sábado, 31 de agosto de 2013

No Capitalismo, as coisas se desfazem no ar, levando nossas histórias e nostalgias


Tiraram o direito deste garotinho de rever sua
escola da infância e adolescência.

Refeição Cultural


Fecharam a escola do meu filho!


Tempos atrás, fui informado em casa que a escola onde meu filho estuda desde o primeiro ano iria mudar de local. Não me atentei muito pra coisa, pois vivemos embotados em um mundo rápido. Demorou algum tempo entre o aviso e a mudança neste semestre. Meu filho já está indo para o novo endereço.

Faz poucos dias, entendi melhor o que foi a mudança porque passei na porta da escola indo buscar pão pela manhã de sábado e vi o silêncio e o abandono. Caiu a ficha e fiquei muito incomodado. A escola não é pública, visa o lucro.

No inicio, o local era só o Colégio COC - Vila Yara. Quando chegou a idade escolar de meu filho aos seis anos, pesou na escolha em matriculá-lo ali, o fato de a escola estar a poucos passos de casa. Pesou também o garoto ter sido levado a três escolas e ele mesmo ter achado o lugar grande e legal. Não precisaríamos pagar transporte e facilitaria a nossa vida.

Depois de alguns anos, ficamos sabendo que a escola não era mais só o colégio COC. Seria a Faculdade Anhanguera e o COC continuaria hospedado lá (“parceria”). O espaço da garotada do COC passou a ser limitado e as paredes com motivos e trabalhos infantis começaram a ser preenchidas pelas coisas dos marmanjos da faculdade. Finalmente, o COC foi embora. Mas a Faculdade Anhanguera também foi.


Os locais de nossa vida guardam histórias e nostalgias


Desde aquela manhã que entendi que aquele local não era mais uma escola, fiquei incomodado todas as vezes que passei em frente à porta. Na verdade, confesso que fiquei inconformado. Como é possível fecharem o local onde meu filho cresceu, onde passou mais de dez anos da infância à adolescência? Local onde registramos momentos que marcaram nossas vidas? Que droga é essa de mundo onde o objetivo das coisas é o lucro e danem-se as pessoas, os locais, as vidas e as relações que constituem os seres em sua completude?

Ali estive durante uma importante fase da vida de meu filho nas reuniões escolares de sábado. Nas festas juninas. Nas festas de final de ano letivo. Algumas vezes nas aulas de judô, quando ele era um catatau. Estivemos lá para ouvir as reclamações de briga ou comportamento do moleque. Estivemos lá para receber também elogios por ele. Ali naquela calçada, o garotinho da voz infantil passou a não querer mais que a gente desse beijo nele e segurasse mais sua mão (com o passar dos anos). Depois não quis mais ser levado até a porta. Por fim, passou a subir sozinho.

Que lixo que é passar ali agora e estar tudo acabado! Dizem que vão fazer mais condomínios lá. Que merda!

Não senti sozinho essa nostalgia e esse vazio em meu ser, em minha dimensão de pai. Meu filho descreveu uma sensação ruim que lhe dá até um aperto no peito em passar lá e não ter mais a Sua escola. Deve ser terrível para ele. Aliás, ele não pode calcular ainda o quanto o fato é ruim.

Eu sempre estudei em escola pública. Décadas depois, ainda tenho a oportunidade de passar na porta e ou entrar na Escola Estadual Prof. Adolfino Arruda Castanho, no Rio Pequeno (SP), onde fiz meus primeiros anos e fui alfabetizado. Ainda posso passar e entrar na Escola Estadual Prof. Hortêncio Diniz, em Uberlândia (MG). As escolas são públicas e estão lá. Gerações de professores, pais e alunos passaram por lá. Outras passarão. Parte da minha vida está lá!

E a do meu filho? Onde estará quando demolirem aquilo que foi a escola onde ele passou do primeiro ano do ensino fundamental ao segundo ano do ensino médio? Dos seis aos dezesseis anos? É a vida dele! São as lembranças dele, são dele os momentos bons e ruins e os vínculos que envolveram sua formação e sua psique. Ninguém deveria ter o direito de acabar com esse espaço de formação social de milhares e milhares de crianças e adolescentes porque era necessário adequar planilhas de custos e o lucro. Isto é ruim para todo mundo (menos para os capitalistas)!

É uma tristeza o que viramos neste mundo e nestas sociedades capitalistas baseadas no lucro e no utilitarismo. 


Podemos não ter chegado ao fim da história, mas o Capitalismo e a exploração de tudo na sociedade e no mundo baseado nesse sistema estão levando nossos humanos a viverem o fim de suas histórias, de seus vínculos sociais, transformando os indivíduos cada vez mais em seres sem passado e plugados num mundo virtual em presente contínuo que não levará a nada, como verdadeiras baterias elétricas de uma Matrix.

