segunda-feira, 16 de junho de 2025

Bloomsday



Refeição Cultural 

O dia 16 de junho é uma efeméride que homenageia o clássico Ulisses, de James Joyce. É uma data comemorativa tanto para a Irlanda quanto para os amantes da literatura. 

O livro retrata um dia na vida do personagem judeu Leopold Bloom andando pelas ruas da Dublin do início do século XX.

A obra de 900 páginas é uma epopeia literária para qualquer leitor(a). Imagino não ser Ulisses um dos clássicos mais lidos do mundo. 

Sou um privilegiado neste caso, pois se poucas pessoas leram o romance uma vez na vida, eu li a obra duas vezes, aos trinta e aos cinquenta anos. 

Quando venci o desafio da primeira leitura, confesso que me senti como o super-homem, porque para pegar o ritmo lia e voltava dezenas de páginas, até que peguei o jeito e fui até o fim, ao antológico fluxo de pensamento de Molly Bloom.

Ler Ulisses foi uma realização literária em minha modesta vida de leitor. 

Viva o Bloomsday!

William Mendes 

16/06/25 (23h02)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Leituras tardias


Abril de 2011.


Refeição Cultural

Li a revista Serafina, de abril de 2011, por causa desse grande homem na capa: Oscar Niemeyer (1907-2012). Ele faleceu no ano seguinte à matéria, faltando dez dias para completar 105 anos.

Niemeyer foi um dos brasileiros mais conhecidos do mundo em sua área de atuação, a arquitetura. Seu estilo arquitetônico está presente em diversos países e no Brasil são mais de 600 obras criadas por seu gênio, amante das curvas que lembram corpos femininos. 

Li na reportagem que Niemeyer estava lúcido, dizendo que a velhice é uma merda - por não conseguir mais andar -, estava com dificuldades para enxergar e havia retirado um câncer de intestino e a vesícula aos 101 anos. Afirmou que seguia sendo ateu, mas adorava desenhar igrejas e catedrais pelas possibilidades que elas geram ao criador de suas arquiteturas.

Oscar Niemeyer, grande figura humana! Suas obras estarão entre nós por muito tempo, espero. 

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Vi outras matérias interessantes como, por exemplo, a morte recente à época de Elizabeth Taylor (1932-2011). 

O artigo "Olhos de Liz", de Vivian Whiteman, enfatizou aquele olhar fulminante que a atriz presenteou ao mundo do cinema por décadas: "olhos de quase-violeta, coloridos ao modo dos fenômenos estelares mais violentos".

A matéria sobre a atriz Judie Foster também deixa os leitores com desejo de ver todos os filmes e interpretações dela, que atua desde criança. 

O jornalista Xico Sá fala sobre o centenário de Maria Bonita, companheira de Lampião. Ele cita na matéria o livro "Lampião, o Homem que Amava as Mulheres" (ed. Annablume), de Daniel Lins, e "Guerreiros do Sol" (ed. Girafa), de Frederico Pernambucano de Melo, e afirma que "Há quem entenda a participação de Maria Bonita e suas amigas, companheiras de outros integrantes do bando, como um marco precursor do feminismo no Brasil". Artigo muito bom!

COMENTÁRIO FINAL 

Estou trabalhando na revisão e encadernação de meus textos nos blogs. Neste momento, estou relendo as 280 postagens de 2011 do blog A Categoria Bancária. Dá um trabalhão, mas é uma viagem no tempo.

No Brasil estávamos nos primeiros meses do mandato da presidenta Dilma Rousseff. Os banqueiros e capitalistas avançavam com a terceirização de tudo - pra nossa categoria era a praga dos correspondentes bancários -, para acumular mais lucro e foder a classe trabalhadora e o povo. O movimento do capital e da direita era mundial e hoje vemos o resultado de tudo: trumps, bolsonaros, netanyahus querem a guerra mundial e total contra a humanidade. 

Neste momento, seguem o genocídio do povo palestino, o avanço do autoritarismo nos EUA, a extremista casa-grande brasileira e suas milícias bolsonaristas preparando o caos para retomar o poder político em 2026, e Israel bombardeando o Irã pra causar a guerra total...

Que posso fazer sobre essas coisas?

Talvez escrever sobre, denunciar para que algumas pessoas reflitam. 

William 

13/06/25 (11h14)

terça-feira, 10 de junho de 2025

Instantes (13h13)



Refeição Cultural

No Brasil, a corte suprema está ouvindo neste momento aquela gente que tentou dar um novo golpe de Estado após as eleições de 2022 para se perpetuar também no poder político, já que o poder real - econômico - a casa-grande nunca deixou de ter. 

