segunda-feira, 31 de julho de 2023

Diário e reflexões - Julho



Refeição Cultural - Julho

Osasco, 31 de julho de 2023. Segunda-feira.


INTRODUÇÃO

Desde o início do ano, tenho feito uma postagem de final de mês como se fosse uma espécie de balanço das leituras e aprendizados pessoais, mesclando com o registro alguns comentários acerca do que tenho observado no cotidiano da sociedade humana, coisas que me chamaram a atenção.

Em relação ao Brasil, sigo com grande admiração ao presidente Lula. Se considerarmos o país que recebemos dos golpistas, é quase um milagre o que Lula está conseguindo fazer em todas as áreas afetas ao povo brasileiro.

EDUCAÇÃO: o governo vai investir 4 bilhões de reais em escolas em tempo integral com o objetivo de matricular 3,2 milhões de crianças e jovens até 2026. Fico feliz em ver a educação no foco do governo do Brasil. Desde que tomou posse, Lula já recompôs os orçamentos das universidades federais, reajustou as verbas de alimentação escolar e aumentou o valor das bolsas de graduação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, uma fundação ligada ao Ministério da Educação).

SAÚDE: Lula participou do encerramento da 17ª Conferência Nacional de Saúde cujo tema do encontro foi "Garantir direitos, defender o SUS, a vida e a democracia - Amanhã vai ser outro dia". O fórum democrático contou com a participação de mais de 6 mil pessoas em todas as etapas. 

Nestes 7 meses, o governo destinou 600 milhões para a redução de filas de cirurgias, retomou o Mais Médicos e já contratou cerca de 6 mil profissionais para atuarem nos interiores e periferias (serão 15 mil novos contratados até o fim do ano), recuperou o Farmácia Popular e o Brasil Sorridente e retomou as campanhas de vacinação.

Um dos focos do Sistema Único de Saúde é a Atenção Primária através da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Na matéria que li no site do PT, achei interessante o depoimento do prefeito de Boa Vista (RR), feliz por poder triplicar as Equipes da ESF na cidade. 

Me lembrei da Cassi, que tinha uma CliniCassi lá em Boa Vista e tínhamos ESF coordenando os cuidados da população Cassi/BB local. Não sei como está a Unidade Cassi Roraima e os participantes de lá hoje após os governos Temer, Bolsonaro e os eleitos do Grupo Mais...

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MÍDIA SEGUE GOLPISTA E FASCISTAS SEGUEM ORGANIZADOS

Enquanto o governo Lula se esforça para refazer a imagem do Brasil no exterior e refazer os direitos sociais do povo brasileiro, a mídia empresarial golpista e os bolsonaristas seguem manipulando e agindo com violência contra os avanços populares. 

O sujeito do Bacen boicota a economia do Brasil há 7 meses com a taxa de juros mais cara do mundo (13,75%) e vem tirando o dinheiro do povo para encher os cofres de rentistas. Isso é uma violência! Violência! Isso gera fome e desorganização social. Esse sujeito neto de ditador e que usa talheres pratica o pior tipo de violência contra o povo e o país...

Os pau-mandados da Globo passaram dias atacando de forma canalha e mentirosa o economista e professor Marcio Pochmann por ter sido indicado à presidência do IBGE. Essa rede esgoto é um câncer para o país há décadas. As agressões cometidas contra Pochmann foram de uma violência inominável! Que merda! Como podem ficar impunes por isso?

E fecho os comentários negativos com os 17 milhões de reais que deram para o verme amante de torturador que ocupou a presidência do país de forma ilegítima até o ano passado. 17 milhões... recebidos por pix. Teve até ex-juiz que deu dinheiro a ele por admirar o miliciano...

Essa é a nossa realidade material... não dá para exigirem uma mudança extraordinária nas diversas áreas econômicas e sociais do país através de canetadas do presidente Lula, não com um país desse! Eu tenho consciência disso.

Não podemos esmorecer, temos que seguir estudando e lutando por um mundo melhor, mais justo e solidário.

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LEITURAS E CULTURA

Li neste mês de julho cinco obras completas e sigo lendo outros livros que me exigem um tempo maior de leitura e reflexão como, por exemplo, Os miseráveis, de Victor Hugo (mil e quinhentas páginas). Nesta leitura vou demorar meses.

Três livros foram impactantes para mim e me fizeram reviver minha vida como representante político da classe trabalhadora. 

Falo dos livros de José Martí - Nuestra América, de 1891 (comentário aqui), de Fidel Castro - La historia me absolverá, de 1953 (ver aqui) e a entrevista com Lula antes de ele se tornar um preso político por 580 dias - A verdade vencerá, de 2018 (comentário aqui).

As histórias de vida de Martí, Fidel e Lula são histórias que nos fazem acreditar que a vida humana vale a pena, que as lutas pela emancipação popular valem a pena.

Ainda no campo das reflexões políticas li Quatro anos nas sombras, de 2022 (ler comentário aqui), um livro de coletâneas de artigos sobre o duro período que vivemos no Brasil após o golpe e sob o regime bolsonarista de destruição do país. Contribuí com um artigo neste livro.

Depois de vários meses sem ler poemas, li mais um livro de Carlos Drummond de Andrade - Novos poemas, publicado em Poesias até agora e em José e outros (1948). Foi o 6º livro de Drummond que passei a conhecer. Ver comentário aqui.

Cultura oriental: tenho visto animes e lido mangás, formas culturais diferentes das nossas do Ocidente. Li o 5º volume do mangá Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa (comentário aqui). Estamos vendo animes em casa com o nosso filho: One Peace é um deles, eu estou revendo Naruto; e vimos um fenomenal: Megalobox (1T) e Nomad (2T). A cultura oriental tem muita história e política envolvida.

Livros em andamento:

Além do clássico de Victor Hugo, estou lendo outras obras. Nas leituras em andamento tenho optado por mesclar diversos gêneros literários e discursivos. 