Que tristeza!

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Declaração de amor: Te amo, pai querido!


Mamãe e Papai queridos, referências de 
amor, ética, moral e garra.

Hoje é aniversário de meu querido e amado pai, Sr. Gercir Palmério. Parabéns por seus 71 anos de idade!

Pai, sabemos o quanto a nossa vida é difícil. A do senhor e a da minha mãe e a nossa vida em geral, como classe trabalhadora, sempre foi muito difícil.

Hoje sou um adulto, cidadão e militante social por um mundo mais justo e igualitário. Sou pai e me espelho no senhor para tentar passar exemplos ao meu filho como aqueles que vi em ti durante minha vida.

O senhor sempre lutou e brigou com o mundo, se achou que o mundo estava sendo injusto, e que as coisas estavam erradas.

Obrigado pela inspiração e exemplo, meu pai.

Obrigado por se esforçar em estar entre nós, mesmo com tantos problemas de saúde e com falta de atendimento médico, público e de qualidade.

Nós temos algo que nos mantém vivos, meu velho pai: eu, por vocês; a mãe por nós; o senhor por nós todos.

Vida longa. querido pai! Obrigado por estar conosco e por ser um batalhador por um mundo mais correto e uma sociedade que seja correta e justa com os cidadãos. Estamos longe disso, mas lutamos todos os dias por essa sociedade melhor.

Beijos, meu pai!

William Mendes

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Desagravo aos médicos cubanos (do Blog da Cidadania)


Reproduzo abaixo a postagem do Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania. Mil desculpas aos doutores cubanos pela incivilidade daquelas pessoas. Elas não nos representam.

William Mendes


Na foto acima, médicos cubanos que vieram ao Brasil para trabalhar em um dos 701 municípios que não atraíram o interesse de nenhum profissional brasileiro, e que foram hostilizados por médicos brasileiros durante evento em Fortaleza (CE).
O que se teme, neste momento, é que esses heroicos profissionais que doaram suas vidas a ajudar os que precisam sem visar lucro, façam uma ideia de nosso país que não corresponde à verdade. Não somos isso que você, se ainda não viu, poderá conferir no vídeo abaixo. Essa gente não nos representa, não representa o povo brasileiro.
Assista o vídeo. O post prossegue em seguida.


Diante dessas cenas lamentáveis, o Blog oferece a você a chance de dizer a esses profissionais que não faz  parte desse setor pequeno, gritalhão e inconsciente da sociedade brasileira. Deixe, abaixo, o seu comentário de apoio à iniciativa – escrita em espanhol, em respeito a esses profissionais.
*

REPARACIÓN



Les pedimos disculpas a los médicos de Cuba
Estimados doctores cubanos que fueran hostilizados en Fortaleza, Brasil
Presente,
Nosotros, ciudadanos brasileños decentes, democráticos y humanistas y que, les podemos garantizar, no compartimos de la salvajería de algunos pocos compatriotas que los han insultado y agredido desde vuestro arribo en la bella capital de nuestro querido Ceará, venimos a ustedes con un humilde pedido de disculpas.
Aún que la mayoría de nosotros no sea culpable de la estupidez y de los hechos depreciables de esa pandilla que los ha atacado hace rato, no podrá quedar sin reparación lo que ha pasado.
Por primer, les queremos informar que, hace alrededor de unos quince días, se hizo en Brasil una encuesta de opinión del instituto Datafolha – uno de los más grandes de Brasil – en la cual se preguntaba a personas de los cuatro cantos del país lo que pensaban de la venida de médicos cubanos hacia Brasil. 54% de los encuestados han dicho ser favorables.
Lo que ha pasado resultó, pues, de lucha política-ideológica que todos sabemos cómo sucede sobretodo en Latinoamérica. La derecha brasileña les tiene miedo, pues cree que van a hacer un buen trabajo y que, con eso, podran ayudar el gobierno progresista de la presidenta Dilma Rousseff en las elecciones del 2014.
Concluyendo esta reparación que les hemos enviado por medio de la representación diplomática cubana en São Paulo, les pedimos humildemente que no hagan juicio de nuestro pueblo por los hechos de unas cabezas pequeñas y miserables que se han olvidado de todo lo que es mínimo en una democracia.
En espera de buena acogida, les saludan…
(…)

domingo, 25 de agosto de 2013

Palestra: As Letras na nossa vida




As Letras na nossa vida

O curso que nos humaniza

Participei de um bate papo com alunos de letras e outros cursos da Universidade Federal de Uberlândia nesta semana para falar sobre o tema Multifuncionalidade no cotidiano.