O PIG (Partido da Imprensa Golpista) tem novos aliados para desinformar e idiotizar o povo: as corporações norte-americanas chamadas big techs. 

O Brasil vai enfrentar uma guerra cognitiva nunca vista. As máquinas de IA farão o diabo com a nossa noção de verdade e realidade. 

A esquerda e as pessoas com alguma ética e vergonha na cara não estão preparadas para essa guerra de agora até outubro de 2026. O pior é que nem se preparando estão para enfrentar nossos inimigos. Será uma tragédia. 

Nossos inimigos estão certos de que a impunidade deles se imporá novamente. São séculos de impunidade. 

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Neste mesmo instante, Israel está eliminando os palestinos para ocupar suas terras. Nos anos 40, o genocídio promovido pelo nazismo era meio oculto. Agora genocídios são transmitidos e tem gente que fica rica com as visualizações e likes (as big techs agradecem).

Neste mesmo instante, Trump segue implantando uma ditadura nos Estados Unidos. Será que parte do povo vai conseguir barrar isso?

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Em minhas reflexões e revisitas aos diários, tenho avaliado minha passagem por este mundo violento da sociedade humana. 

Me doei às lutas sociais por um tempo. Sou um homem de sorte também pela oportunidade do aprendizado na convivência com a militância de esquerda. Minha cabeça precisa funcionar para eu superar o fim daquela convivência. 

Se a vida me der oportunidade de ainda estar por aqui, eu deveria mergulhar nas leituras que nunca fiz. Sempre admirei pessoas com grande conhecimento geral.

Se eu tiver algum juízo, conseguindo terminar a revisão e armazenamento de minha produção textual de milhares de textos nos blogs, pego pra ler tudo que acumulei por desejo de saber. 

Enquanto isso, seguem as coisas que citei acima... que posso eu fazer pela democracia, pelo humanismo, pela educação e cultura?

Escrevendo aqui, partilho o que sei e o que penso.

(Salvem seus textos e produções audiovisuais em mídias próprias, as nuvens vão deixar na mão milhões de criadores de conhecimento. Pensem nisso)

William 

domingo, 8 de junho de 2025

Livro: O Picapau Amarelo - Monteiro Lobato



Refeição Cultural

"- E agora, Visconde? Que fazer?

O Visconde coçou as palhinhas do pescoço. Não achou remédio. Os sábios são criaturas indecisas; não resolvem nada." (Monteiro Lobato, O Picapau Amarelo, p. 148)*


O Sítio do Picapau Amarelo e seus personagens fez parte de minha infância de alguma forma, pelo que me lembro. Acho que assistia às aventuras de Pedrinho, Narizinho, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa através da televisão nos anos oitenta. 

Ao pesquisar a respeito da série televisiva que tive contato na infância, vi que foi a da adaptação da Rede Globo em parceria com a TVE e MEC, exibida entre os anos de 1977 e 1986, período no qual eu tinha entre 8 e 17 anos.

Os livros, contos ou textos políticos de Monteiro Lobato eu nunca tinha lido. Essa edição que li foi dessas que compramos em bancas de livros expostas em corredores de shopping center. Foram 15 reais bem investidos, na minha avaliação. O que se faz hoje com esse valor? Pode-se comprar um livro de Monteiro Lobato!

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FÁBULAS E FAZ DE CONTA ENTRE CRIANÇAS E ADULTOS

Ao ler os livros de fantasia e mundo do faz de conta das fábulas infantis e infanto-juvenis que fizeram parte da infância de muita gente e avaliar o que virou o mundo humano nas primeiras décadas do século XXI, mundo no qual grupos de pessoas põem celular na cabeça para contatar extraterrestres para salvá-los de uma suposta ditadura esquerdista no Brasil, fico pensativo sobre a condição lastimável da espécie humana neste momento da história. 

A fantasia e faz de conta atualmente dominam a mente de adultos como, por exemplo, aqueles seguidores de uma seita messiânica liderada por um certo clã de políticos de extrema-direita no país. 

Acho que são diferentes as fantasias e abstrações criadas na literatura e outras formas de cultura e as manipulações de massa feitas pelos donos do poder e suas máquinas com objetivos de ganhos pessoais em detrimento de prejudicar as massas manipuladas.

Ou seja, vamos ler mais literatura e acessar mais formas de cultura e ficar menos nas redes sociais cujas donas são as corporações chamadas big techs que hoje atuam para mudarem o comportamento de seus usuários de forma criminosa.

É minha opinião.

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PRODUÇÕES CULTURAIS RETRATAM OS MUNDOS

Uma questão do mundo atual que se discute em relação à produção de cultura de outras épocas é sobre as qualidades e defeitos dos criadores das produções culturais em suas épocas e contextos. Escritores e outros intelectuais das artes são seres sociais e são sujeitos de suas épocas.

