sábado, 31 de julho de 2021

310721 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

31 de julho, Osasco. Noite fria de sábado (12º).

Mais um mês se passou. Sobrevivemos. A vida é uma sobrevivência diária para todos os seres vivos, mas a sobrevivência é mais incerta em alguns lugares do mundo e em algumas épocas. 

Neste momento, a vida no Brasil é um pouco mais incerta para os seres humanos do que em outras regiões do mundo e em outras épocas, mesmo aqui. Parte do povo brasileiro decidiu o suicídio coletivo nas eleições de 2018 e, então, o povo está sendo chacinado pelas diversas mortes severinas e o país está sendo destruído diariamente desde 01 de janeiro de 2019 sob o comando da máfia, do crime organizado, de um bando de corruptos e genocidas. O país está sequestrado. Temos um interventor do imperialismo americano no poder aqui. Pois é.

Qualquer indicador econômico, político, social, cultural etc demonstra que a sobrevivência humana era menos incerta durante os governos do Partido dos Trabalhadores, do presidente Lula (2003 a 2010) e da presidenta Dilma Rousseff (2011 a 2016). Como eu disse, o povo decidiu o suicídio coletivo... 

PANDEMIA BRASILEIRA DE COVID-19

Após um ano e meio de pandemia mundial do Sars-Cov-2, o Brasil já perdeu 556.370 cidadãos e cidadãs vítimas do novo coronavírus. Já se contaminaram com o Covid-19 o impressionante número de 19.917.855 brasileir@s. Como os fatos revelados pela CPI da Covid demonstram, o projeto do genocida no poder era matar o povo infectando os mais de duzentos milhões de brasileir@s. A ideia era não gastar dinheiro com vacinação (a não ser com propina, claro). O esquema era uma tal imunidade de rebanho, quem não morresse, ficaria pra contar a história. O bolsonarismo-nazismo está tendo relativo sucesso, pois os números oficiais não são confiáveis e o número de mortos pode ser bem maior. Detalhe: a amplíssima maioria, quase a totalidade dos mortos, são os pobres (e a maioria dos pobres são pretos e pardos). Sem contar que estudos mostram que parte dos contaminados que sobreviveram serão pessoas com sequelas da doença. Imaginem 1/3 dos 19,9 milhões de infectados com doenças crônicas para o resto de suas vidas severinas. As mortes de brasileir@s praticamente dobraram nesse ano e meio de pandemia porque outro monte de gente morreu por falta de atendimento médico. Uma tragédia! Uma delas, porque essa das mortes é só uma das dimensões e efeitos do suicídio do povo brasileiro ao colocar aquele celerado na presidência e uma corja da mesma laia nas instituições de poder.

(Informações sobre Covid-19: Johns Hopkins University)

PAULO LEMINSKI ME FEZ PENSAR

Após uma semana tensa, de uma tristeza meio-que continuada, queria ler algo diferente hoje e pensei em ler Leminski, um dos gênios brasileiros, gênio que teve uma vida breve, intensa e que nos deixou um legado para nos alimentarmos culturalmente e sentirmos o breve instante da vida.

Não deu certo. As interrupções o dia todo não me permitiram ler quase nada. Li alguns poemas do Distraídos venceremos (1987) e comecei a ler uma das quatro biografias que Leminski escreveu, sobre Trótski (1986). 

O começo da leitura sobre a vida de um dos líderes da Revolução Russa me deixou muito pensativo. Cada frase que li continha ouro, pensamentos que me faziam parar e pensar e reler a frase. Nossa! O cara é muito bom na prosa. Eu só tinha lido até agora os poemas dele, já li Poesia Completa (2013), do grande Leminski.

Ele vai começar a falar da Rússia citando Os irmãos Karamázov (1880), de Dostoiévski, que felizmente é um dos clássicos russos que já li. Ele diz que esse clássico é um retrato da Rússia do passado e daquele presente e apontava o que ocorreria quatro décadas depois, a Revolução Russa.

Ele começa a descrever a história da Rússia a partir de 1236, e vamos vendo um filme, com o neto de Gengis Khan, o Khan mongol Batu, conquistando e arrasando tudo que tinha pela frente:

"Unificados pelo gênio político e militar de Gengis Khan, os nômades mongóis saíram aos milhares de suas planícies ao norte da China e caíram sobre a Europa como praga de gafanhotos, matando, queimando, saqueando e destruindo tudo à sua passagem" (p. 248)

Aí eu parei pra pensar. Me lembrei das chamas destruindo a Cinemateca nesta semana. Me lembrei das chamas destruindo centenas de anos de história acumulada no Museu Nacional. Me lembrei das chamas destruindo o Pantanal e a Amazônia. Me lembrei do suicídio proposital do povo brasileiro em colocar o pior ser humano do planeta na presidência do país.

Fiquei com um sentimento esquisito. Fiquei pensando nas extinções das espécies em nosso planeta. Nos povos que já foram dizimados com as invasões de outros povos. Fiquei pensando em outra frase que Leminski disse:

"Não só a história traz a marca dos indivíduos que a fazem. Mas, também, é interiorizada pelos indivíduos que a vivem." (p. 246)

Cara! Donald Trump, Jair Messias Bolsonaro, Adolf Hitler e outros seres humanos, não só os piores do mundo como esses aí, os melhores também, são isso que o Leminski disse. Essa massa ignara, bárbara, ignorante e violenta, chula, que apoia Trump e Bolsonaro está contida no pensamento do Leminski, Bolsonaro está interiorizado nesses milhões de animais humanos brasileiros que o apoiam. 

Ao estudar a história do mundo e ter tentado ser menos ignorante nos últimos trinta e poucos anos de adulto, e ver que o capitalismo venceu nos últimos séculos a disputa de organização da vida humana no mundo, bateu um desânimo profundo em mim, não que me faça desistir de viver ou de tentar fazer a minha parte contra essa merda toda, mas um desânimo da razão, eu sei que as coisas não vão mudar, a vida vai perder. Já está perdendo. Os oceanos estão morrendo. A diversidade na natureza está morrendo. A tecnologia fruto da inteligência humana está sendo usada para acelerar a destruição, e até para manipular e idiotizar os bilhões de humanos que habitam esse único mundo. Poucos caras dominam tudo e eles são as piores espécies de humanos que poderiam decidir o futuro da vida humana e da vida no planeta. Eles só pensam neles e na vida breve deles. Estamos fodidos. Fodidos.

A razão e a consciência que uma minoria politizada tem, minoria que poderia utilizar o conhecimento humano para nos perpetuarmos no planeta, inclusive com sustentabilidade e preservando a diversidade da vida animal e vegetal, não vai nem convencer aqueles poucos que falei acima nem vai chegar ao poder que determina o destino de tudo neste único mundo. O final do livro do neurocientista Miguel Nicolelis, livro que mudou minha forma de ver o mundo e a vida - O Verdadeiro Criador de Tudo - me deixou em prantos porque ele explica sobre isso que escrevi acima. Ele não crava como eu que nosso destino está traçado, que a destruição do planeta está dada, ele diz que temos duas opções, ou interrompemos a destruição do mundo e da vida e nos perpetuamos ou tudo vai se acabar. 

É isso, já chega por hoje. Já chega por esse mês de julho do planeta se acabando, mais rápido em alguns lugares como no Brasil de Bolsonaro.

Como não desisto da vida porque não posso ser egoísta e deixar na mão as pessoas que me amam nem acomodado e só me deixar morrer, corri meus 10 Km hoje. Estou tentando viver e fazer alguma coisa contra o fim de tudo. Pode ser pouco o que faço, mas ao menos registro um pouco dessas coisas.

William


Bibliografia:

LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trótski - 4 Biografias. 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Enfermaria nº 6 - Conto de Tchekhov



Refeição Cultural

"E, na ocorrência de uma relação formal, sem alma, para com a personalidade humana, um juiz, para destituir um homem inocente de todos os direitos civis e condená-lo aos trabalhos forçados, só precisa do seguinte: tempo. Apenas tempo para a execução de umas poucas formalidades, pelas quais um juiz recebe um ordenado, e a seguir tudo acaba. E vá alguém procurar depois justiça e uma defesa, nessa cidadezinha suja..." (p. 236)


A Enfermaria nº 6 é a equivalente russa da nossa Casa Verde, em Itaguaí, terra do Dr. Simão Bacamarte (O alienista, de Machado de Assis). Uma casa de loucos. 

Na epígrafe acima, estaria Tchekhov falando de um certo juiz e de um paisinho de merda (uma tal república de curitiba)? Certamente não, mas os grandes autores conseguem descrever situações universais, por isso são autores geniais.