Foi-me solicitado abordar a experiência de ter feito o curso de Letras e que repercussões esta formação me trouxe na vida, independente de estar ou não atuando na área.

Na abertura, com a Fanny fazendo a apresentação. Fotos: Thaís Belafonte.

O convite de minha sobrinha Fanny foi uma oportunidade muito legal de voltar a conversar com estudantes de Letras. Agradeço a acolhida de todos lá, inclusive do tutor do programa Tête-à-PET Diálogos às Terças,  o Prof. Dr. José S. de Magalhães.


A decisão pelas letras teve percurso sinuoso

- fui uma criança paulista que chegou a Uberlândia aos dez anos e que trabalhou desde a infância em muitos serviços braçais. Fiquei em Minas Gerais até os dezessete anos e voltei para SP. Fiz minha primeira faculdade no curso de Ciências Contábeis (1991-94). Foram quatro anos de estudos de economia, administração, contabilidade, muita matemática. Quase nada de língua portuguesa e linguagem.

- a decisão de me formar em Contábeis ajudou bastante para ser aprovado em concurso público e virar funcionário do Banco do Brasil (1991). Passei no concurso duas vezes, e na segunda prova foi bem mais fácil por já estar cursando.

Alunos da UFU - MG
- sempre alimentei o sonho de ser professor. Duas paixões sempre me moveram na vida: esportes e literatura. Por razões conjunturais na época, decide fazer faculdade de Educação Física (1996/98). Fiz dois anos de curso e não pude concluí-lo. O curso era pago e as finanças pessoais interromperam o meu sonho de ser professor.

- mantive o desejo de atuar na área de educação e decide entrar em uma faculdade pública para não ter a decepção que tive no curso pago de Educação Física. Prestei a Fuvest e entrei na USP (2001-2011). Estive dividido na inscrição do vestibular entre os cursos de Letras e História. Decidi-me pelas Letras porque via mais oportunidades de sair do banco e atuar na área.


No meio do caminho tinha uma pedra

- após entrar no curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Usp - FFLCH -, fui convidado também a compor chapa cutista em eleição de diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Fui eleito diretor da entidade em 2002.

Mais alunos da UFU e o tutor do PET,
Prof. Dr. José S. de Magalhães.
- a partir da posse na direção do Sindicato, o curso de Letras seria percorrido de forma lenta e difícil pelas atividades de representação da categoria bancária nas lutas diárias contra as mazelas dos bancos enquanto patrões. Eu não poderia priorizar o curso de Letras em razão da gravidade diária e histórica que é a da luta de classes.

- a grade do curso de Letras na especialização de Português e Espanhol (bacharelado) foi concluída entre 2001 e 2011. Foram anos inesquecíveis de formação, de convivência com professores das áreas de português, espanhol, literaturas diversas e linguística. Foi uma oportunidade impar de acesso a roteiros de estudos nas mais diversas áreas literárias e de línguas.


O que mais marcou nas letras

- o contato com outras línguas foi decisivo para a escolha da opção de especialização. Entrei na Letras com desejo de fazer estudos de língua inglesa e portuguesa. Após contato com diversas matérias de outras línguas como um curso semestral de introdução ao espanhol, decidi-me por fazer a grade de português e espanhol.

Conversando com o pessoal do Tête-à-PET na UFU MG.

- o que foi decisivo no primeiro ano do curso – chamado “ciclo básico” - para escolher o Espanhol além do Português, foi uma matéria optativa sobre literatura latino-americana e as relações com a morte. A matéria e os textos foram bárbaros! Nunca mais tive matéria tão legal.

- outra coisa que me marcou muito no curso de Letras, foi o fim do meu preconceito linguístico, tão comum e tão presente na sociedade e no mundo acadêmico. Uma matéria feita no 1º ano abordou com leveza o tema e eu revi conceitos sobre os diversos falares e dialetos além da língua padrão.

Momento de descontração...
- alguns textos marcaram muito minha forma de ler e interpretar como, por exemplo, o texto do professor João Alexandre Barbosa (1937-2006) O leitor crítico. O texto para mim foi determinante, separando “meninos de homens”, quando se fala no foco e na atenção que devem ter os profissionais das Letras em relação ao leitor comum.


Por que não estar atuando na área

- não estou na área das Letras como professor porque ainda detenho mandatos dos trabalhadores como dirigente bancário. Sou um cidadão ligado ao movimento social e tenho que me dividir nas dimensões que todos nós temos como trabalhador, pai, estudante e ator político. Não teria como ser um bom professor e um bom dirigente sindical.

- ainda pretendo atuar na área da educação. Hoje já atuo como formador na área da representação sindical, pois sou secretário de formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro – Contraf-CUT.