Estou relendo um clássico do terror dos anos oitenta - Os mortos vivos, de Peter Straub (1979); estou lendo um dos principais livros de poesia de Cecília Meireles - Vaga Música (1942) e estou estudando sobre Cuba no livro Cuba insurgente, da professora Maria Leite.

Até o momento, já li 23 livros e obras completas. Aprendi muita coisa nova, coisas que não conhecia até o ano passado. Isso é bom! A natureza segue seu movimento, envelheço e caminho para o fim e mesmo assim busco conhecimento sobre a vida e o mundo.

Produção textual

Neste mês escrevi bastante. Fiz dois textos no blog A Categoria Bancária sobre a Cassi (ler aqui e aqui). Os textos tiveram muito acesso e neste caso sei que contribuo quando escrevo porque conheço sobre o assunto e sei o que estou dizendo, gostem ou não de minhas opiniões.

Neste blog Refeitório Cultural foram 18 textos dos mais variados temas. Os textos são minha contribuição à difusão de conhecimento de forma gratuita porque acredito nisso. Este blog foi criado para compartilhar conhecimento. É a minha página de WIKIpedia (What I Know Is).

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SAÚDE E ESPORTES

Neste mês de julho me esforcei para praticar exercícios aeróbicos e um pouco de exercícios de resistência. Isso é fundamental para adiar o fim do mundo (o meu fim no mundo rsrs).

Corri 5 vezes no mês (25K), pedalei 3 vezes (3 horas) e andei bastante. Estou testando meu corpo em longas caminhadas para ver se ainda conseguiria fazer uma romaria. Fiz uns longões: um de 10 Km, outro de 20 Km e um de 30 Km.

Como considero uma prática de saúde integral os relacionamentos humanos saudáveis, neste mês fui a um sarau na regional Paulista do Sindicato, me encontrei com amig@s do BB, participei de atividades presenciais e virtuais do Partido dos Trabalhadores e sobre Cuba e também a assembleia de meu condomínio.

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Fecho aqui o registro reflexivo do mês de julho. As reflexões sobre o mês passado podem ser lidas aqui.

William


Leitura: Gen Pés Descalços (5) - Keiji Nakazawa



Refeição Cultural

Gen Pés Descalços

Volume 5


A leitura do volume 5 de Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa, me fez refletir o quanto certos tipos de produções culturais são atemporais e nos trazem reflexões profundas, independente da época na qual temos acesso a elas.

O mangá foi publicado pela primeira vez nos anos setenta e seu autor, Nakazawa, foi um sobrevivente da bomba atômica lançada sobre Hiroshima pelos norte-americanos no dia 6 de agosto de 1945. De sua família, sobreviveram sua mãe e ele, com 6 anos de idade. Ela faleceu de câncer nos anos sessenta e ele também faleceu de câncer em 2012.

A edição que ganhei de presente de meu filho é a edição brasileira da Conrad Editora de 2011/2012 em 10 volumes. A coleção é belíssima e ao terminá-la será minha primeira leitura completa de uma série de mangás, pois não tinha o hábito de ler este tipo de História em Quadrinhos (HQ).

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GEN PÉS DESCALÇOS

A história da família Nakaoka se passa no Japão, na cidade de Hiroshima, a partir de meados de 1945. A guerra está perdida para o Eixo - Alemanha, Itália e Japão - e o governo japonês não aceita a derrota, fazendo de tudo para que o povo siga acreditando na vitória. O primeiro volume traz um pouco desse cenário.

A população japonesa está passando muita fome e o regime imperial e militar segue exigindo cada vez mais de seu povo. Os Estados Unidos lançam duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki nos dias 6 e 9 de agosto daquele ano. O mangá transmite aos leitores um cenário chocante através dos desenhos de Nakazawa.

Nos volumes 2, 3 e 4 acompanhamos os acontecimentos em Hiroshima entre o primeiro e o segundo ano após a explosão da bomba atômica. O cenário no país é de miséria absoluta. A família Nakaoka sofreu perdas terríveis e os sobreviventes têm que encontrar forças para seguirem adiante. 

O jovem Gen é uma criança incrível, traz em si uma postura fora do comum nas crianças de seu meio ambiente. Ele é de bom coração, algo raro naquele cenário. Os ensinamentos de seus pais são bases muito sólidas. Gen é pacifista como seus pais. Os filhos devem ser como o trigo, mesmo pisoteados, devem crescer fortes.

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FRIEZA E CRUELDADE

A população japonesa está embrutecida e nós leitores ficamos chocados com a reação fria e cruel das pessoas em situações cotidianas que nos levariam a sentir solidariedade e compaixão pelas pessoas em condições tão miseráveis e dolorosas.

Medo, ódio e preconceito marcam o dia a dia das pessoas.

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Todos se aproveitando das vítimas da bomba...

VOLUME 5

Neste volume que acabei de ler, a família Nakaoka segue sofrendo as consequências da guerra, há muita fome e desemprego no país e os Estados Unidos ocuparam o Japão.

Os sobreviventes da bomba atômica sofrem as sequelas da radiação e milhares de vítimas seguem morrendo nas regiões da catástrofe. Os japoneses são vistos como cobaias pelos norte-americanos que coletam dados sobre os efeitos da radiação.

Tudo é hostil e inóspito no ambiente da história do mangá. As vítimas da bomba já não conseguiam se manter antes da guerra por causa da fome e agora não conseguem sequer atendimento médico para tratamento das doenças da bomba. Desemprego, falta de recursos e exploração infinita do povo japonês.

A máfia controla o país e os vilarejos. Há maldade para onde se olha, seja nas regiões controladas pelo governo japonês, seja sob controle das máfias, seja ainda sob controle do invasor vencedor da guerra. As pessoas comuns estão por sua conta e risco. Dureza!

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COMENTÁRIO FINAL

Esse cenário que descrevi sobre os 5 primeiros volumes de Gen Pés Descalços me deixa muito pensativo sobre a realidade do mundo no ano de 2023, cinquenta anos após o lançamento do mangá. 