A linguagem e formas de tratamento no livro de Monteiro Lobato, escrito em 1939 no Brasil, pode ser considerada hoje inadequada, racista e preconceituosa. O leitor que leu o livro agora em 2025 acha isso.

No entanto, as obras literárias e culturais ao longo da história humana retratam o mundo e a visão das pessoas daquele mundo em qualquer tempo e lugar. 

Óbvio que cada pessoa é diferente em uma determinada comunidade humana. O ser humano Monteiro Lobato em 1939 pode ser que seja racista, xenófobo, misógino, elitista ou qualquer outra forma de avaliar comportamentos e ideias das pessoas em 2025.

No entanto, achar que só Monteiro Lobato ou só fulano ou cicrano usava a linguagem que o escritor usa para criar romances ficcionais na primeira metade do século XX no Brasil é tapar o sol com a peneira, ou seja, não considerar aquele mundo no qual vivia o escritor. 

É isso que penso após décadas de vivência e contato com a educação e formação política que tive a oportunidade de acessar como ser humano que já mudou radicalmente de opinião e visão de mundo por causa do contato com outras formas de pensamento nas suas mais diversas formas de apresentação aos outros.

Mais complicado para uma criança ou adolescente do que ler um romance de Monteiro Lobato com linguagem da época do Brasil da primeira metade do século XX é uma criança ou adolescente em 2025 conviver no meio de gente que põe celular na cabeça em grupo no meio da rua pedindo intervenção de extraterrestres por qualquer que seja o motivo. O exemplo que essas crianças estão recebendo de seus adultos vai ferrar geral o mundo no qual todos nós vivemos hoje e amanhã.

Vou ler mais Monteiro Lobato.

William


*Post Scriptum: ia me esquecendo. Por que usei a citação acima sobre os sábios que não resolvem nada? No instante que li, me lembrei na hora dos debates que tinha quando sindicalista e acadêmico a respeito das diferenças abissais entre a academia e o mundo sindical na hora de definir reivindicações, estratégias e táticas e soluções para os conflitos entre capital e trabalho. Os sindicalistas, mesmo acadêmicos ou com bagagem intelectual, têm uma diferença enorme em relação aos professores e intelectuais que tanto admiramos: na hora do conflito, da greve por exemplo, os sindicalistas estão com milhares de pessoas na busca de solução para aquele conflito real nas ruas e nos locais de trabalho, o ideal passa longe da solução para aquele conflito. Aprendi isso e respeito muito essa condição do sindicalista, que busca achar solução intermediária que seja decidida pelo conjunto de trabalhadores envolvidos. Via de regra, o acadêmico vai espinafrar a solução encontrada porque ela não leva ao socialismo ou à mudança de condição social etc. Muitas vezes, greves longas sem acordos intermediários acabam por só negociar os dias parados, sem avanço algum para os trabalhadores.


Bibliografia:

LOBATO, Monteiro. O Picapau Amarelo. Ilustrado por Jótah. São Paulo: Lafonte, 2019.


sábado, 7 de junho de 2025

Instantes (14h56)



Refeição Cultural

Leituras que nos fazem pensar... 

O romance de ficção científica de Miguel Nicolelis me deixou muito pensativo nos últimos dias... até um relâmpago pela janela do banheiro me assustou! Pensei no cataclismo oriundo da tempestade solar, que já ocorreu em 1859 e pode ocorrer a qualquer momento. É por questões como essa que afirmo que a humanidade precisa salvar nosso conhecimento e cultura em meios físicos. Essas nuvens digitais onde armazenam a produção humana das últimas décadas são como as nuvens do céu... se desfazem com qualquer ventinho.

Monteiro Lobato, escritor e intelectual de seu tempo, é uma de minhas lacunas culturais. Meu consolo é saber que não adianta me martirizar por ter tido que gastar meu tempo de vida tentando sobreviver como um cidadão pobre num país miserável dominado por uma elite desgraçada e fdp. Até li alguma coisa em décadas de venda de meu corpo e minhas horas de vida. Lobato não tinha lido ainda. Estou lendo um de seus romances infanto-juvenis, de 1939. Nunca é tarde para adquirir cultura.

Peguei na portaria a excelente revista do Mino Carta e sua equipe e, cansado das desgraças distópicas da política, comecei a leitura pelo fim, pela seção Plural, que aborda temas culturais. 

Estou vendo os episódios da série The Last of Us... pesado o clima. O corpo fica em choque. No entanto, ler as notícias políticas do Brasil dominado por um parlamento como o nosso é o mesmo que assistir à narrativa de fim do mundo da ficção. Aqueles 450 fdp estão lá para acabar com o mundo. Resta saber quem será o último de nós. 