O manicômio de Tchekhov tem 5 moradores (internados). Um deles "É o abobalhado judeu Moissieika", o Moisés. Outro cativo no local é Ivan Dmítritch Gromov - "homem de uns trinta e três anos, de condição nobre, ex-oficial de justiça e ex-amanuense provincial, sofre de mania de perseguição". (p. 232 e 233)

O 2º e 3º capítulos contam a história trágica da família Gromov. Depois de perdas irreparáveis dos familiares, Ivan desenvolve sua doença. Ele era uma pessoa estudiosa e de conhecimentos.

Um dos outros internados é uma pessoa do povo que sequer mereceu nome no conto: "era um mujique quase redondo, afundado em banhas, com um rosto embotado, completamente inexpressivo. Um animal imóvel, guloso e quase asseado, que já perdera, havia muito, a capacidade de pensar e de sentir" (p. 239). Ele é espancado frequentemente por um funcionário do manicômio, Nikita. 

Tchekhov sugere que os leitores imaginem a cena: "Uma vez em dois meses, aparece ali o barbeiro Siemión Láraritch. Não falaremos de como ele corta o cabelo dos dementes, de como Nikita o ajuda nessa operação, nem da perturbação que sempre causa aos doentes o aparecimento do barbeiro bêbado e sorridente." (p. 240)

O médico Dr. Andriéi Iefímitch Ráguin, responsável pela Enfermaria nº 6, queria ser pastor e acabou sendo médico. "De porte elevado e ombros largos, tem pés e mãos enormes; infunde a impressão de que, dando um soco, poria para fora os bofes da vítima." (p. 240)

ENFERMARIA Nº 6 - "(...) Havia queixas de que as baratas, percevejos e camundongos tornavam a vida insuportável. Na seção da cirurgia, não se dava cabo da erisipela (...) Na cidade, sabia-se muito bem dessas irregularidades, que eram até exageradas, mas os habitantes encaravam-nas com tranquilidade; uns justificavam-nas pelo fato de que no hospital eram internados apenas mujiques e pequeno-burgueses, que não podiam ficar descontentes, porque em casa viviam muito pior ainda: não se devia, naturalmente, alimentá-los com carne de perdiz!" (p. 241)

PUSILANIMIDADE PARA CONSERTAR AS COISAS E...

"Está absolutamente acima das suas forças dizer ao vigia que deixe de roubar, enxotá-lo ou suprimir de vez esse cargo inútil, parasitário." (p. 242)

O SOFRIMENTO É BOM PRA MANIPULAR OS MISERÁVEIS E IGNORANTES

"(...) para que aliviá-lo? Em primeiro lugar, dizem que os sofrimentos conduzem o homem à perfeição e, em segundo, se a humanidade aprender realmente a aliviar seus sofrimentos por meio de gotas e pílulas, há de abandonar completamente a religião e a filosofia, nas quais até agora encontrou não só uma defesa contra todas as desgraças, mas até felicidade." (p. 243)

A INVENÇÃO DE DEUS OU DA IMORTALIDADE

"- E a imortalidade?

- Ora, mudemos de assunto!

- O senhor não acredita, bem, mas eu acredito. Numa obra de Dostoiévski ou de Voltare alguém diz que, se Deus não existisse, seria inventado pelos homens. E eu creio profundamente que, se a imortalidade não existe, será inventada cedo ou tarde por uma grande inteligência humana." (p. 253)

SOLIDÃO

"Como é agradável ficar imóvel no divã e ter consciência de estar sozinho no quarto! A verdadeira felicidade é impossível sem a solidão. O anjo caído traiu a Deus provavelmente por ter desejado a solidão, que os anjos desconhecem." (p. 266)

------

O médico Dr. Andriéi Iefímitch passa a puxar conversa com o interno Ivan Dmítritch, que no início rejeita qualquer papo, mas acabam debatendo temas filosóficos como, por exemplo, o estoicismo (p. 257 e 258), a imortalidade etc.

A admiração do médico pelo paciente começou a causar problemas para o doutor, pois as pessoas acharam estranho o médico considerar o doente mental uma pessoa muito inteligente.

O enredo passa por algumas reviravoltas. O Dr. Andriéi é forçado a se aposentar, depois viaja com um amigo, e o final da narrativa é surpreendente. De novo, poderia dizer que tem alguma semelhança com o desfecho do conto machadiano O Alienista. O clássico de Machado de Assis é de 1882 e este conto de Tchekhov é de 1892.

COMENTÁRIO FINAL

A leitura desse conto, dessa novela, foi uma leitura difícil. Diferente das outras do livro, nessa gastei quatro dias, simplesmente porque em determinados momentos, eu travava e tinha que parar. Pode ser que eu estivesse travado e não que a leitura fosse difícil.

A leitura de Tchekhov neste momento não foi necessariamente uma escolha das prioridades. Tenho outros cinco ou seis romances na frente pra ler. Mas como tive contato com o autor russo na última matéria que fiz na Letras da FFLCH, acabei decidindo ler o livro todo. Terminei as narrativas denominadas "contos" e agora vou ler de novo o drama As três irmãs, com uma centena de páginas, pois já faz 15 anos que o li.

A fase que vivemos na sociedade humana é uma fase mórbida. Tá certo que a vida é um instante, se morre de qualquer coisa a qualquer momento. Mas com essa pandemia de coronavírus, tá foda. Pode ser a nossa vez de morrer em poucos dias, assim do nada. A gente alterna nosso estado psicológico o tempo todo, ora estamos depressivos, ora com muita raiva e ódio, com sede de justiça e vingança em relação aos desgraçados que estão fodendo o mundo e as formas de vida.

Estive estranho nos últimos dias, muita fraqueza, moleza e dores nas pernas, um pouco de dor de cabeça, e muito sono. Talvez por isso a leitura da narrativa de Tchekhov tenha sido tão truncada. Cheguei a olhar para a estante e pensar que se fosse pra morrer por esses dias, que eu estivesse terminando outros livros que gostaria de ler antes de morrer. Que merda, isso! Nunca fui apegado à minha vida. Nunca! Mais velho e mais experiente hoje, e menos egoísta talvez, temos que lembrar que outras vidas dependem da nossa e, com isso, querer viver.

O texto "Enfermaria nº 6" tem um enredo que nos põe a pensar. Quem é demente e quem é normal? Quem deve ser internado e quem deve ficar solto? Alguém deve ser internado pelas suas ideias? Deve ficar livre alguém que estimula crimes? Se é normal falar e agir como o monstro que colocaram no poder no Brasil, se é normal existir o 1/3 dos animais humanos que apoiam e pensam como o genocida odioso no poder, então está tudo errado e não vejo mais sentido em lutar pela humanidade. Se uma parte da sociedade humana é como Hitler e Bolsonaro, preferiria que os humanos fossem extintos e o mundo seguisse habitado pelas outras espécies.

William


Post Scriptum: só mais uma questão: a solidão. Eu entendo o personagem Dr. Andriéi Iefímitch desejar tanto a solidão no contexto em que ele vive na narrativa. Por muitos anos em minha vida, eu tive que viver com outras pessoas, em barracos, em casas apertadas, num quarto com mais pessoas. Para conseguir paz e silêncio, eu ia para as praças de alimentação nos shoppings para ler. O burburinho da multidão era o meu silêncio. Por outro lado, a solidão é algo muito ruim quando não se quer estar só e não se tem alternativa. A experiência do jovem Chris McCandless no Alasca no início dos anos noventa é um exemplo a se observar. Ele descobriu que "Happiness only real when shared". Quando tive contato com o filme e o livro Na natureza selvagem (2007) fiquei olhando minha vida e na época senti que a mensagem pegou na veia. Acho que os momentos mais felizes de minha vida tinham sido ao lado das pessoas e não sozinho. É isso. 



Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs e contos. Coleção Imortais da Literatura Universal. Nova Cultural, 1995.


sábado, 24 de julho de 2021

#24J Fora, Bolsonaro! Fora, Mourão!


Com a companheira Roseli, da Educação.

Centenas de atos no Brasil e no mundo gritam: - Fora, Bolsonaro!

Mais uma vez, cumpri o meu dever cívico e patriota ao participar das manifestações populares para libertar o Brasil do regime genocida e corrupto do clã miliciano que se apoderou do poder do Estado nacional através de fraudes eleitorais nas eleições brasileiras de 2018, fraudes que contaram com milhões de fake news bancadas por recursos ilegais e, principalmente, contaram com a prisão e impedimento do principal candidato ao pleito - Lula -, que poderia vencer no primeiro turno não fosse a operação criminosa chamada Lava Jato. As consequências das fraudes em 2018 são o caos, a destruição e a morte do povo brasileiro!