Estamos vivendo num cenário mundial de muita desesperança e com perspectivas duras para o futuro da humanidade e, ao mesmo tempo, um cenário de muito ilusionismo, de muita alienação da população mundial graças às ferramentas de invisibilização dos temas graves e pela criação de pautas de distração que ganham a atenção de todo mundo.

As mudanças climáticas afetaram o cotidiano do planeta de forma permanente, as consequências já estão aí e vão piorar porque não há uma mudança de tendência em relação às causas. A vida na Terra será cada dia mais desafiadora para todos os seres viventes.

Apesar de ser um sistema de crises constantes, o capitalismo como forma predominante de organização da sociedade humana não dá sinais de que será substituído por outra forma de organização social, nem que se tornará obsoleto como se avaliou no passado ao estudar suas consequências maléficas para a humanidade e o planeta.

E as tecnologias criadas por nós homo sapiens estão sendo usadas pelos homens do capital para transformar o próprio animal humano em uma mercadoria cada vez mais descartável à medida que a tecnologia (inclusive IA) torne obsoleta a mercadoria mão de obra. O excesso de humanos pode estar se tornando algo inconveniente para o lucro dos detentores do mesmo capital.

Vemos isso no Gen Pés Descalços. O Japão e os japoneses se tornaram coisas descartáveis após a derrota na guerra. Os vencedores fazem experimentos com os derrotados. Entre os japoneses, alguns se aproveitam do caos e exploram seus pares em benefício próprio. 

O cenário no mangá de Nakazawa e o cenário atual praticamente empurram as pessoas a buscarem a sobrevivência da forma mais bruta possível, individual e sem pensar a coletividade. E as soluções no planeta e na sociedade humana só são viáveis se forem coletivas...

Estamos assim... até quando?

William


Post Scriptum: para ler sobre os volumes anteriores é só clicar aqui (v.1), aqui (v.2), aqui (v.3) e aqui (v.4). O texto da leitura seguinte, o volume 6, pode ser lido aqui.


Bibliografia:

NAKAZAWA, Keiji. Gen Pés Descalços. Vol. 5. Tradução Drik Sada. - São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2012.


sexta-feira, 28 de julho de 2023

Diário e reflexões - Caminhei 30 Km


É época de ipês,
época de belezas!

Refeição Cultural

Osasco, 28 de julho de 2023. Sexta-feira.


Hoje fiz nova caminhada longa para testar meus limites atuais. Caminhei 30 Km e tudo correu bem. Na semana passada havia caminhado 20 Km e terminei o dia numa condição pior que hoje. Troquei o tênis entre uma caminhada e outra. Isso ajudou um pouco. 

Até 2019 fui um caminhante resistente. Todo ano eu fazia uma romaria de cerca de 80 Km em um dia. Na última vez que fiz o trajeto entre Uberlândia e Água Suja, na região do Triângulo Mineiro, eu já sabia que estava com um início de desgaste na região do quadril. Mas a caminhada correu tudo bem.

Romeiro em 2019.
Deu tudo certo!

Meses depois da romaria de 2019 veio a pandemia mundial de Covid-19 e tudo mudou. Foram três anos sem longas caminhadas. Neste período, a condição de meu quadril piorou e hoje sinto dores crônicas na região. Insisto em fazer meus trotes e caminhadas porque não quero viver sem isso. Enfrento a dor.

É lógico que ao se aproximar o período da romaria deste ano começou em mim um desejo de tentar fazer a caminhada, mesmo com todos os senões de que não deveria mais tentar a proeza. Eu me conheço e sei que realmente não estou em condições adequadas para tentar os 80 Km. Minha razão me diz isso. 

O peregrino.

O problema é que somos humanos, seres racionais com cérebros altamente evoluídos, porém somos reféns das paixões, somos seres movidos a emoções. Por isso somos esse bicho esquisito, que é racional... mas acredita em abstrações absurdas criadas pela mente humana.

Estarei em Uberlândia na semana de maior volume de romeiros na estrada. Se vou sair para tentar a caminhada não sei. Se vou completar caso saia para caminhar não sei. Estarei lá. Já valerá pelas emoções e paixões, ver a família.

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Caminhada noturna.

Na semana passada, usei o tênis mais macio que tenho em relação ao solado. Mas não conseguiria fazer dezenas de quilômetros com ele. Estava perfeito no dia que o comprei, e agora está apertado. Mesmo andando semanas com ele. Fiz 20 Km e terminei muito cansado fisicamente, unhas dos pés bem doloridas. Não tive bolhas.

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Inverno florido...
olha essa Pata-de-vaca!

Hoje, saí para uma caminhada decisiva. 

Mentalizei muito e recuperei um pouco de minha memória corporal em relação às longas caminhadas. 

Comecei a andar tarde, meio-dia, não era o que havia pensado, mas dei instruções firmes ao meu corpo e ele me atendeu.

Os pés que me levam.
Feliz por poder caminhar.

O tênis que escolhi é mais duro na sola, também novo e já rodado por semanas, outro dia andei uns 10 Km com ele e tive uma bolha. Avaliei que tinha que ser ele hoje. Escolhi outra meia e fui pra rua.

Família de saguis no
Pq. Continental.


Andei 5 Km primeiro e correu tudo bem. Pisei macio como nos velhos tempos. Vi até uma família de saguis... alumbramento!

Caminhando e refletindo...
Mas concentrado na pisada.

Depois saí para uma caminhada de uns 10 Km, concentração total, e deu tudo certo. Sem bolha e energia vital em ordem. 

Caminhar é sentir a natureza ao redor.

Depois de parar e comer alguma coisa, saí para andar mais uns 15 Km. 

Queria andar mais, mas estava ficando tarde e não quis continuar pelo avançado da noite.

Coisa linda, heim! Fala sério!

Vou me transformar em pedra para dormir...