O que o curso influenciou na minha vida

- mudei completamente a minha visão de mundo após o curso de Letras e muitas visões que tinha antes, menos humanistas e mais frias e matemáticas, mudaram com o contato com grandes autores e grandes obras.

Então, como eu ia dizendo... (olha meu sobrinho Victor lá no canto)

- o mesmo se deu com relação ao uso de línguas estrangeiras. Falar o espanhol no meu trabalho tem sido muito importante. Também conhecer a língua inglesa foi algo diferenciador nas relações com o mundo e as entidades e empresas do dia a dia da minha representação sindical. Já estive a trabalho ou passeio na Itália, Espanha, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai e sempre me virei no contato em inglês e espanhol com cidadãos do mundo.

- saber usar a linguagem adequada de acordo com o público e o local onde estou tem sido muito importante para tentar ser um bom comunicador.

- uma coisa que discuti com os estudantes foi sobre o mundo estar precisando urgentemente de mais gente das Letras do que do mundo das Exatas, das Finanças e das técnicas em geral.

Intervenções dos participantes

- os alunos e o tutor do Tête-à-PET fizeram intervenções muito legais. Foram abordadas questões sobre o mercado de trabalho na área de Letras, a falta de interesse na contemporaneidade para se seguir a carreira na área de humanas e na área da educação, sobre as mobilizações ocorridas no mês de junho no país, dentre outras questões.

Participação da turma foi muito legal.
O nosso bate papo deve ter sido legal, pois meu sobrinho Victor disse que é muito comum os alunos só esperarem o tempo mínimo para ganharem o certificado e saírem no meio do debate. E não saiu ninguém e ficamos juntos até que precisamos acabar devido ao limite de horário.



Foi uma tarde muito legal. Gostei e agradeço o convite feito pela Fanny e pelo Prof. Dr. José S. de Magalhães e pela participação dos alunos e alunas da UFU.


PS (Post Scriptum): não dei o crédito do/a autor/a das fotos porque não sei. Caso a pessoa queira, é só me dizer o nome.

PS 2: todas as fotos foram feitas pela jovem Thaís Belafonte.

sábado, 24 de agosto de 2013

A Revolução dos Bichos (I) - George Orwell, 1945


Bandeira do Animalismo: o casco e o chifre.


A Revolução dos Bichos – George Orwell, 1945

Literatura Inglesa

“O Sr. Jones, dono da Granja do Solar, fechou o galinheiro para a noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias...”.

“Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um silencioso movimento em todos os galpões da granja. Correra, durante o dia, o boato de que o velho Major, um porco que já fora premiado numa exposição, tivera um sonho muito estranho na noite anterior e desejava contá-lo aos outros animais...”.

“(...) Com doze anos de idade, já bem corpulento, era ainda um porco de porte majestoso, com um ar sábio e benevolente, a despeito de suas presas jamais terem sido cortadas...”.

Todos os animais estavam presentes, exceto Moisés, o corvo domesticado, que dormia fora, num poleiro junto à porta dos fundos. Quando o Major os viu, bem acomodados e aguardando atentamente, limpou a garganta e começou:

- Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do estranho sonho que tive à noite passada. Mas falarei do sonho mais tarde. Antes, tenho outras coisas a dizer. Sei, camaradas, que não estarei convosco por muito mais tempo e, antes de morrer, considero uma obrigação transmitir-vos o que aprendi sobre o mundo. Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da minha pocilga. Creio poder afirmar que compreendo a natureza da vida sobre esta terra, tão bem quanto qualquer outro animal vivente. É sobre o que desejo vos falar”.

Assim começa a estória da Revolução dos Bichos. Vamos ver algumas verdades que os animais nos dizem:


1. A REALIDADE

“Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento necessário para continuar respirando, e os que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade, nua e crua”.


2. NATURAL?

“Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! O solo da Inglaterra é fértil, o clima é bom, ela pode dar alimento em abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente (...) Por que, então, permanecemos nesta miséria? Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra – Homem. O Homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre”.


3. OS QUE VIVEM DA EXPLORAÇÃO DOS OUTROS

“O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a mourejar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho amanha o solo, nosso estrume o fertiliza, e, no entanto, nenhum de nós possui mais que a própria pele...”.


4. QUE FAZER ENTÃO? LIVRAR-SE DOS EXPLORADORES E SEU SISTEMA

“Não está, pois, claro como a água, camaradas, que todos os males da nossa existência têm origem na tirania dos humanos? Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos nos tornar ricos e livres. Que fazer, então? Trabalhar dia e noite, de corpo e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem que eu vos trago, camaradas: Rebelião! Não sei dizer quando será esta revolução, pode ser daqui a uma semana ou daqui a um século, mas uma coisa eu sei, tão certo quanto o ver eu esta palha sob meus pés: mais cedo ou mais tarde, justiça será feita. Fixai isso, camaradas, para o resto de vossas curtas vidas! E, sobretudo, transmiti esta minha mensagem aos que virão depois de vós, para que as futuras gerações continuem na luta, até a vitória”.