Após o almoço, tomei o transporte público e me dirigi para a Avenida Paulista, local definido pelos movimentos populares para acontecer a manifestação na capital paulista. O dia ensolarado contribuiu para uma manifestação agradável. As pessoas foram chegando e felizmente tivemos mais uma excelente mobilização em defesa de reivindicações progressistas e em protesto aos corruptos e genocidas nas instituições do país, como o clã miliciano e seus apoiadores militares e civis.

Encontrei companheiros e companheiras de lutas mais uma vez, coisa que não é fácil por causa da multidão e por causa das máscaras de proteção contra a Covid-19. Encontrei a companheira Roseli, grande lutadora da área da educação e companheir@s dos bancários, Deise Recoaro e Edvaldo. Conversamos bastante sobre a organização do movimento sindical, estratégias de lutas nos bancos públicos BB e Caixa Federal, dentre outras questões.

Tomei todos os cuidados necessários em relação à pandemia e espero que tudo corra bem nos próximos dias. Receio de contrair essa doença todos nós temos porque o risco de morte é grande e as sequelas são terríveis. Mas não acho correto ficar em casa em dia de manifestações para libertar o país dessa desgraça toda que se abateu sobre nós com o golpe de Estado em 2016. Temos que nos livrar desses regimes de destruição de Temer e Bolsonaro e os militares que estão por trás dessa merda toda.

Temos que salvar o Brasil e o povo brasileiro! É nas ruas que temos as melhores chances de mudar essa tragédia toda. Peço que todas e todos se juntem a nós nas próximas manifestações. Temos que colocar milhões nas ruas até derrotarmos o regime de morte que aí está.

PANDEMIA

O Brasil segue sendo um dos países que mais mata seus cidadãos em consequência da pandemia mundial do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Sim, o Brasil "mata" seu povo! É um genocídio. Diversos depoentes na CPI da Covid já disseram isso. Se o governo tivesse feito o que devia ser feito, comprar vacina quando teve oportunidade, fazer campanha de vacinação para estimular o povo a tomar vacina, campanha com as medidas de prevenção como uso de máscara, isolamento social, higienização etc, 4/5 das mortes poderiam ter sido evitadas. O inominável fez e faz o contrário, todos os dias!

Os dados da Covid-19 no mundo apontam o resultado do tratamento a favor da morte dos brasileiros pelo regime genocida: 548.340 mortos no Brasil e 19,6 milhões de infectados. O governo se negou a comprar todas as vacinas que foram ofertadas diretamente pelos fabricantes. A CPI descobriu que ao mesmo tempo em que o inominável falava "não compro vacina, quem decide sou eu", os caras ligados ao governo estavam negociando vacinas com propina. Enquanto isso, o povo se infectava e morria... 

Os estudos que vão saindo apontam sequelas gravíssimas em parte considerável dos infectados pelo vírus... E o inominável quer que todo mundo seja infectado pelo vírus para alcançar uma suposta "imunidade de rebanho"... É de matar uma coisa dessas!

Quero sobreviver para ver esses assassinos julgados e condenados.

William


240721 - Diário e Reflexões (Carta Capital)



Refeição Cultural - Carta Capital 1166


O NEGOCIADOR

A matéria de capa da revista segue acompanhando as investigações da CPI no Congresso: "O reverendo Amilton de Paula é o fio de um novelo que leva ao submundo bolsonarista, a unir dinheiro, evangélicos, militares e serviços secretos".

MINHA OPINIÃO - O buraco é bem mais embaixo em relação ao que aconteceu ao Brasil com o golpe de Estado em 2016. De fato, o país está sob ocupação por parte de potências imperialistas e pelas máfias internacionais. Temos que ir para as ruas e lutar pela libertação do Brasil, temos que expulsar das instituições da república o crime organizado que se apossou do nosso país, a começar pelo clã corrupto.

A matéria sobre o DESMONTE DA EDUCAÇÃO nos dá vontade de chorar de tristeza. A chamada diz: "Desmonte - Com o menor orçamento dos últimos dez anos e o MEC sequestrado por religiosos, militares e olavistas, a educação pública está em ruínas".

Nós da esquerda teremos que ter um foco muito grande em reconstruir a educação brasileira após derrotarmos o mal que tomou nosso país. A educação é um dos principais instrumentos de mudanças sociais positivas para o povo. Temos 43 milhões de pessoas que deveriam estar nos espaços de educação formal e estão perdendo a oportunidade de melhorarem suas vidas. Será uma missão de todo democrata e humanista reconstruir a educação.

Algumas matérias das seções "Seu País" e "Economia" nos deixam claro que o Brasil caminha a passos rápidos para ser um grande pasto, um continente do mundo "agro pop". Soja, milho, minério, gado... dinheiro concentrado na mão de meia dúzia de coronéis e o povo sem emprego e renda. Um país pasto. É isso que queremos? E a comida, então? Lobbies pesados atuam para que a comida do povo seja de alimentos processados... temos que desfazer essa tragédia!

Na seção "Nosso Mundo" me atualizei com matérias sobre a Argentina do ex-presidente Macri apoiando o golpe na Bolívia, os mistérios do assassinato do presidente do Haiti e os problemas em Cuba, em artigo de Maringoni. 

MINHA OPINIÃO - O intelectual Maringoni pode até dizer que o embargo não é o único problema, mas o que os EUA estão fazendo com Cuba, ampliando o embargo (Biden e Trump são a mesma coisa) é um crime de lesa-humanidade, é genocídio do povo cubano.

Destaco dois artigos da revista: o de Maria Flor me emocionou de novo - "Expatriada, até quando?". Ela vai direto ao coração da gente. E o artigo de Drauzio Varella - "Nevoeiro cerebral", sobre os efeitos prolongados da Covid-19 no sistema nervoso humano. 

MINHA OPINIÃO - É desesperador saber cada vez mais dos efeitos da Covid-19 em todos os órgãos e sistemas do corpo humano e das sequelas nas vítimas do vírus. E mais desesperador ainda é saber que uma parte grande das pessoas não quer tomar vacina - os negacionistas - e pessoas formadoras de opinião ainda falam merdas e nada acontece a elas. Além do inumano genocida no poder no Brasil, temos médicos e autoridades que acham que todo mundo deveria pegar o vírus para ficarem "imunizados" depois... que desgraça virou o mundo!

------

Voltar a ler a revista impressa semanalmente me fez reduzir a leitura de livros, mas tudo bem. Acho que sentar-se para ler as matérias e artigos de Carta Capital é um investimento em informação de qualidade. Não podemos fugir da realidade.

Vamos pra rua lutar pela libertação do Brasil.

William


#ForaBolsonaro #ForaMourão #Foramilitares


Leitura: O Caminho da Vitória


Refeição Cultural

Sexta-feira, 23 de julho de 2021, Osasco.

Peguei na estante o livro O Caminho da Vitória - Imagens históricas da trajetória política de Lula da Silva. O livro foi lançado em 2003, numa parceria da Publisher Brasil e Veraz Editores, impresso em Porto Alegre, RS. Os textos do livro são de Jéferson Assunção e a edição está em Português, Inglês e Espanhol.

Que saudade! Que momento histórico de nossas vidas e de nosso país a vitória de Lula e do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais de 2002. Participei ativamente daquela campanha como dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Fotos são instantes registrados nas nossas histórias pessoais e coletivas, são registros de épocas.

1º de janeiro de 2003, um dia inesquecível em minha vida

Em 2002, era funcionário do Banco do Brasil já fazia uma década. Por participar da organização e mobilização dos bancários paulistanos acabei compondo a chapa sindical eleita em abril daquele ano. Minha vida daria uma guinada total a partir de então.

Fui liberado do dia a dia do atendimento dos clientes no caixa do Banco do Brasil para me dedicar exclusivamente ao mandato sindical, ao movimento de lutas dos trabalhadores, a partir do dia 5 de agosto. 

Aqueles meses do segundo semestre de 2002 foram muito intensos. Nossa dedicação se dividia entre a organização da campanha salarial da categoria, cuja data-base é setembro, e a campanha política e eleitoral de outubro, que definiria o futuro do país e da classe trabalhadora brasileira. Nossa agenda de lutas era de manhã, tarde, noite, algumas madrugadas e finais de semana.

Vitória de Lula! Vitória do povo brasileiro!


COMO FUI PARAR EM BRASÍLIA NO DIA DA POSSE?

No final daquele ano eu estava esgotado! Era meu primeiro ano como dirigente sindical e político. Apesar da euforia pela vitória de Lula e os preparatórios para a posse - havia toda uma programação das caravanas que iriam pra Brasília -, eu decidi que passaria o Natal e Ano Novo com meus pais em Uberlândia, MG.