Se tudo der certo, tomo vergonha na cara e faço uma última caminhada longa antes de viajar pra Uberlândia, começando cedo de verdade e andando quem sabe uns 50 Km.

Neste momento,
ouvia os pássaros.

Fiquei feliz comigo mesmo. Meu corpo reagiu bem. A caminhada longa não é uma coisa da razão, repito. É difícil explicar. Já caminho há décadas e a sensação é única. Só os romeiros e caminhantes sabem como é.

William, o caminhante.


quinta-feira, 27 de julho de 2023

Diário e reflexões - Cuba XXX (27/07/23)



Refeição Cultural - Cuba (XXX)

Osasco, 27 de julho de 2023. Quinta-feira.


Entre ontem e hoje, li o 3º capítulo do livro Cuba insurgente, da professora Maria Leite, mestra e doutora especialista na pedagogia aplicada em Cuba. O capítulo tratou do tema "O passado de dificuldade e os interrogantes do futuro". Os tópicos foram os seguintes:

- Um breve balanço do alcance neoliberal

- Tensões e rupturas no final do século XX em Cuba

- O período especial em tempos de paz

- A batalha de ideias

- A universalização da educação superior

- O internacionalismo

- O processo de atualização do modelo econômico.

Os estudos contidos no livro são muito atuais, a professora apresenta dados de documentos, leis e congressos ocorridos já em 2021. Os leitores adquirem através do livro uma noção bem mais clara sobre os feitos e os desafios do povo cubano no passado e neste momento da história.

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26 de julho - 70 anos do Assalto ao Quartel Moncada

Também ontem, participei de uma roda de conversa (virtual) sobre a efeméride dos 70 anos do Assalto ao Quartel Moncada. Foi mais um momento para aprender coisas novas sobre Cuba e o povo cubano. 

Ouvimos as exposições dos professores Maria do Carmo Leite e Iedo Leite Fontes, e as intervenções dos participantes. O evento foi organizado pela Associação Cultural José Martí da Paraíba.

Foi um evento muito bom e que me trouxe novos conhecimentos.

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ALGUMAS REFLEXÕES

Quando me sento diante do computador para escrever a respeito do que leio e estudo, fico pensando se vale a pena ou não o esforço do trabalho.

Algumas postagens que faço têm bastante acesso, dezenas ou centenas, algumas chegam aos milhares de acessos. Outras têm pouco acesso às vezes, postagens que deram muito trabalho, de horas a fio na produção.

No fundo, já refleti várias vezes sobre isso. Fazer o texto vale a pena pelo simples fato de que enquanto faço o texto estou desenvolvendo minha própria capacidade intelectiva, estou memorizando e aperfeiçoando o conhecimento adquirido. Estou produzindo novo conhecimento e de forma gratuita.

Compartilhar o conhecimento novo é disponibilizar a oportunidade de alguém mais ter acesso a esse conhecimento. O professor Ladislau Dowbor explicou isso numa palestra que deu em um congresso de bancários e nunca mais me esqueci do ensinamento: conhecimento deve ser compartilhado de forma gratuita.

Enfim, enquanto leio anoto muitas observações. Não daria para postar tudo que anoto. É o processo de estudo e intelecção em andamento.

Decidi estudar um pouco sobre Cuba e o povo cubano quando apareceu a oportunidade de viajar para lá. Assim fiz e desde o início do ano li com certa frequência coisas relacionadas a Cuba, romances, matérias jornalísticas, vi vídeos e filmes etc.

Durante a viagem pude observar algumas coisas do dia a dia e da vida cubana. Após a viagem, as leituras passaram a ter outro sentido, porque ao ler acabo me lembrando de algo que vi ou experimentei lá na Ilha.

Este momento de meu viver é um momento de maturidade intelectual. Tudo que leio ou vejo se interliga com diversos temas da vida em sociedade. 

Ao ler um capítulo de livro como o que acabei de ler, me dá vontade de escrever sobre saúde e a Cassi (autogestão dos trabalhadores do BB), dá vontade de escrever sobre o Brasil e o governo Lula, dá vontade de escrever sobre o ser humano e o futuro da humanidade... dá vontade de um monte de coisa!

Seguirei lendo e estudando até o último dia de minha vida, se assim meu corpo permitir. Sou natureza e a qualquer instante a natureza pode definir o fim das leituras e estudos, o fim deste viver.

William


Post Scriptum: ver aqui a leitura anterior relacionada a este tema.


terça-feira, 25 de julho de 2023

Leitura: A verdade vencerá - Lula



Refeição Cultural

Osasco, 25 de julho de 2023. Terça-feira.


INTRODUÇÃO

A leitura da entrevista de Lula neste livro produzido nos primeiros meses de 2018 - a entrevista e os textos anexos preparados para a edição - foi uma leitura talvez de redundância, porque já conhecia parte das ideias e fatos enunciados por Lula; talvez de descobertas, porque sempre se descobre algo novo sobre essa figura ímpar; talvez de decepção, porque com o passar do tempo vamos ganhando experiência de vida e as coisas passam a ficar meio sem graça, previsíveis, a gente talvez vai ficando chato e desiludido com a política, com as pessoas e com o mundo. Contudo, a leitura foi necessária, é sempre importante ler e estudar e refletir sobre a política, as pessoas e o mundo, sobre a vida.

(dia desses, um amigo e companheiro de longa jornada me disse que eu estava muito chato... eu sempre fui chato... isso não quer dizer que eu não tenha algo a dizer ou contribuir sobre as coisas. Brincamos sobre a minha chatice, demos risada. Sou chato mesmo)

Ivana Jinkings foi a responsável pela ideia da entrevista e organizou a edição, junto com a equipe da Editora Boitempo. O livro foi de uma urgência histórica, pois Lula estava para ser preso injustamente no maior processo de lawfare que o mundo havia conhecido. Assim que o livro foi finalizado e começou a circular, creio eu, pois as datas que aparecem no livro são de janeiro a março de 2018, Lula foi preso, em 5 de abril. 