5. OS INTERESSES DE UM NÃO SÃO OS INTERESSES DO OUTRO (IDEOLOGIA)

“E lembrai-vos, camaradas, jamais deixai fraquejar vossa decisão. Nenhum argumento vos poderá desviar. Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre nós, animais, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas”.


6. TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS. NÃO SE DEVE TIRANIZAR UM AO OUTRO

“- Pouco mais tenho a dizer. Repito apenas: lembrai-vos sempre do vosso dever de inimizade para com o Homem e todos os seus desígnios. O que quer que ande sobre duas pernas é inimigo, o que quer que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo. Lembrai-vos também de que na luta contra o Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos irmãos. Todos os animais são iguais”.


BREVE COMENTÁRIO

Reli pela quarta vez esta estória-metáfora de George Orwell. Ela é necessária a todos nós militantes sociais.

Temos que pensar sobre esta experiência na Granja dos Bichos, antiga Granja do Solar.

Eu, por exemplo, voltei ao livro pelo que tenho visto no meu entorno, por aqui e por ali.

Cada frase, cada passagem dos eventos que envolvem o Homem e os Bichos, classes nesta granja-mundo, é tão atual, se encaixa tão perfeitamente nos nossos espaços-mundo, que impressionam!

Mas ainda luto pelas ideias do velho Major...

É isso.



Bibliografia:

ORWELL, George. A Revolução dos Bichos. Biblioteca Folha 2003, a partir da Editora Globo SA.

domingo, 18 de agosto de 2013

Vamos vivendo, lutando e deixando nossas marcas





Refeição Cultural


Fim de noite de domingo. Acabando meu parco fim de semana.

Gostaria de mais tempo para ler e estudar um pouco, para praticar um pouco de esporte, ouvir música e ver bons filmes.

Assisti ontem novamente ao filme Os 300 de Esparta, de 1962. Havia visto o filme em 2008 e ele tem muito mais história que aquela filmagem de 2007. Pesquisei e li um pouco sobre a verdadeira história da Batalha das Termópilas, ocorrida nos anos 400 a.C. Esta batalha fez parte das Guerras Médicas, entre gregos e persas. Vi fotos atuais do local. Gostei muito da questão do patriotismo e do ideal de defesa de seu povo que moveram o Rei Leônidas e seu exército a resistirem até o último soldado contra o gigantesco exército do rei persa Xerxes, filho de Dario I.

Ouvi John Lennon hoje. Suas letras têm forte apelo político pela paz e também falam de paixão e amor. Fiquei pensando em grandes pessoas que morreram cedo. Gostando ou não de suas obras, marcaram fortemente o mundo no século XX. Estou falando de George Orwell, que morreu aos 47 anos de idade; John Lennon, que faleceu aos 40 anos e Bruce Lee, morto precocemente aos 32 anos.

Não sou só eu que fui marcado pelas obras deles. É provável que porcentagem grande de pessoas aqui no meu país e por aí no mundo também o foram.

As obras de Orwell – 1984 e Revolução dos bichos – me influenciaram muito e mexeram comigo desde a primeira vez que as li. As músicas e letras de John Lennon também. Eu as ouço e elas me emocionam desde quando eu era garoto. Nunca me esqueço do anúncio da morte de Lennon no jornal da TV em 1980. Eu tinha de dez pra onze anos e vejo perfeitamente a cena lúdica que fechou a matéria com um óculos redondo caindo no chão e se estilhaçando “the dream is over...

Bruce Lee então, nem se fale. Comecei a fazer Kung Fu bem moleque lá em MG. Fiz até voltar pra SP aos 17 anos. Na arte marcial que aprendíamos na época, a lição principal era pra não lutar na rua e para não agredir as pessoas, e sim para usar como defesa ao ataque dos outros.

A frase na parede da academia que frequentei dizia: "vencedor é aquele que consegue vencer sem lutar, mesmo tendo o dom de vencer lutando".


Os três cidadãos acima marcaram o mundo com suas obras. O mundo é feito pelo gênio de certos seres humanos e a história é feita por líderes e também pela multidão participante e anônima. Os seres humanos são únicos na natureza animal. Tanto se destacam individualmente quanto coletivamente por suas obras.