Dia 31 de dezembro. Todos os meios de comunicação não falavam de outra coisa que não fosse a posse do retirante nordestino, metalúrgico e sindicalista Lula. Na reunião da família, estávamos nos preparativos para o Réveillon.

Meu coração começou a apertar. A cada hora que passava, mais agoniado eu me sentia. A família percebeu meu estado. Segurei as pontas enquanto foi possível. Meia-noite. Festejos, abraços, emoção! Um novo Brasil nascia naquele momento.

Eu não cabia mais em lugar algum naquela festa em família. Se continuasse lá, iria ter um treco. Pedi desculpas para todos. Pedi que alguém me levasse até a rodoviária de Uberlândia. Era loucura! Noite de Ano Novo, fazer o que na rodoviária uma hora daquelas? Tive a compreensão de esposa e filho, pais e familiares. Fui embora logo após a meia-noite.

Começou na rodoviária a minha saga. Perguntei em cada guichê que encontrava aberto como poderia fazer para chegar a Brasília. Uma sugestão me levou até Araguari, uma cidade próxima a Uberlândia. Me disseram que ali passaria na madrugada um ônibus pra Brasília, vindo de Santos, SP.

Cheguei a Araguari. Estava com a roupa do corpo e sem blusa. Que frio passei naquela rodoviária. Finalmente, chegou o ônibus e consegui embarcar pra Brasília. O ônibus estava cheio de gente que tinha história parecida com a minha. Decidiram ir de última hora.

Chegamos a Brasília por volta de 11 horas da manhã. Eu mentalizei que precisaria achar a delegação do Sindicato. Parecia uma tarefa impossível. No livro que acabei de ler, está dito que havia mais de 150 mil pessoas em Brasília naquele dia. Um mar vermelho tomou a Capital Federal para a posse de Lula.

Depois de algumas horas, acho que umas duas horas, encontrei o companheiro Rafael Matos. Foi uma alegria só. Não larguei mais do cara porque senão eu não teria como encontrar a delegação e os ônibus do Sindicato.

Uma cena me faz chorar toda vez que me lembro dela nesses 20 anos, é uma imagem que parece uma cena que vi numa minissérie na TV, não sei, mas talvez em O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

Estávamos eu e o Rafael indo junto com a multidão na direção do Palácio do Planalto e quando olhei aquela multidão descendo pelo gramado para os espelhos d'água, vi o companheiro Genésio dos Santos, descendo com uma bandeira na mão, e assim como a multidão, ele chorava como uma criança...

Aquilo foi muito bonito, juro pra vocês!

Tudo correu bem naquele dia! Encontrei as companheiras e companheiros do Sindicato. Participamos de todos os eventos da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Choramos muito! A multidão era de gentes de todas as formas e de todos os lugares. Com seus trajes típicos. Era o povo brasileiro.

Voltamos na caravana de alma lavada. O pessoal me deixou na estrada, do lado da casa de meus pais, que moram perto da rodovia (BR) que vai de Uberlândia a Brasília.

Até hoje estou devendo ao Rafael uma cópia da foto minha, dele e do Genésio. Está em algum lugar e não a encontrei ainda. 

Aquele ano foi um Ano Novo, aquele dia marcou uma vida nova para milhões de brasileiros. A vida foi melhor. O país foi melhor. O povo foi feliz como nunca antes na história do Brasil.

-------------

PRECISAMOS TRILHAR O CAMINHO DA VITÓRIA NOVAMENTE

Hoje vivemos um momento difícil, o pior momento da história do povo brasileiro e do Brasil. Genocídio da classe trabalhadora. O país tomado pelo crime organizado e milícias. Um regime que prega o mal, a morte, o ódio. Um regime de gente mentirosa. A banalidade do mal tomou conta do Brasil.

Mas estamos lutando. Isso vai mudar. Não há mal que dure para sempre. O Brasil vai se libertar dessa desgraça toda que nos colocaram através de mais um golpe de Estado. O povo vai voltar a ser feliz. Lula está aí de novo para se colocar à disposição do povo e do país.

#ForaBolsonaro!

#ForaMourão!

-------------

#LulaLá!

#LulaPresidente!

William


Post Scriptum:

Hoje estou triste. Durante minha vida de dirigente sindical, quando fazia base, nós tínhamos roteiros com determinada quantidade de agências bancárias e departamentos. Na organização de base, com a estratégia adequada, a gente acabava conhecendo todo mundo nos locais de trabalho e quando sentia falta de alguém, dava um jeito de saber o que havia acontecido. Em geral, a pessoa estava em férias, ou doente e afastada, ou havia sido demitida.

Após a mudança drástica em nossas vidas, com a pandemia mundial de Covid-19, com a destruição do Brasil e dos direitos da classe trabalhadora após o golpe de Estado em 2016 e com a volta da miséria e a fome do povo, voltei a ter o cuidado de perguntar o nome dos trabalhadores na minha base atual: a feira, a padaria, os entregadores de refeições etc. Conheço por nome todas as trabalhadoras da padaria perto de casa. Quando sinto falta de alguma delas, dou um jeito de perguntar se está tudo bem. O mesmo com os entregadores mais conhecidos. Foi assim que soube que o rapaz da barraca de pastel da feira, o Alexandre, está se tratando de um câncer; que o senhor Geovani da barraca de bananas faleceu de infarto.

Há dias estava preocupado em não ver algumas das trabalhadoras da padaria. Quando perguntava, era informado que uma delas estava de licença e a outra de folga. Hoje perguntei de novo. Soube que uma delas mudou de horário e a outra trabalhadora não está mais trabalhando para a padaria. Eu percebo que deve haver alguma instrução para não falar nada a respeito. Fico triste porque a trabalhadora pode ter contraído Covid-19 e não estar bem ou pode estar bem de saúde e estar desempregada. A situação das pessoas está difícil. O marido já estava desempregado e eles têm uma criança de seis anos. Que dureza! Multipliquem essa situação por milhões... é o Brasil de Temer e Bolsonaro!

Espero que esteja tudo bem com a trabalhadora em questão e com sua família.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Uma história enfadonha - Conto de Tchekhov



Refeição Cultural

Hoje li o conto "Uma história enfadonha das memórias de um homem idoso", de Anton Tchekhov. Achei que seria uma leitura rápida, mas acabei gastando o dia todo para ler as 50 páginas. O conto faz parte do livro que tenho em casa As três irmãs e Contos

Peguei o Tchekhov pra ler ontem à noite pra descansar a cabeça de um dia com muita leitura de política e sobre a Cassi/BB e acabei dando sono após umas vinte páginas. Como o entendimento estava ruim, recomecei do zero a leitura durante o dia.

A narrativa de hoje não foi diferente das outras que já li de Tchekhov. Elas não seguem o padrão tradicional dos contos com histórias que têm um início, desenvolvimento, tensão e conclusão. 

Suas narrativas mostram muita inação por parte dos personagens. Eles não fazem nada, não agem e acabam se conformando com as coisas como elas são e perdem oportunidades de mudar de vida ou de situação.

------

A história do professor Nicolai Stiepánovitch nos apresenta questões sociais ainda hoje relevantes, se considerarmos que Tchekhov escreveu seus dramas e contos nas últimas décadas do século XIX e início do XX - ele morreu jovem, em 1904, aos 44 anos de idade.

A família não paga há meses o salário de $10 do empregado em casa, mas manda $50 mensais pra melhorar os rendimentos do filho oficial no estrangeiro.

O mesmo em relação à filha em casa:

"Por que, vendo como eu e sua mãe, cedendo a um sentimento falso, procuramos ocultar das pessoas a nossa pobreza, por que ela não renuncia ao dispendioso prazer de estudar música?" (p. 185)

O professor Nicolai tem um assessor, Piotr, que é um tipo muito comum na sociedade moderna. Um especialista, alguém que só sabe sobre aquilo que faz e não tem conhecimento algum de mundo, de nada. Essa questão virou uma praga no século XXI. Essa espécie de cidadão está fazendo morrer a criatividade humana.

"Em toda a sua vida, há de preparar algumas centenas de peças anatômicas de extraordinária pureza, escreverá muitos relatórios áridos, bem aceitáveis, fará uma dezena de traduções conscienciosas, mas não inventará a pólvora (...) Em suma, não é um patrão em ciência, mas um operário." (p. 189)

É legal a parte em que o professor Nicolai descreve sua desenvoltura na sala de aula, as estratégias de manutenção da atenção dos 150 alunos e seus critérios nas revisões de notas finais: aos que levam a vida na boa, ele não dá a menor chance, manda estudar mais e voltar depois pra fazer nova prova.