Lula passaria 580 dias nas masmorras da República de Curitiba. Sofremos juntos todo esse período trágico de nossa história. Eu pelo menos sofri como nunca, sindicalista, dirigente eleito da classe trabalhadora, militante de esquerda há décadas, sofri de um tanto que acho que meu corpo morreu um pouco. Vivo hoje com o resto dele. Não só eu, muitos de nós morreram um pouco. 

Quando olho o que veio após esse processo infame do golpe contra a Dilma, a Lava Jato e a prisão de Lula para não ser eleito presidente em 2018, a chegada à presidência daquele verme miliciano e genocida, a destruição do Brasil nos quatro anos seguintes, a tristeza e a desesperança que se abateu sobre uma parcela da população do campo progressista e democrático, quando penso na parcela que não aderiu ao regime fascista e de morte, penso que todos morremos um pouco, ou adoecemos e as cicatrizes estão em nós, ou as cronicidades que nunca mais serão curadas, só controladas se bem tratadas.

Participaram da entrevista Juca Kfouri, Gilberto Maringoni e Maria Inês Nassif, além da Ivana Jinkings. E contribuíram com artigos e análises Luis Fernando Verissimo, Luis Felipe Miguel, Eric Nepomuceno, Rafael Valim e Luiz Felipe de Alencastro. O livro contém fotos preciosíssimas! Tudo em Lula é superlativo! Tudo!

Por que li este livro agora? 

Peguei o livro em minha estante porque ia ler o livro de Fidel Castro - A história me absolverá (1953) - e pensei que seria perfeito ler A verdade vencerá (2018) também. A história mostrou as razões e as certezas de Fidel Castro e Lula. Que homens fantásticos! Que figuras humanas! 

A história mostrou por que aqueles jovens liderados por Fidel tiraram do poder aquele ditador de merda em Cuba através da Revolução Cubana e a libertação de Cuba do jugo imperialista a partir de 1º de janeiro de 1959 (comentários sobre o livro de Fidel aqui) e a verdade venceu ao menos para desmascarar toda a farsa montada pela Lava Jato, operação organizada com apoio da casa-grande e do império norte-americano para interromper os avanços que a classe trabalhadora vinha auferindo com seu maior líder no poder, Lula.

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ALGUNS COMENTÁRIOS

A MALDITDA LEI DA FICHA LIMPA

"O que permitiu chegar a tal situação foi uma espiral punitivista que começou já nos governos do PT e se aprofundou após o golpe. Dois momentos foram especialmente importantes. Em 2010, o Congresso aprovou quase por unanimidade - e o próprio Lula, então na Presidência, sancionou - a Lei da Ficha Limpa, nascida de um projeto de iniciativa popular, cujo efeito líquido é determinar a tutela do Judiciário sobre a soberania do povo. Em meio ao entusiasmo frenético da mídia e de muitas organizações da sociedade civil, pouquíssimas vozes ousaram se erguer contra a lei. Ela determina que os cidadãos que tenham sido condenados por decisões colegiadas do Poder Judiciário não podem concorrer às eleições..." (p. 15)

Eu fui uma das raras vozes a se levantar contra essa porcaria de Ficha Limpa. Era dirigente nacional da Contraf-CUT e publiquei artigo me opondo a essa lei que era claramente uma armadilha para criminalizar a política, principalmente as lideranças do campo popular. Ver uma postagem minha sobre o tema no blog A Categoria Bancária (aqui).

O articulista, Luis Felipe Miguel, analisa o quanto esta lei é equivocada e poderia prejudicar a todos por causa de alguns. "O combate à impunidade de alguns justificaria a retirada de garantias de todos." (p. 16)

Numa singela postagem desta não dá pra fazer um monte de citações. Registro que o prefácio "A democracia a beira do abismo", de Luis Felipe Miguel, é espetacular. Ele cita a tese de André Singer sobre o Lulismo, analisa os mandatos do PT distribuindo renda e dando acesso aos bens da cidadania por parte dos governos do partido, mas sem politizar as pessoas.

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A ENTREVISTA

Ler a entrevista de Lula de fevereiro de 2018 neste momento do país sob os primeiros meses do 3º governo do presidente Lula (julho/2023) é algo muito interessante. Eu recomendaria o livro para muita gente caso eu fosse um "influenciador", recomendaria principalmente a sindicalistas e militantes dos movimentos de esquerda, incluindo o próprio PT.

Quando li o livro de Denise Paraná - Lula, o filho do Brasil (2002) - pude compreender melhor quem eu era e o que eu representava sendo um sindicalista da CUT, da corrente política Articulação Sindical e militante do PT. No blog tem 13 postagens sobre o livro, ver aqui.

Mesmo tendo passado muitos anos estudando e buscando compreender quem éramos, nós do Novo Sindicalismo, foi através das entrevistas de Lula e de seus familiares que pude entender melhor o Partido e a Central. O Lula repete bastante as questões centrais. Veja um exemplo abaixo da entrevista em 2018:

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"Juca Kfouri - Presidente, eu lhe perguntei sobre prisão e exílio. Mas queria voltar a esse assunto, porque é um dos temas mais urgentes do momento, ao lado da sua candidatura. O senhor está cogitando ser preso?

Lula - Estou. O que não estou é preparado para a resistência armada, nem tenho idade. Como sou um democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso tá fora. O PT não nasceu para ser um partido revolucionário, nasceu para ser um partido democrático e levar a democracia até as últimas consequências..." (p. 124)

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Comentário meu - Engraçado ver essa explicação do Lula ao se submeter a ser preso sem ter cometido crime algum. Eu sempre disse para meus familiares e para os bancários que representava que eu me tornara muito mais radical que o Lula e o PT. Que se eles eram de centro ou contra "comunismo" eles tinham que ser apoiadores do Lula e do PT justamente por causa dessa coisa paz e amor, cristã, sem revolução... Por mim, era revolução e paredão para a casa-grande (risos). Memórias...