William 

07/06/25

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis (14)



Refeição Cultural

"(...) Todos os dados estocados na chamada 'nuvem digital', mantida nos servidores das grandes empresas de tecnologia, subitamente foram deletados; a nuvem digital simplesmente se dissipou como uma corrente de ar quente analógica. Todas as formas de mídia social ficaram mudas instantaneamente..." (Nada mais será como antes, Miguel Nicolelis, p.337)


Nesta semana estou focado em avançar no romance de ficção científica do neurocientista Nicolelis. 

Eu compartilho da preocupação de certos intelectuais e pensadores a respeito do poder incomensurável das big techs e seus donos. Eles armazenam hoje boa parte do conhecimento da humanidade em seus computadores.

O risco que todos nós corremos ao não criarmos as nossas plataformas nas dezenas de países que se pretendem soberanos é claro para qualquer pessoa minimamente inteligente, que dirá se essa pessoa se apresenta como líder e representante de gente ou movimentos.

Eu tenho outras hipóteses a respeito do efeito do mundo somente digital na vida da espécie homo sapiens: não seremos mais essa espécie, seremos outra coisa, talvez menos inteligente, a seguirmos abandonando a vida natural e analógica. 

É isso. O romance caminha para seu desfecho... nada mais será como antes...

William 

04/06/25

Instantes (18h12)



Refeição Cultural

Anoiteceu. Quais alimentos culturais tenho degustado?

Estou lendo nesta semana Monteiro Lobato. Também estou lendo o romance do neurocientista Miguel Nicolelis. Ouvi algumas entrevistas e uma aula do professor João Cezar de Castro Rocha, o cara é um intelectual admirável!

São refeições culturais que alimentam nosso espírito, nossa mente humana. 

Pensei várias vezes em escrever sobre política e me posicionar. Me segurei e não escrevi nada. Não alteraria o mundo atual, o que estou nele.

As narrativas ficcionais infanto-juvenis do século passado de Monteiro Lobato e a ficção científica de Miguel Nicolelis pelo menos me fazem pensar o mundo. 

William 

04/06/25

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Instantes (14h)



Refeição Cultural


VENCEREMOS O ÓDIO DESTA VEZ?

São tantas coisas! Escrever sobre elas ou calar? 

Ao mesmo tempo em que avalio que as palavras estão perdendo a importância - uma sensação de incomunicabilidade com o outro -, o cotidiano do mundo humano segue sendo alterado rapidamente pela manipulação da humanidade através do uso das palavras deturpadas, uso por meios tecnológicos com uma potência e alcance nunca vistos: as big techs e seus poucos donos envenenam o mundo com o ódio. 

As democracias, antes imperfeitas, acabaram de vez por manipulação do comportamento das massas humanas através de palavras que escondem realidades e inventam qualquer mentira que ganha a pauta e agenda o cotidiano das gentes e de suas comunidades, países.

Que importa eu saber um pouco mais hoje como as coisas se dão e estão acontecendo? Sozinho, pouco posso com elas. E se me unisse a outros como eu? Esquece! Sou de esquerda e unidade na esquerda só se for no sentido de "um", "único", "unitário", cada esquerdista com sua verdade absoluta... 

Ao mesmo tempo em que na esquerda é cada um por si com sua "bolhinha" de améns, há uma organização e objetivos claros de tomada de poder mundial por parte de nossos inimigos, o capital unido à extrema-direita, e o nosso inimigo tem mil facetas, mas um alvo claro a combater: nós. E eles têm o capital, e com ele os meios de manipulação através das palavras. 

O filólogo Victor Klemperer estudou, registrou e nos legou o que foi o nazismo através da manipulação do povo alemão pela linguagem, a "LTI: a linguagem do 3° Reich". Estamos vivendo o mesmo processo na linguagem que nos faz humanos, mas agora em escala global, através das big techs, que a utilizam para manipular os sentimentos e afetos de bilhões de pessoas, com intuito claro de alterar e influenciar o comportamento delas.

E me pergunto de novo? Que diferença faz eu saber um pouco sobre isso? Todas as pessoas ao nosso redor estão no mesmo processo em andamento... filhos, familiares, amigos, conhecidos. Foi assim que a LTI levou o mundo ao domínio do nazifascismo dos anos vinte aos anos quarenta um século atrás. Só uma guerra com dezenas de milhões de pessoas mortas interrompeu a linguagem do ódio e da supremacia nazifascista. 

E agora, o mundo conseguirá interromper esse processo?


William Mendes

(Uma unidade humana)