Novo desafio de resistência

Por fim, após minha caminhada de 74 km na semana passada na Romaria entre Uberlândia e Água Suja, agora é hora de preparar esse meu corpinho para correr a São Silvestre no final de dezembro. Serão 15 km e eu não estou em condições mínimas de corrê-la. Mas estarei até lá.

Neste domingo paulista de um frio da pemba, corri uns 3,5 km pra começar...


Foi minha primeira corrida visando a São Silvestre em dezembro. Vamos vivendo, correndo, lendo e estudando quando dá, e tentando fazer algo útil e deixar a nossa marca nesta nossa vida em sociedade.


domingo, 11 de agosto de 2013

Romaria 2013 de Uberlândia a Água Suja


Meus pais: grande inspiração de vida!

Cheguei a Uberlândia MG na noite de quinta-feira (8/08) após trabalhar em SP na primeira mesa de negociação entre a Fenaban e o movimento sindical.

Previ dificuldades na caminhada do dia seguinte pelo estado físico em que me encontro. Não tenho podido fazer meus exercícios físicos com regularidade faz muito tempo. E o estresse da representação sindical também pesa no cansaço.

Planejei sair para a estrada após o sol mais intenso da tarde. Em outros anos, fazia o contrário: como a caminhada dura quase 24 horas, preferia pegar o sol mais forte estando descansado. Saí do trevo de Uberlândia na sexta-feira (9) às 16:45h. Deste ponto à cidade de Água Suja são 74 km.

Por mais que se faça todo ano a romaria, cada vez é vez única.

Cheguei à Água Suja no sábado às 12:45h. Estava melhor que muitas outras vezes. Arriscaria dizer que nunca cheguei tão inteiro. A considerar o estado de meus pés, a impressão que tenho é que flutuei (minha mãe disse que fui carregado pela santa). Não tive nenhuma bolha! Nem macetados meus pés ficaram. Ano passado tive três bolhas muito feias e perdi a unha do dedão esquerdo.


BR 365 lotada de romeiros indo pra Romaria de Água Suja MG.

Reflexões


- a estrada estava bem cheia. A todo instante havia romeiros por perto. Isso não quer dizer que durante a madrugada não tive vários momentos sem ninguém por perto em minha caminhada, inclusive durante o dia. São momentos em que sua cabeça viaja nas reflexões...

- fico tentando entender porque nesta caminhada cheguei muito mais inteiro que nas outras, se o previsto era o contrário. Na madrugada, percebi o quanto minha passada era silenciosa, ainda mais quando estava próximo aos romeiros. Com o tempo, a gente aprende a economizar o corpo. Se o tênis ajuda, como o que usei desta vez, pisar levemente faz grande diferença para o calcanhar e para não estourar as unhas ao longo das dezenas de quilômetros.

- é muito interessante o som da noite. A todo instante, tem barulho de bichinho no mato. O cri cri cri dos grilos é conhecido de todos, até na área urbana. O céu estrelado é impressionante! Aquilo é de uma imensidão que nos coloca em nosso lugar no universo. Caminhei com lua nova e não vi sequer o risquinho da lua. Vantagem para as estrelas: Cruzeiro do Sul, Três Marias...

- essa minha caminhada anual é algo estranho. Enquanto você está na estrada, com dor, com cansaço, andando e andando e ainda longe do destino, se pergunta por que fazer aquilo. Depois que experimenta a sensação de adentrar a cidade e depois que dormiu o primeiro sono do descanso, já tem a certeza que no ano seguinte fará tudo de novo. Eu sempre precisei de desafios pessoais, de limites a romper, de testar como estão meus limites. Sou assim, assim vou até o fim...



Ipês amarelos como este, despontam de fora a fora na estrada.

- dias atrás, revi o filme com a história real de Alvin Straight, um senhor americano de 76 anos que resolveu engolir seu orgulho e atravessou em um tratorzinho cortador de grama de um estado a outro nos EUA (Iowa a Wisconsin – 390 km) para ver seu irmão que sofrera um AVC. Eles brigaram uma década antes num momento de bebedeira. As paisagens do filme são belíssimas. Minha caminhada de 74 km também é repleta de campos, plantações, cerrado, rios, paisagem ressequida pela sequidão de agosto... ipês, muitos ipês ao longo da estrada.