Enfim, ao ler a entrevista do Lula em fevereiro de 2018, próximo de ser preso por aquela operação de lawfare para tirá-lo das eleições e tentar criminalizar e destruir o PT, vi um filme de minha vida sindical e política. Foi inevitável rever duas décadas de participação política na história do Brasil e do movimento sindical.

Como disse na introdução acima, às vezes me parece que as coisas da política e da vida passam a ser previsíveis, chatas, repetitivas. Ver o PT e o movimento sindical hoje, ver o andamento do governo Lula, ver como nosso presidente desenvolve suas estratégias e táticas porque sabemos bem quais são seus objetivos centrais é algo muito interessante. A gente sofre e a gente se resigna com algumas coisas. A gente fica puto com outras. A gente compreende e endossa, apoia o que vem sendo possível fazer no contexto atual do mundo.

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A entrevista e os artigos do livro são merecedores de leitura e estudos por parte ao menos da militância e dos interessados em compreender um pouco mais o presidente Lula e até o Partido dos Trabalhadores e o movimento sindical do campo cutista.

Eu preciso parar um pouco de ler esses livros de política e encarar uns dois ou três romances... sofro demais com essas leituras e me torno cada dia mais ranzinza e chato.

Essa foi a 23ª obra que li neste ano.

William


Bibliografia:

JINKINGS, Ivana. A verdade vencerá - O povo sabe por que me condenam: Luiz Inácio Lula da Silva. Org. de Ivana Jinkings com a colaboração de Gilberto Maringoni, Juca Kfouri e Maria Inês Nassif. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2018.


domingo, 23 de julho de 2023

Leitura: Nuestra América - José Martí



Refeição Cultural - Cuba (XXIX)

Osasco, 23 de julho de 2023. Domingo.


"Trincheras de ideas valen más que trincheras de piedras" (Martí)

Hoje li um dos textos mais importantes e significativos da América Latina e Caribe produzido nos últimos dois séculos - Nuestra América (1891) - de José Martí. O texto é espetacular!

Tenho várias edições de Nuestra América. A que tenho mais carinho e apreço é sem dúvida essa que ilustra a postagem, pois foi presente do senhor Luis Caballero, nosso amigo cubano da Casa de Isabel. Ganhei o livro quando estivemos lá entre abril e maio deste ano. Foi esta edição que li hoje.

José Martí.

UM CHAMAMENTO À LIBERDADE E AUTODERMINAÇÃO DOS POVOS DE NOSSA AMÉRICA

"Es la hora del recuento, y de la marcha unida, y hemos de andar en cuadro apretado, como la plata en las raíces de los Andes."

A história do texto é fundamental para entendermos as lutas de libertação, independência e autodeterminação dos povos da América Latina e Caribe. 

Uma leitura atenta aos argumentos de José Martí é o suficiente para vermos e entendermos figuras históricas de Nuestra América como Fidel Castro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ernesto Che Guevara, Hugo Chávez e outras figuras patriotas e que deram suas vidas pela autodeterminação de nossos povos das Américas.

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"GOBERNANTE, EN UN PUEBLO NUEVO, QUIERE DECIR CREADOR

Líderes como Fidel e Lula trazem consigo o conhecimento das necessidades de seu povo e seu país. Governos como os deles são diferentes de governos sem compromissos com o povo.

"(...) Resolver el problema después de conocer sus elementos, es más fácil que resolver el problema sin conocerlos. Viene el hombre natural, indignado y fuerte, y derriba la justicia acumulada de los libros, porque no se la administra en acuerdo con las necesidades patentes del país. Conocer es resolver. Conocer el país y gobernarlo conforme al conocimiento, es el único modo de librarlo de tiranías."

Martí e seu cavalo.

Pensem nessa figura, José Martí, um intelectual dos mais completos de Nuestra América - jornalista, educador, escritor, ensaísta, político, poeta -, que morreu sobre seu cavalo, no campo de batalha, lutando pela libertação de Cuba dos impérios invasores, tanto o espanhol quanto o norte-americano, pois ele já vislumbrava o que viria após a independência do jugo da Espanha.

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"El problema de la independencia no era el cambio de formas, sino el cambio de espíritu."

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Nesta semana, no dia 26 de julho, completam-se 70 anos do Assalto ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, tentativa dos jovens revolucionários liderados por Fidel Castro para libertar Cuba do jugo do ditador Fulgencio Batista, um golpista apoiado pelo imperialismo norte-americano. Essa história vocês podem conhecer lendo os argumentos de Fidel no clássico La historia me absolverá (comentário aqui).

A data 26 de julho de 1953 é muito importante para todos nós que lutamos por um mundo livre do capitalismo e do imperialismo. Fidel Castro e seus companheiros que não foram assassinados a sangue frio foram capturados, julgados e condenados. Mas os ideais martianos foram mais fortes e os revolucionários cubanos libertaram o país através da Revolução Cubana, façanha ocorrida entre o final de 1956 e 1º de janeiro de 1959.

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"El gobierno ha de nacer del país. El espíritu del gobierno ha de ser el del país. La forma del gobierno ha de avenirse a la constitución propia del país. El gobierno no es más que el equilibrio de los elementos naturales del país."

Em Nuestra América, José Martí tece várias críticas aos nossos compatriotas que ficam enaltecendo e defendendo ideias e culturas dos invasores ou de outros países e povos ao invés de termos amor-próprio e buscarmos soluções para nossos problemas com a nossa criatividade.

São muito atuais os ensinamentos de José Martí.

"'¿Cómo somos?' se preguntan: y unos a otros se van diciendo cómo son. Cuando aparece en Cojímar un problema, no van a buscar la solución a Dantzig. Las levitas son todavía de Francia, pero el pensamiento empieza a ser de América. Los jóvenes de América se ponen la camisa al codo, hunden las manos en la masa, y la levantan con la levadura de su sudor. Entienden que se imita demasiado, y que la salvación está en crear..."