Tem um machismo e uma misoginia no texto que nos incomoda demais. Aff!

É isso. Aos poucos vou conhecendo os autores e textos russos.

William


Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs e contos. Coleção Imortais da Literatura Universal. Nova Cultural, 1995.

domingo, 18 de julho de 2021

180721 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Se cada um só liga pra sua bolha-mundo, como vamos salvar o planeta do capitalismo?

Sigo lendo disciplinadamente. Ler para aprender alguma coisa, para refletir sobre as coisas com algum subsídio de conhecimento, para ser menos ignorante, apesar de saber que a nossa única vida é um tempo curto para saber minimamente sobre o mundo. A cada dia, mais certeza tenho que nada sei, mas ao menos sei que gostaria de saber das coisas, por isso estudo em meus tempos livres.

Estou há vários dias com certo peso na consciência por não escrever nada sobre a Cassi, a Caixa de Assistência dos trabalhadores do BB. Por ter tido oportunidade de participar como representante eleito da gestão da associação, acabei aprendendo alguma coisa sobre o tema gestão e sistemas de saúde. 

No universo de desfazimento do Brasil e dos direitos do povo brasileiro, a Cassi é mais um direito de um segmento da classe trabalhadora que está se desfazendo. É tanta coisa que não sei nem por onde começar a falar. E também tem o fato de saber que falar da Cassi são palavras ao vento e os ouvidos estão surdos para essas coisas do mundo solidário, das questões coletivas, cooperativas, associativas, comuns, comunistas.

Também assumi alguns compromissos com a militância bancária para falar a respeito de algumas temáticas que tenho algum conhecimento. Compromisso é compromisso, então vou fazer o que tem que ser feito. Mas no fundo, alterno dias de desânimo em relação ao mundo humano e dias em que acredito em alguma virada em defesa da vida e da justiça social no mundo. 

A razão tem me impedido de sugerir esperança na vida; a postura de militante de esquerda é a que me impõe sugerir alguma saída através da luta unitária, da inteligência humana e de apostar em alguma forma de força oriunda de uma maioria fraca, desorganizada e ignorante (o povo), mas tá difícil acreditar nisso...

E para nos enfraquecer o moral, ainda temos a condição de isolamento e solidão em que a classe trabalhadora se encontra nessa quadra da história. Com a diminuição do engajamento e da confiança dos trabalhadores formais e informais aos sindicatos, associações e partidos de esquerda, ficamos meio que órfãos de pertencer a algo que nos faça nos sentirmos partícipes de lutas coletivas e "comunidades" para além de nossa própria vida individual. 

No contexto atual, é muito difícil se manterem abstrações humanas como direitos sociais e coletivos em alimentação, moradia, previdência, saúde, educação e cultura (direitos humanos, por exemplo, é uma abstração, uma ideia). Se o que vale na visão humana é só o agora, só o instante, o presente, não há espaço para previdência pública, saúde pública (e preventiva), universidades e espaços culturais. Que dirá caixas de previdência e saúde como Previ, Cassi, Funcef, Saúde Caixa, e direitos coletivos corporativos construídos ao longo de décadas de associativismo solidário. Se a ideia de solidariedade morreu nas massas, evidente que o fruto dela vai morrer também.

Eu percebo que sem lutarmos pelo fim do capitalismo e tudo o que ele significa na destruição da vida no planeta, não temos perspectivas de futuro nem sequer nas próximas décadas, no próximo século, por exemplo. Se destruímos o planeta em dois séculos de capitalismo, com aceleração crescente e exponencial nas últimas décadas, e se seguirmos destruindo tudo não haverá natureza e biodiversidade para seguirmos enquanto espécie. Os oceanos estão morrendo. O meio ambiente terrestre idem. Alguns caras são responsáveis, mas ninguém faz nada para impedi-los. E assim caminhamos até ali no fim.

Não sei vocês, mas tenho a impressão que a gente não consegue sequer convencer a se unir a nós pelo fim do capitalismo e por outra forma de organização humana - socialista, comunista, cooperativista, associativista - as pessoas que conhecem a nossa luta há décadas: esposas - maridos - filhos - familiares - amigos - conhecidos. Que dirá então se estamos conseguindo convencer as demais pessoas fora de nosso círculo de convivência, nossas bolhas sociais.

O tempo que interessa é o agora e o instante, então sem essa de consumir menos, de viver com menos coisas, ver o mundo de uma forma mais sustentável, distribuir a riqueza produzida por tod@s a tod@s e usar a tecnologia para distribuir e não acumular. Se é isso que pensam as pessoas ao nosso redor (ou se elas sequer ligam pra isso - cada uma na sua bolha-mundo), como vamos interromper o impacto desse meteoro no único mundo que existe, nosso mundo?  

Neste 18 de julho, digo: 

- Nelson Mandela, presente! (nasceu em 18/7/1918)

- Augusto Campos, presente! (faleceu em 18/7/2017)

William


Ulysses - Rochedos Errantes (As Ruas)



Refeição Cultural

" O senhor Dedalus ficou reto e puxou de novo o bigode.
   - O senhor arrumou algum dinheiro? Dilly perguntou.
   - Onde é que eu ia arrumar dinheiro? o senhor Dedalus disse. Não tem um cristão em Dublin que me empreste quatro pence.
   - O senhor arrumou, disse Dilly, olhando em seus olhos.
   - Como é que você sabe? o senhor Dedalus perguntou, sarcástico.
   O senhor Kernan, satisfeito com o pedido que conseguira, caminhava cheio de si pela Jame's Street.
   - Eu sei que arrumou, Dilly respondeu. O senhor estava no Scotch?
   - Mas não estava mesmo, o senhor Dedalus disse, sorrindo. Será que foram as freirinhas que te ensinaram a ser tão impertinente? Toma.
   Ele lhe entregou um xelim.
   - Vê o que você consegue fazer com isso, ele disse.
   - Eu acho que o senhor arrumou cinco, Dilly disse. Dê mais do que isso...
". (p. 406)


A filha tenta de toda forma conseguir alguns tostões com o pai para terem o que comer em casa. O pai gasta o que tem no boteco, mas se nega a dar dinheiro pra família. Essa é uma cena comum nos enredos das narrativas de James Joyce.

Mais adiante dessa cena acima, Stephen Dedalus encontra a irmã na rua e ao falarem sobre livros, ficamos sabendo que até os livros são penhorados para se conseguir algum dinheiro (p. 413). Miséria. Miséria.

Já no início do romance, a questão do dinheiro é muito marcante nas cenas do dia: pela manhã, com Stephen Dedalus e Buck Mulligan, quando contam os centavos no bolso para tomar um drink no fim do dia. Depois, quando Dedalus recebe seu parco salário de professor.

É o capitalismo em seu reino de origem, o Reino Unido. O capitalismo da metrópole Inglaterra, que subjuga os irlandeses. Miséria. Miséria.

Hoje li o capítulo 10 de Ulysses, na tradução de Caetano W. Galindo. No quadro explicativo do romance, feito por Joyce, a relação do capítulo é com os "Rochedos Errantes" na Odisseia de Homero. Essa parte do dia se passa nas ruas, o horário é o das três horas da tarde. O símbolo do capítulo é "Cidadãos" e a técnica é "Labirinto".

Gostei do capítulo! Ele é todo dividido em cenas de pessoas nas ruas, abordando o ponto de vista delas. Em uma cena um personagem anda, conversa, pensa em fluxo de consciência. Depois entra em cena outro personagem. Mais outro. E assim vai. Eles dialogam entre si. No final, quando membros da elite circulam pelas ruas, apresenta-se todos olhando para o conde de Dudley e sua senhora. Desde o garoto cego (que percebe o burburinho) até os personagens principais.

Ao ler ontem um capítulo do Retrato do artista quando jovem, cujo personagem principal é o jovem Stephen Dedalus, uma espécie de alter ego de Joyce, vemos o quão marcantes são os problemas sociais oriundos da miséria advinda com o capitalismo e dos preconceitos e crendices das religiões - católicos e protestantes. 

Fico inconformado com isso. Que desgraça essas abstrações humanas - capitalismo, dinheiro, deuses - que destroem qualquer possibilidade de alcançarmos uma sociedade justa, solidária e sustentável ao longo dos séculos. Estamos fadados ao fim da vida no planeta Terra. Isso me parece o caminho natural das coisas: o fim.