- se na romaria do ano passado me estraguei tanto e este ano foi meu melhor ano - e a cada ano estou mais velho -, qual é a questão? Acredito que o planejamento faz grande diferença. Ano passado não fui previdente nos esparadrapos no pé. Arrisquei um tênis que eu não tinha muita convicção de que seria bom. São vários fatores que não são detalhes, são essenciais. Na vida é assim para superar desafios. Inclusive no trabalho e nas conquistas pessoais e coletivas. Não perdi minha essência nestes anos todos. Não perdi. Meu caráter e minha ética estão intactos, minha gana de lutar pelo que é certo e popular não mudou. Eu posso estar desanimado com o meu entorno, mas eu sei quem sou e o que defendo. Isso pra mim é importante. Eu não quero mudar de lado na sociedade e no sistema capitalista. Não quero ser capitalista, nem me locupletar no poder. Quero mudar o sistema de exploração e de destruição do ser humano e quero lutar pelas possibilidades inerentes aos seres humanos: amor, amizade, solidariedade, liberdade, inteligência e razão. Posso não ter a receita para o que quero, mas sei exatamente o que não quero em nossa sociedade humana.

É isso, eu ainda tenho lenha pra queimar.



Vídeo da Romaria 2013

Segue o vídeo que consegui fazer. Não foi o projeto original que montei no meu PC pois deu problema. Fiz outro rapidamente juntando as tomadas de minutos durante a caminhada.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Caminhando... e buscando caminhos


Pois é, enquanto meus companheiros estão lá no segundo dia de mesa de negociação com os banqueiros, hoje estou retirado da agenda de luta sindical.

Daqui a pouco, sairei pra minha caminhada anual aqui em MG. Estou me concentrando para encarar a estrada.

Neste ano, estou muito, mas muito cansado mesmo fisicamente. Isso aumenta em muito o desafio de sair e chegar ao objetivo: a cidade de Romaria - Água Suja.

Refletindo sobre a caminhada e minhas condições, vou sair do trevo de Uberlândia neste ano (serão 74 km até a cidade). Vou almoçar, tomar um banho e pegar a estrada por volta de 15h. Se tudo correr bem e o corpo ajudar, espero chegar ao destino pretendido por volta de 13h de sábado.

Trouxe algumas músicas em fitas cassete para me acompanharem na longa caminhada noturna. Meu aikman mecânico me acompanhará nas horas duras. Irei trocando fita de lado a cada 30' nas 12 horas de noite e madrugada. Neste ano não terei a ajuda da luz do luar porque estamos no início da lua nova e será noite de grande breu.

Peguei o tênis velho velho que fiz a caminhada em 2011 porque no ano passado me estraguei todo com o tênis e dificultou muito as dezenas de quilômetros a percorrer. Além das bolhas gigantes, perdi uma unha que gastou o ano todo pra ficar quase normal. 


Espero estar inteiro para continuar a luta na segunda feira lá em Brasília, onde teremos a batalha contra o projeto de terceirização total e o fim dos direitos do trabalho.

Assisti novamente estes dias ao filme Uma história real, filme baseado na obstinação de Alvin Straight para atravessar do Estado de Iowa a Wisconsin (cerca de 390 km) em um velho tratorzinho cortador de grama e encontrar seu irmão que sofreu um AVC. Alvin superou o orgulho de não falar com seu irmão há mais de uma década, por eles terem brigado após uma bebedeira, e alcançou seu objetivo - ao seu jeito.

A paisagem do filme, que foi gravado no mesmo percurso, é muito parecida com a paisagem que vou percorrer nas próximas 24h. Vejam um vídeo aqui que mostra as belas paisagens que percorro nesta romaria.

Estou muito cansado e muito emotivo. Tenho muito que caminhar e pensar. Refletir sobre a vida, sobre a luta e sobre o que estou enfrentando na minha luta. Às vezes, erramos. Às vezes somos incompreendidos e também somos vilipendiados por fogo amigo. A reflexão sobre a família e também sobre uma perspectiva de futuro será uma tônica nas dezenas de quilômetros pela frente.

É isso. Vou chegar lá na cidade de Romaria amanhã.

Caminhando... e buscando caminhos...

Para mais conhecimentos sobre as Romarias, tenho postagens sobre elas.

domingo, 4 de agosto de 2013

Buscando resistência e inspiração para persistir na luta ética da esquerda


Olha aí pessoas que sempre me inspiraram na questão da ética e persistência.

Refeição Cultural


Está acabando meu fim de semana. Queria um pouco mais de tempo em casa, mas na luta contra o capitalismo e seus lacaios... “o tempo, o tempo não pára...” já dizia o poeta Cazuza.

Nesta semana que começa, teremos a primeira mesa de negociações com os banqueiros para buscar soluções e melhorias para a categoria bancária. Antes, na terça (6) teremos mais um dia nacional de luta contra o maldito projeto de terceirização total (PL 4330), que pode ser votado no Congresso Nacional neste mês de agosto. Seria um retrocesso de um século nos direitos dos trabalhadores brasileiros.