Ao ler os pensamentos do apóstolo da liberdade de Cuba fica mais fácil entender por que o povo cubano desenvolveu ao longo dos séculos o sentimento de cubanidad e cubanía, um sentimento de amor-próprio, amor por sua Ilha e por sua cultura, uma postura altiva e soberana perante os demais países e povos do mundo.

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CENÁRIO COMPLEXO EM NOSSA AMÉRICA

Os cenários em Cuba e no Brasil são bem difíceis, são complexos. É preciso a unidade e a altivez que José Martí conclama em seu texto histórico.

Cuba vive hoje uma situação complexa por causa de diversos fatores. O embargo norte-americano é um ataque cruel e que fere frontalmente os direitos humanos porque está causando a miséria e a morte do povo cubano. Os bloqueios econômicos se tornaram armas letais e injustas contra países e suas populações. O bloqueio é um crime de lesa-humanidade.

Cuba enfrenta ainda problemas sérios relativos às mudanças climáticas, a Ilha e diversos países e povos do mundo sofrem com o aquecimento global. Só no ano passado, o país perdeu quase toda a sua produção de tabaco e a estrutura da indústria de exportação foi seriamente afetada por furacões. Cada receita perdida impacta diretamente na capacidade do país de atender às necessidades de seu povo.

O Brasil passou quase sete anos sob regimes golpistas e de destruição de todos os direitos sociais e das estruturas econômicas do país, e também sofreu uma forte destruição em seus biomas com a autorização do governo fascista de liberdade aos seus parceiros no golpe para destruírem tudo o que quisessem. 

Voltamos ao mapa da fome, a concentração de riqueza explodiu, poucas famílias detêm mais da metade do PIB do país. Mais de 2/3 dos parlamentares são inimigos do povo e representam o 1% dos ricos. A chantagem contra Lula é explícita e a grande imprensa está com a casa-grande, manipulam as informações como sempre fizeram. A pobreza e a falta de oportunidades são realidades que Lula encontrou ao voltar à presidência neste início de 2023.

O sujeito colocado no Bacen do Brasil que mantém uma taxa de juros de 13,75% ao mês está a serviço dos golpistas ainda. O Bacen está destruindo a economia nacional, é um bloqueio dos golpistas. Por isso inventaram a "autonomia", para trazer miséria ao povo e revolta e transferir a riqueza nacional para meia dúzia de fdp, gente lesa-pátria que odeia o Brasil e o povo brasileiro.

A pandemia mundial de Covid-19 afetou fortemente os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. O povo cubano e o povo brasileiro sofreram as consequências da pandemia, além dos efeitos econômicos e sociais do aquecimento global e dos ataques imperialistas, haja vista que o bloqueio a Cuba já dura 60 anos e haja vista que a operação Lava Jato e o golpe de Estado no Brasil tiveram participação e apoio do governo norte-americano.

Não vou me alongar no comentário. Diversos países de Nuestra América seguem sofrendo interferência em sua autodeterminação por influência direta ou indireta do império norte-americano e seus conglomerados com poder global.

Nuestra América é mais atual que nunca! Leiam, conheçam, debatam esse chamamento de José Martí. É necessária a unidade entre nós para defender nossos países latino-americanos e valorização de nossa gente e de nossa criatividade para lutarmos por uma América Latina e Caribe mais justos e soberanos.

William


Bibliografia:

MARTÍ, José. Nuestra América. Editorial de Ciencias Sociales y Centro de Estudios Martianos. La Habana, 2021.


sábado, 22 de julho de 2023

Leitura: Quatro anos nas sombras (2022)



Refeição Cultural

Osasco, 22 de julho de 2023. Sábado.


LER PARA PRESERVAR NOSSA HUMANIDADE

Ler, ler para preservar uma habilidade desenvolvida pelo animal humano há milhares de anos. Ler para preservar meu cérebro, a essência do que sou. A linguagem humana é inata, a escrita não é, ela é uma invenção da mente humana.

Ao observar o presente suspeito que chegará um dia no qual os humanos não lerão mais nada (a maioria, não a totalidade, como nos primórdios da escrita). Nem sei se os animais humanos não leitores desse suposto dia no futuro poderão ser chamados de homo sapiens como se deu no passado e no presente. 

Afinal, o que nos faz humanos? Uma das características que nos diferencia dos demais animais é o nosso cérebro de 86 bilhões de neurônios e nossa capacidade de linguagem. O cérebro humano e a sociedade humana deram um salto evolutivo quando a linguagem passou a ser registrada. 

E não estou sugerindo que as sociedades tradicionais e ou originárias ágrafas não eram compostas por homo sapiens. Todos os grupos humanos do passado e do presente participaram cada um à sua maneira da evolução da espécie humana. A evolução através da linguagem escrita se deu de forma diferente no planeta Terra.

Tem dias que eu consigo ler mais. Tem dias que eu quase não consigo ler. Tem dias que leio de forma insatisfatória, leio sem aquela concentração e reflexão que Paulo Freire ensina sobre a leitura (comentário aqui), sobre a qualidade da leitura (também aqui). No entanto, tento ler todos os dias, "aunque sean los papeles rotos por la calle" como nos conta Miguel de Cervantes, do clássico Don Quijote de la Mancha.

Enfim, ler é uma atividade fundamental para a nossa humanidade. Partilho da preocupação de alguns intelectuais sobre o futuro da espécie homo sapiens. Entendo que estamos emburrecendo por causa das tecnologias de comunicação atuais, estamos regredindo perigosamente como seres humanos. Estão sendo alteradas habilidades humanas como capacidade de linguagem, comunicação, criatividade e postura frente às grandes questões da espécie humana.

Se algo não for feito por nós mesmos, humanos, caminharemos para ser meio bovinos, meio galinhas, seres digitais autômatos e sem criatividade, massas humanas manipuladas por poucos como se fôramos gados em cercados. Quase humanos-baterias de um sistema capitalista global totalitário, como aquela clássica cena do filme Matrix.

