Tiraram o direito deste garotinho de rever sua escola da infância e adolescência. |
Fecharam a escola do meu filho!
Tempos atrás, fui informado em casa que a escola onde meu filho estuda desde o primeiro ano iria mudar de local. Não me atentei muito pra coisa, pois vivemos embotados em um mundo rápido. Demorou algum tempo entre o aviso e a mudança neste semestre. Meu filho já está indo para o novo endereço.
Faz poucos dias, entendi melhor o que foi a mudança porque passei na porta da escola indo buscar pão pela manhã de sábado e vi o silêncio e o abandono. Caiu a ficha e fiquei muito incomodado. A escola não é pública, visa o lucro.
No inicio, o local era só o Colégio COC - Vila Yara. Quando chegou a idade escolar de meu filho aos seis anos, pesou na escolha em matriculá-lo ali, o fato de a escola estar a poucos passos de casa. Pesou também o garoto ter sido levado a três escolas e ele mesmo ter achado o lugar grande e legal. Não precisaríamos pagar transporte e facilitaria a nossa vida.
Depois de alguns anos, ficamos sabendo que a escola não era mais só o colégio COC. Seria a Faculdade Anhanguera e o COC continuaria hospedado lá (“parceria”). O espaço da garotada do COC passou a ser limitado e as paredes com motivos e trabalhos infantis começaram a ser preenchidas pelas coisas dos marmanjos da faculdade. Finalmente, o COC foi embora. Mas a Faculdade Anhanguera também foi.
Os locais de nossa vida guardam histórias e nostalgias
Desde aquela manhã que entendi que aquele local não era mais uma escola, fiquei incomodado todas as vezes que passei em frente à porta. Na verdade, confesso que fiquei inconformado. Como é possível fecharem o local onde meu filho cresceu, onde passou mais de dez anos da infância à adolescência? Local onde registramos momentos que marcaram nossas vidas? Que droga é essa de mundo onde o objetivo das coisas é o lucro e danem-se as pessoas, os locais, as vidas e as relações que constituem os seres em sua completude?
Ali estive durante uma importante fase da vida de meu filho nas reuniões escolares de sábado. Nas festas juninas. Nas festas de final de ano letivo. Algumas vezes nas aulas de judô, quando ele era um catatau. Estivemos lá para ouvir as reclamações de briga ou comportamento do moleque. Estivemos lá para receber também elogios por ele. Ali naquela calçada, o garotinho da voz infantil passou a não querer mais que a gente desse beijo nele e segurasse mais sua mão (com o passar dos anos). Depois não quis mais ser levado até a porta. Por fim, passou a subir sozinho.
Que lixo que é passar ali agora e estar tudo acabado! Dizem que vão fazer mais condomínios lá. Que merda!
Não senti sozinho essa nostalgia e esse vazio em meu ser, em minha dimensão de pai. Meu filho descreveu uma sensação ruim que lhe dá até um aperto no peito em passar lá e não ter mais a Sua escola. Deve ser terrível para ele. Aliás, ele não pode calcular ainda o quanto o fato é ruim.
Eu sempre estudei em escola pública. Décadas depois, ainda tenho a oportunidade de passar na porta e ou entrar na Escola Estadual Prof. Adolfino Arruda Castanho, no Rio Pequeno (SP), onde fiz meus primeiros anos e fui alfabetizado. Ainda posso passar e entrar na Escola Estadual Prof. Hortêncio Diniz, em Uberlândia (MG). As escolas são públicas e estão lá. Gerações de professores, pais e alunos passaram por lá. Outras passarão. Parte da minha vida está lá!
E a do meu filho? Onde estará quando demolirem aquilo que foi a escola onde ele passou do primeiro ano do ensino fundamental ao segundo ano do ensino médio? Dos seis aos dezesseis anos? É a vida dele! São as lembranças dele, são dele os momentos bons e ruins e os vínculos que envolveram sua formação e sua psique. Ninguém deveria ter o direito de acabar com esse espaço de formação social de milhares e milhares de crianças e adolescentes porque era necessário adequar planilhas de custos e o lucro. Isto é ruim para todo mundo (menos para os capitalistas)!
É uma tristeza o que viramos neste mundo e nestas sociedades capitalistas baseadas no lucro e no utilitarismo.
Podemos não ter chegado ao fim da história, mas o Capitalismo e a exploração de tudo na sociedade e no mundo baseado nesse sistema estão levando nossos humanos a viverem o fim de suas histórias, de seus vínculos sociais, transformando os indivíduos cada vez mais em seres sem passado e plugados num mundo virtual em presente contínuo que não levará a nada, como verdadeiras baterias elétricas de uma Matrix.
Que tristeza!