos novamente?

Outra coisa quando estou com tempo de ser não só o autômato cidadão cumpridor de tarefas e obrigações sociais, é olhar coisas velhas, porque temos que desfazer de coisas velhas. As coisas velhas não cabem no mundo do pequeno espaço físico. Imaginem a dificuldade que tem um ser que gosta de guardar coisas porque gosta de história das coisas e gostaria de organizar a história das coisas junto com a sua própria história de existência.

Mas não terei nem tempo de organizar essas coisas da história, da minha história, nem tenho espaço para guardar essas coisas. Jogar fora é necessário. É tão difícil! Jogo fora meus materiais de mais de uma década de luta sindical? Os sinais já foram dados a mim pelos acontecimentos dos dois últimos anos. Até eu fui jogado fora daquele mundo que ajudei a construir por tanto tempo! Então, por que insistir em guardar coisas da minha lide sindical para um dia organizar e escrever e dar meu ponto de vista histórico dos fatos e acontecimentos? Jogar fora é uma questão quase lógica.

E os meus escritos das aulas da minha faculdade de Letras? Insisto em guardar porque queria rever, reestudar, publicar em meu Blog, queria até ser professor de literatura e daquelas coisas todas... fala sério! Já estou com quase cinquenta anos e agora meu trabalho fodeu até minha saúde precocemente. Pra que guardar tudo isso?

Coisas assim fico a pensar quando tenho um tempo que não o de autômato cidadão cumpridor de tarefas e obrigações sociais.

Mas hoje pela manhã, tive um desgosto por causa do tempo. Me peguei obrigado a ler depressa o conto que faltava para acabar o livro do Salinger porque tinha obrigações mesmo na condição desses dias de descanso. Acabei me chateando com o troço.

Olha a pressão aí!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Diário - 010116



Osasco, uma visão de meu mundo.

Primeiro dia do ano civil de 2016. (Calendário Gregoriano)

Li cinco contos do livro de J. D. Salinger Nove Estórias de 1953. Linguagem coloquial e com denúncia do cotidiano das famílias americanas das décadas de quarenta e anteriores.

Reli alguns capítulos também de Dom Casmurro, de Machado de Assis (obra de 1899). Estou relendo a obra faz alguns dias. Os capítulos que li são sobre Capitu e seus "olhos de ressaca".

Estou testando se consigo ler algo nestas férias que começam oficialmente hoje. Sei que vou trabalhar vários dias de janeiro, envolvido na política e questões gerais da entidade de saúde em que sou gestor eleito. Mesmo assim, preciso desligar um pouco por causa da minha saúde e para dar um pouco de atenção à família.

Li faz uns dois dias, um conto do livro Histórias Extraordinárias de Edgar Allan Poe. O conto que li ("O caso do sr. Valdemar") não é um dos mais famosos do livro e do autor.

Assistimos ontem a um filme de Charlie Chaplin, na hora da passagem do Ano Novo - Luzes da cidade (1931)

O filho cresceu e bateu asas. Foi passar a virada do Ano Novo com a namorada e família.

Estou pensando até se leio contos de José J. Veiga, um dos principais autores brasileiros de contos fantásticos, falecido em 1999.

Espero caminhar, correr, quem sabe nadar um pouco, me alimentar melhor e dormir mais neste mês de janeiro e torcer para conseguir voltar minha pressão arterial ao normal.


Post Scriptum (15/9/19):

Reli o conto de Poe por causa de uma matéria que estou cursando na Faculdade de Letras da USP. Estamos lendo obras do escritor chileno Roberto Bolaño e no livro Monsieur Pain (1999) há referências a obras de Poe que tratam do tema Mesmerismo ou Magnetismo Animal. Foi uma coincidência eu ter escolhido entre dezenas e dezenas de contos de Edgar Allan Poe justamente o do Senhor Valdemar. São muito legais essas intertextualidades na literatura mundial.