Na sexta-feira, estarei em Minas Gerais para pegar a estrada e fazer minha caminhada introspectiva entre Uberlândia e a cidade de Água Suja. Serão uns 80 quilômetros de isolamento, reflexão, busca de energia e superação de obstáculos como a dor e o cansaço físico e mental. Esse desafio me revigora todo ano e mostra a mim mesmo qual a minha matriz e minha natureza.

Alguns filmes me sensibilizam e me põem a pensar muito. Hoje assisti novamente ao belo filme Uma história real de David Lynch. O filme aborda a questão da persistência, da luta pessoal pela superação do orgulho, que tanto nos prejudica enquanto seres humanos. É um filme que tem a cara das histórias de Hemingway, como a do velho pescador Santiago.

Não consegui ler como gostaria neste fim de semana porque me vinha o sono assim que tentava. Estou com um cansaço acumulado. Mesmo assim, ao menos tentei caminhar e correr um pouco pra ver se meu corpo alcança condições mínimas para a romaria desta semana.

Ainda em relação à leitura, quero ver se escrevo um pouco sobre a LTI – Linguagem do Terceiro Reich (livro de Victor Klemperer) porque o que estamos vivendo em relação às tentativas diárias de lavagem cerebral do povo brasileiro, perpetradas pelos meios de comunicação oligopolizados (P.I.G.: famílias Marinho, Civita, Mesquita, Frias etc) pelos donos do capital e oposição ao governo do Partido dos Trabalhadores (Lula e Dilma), é algo escandaloso e nojento. Tudo que é falcatrua dos corruptores que são do PSDB ou do entorno, escondem e fazem com que não sejam notícias. Tudo que é suspeita de falcatrua que seja viável se vincular ao PT ou aliados de esquerda, constrói-se as ilações e linchamentos públicos antes de qualquer prova final. É tucano, omite. É petista, faz estardalhaço.

É preciso acabar com essa disparidade canalha em relação ao direito humano à comunicação e informação factual.



É isso! Foram muitos alimentos culturais que nos levam a digerir problemas e tentar buscar soluções, sempre à esquerda, é claro!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

LTI - Linguagem do Terceiro Reich (Fanatismo)



A leitura deste livro do filólogo Victor Klemperer é bastante esclarecedora sobre as artimanhas da comunicação de massas, do uso das técnicas de retórica e oratória na linguagem e nas possibilidades de seus efeitos.

É impressionante como vejo com facilidade as mesmas técnicas utilizadas hoje em nosso cotidiano.


CAPÍTULO 9 - FANÁTICO

Klemperer nos fala da importância deste termo para a LTI e o nazismo e a mudança de sentido semântico desta palavra empreendida durante o regime nazista (1933-45).

Em seus diários em 1940, Victor escreveu:

"Tema para seminário - mandar pesquisar quantas vezes os termos fanatisch [fanático] e Fanatismus [fanatismo] aparecem em comunicações oficiais e quantas vezes em publicações não diretamente ligadas à política, como por exemplo os novos romances alemães ou traduzidos de línguas estrangeiras". (p.111)

Ao constatar a quantidade absurda de vezes que a palavra "fanático" aparecia:

"Entretanto, mais importante do que sua frequência foi a mudança em seu sentido. Já escrevi uma vez sobre isso em meu estudo sobre o século XVIII...". (p. 111)

O estudo:

"Os iluministas sempre recriminaram os termos fanatique [fanático] e fanatisme [fanatismo] por uma dupla razão. A raiz de 'fanático' vem de fanum, santuário, templo. No início, o termo significava pessoa em estado de êxtase, em êxtase religioso. Ora, os iluministas lutavam contra tudo que pudesse perturbar a capacidade de pensar. Sendo inimigos da Igreja, combatiam com rigor todo tipo de superstição religiosa. Para eles, o fanático é, por excelência, inimigo dos racionalistas....". (p.112)


Fanatismo leva ao desprezo pela morte, mas pode conferir muita vitalidade

Citando uma passagem de Rousseau no "Emílio":

"Bayle conseguiu provar muito bem que o fanatismo é mais pernicioso que o ateísmo, fato inconteste. Mas ele guardou para si uma verdade não menos importante: o fanatismo, mesmo que sanguinário e cruel, é uma paixão intensa e forte, que inflama os corações das pessoas, capacitando-as a desprezar a morte, mas também lhes confere muita vitalidade. Quando bem guiado, é possível extrair dele as mais sublimes virtudes. Por outro lado, o ateísmo e todo o afã iluminista, com suas sutilezas, levam em geral ao apego à vida, ao acovardamento, à mesquinhez, canalizando paixões para servir a interesses particulares prosaicos, ao egoísmo condenável, aniquilando sub-repticiamente as verdadeiras bases de qualquer sociedade". (p.112/3)


(concluo depois, bateu o sono...)