Como o fim não é instantâneo, seguimos vivos por hoje. ainda temos o sol neste domingo em Osasco. Parte de nós ainda tem comida e recursos para as necessidades básicas (a maioria não tem). Estamos todos doentes e alguns não têm sequer noção disso (alienação). Estamos expostos além do necessário por causa da forma como os humanos decidiram organizar a sociedade.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.


sábado, 17 de julho de 2021

Lendo "Retrato do artista..." - James Joyce



Refeição cultural

"Colocai o vosso dedo por um momento na chama duma vela e sentireis a dor do fogo. Mas o nosso fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha de vida e para ajudá-lo nas artes úteis, ao passo que o fogo do inferno é duma outra qualidade e foi criado por Deus para torturar e punir pecador sem arrependimento. O nosso fogo terrestre, outrossim, se consome mais ou menos rapidamente, conforme o objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, a ponto de a ingenuidade humana ter-se sempre entregado a inventar preparações químicas para garantir ou frustrar a sua ação. Mas sulforoso breu que arde no inferno é uma substância que foi especialmente designada para arder para sempre e ininterruptamente com indizível fúria. Além disso, o nosso fogo terrestre destrói ao mesmo tempo que arde, de maneira que quanto mais intenso ele for mais curta será a sua duração; já o fogo do inferno tem esta propriedade de preservar aquilo que ele queima e, embora, se enfureça com incrível ferocidade, ele se enfurece para sempre." (JOYCE, 1987, p. 126)


Sigo na leitura do Retrato do artista quando jovem, livro de Joyce publicado após o livro de contos Dublinenses. Livro que antecedeu ao clássico Ulysses.

No primeiro capítulo, vimos a infância do personagem Stephen Dedalus. Uma cena que me causou incômodo (indignação) foi a das punições às crianças nas escolas. Ajoelhar no milho, ficar em pé de cara para a parede, palmatória etc. Um horror. Ler aqui a postagem sobre o primeiro capítulo.

No segundo capítulo, Stephen está de volta ao lar com sua família. Ele demorou para voltar para Clongowes, onde estudava, porque a família estava sem recursos. Eles precisam mudar de Cork, no interior, para Dublin. vimos também os sofrimentos do garoto - ele apanha de seus colegas. No final do capítulo, ele, já no início da adolescência, conhece o sexo em um prostíbulo.

No terceiro capítulo, que li hoje, o tema central das quase 50 páginas foi a religião. Durante a leitura do texto, eu fiquei me lembrando de minha infância e adolescência ao ver os dilemas de Stephen em relação à religião. Que dureza! Eu sabia que Joyce trabalhava a questão da religião em seus romances, mas viver o sofrimento do jovem Dedalus me fez retroceder décadas e me lembrar como os dogmas impactam na vida das pessoas.

Os leitores descobrem a idade do personagem naquele momento do romance, na hora da confissão dele, ao dizer ao padre que ele está com 16 anos.

Deu trabalho ler o capítulo inteiro como planejei. Comecei de manhã e tive que ir lendo quando era possível ao longo do dia.

Seguimos adquirindo conhecimento novo. Isso não é pouca coisa em face dos acontecimentos do mundo. A vida no Brasil está uma verdadeira tragédia e cada pessoa está lutando para atravessar essa fase triste do país.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Retrato do artista quando jovem. Tradução de José Geraldo Vieira. Ediouro/92340, 1987.


sexta-feira, 16 de julho de 2021

33. Odisseia - Homero



Refeição Cultural - Cem clássicos

Completei a leitura de mais uma obra da literatura clássica mundial, Odisseia, atribuída ao aedo Homero. Foi uma leitura engajada e eu a realizei de forma bem satisfatória, haja vista que a linguagem não é uma linguagem comum.

Essas postagens dos "cem clássicos" são postagens que estou fazendo aos poucos para avaliar o que já avancei no sonho, porque tenho um sonho antigo, quase da adolescência, em ler uma centena de obras clássicas da produção cultural do mundo. 

Já postei 33 obras, mas não quer dizer que só li essa quantidade. Alguns clássicos lidos ainda serão anotados aqui no blog. Sem contar que os critérios definidos para considerar uma obra "clássica" serão arbitrariamente definidos pelo autor do blog, eu mesmo.

Meu primeiro contato com a Odisseia foi em 2001, ano em que comecei a estudar na Universidade de São Paulo. Vejam como as coisas foram tardias para mim no mundo dos clássicos. Entrei na Faculdade de Letras da USP aos 32 anos. Para acompanhar as aulas de Literatura Grega no ciclo básico era urgente ler o clássico de Homero.

Minha edição em prosa da Odisseia foi da editora Cultrix, na tradução do professor Jaime Bruna, da USP. Eu a adquiri logo que comecei o curso. Tenho até a notinha dentro do livro. Paguei 19 reais no dia 18/4/01. Anotei no livro que terminei a leitura em julho daquele ano. Posso dizer que foi um dos primeiros clássicos que li ao entrar na universidade.

Agora, duas décadas depois, vivi a experiência de reler o clássico, e posso dizer que praticamente senti a sensação de ser a primeira leitura porque eu não me lembrava de quase nada.

Li a Odisseia, na tradução de Manuel Odorico Mendes, numa edição especialíssima da Edusp, a cargo do professor Antonio Medina Rodrigues. Eu tive o privilégio de ser aluno do Medina e nunca - nunca - me esqueci das aulas dele na FFLCH. O cara era demais! Ele interpretava os deuses e suas sacanagens gesticulando em sala de aula. Algumas alunas ficavam vermelhas de vergonha (rsrs). Professor Medina, presente!

A leitura atual foi num contexto completamente diferente em relação à primeira leitura da epopeia homérica. Antes, iniciava um curso de Letras, agora sou um ex-bancário de banco público retirado das lides sindicais, lendo em casa num contexto de pandemia mundial de Covid-19.

O blog tem postagens a respeito da leitura caso alguma pessoa se interesse em ler.

Anoto por fim o projeto mental que acabei projetando a partir da leitura deste clássico grego em versos odoricianos. Vou ler na sequência, nessa trilha clássica, a Ilíada e a Eneida, ambas traduzidas por Odorico Mendes. Já as tenho. Depois vou ler A divina comédia, de Dante e, por fim, vou reler Os Lusíadas, de Camões. Um belo projeto de leitura, né não?

Assim como Medina e Haroldo de Campos, gostei muito da "transcriação" de Odorico Mendes. A edição do Medina traz um texto de Campos - "Odorico Mendes: o patriarca da transcriação" e traz apresentação e prefácio com diversos estudos do professor Medina: é uma obra à parte, diga-se de passagem. Explicações magníficas, inclusive sobre traduções.

Enfim, missão cumprida! Mais um clássico lido e mais projetos de leituras a realizar.

Leiam os clássicos!

William


Odisseia (Homero) - O fim (XXII a XXIV)



Refeição Cultural

"Na sala, circunspecto, ele examina
Se inda algum respirava, e em pó sangrento
Jaziam todos: qual a praia curva
Arrasta a malha os peixes, que, empilhados
Na areia, mudos cobiçando as vagas,
À luz do Sol em breve o alento exalem,
Tais os procos ali se amontoavam." (LIVRO XXII, v. 281-287, p. 365)


(esta postagem contém spoiler do final da Odisseia, alerta para quem não conhece ainda a história)


Finalizei a leitura dos últimos três livros da Odisseia, de Homero. Foram 75 dias de convivência com as desventuras de Ulisses, de Telêmaco, de Penélope, da deusa Palas (Minerva) e dos diversos personagens que constam nesta epopeia grega.

No livro XXII, conheci a ira de Ulisses (já havíamos ouvido falar da ira de Aquiles). A vingança do herói foi implacável em relação aos pretendentes de Penélope, que consumiam os rebanhos e patrimônio da família. Ele não perdoou sequer as servas que se relacionaram com os invasores. As cenas são dignas de um filme de Tarantino.


No livro XXIII, vemos o reencontro de Ulisses e Penélope. A deusa Palas até adia a chegada do dia, retardando a carroça com os ginetes que trazem o sol pela manhã... A Aurora dedirrósea...

"   Ele com isto em lágrimas rebenta,
Mais ao peito cingindo a casta esposa.
Da praia quando à vista os naufragados,
Por Netuno e por vagas sacudidos,
Poucos no vasto pélago nadando,
Sujos da maresia, à morte escapam,
Não têm maior prazer do que a rainha
Teve ali. Não despega os alvos braços
Do colo do consorte; e a ruiva Aurora
Os encontrara, se não fosse Palas:
A olhicerúlea, prolongando as sombras,
No Oceano a retinha em áureo trono,
Sem que até ao coche alípedes ginetes
Lampo e Faéton, que a luz no mundo espalham.
" (LIVRO XXIII, v. 174-187, p. 377)

Ainda neste livro XXIII temos uma espécie de resumo dos eventos que vimos ao longo da epopeia de Odisseu, nos versos 236 a 262.


No último livro, XXIV, vemos as almas dos pretendentes mortos chegarem ao Hades, e lá encontram outros heróis e guerreiros mortos na Guerra de Tróia. 

Ao ouvir sobre a vingança de Ulisses, narrada pela alma de Anfimédon, Agamêmnon se admira de Penélope, que foi fiel ao esposo enganando os pretendentes por 3 anos, fazendo e desfazendo a mortalha que tecia. Lembrando que Agamêmnon foi morto na traição, por sua esposa Clitemnestra e o amante.

"   Grita Agamêmnon: 'Venturoso Ulisses,
Possuis mulher de uma virtude rara!
Do varão que pudica amou primeiro
Nunca olvidou-se; obtém perene glória,
Que hão de inspirados celebrar cantores.
" (LIVRO XXIV, v. 155-160, p. 388)

Ulisses ainda reencontra seu pai, Laertes, e juntos - avô, pai e filho - enfrentam a fúria dos familiares dos pretendentes mortos por Ulisses. Mas os deuses não permitem que a guerra civil se inicie em Ítaca e atuam para impor a paz.

Termina assim a odisseia de Ulisses, após vinte anos de desventuras para retornar a sua Ítaca, esposa e filho, após os gregos vencerem os troianos.

William


Bibliografia:

HOMERO. Odisseia. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Edição de Antonio Medina Rodrigues. - 2. ed. - São Paulo: Ars Poetica: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. - (Coleção Texto & Arte; 5).


quinta-feira, 15 de julho de 2021

Odisseia (Homero) - Antes do massacre dos pretendentes e desafio do arco



Refeição Cultural

"Teoclimeno a vozes profetiza:
'Misérrimos, que noite vos rodeia
De alto a baixo! Que lúgubre ululado!
Estou já vendo lagrimosas faces,
Em sangue estas paredes e estes postes,
Cheio o vestíbulo e a brilhante sala
De espectros, que ao profundo Erebo descem!
Morre o Sol, e se esparge e adensa a treva!'" (LIVRO XX, v. 280-287, p. 342)


A leitura dos livros XX e XXI da Odisseia, de Homero, foi muito prazerosa. Não tive dificuldades com os decassílabos de Odorico Mendes. 

As notas do professor Medina auxiliam muito os leitores pouco familiarizados com a linguagem e com as referências históricas.

No início do Livro XX, Medina comentou: "Os antigos chamavam este livro simplesmente de 'Antes do Massacre dos Pretendentes'...". (p. 333)

Já no início do Livro XXI, Medina diz: "Este livro nos põe diante da célebre prova do arco, que antecipa o massacre dos pretendentes e que para Austin é o centro de todo aquele processo de autoconhecimento representado na Odisseia..." (p. 345)


O DESAFIO DE PENÉLOPE

"Vós que, pretexto de esposar-me, ausente
Meu marido, estragais toda esta casa,
Ouvi-me. O arco eis aqui do nobre Ulisses,
E eu proponho um certame: quem mais fácil
O atese e freche atravessando os olhos
Das machadinhas doze, hei de segui-lo
Da conjugal estância, farta e bela,
Da qual me lembrarei té nos meus sonhos'.
" (LIVRO XXI, v. 51-58, p. 347)


Faço só mais uma citação deste Canto, a da humilhação de um dos pretendentes, Eurímaco:

"   O arco Eurímaco ao lume aquenta e vira,
Mas nem sequer o verga; no orgulhoso
Peito suspira, e suspirando fala:
'Ai de mim e dos mais! Bem que as deseje,
Não choro as núpcias, que Ítaca e outras ilhas
Têm muitas belas; choro a clara prova
De superar-nos tanto o grande Ulisses:
Oh! Futuro desdouro!'...
" (CANTO XXI, v. 179-186, p. 350)


É isso! Os últimos três livros trarão o desfecho dessa epopeia homérica. Quem tiver interesse em ler a postagem anterior, é só clicar aqui. Quem tiver interesse em ver um vídeo onde comento essa leitura dos livros XX e XXI é só clicar aqui.

Abraços! Leiam e salvem seus cérebros e a essência do homo sapiens.

William


Bibliografia:

HOMERO. Odisseia. Tradução de Manuel Odorico Mendes. Edição de Antonio Medina Rodrigues. - 2. ed. - São Paulo: Ars Poetica: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. - (Coleção Texto & Arte; 5).


quarta-feira, 14 de julho de 2021

Por uma sociedade socialista



Refeição Cultural

A leitura de um pequeno livro sobre a vida e a obra do professor Florestan Fernandes reforçou minhas reflexões sobre a necessidade de lutar pelo fim do sistema capitalista e pela construção de uma sociedade socialista.

A humanidade e as demais formas de vida do planeta Terra correm sério risco de desaparecerem por causa da forma como a natureza vem sendo utilizada pela atual sociedade humana e o capitalismo está diretamente relacionado com a destruição das formas de vida em nosso único lugar de existência.

A espécie humana se desenvolveu de forma extraordinária ao longo do tempo de sua existência. Diferente das demais formas de vida, o homo sapiens criou o mundo que nós conhecemos hoje através da inteligência e da tecnologia. Nosso cérebro se desenvolveu e passou a criar abstrações, imaginou coisas e as criou. Assim sobrevivemos aos desafios da natureza e chegamos até aqui.

Nos últimos 250 anos, em linhas gerais, uma forma de produção de bens passou a dominar as diversas sociedades humanas espalhadas pelo planeta Terra, o modo de produção capitalista e tudo o que isso significa.

Nesse curto espaço de tempo, se considerarmos que nossa espécie já habita a Terra há alguns milhares de anos, nós exaurimos perigosamente o planeta.

A vida é uma oportunidade única para todas as espécies existentes, inclusive para a espécie humana. O conhecimento que produzimos nessa longa caminhada dos seres humanos nos permite estabelecer padrões de vida muito bons para toda a humanidade. Temos inteligência e tecnologia para atravessarmos os próximos séculos se tivermos responsabilidade.

A base do sistema capitalista é inviável à vida. 

Precisamos nos unir para lutar pela vida da espécie humana e pela diversidade de modos de vida na Terra, de forma que possamos ter um futuro. 

Durante décadas atuei nos movimentos organizados da classe trabalhadora. Os movimentos populares são bons espaços para reflexão sobre essa questão que estou trazendo: lutar pelo fim do capitalismo.

Tenho uma impressão que a questão de lutar pelo socialismo e pelo fim do capitalismo saiu das pautas prioritárias dos movimentos organizados. Quando se fala do tema é como se estivéssemos falando de algo absolutamente fora do horizonte, fora das metas pessoais e coletivas das pessoas, dos humanos.

Precisamos retomar a luta pelo socialismo, pelo cooperativismo, pelo associativismo, pela solidariedade, pela vida. O capitalismo é o oposto a tudo isso.

O socialismo deve fazer parte de nossos sonhos, de nossos esforços diários, de nossas metas.

Como indivíduos, somos um instante de vida, mas se pertencermos a uma coletividade com objetivos comuns seremos mais que indivíduos, nossos entes queridos não estarão sós e sem um braço amigo em nossa ausência.

Temos que lutar por uma sociedade socialista.

William

Florestan Fernandes - Vida e obra



Refeição Cultural

"A Constituição instituiu um 'estado de direito', com liberdades políticas, garantias individuais e direitos sociais que só têm vigência se não afetam uma concepção obstinadamente reacionária da ordem legal e da iniciativa privada. O que consagra uma dualidade constitucional: há uma Constituição escrita, que exprime a 'vontade da Nação', mas converte-se em biombo para esconder o arbítrio e a violência; há uma Constituição consuetudinária, produzida pelo ânimo bélico das classes possuidoras e de suas elites dirigentes, consagrada pelo governo e por suas forças de repressão policial-militar e, frequentemente, judiciária. Essa dualidade constitucional é um desafio e um freio para a ação política dos trabalhadores livres e semilivres, os segmentos radicais da pequena burguesia e das classes médias. É preciso exterminá-la, porque ela institui a violência a partir de cima, a 'legitimidade' de um código não escrito que anula o texto constitucional, servindo somente para demonstrar o quanto a "Nova República" é sucessora hipócrita da ditadura militar e como se renova o despotismo da grande burguesia." (Florestan sobre a Constituinte e a Constituição, p. 162. Citação da Revista Teoria e Debate, nº 8, São Paulo, out/nov/dez de 1989)


Entre ontem e hoje, li o livro Florestan Fernandes - Vida e obra (2004), de Laurez Cerqueira. Anos atrás, havia lido quase a metade do livro e, como fazia sempre, não havia terminado. Agora li de uma vez.

A história de vida e militância do professor Florestan Fernandes é de nos fazer chorar. Aliás, por três vezes, chorei ao ler passagens do livro. 

Tenho muito orgulho de ter sido aluno da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH). Florestan foi professor de Sociologia I na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, até ser expulso (aposentado compulsoriamente com rendimentos proporcionais) em 1969 pelo Ato Institucional nº 5 da ditadura civil-militar.

A minha impressão é que Florestan é um excluído da intelectualidade brasileira comemorada pela burguesia. Ouve-se muito mais sobre Caio Prado Jr., Sérgio Buarque, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre etc. Ele é um socialista, um defensor do socialismo e esse deve ser o motivo pelo qual a burguesia comemore outros pensadores e não ele.

Os capítulos do livro nos dão uma boa noção sobre a vida de nosso querido pensador socialista. Vejam abaixo o sumário do livro:

1 - De "Vicente" a Florestan

2 - Construir a sociologia científica e interpretar o Brasil

3 - 1964: Um golpe no sonho, um corte na produção intelectual acadêmica

4 - O cientista militante e a esperança no socialismo

5 - O professor Florestan Fernandes no Congresso Constituinte

6 - Compromisso e coerência

Foram capítulos de muita emoção na leitura. A infância pobre, com mãe solteira, trabalhando desde muito menino pelas ruas de São Paulo. O garoto franzino que se defendeu de marmanjos muito maiores nas ruas. A falta de condições de estudar até mesmo a educação básica.

Depois o adolescente e adulto que lia até 15 horas por dia para recuperar o tempo perdido com a falta de condições de estudar por questões de sobrevivência. Depois a vida de intelectual, professor e militante das causas sociais.

Ao ler sobre seu período de enfrentamento à truculência da ditadura a gente fica muito comovido. Depois vimos suas lutas como intelectual parlamentar na Constituinte e no mandato seguinte na Câmara Federal. A convivência com Lula e a bancada do PT e as lições ao mesclar a academia com a política: os acordos possíveis. A defesa da Educação; a LDB.

Seu espírito de servidor público. Sua ética e sua prática como critério da verdade, coisa que aprendi ao ser dirigente sindical. A dramaticidade de sua doença - hepatite-C - e a forma trágica de sua morte nos deixam sem palavras.

Que história de vida! Que homem da esquerda brasileira!

Mexeu muito comigo a história de Florestan Fernandes...

Refletindo sobre... que refeição cultural... que lição de vida.

William


Bibliografia:

CERQUEIRA, Laurez. Florestan Fernandes - Vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2004. 4ª reimpressão, out/2009.


terça-feira, 13 de julho de 2021

130721 - Diário e reflexões (Carta Capital)



Refeição Cultural - Carta Capital 1165


MAR DE LAMA

A edição de Carta Capital desta semana trouxe o seguinte conteúdo:

No editorial de Mino Carta: Celebramos a patetice. São Paulo teima em comemorar uma guerra de secessão que não houve.

A Semana: Indústria/Novos ares? Josué Gomes da Silva vai comandar a Fiesp.

E mais: Rachadinha/Cheques voadores. O STF arquiva a investigação sobre os depósitos para Michelle Bolsonaro.

Pedro Serrano: Entre o circo e a apuração. Para ter êxito, a CPI da Pandemia não pode se perder na encenação e no histrionismo.

Na matéria de capa, por André Barrocal: Fardados no jogo sujo. A CPI reúne cada vez mais pistas sobre os militares metidos em negociatas na saúde. A possível prevaricação e a guerra suja de Bolsonaro tenta proteger os parceiros.

Seu País, por Ana Flávia Gussen: A fome de empreender. Metade dos trabalhadores por conta própria ganha até mil reais e 77% deles são informais, revela pesquisa.

E mais, por Celso Amorim: O Deep State vem ao Brasil. O que William Burns, diretor da CIA, tinha a tratar em Brasília com Bolsonaro e dois ministros militares?

Flávio Dino: Política sem farda. O uso político do Judiciário ou das Forças Armadas representa intromissão indevida no jogo democrático.

Manuela D'Ávila: A violência política de gênero. É impossível dissociar o bolsonarismo do machismo. Enfrentar a misoginia é enfrentar a extrema-direita.

Aldo Fornazieri: Labirinto sem luz. Cai o mito do herói dedicado ao combate à corrupção, mas os seguidores de Bolsonaro preferem não enxergar a realidade que os cerca.

Economia, por Carlos Drummond: Passos no escuro. Cresce o risco de apagão, mas o governo foge do custo político de um racionamento, o que só agrava o problema.

E mais, por Paulo Dantas da Costa: Imposto global. A tímida proposta do G-7 está longe de se parecer com uma reforma tributária mundial.

Nosso Mundo, por Emma Graham-Harrison e Akhtar Mohammad Makoii, de Herat: Deixados para trás. Com a retirada das tropas estrangeiras, o Afeganistão segue desestruturado e o Taleban ressurge.

E mais, por Richard McGregor: Cem anos que abalaram o mundo. A trajetória do Partido Comunista Chinês, da primeira reunião em Xangai à construção de uma superpotência.

Plural, por Pedro Alexandre Sanches: Uma estranha fruta negra. O filme Estados Unidos vs. Billie Holiday atribui a guerra judicial enfrentada pela cantora de jazz ao conteúdo antirracista da canção Strange Fruit.

E mais, por Janes Jorge: A São Paulo de Vargas. Ao contrário da retórica do feriado de 9 de Julho, a capital e o estado deram muitos votos e apoio ao estadista.

Afonsinho: Messi no clube. O time do Passe Livre ganhou um reforço considerável, Lionel Messi, a pulga genial.

COMENTÁRIO

Voltar a ler a revista equivaleu a trocar tempo de leitura de livros por leitura de informações políticas. A gente fica deprê ao ler sobre o Brasil e o mundo, mas tem valido a pena porque a variedade dos temas, como demonstrado acima, nos deixa menos alienado. Somos seres sociais, queiramos ou não.

A matéria sobre os trabalhadores informais e de baixa renda é chocante. Deram o golpe no Brasil e no povo para isso, para termos um exército de reserva, uma multidão de miseráveis e famintos no país. Racismo e misoginia venceram com Temer e Bolsonaro. Veja um trecho da miséria exposta: 

"As disparidades sociais, raciais e de gênero se evidenciam quando se analisa o topo da pirâmide: conforme a renda aumenta, mais branco, mais rico e mais masculino se torna o perfil. Mudam também as atividades. Se o negro tem majoritariamente como fonte de renda atividades como construção civil (65%), comércio (57%), serviços e alimentação (61%), o homem branco figura no topo em serviços de educação e saúde (67%), atividades de informação, comunicação e financeiras, imobiliárias (64%)" (p.19)

Os artigos desta edição são excelentes!

Esther Solano faz um apelo aos jovens para não desistirem da política, porque as raposas velhas vão decidir e ferrar a vida deles. Coisa básica!

Manuela D'Ávila é certeira como sempre na questão do machismo e a extrema-direita. Temos que enfrentar essa praga!

O artigo do Boaventura de Sousa Santos nos lembra que a democracia virou um faz de conta. Enquanto a democracia liberal deveria ser com processos confiáveis e certos e resultados incertos, agora vivemos o contrário: "As elites transformaram o jogo em um processo incerto com resultado certo, a favor de seus interesses". (p. 47)

Fecho o comentário com uma ótima lição de Rita Von Hunty em relação ao governador do RS que de forma oportunista tenta levar vantagem em ser gay neste momento do país.

"Não bastasse o apoio a Bolsonaro, a origem e a atuação política, Leite também expressa de maneira contraproducente para a comunidade LGBTQIA+. Ao defender que gostaria de ser pensado como um governador gay e não um 'gay governador', ele inverte sujeito e predicado. Leite não 'é' governador, ele apenas exerce esse cargo nesta fase de sua vida. Leite 'é' gay, ao menos que possa assumir outra identidade sexual, e deveria lutar em nome daqueles que, como ele, sabem o que essa identidade implica na vida em sociedade no Brasil..." (p. 57)

Achei ótima a observação da articulista. Esse cara não é um governador gay, ele é um gay privatista, gay tucano (ou seja, golpista), é um gay antipovo. Aí sim, os qualificativos estão adequados a ele. A orientação sexual dele não importa.

Enfim, mais informado estou.

William