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PERPLEXIDADE E ESPERANÇA

A leitura neste momento histórico - seis meses do 3º governo Lula - do livro coletivo Quatro anos nas sombras, produzido em meados de 2022 por diversos autores e autoras e organizado por Cleusa Slaviero, foi uma leitura para relembrar a tragédia recente pela qual nosso país passou sob o poder de facínoras degenerados como os do clã de milicianos que ocupou o poder até o ano passado.

A leitura foi também uma comunhão de esperança num amanhã de reconstrução. Nada nada, o livro reúne umas trinta pessoas que leem, escrevem, se preocupam com o presente e o futuro, e pensam a vida em comum na coletividade humana.

A maior parte dos textos são textos que descrevem a situação vivida entre os anos de 2019 e 2022 no Brasil, são textos nos quais autoras e autores confessam suas perplexidades ao nos depararmos com um caos jamais imaginado por pessoas com um mínimo de razão e formação cultural. Caos que vivemos no Brasil de Bolsonaro e das bestas-feras que invadiram nossas vidas e nossos espaços vitais.

Alguns textos me fizeram refletir bastante, olhando o ontem e pensando o presente e um possível amanhã. 

Conheço alguns articulistas e gostei dos textos em geral, mas cito o texto da companheira Miriam Shibata, "Carta para o futuro", achei muito legal. Também compartilho a tese das "Mentes capturadas" como nos conta a companheira Marisa Stedile.

O texto que fiz como contribuição refletiu um pouco sobre a esperança (ou desejo) de voltarmos a viver um mínimo de sociabilidade entre as pessoas no cotidiano de nossas vidas, sejam elas bolsonaristas e ou extremistas de direita, sejam elas do nosso campo humanista. Deixo abaixo meu texto para aqueles que não tiveram acesso ao livro.

Esse foi o 21º livro que li neste ano. Estou variando bastante os textos lidos para estimular a minha mente a seguir ativa e atuante.

William


Bibliografia:

SLAVIERO, Cleusa (org.). Quatro anos nas sombras. 1ª edição. Curitiba, PR. Compactos, 2022. 

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UM NOVO BRASIL

Voltei de uma viagem de mais de 3.000 Km pensando a respeito do tema do livro coletivo que decidimos escrever abordando o período de destruição que vivemos após o golpe de Estado em 2016 e as eleições fraudulentas de 2018 que colocaram nos poderes do Estado brasileiro as piores representações políticas de nossa história. O Mal tomou de assalto o poder e desde então foi só destruição, tristeza coletiva e desesperança no presente e no futuro.

A viagem que empreendi foi um compromisso com minha mãezinha de levá-la para visitar o irmão caçula no Estado do Mato Grosso. Como após o golpe as passagens aéreas se tornaram impossíveis para nós da classe trabalhadora, precisei viajar de carro por essas estradas da vida brasileira. Não tenho o hábito de dirigir e tive que buscar em mim a atitude de fazer o que tinha que ser feito.

Os quatro anos de hegemonia do Mal no poder central do país destruiu tudo, inclusive as relações familiares e de convivência entre as pessoas. 

Nesta viagem que empreendemos, tive a oportunidade de rever pessoas queridas da família que não via há anos, separação ocorrida muito por causa do ódio e da intolerância adotados como política de governo porque é impossível como seres humanos não sofrermos as consequências de uma política feita para dividir, incentivar a violência, estimular o que há de pior em cada um de nós, seres sociais influenciáveis pelos ambientes nos quais vivemos.

Se tudo correr bem nas eleições de outubro de 2022, e conseguirmos eleger novas representações políticas – pessoas do campo progressista e popular – teremos um grande desafio no dia seguinte ao resultado das urnas. Se Lula for eleito e se tivermos um bom número de governadores e representantes dos poderes legislativos do campo da esquerda e da classe trabalhadora teremos que trabalhar muito para pacificarmos minimamente o país, começando por nós mesmos, sim, porque tod@s nós estamos envenenados por esse ódio e essa intolerância que não nos permitem a convivência com o diferente, com as pessoas que não compartilham nossas visões de mundo.

A simples necessidade de viajar para rever familiares por questões de saúde me colocou diante de desafios aparentemente lhanos, comezinhos, de encontrar parentes dos quais nos afastamos por questões políticas. 

O coração apertou muito nos momentos que antecederam os encontros. Como seria reencontrar na casa de meus pais em Minas Gerais tias e primos que não via há anos? Depois a mesma sensação ao reencontrar em Goiás mais familiares distantes há tanto tempo. E por fim, mais familiares no Mato Grosso. Alguns dos encontros foram inevitáveis, não programados, não controlados. E, felizmente, correu tudo bem. Os encontros me deram um gostinho de um Brasil que eu queria de volta, de laços fraternos, de amizade, de amor.

Estamos todos muito carentes, isolados, com o peito apertado, garganta entalada, olhos marejados. Estamos sós, estamos deprimidos. Estamos com vontade de abraços. Ainda tivemos nesses quatro anos nas sombras uma pandemia mundial que parece ter facilitado a vida da extrema-direita em nos dividir, amedrontar, isolar-nos em nossos cantos-mundo de forma a só termos contatos virtuais com as mentiras e as sementes de ódio que nos chegam por redes sociais envenenadas de intolerância. Estamos carentes de amor, de acolhimento, de solidariedade.

Ao retornar dessa viagem de família e de reencontros, me bateu no peito um desejo de um novo Brasil, de um novo ambiente de convivência fraterna e cooperativa entre nós todos, povo brasileiro. 

Ao perguntar pela saúde de nossos entes queridos e saber que não estão bem, bateu uma vontade de superar os muros que nos separaram desde o golpe e desde a ascensão desse regime do Mal e trabalhar nosso Eu mais profundo de forma a tomar coragem e ir visitar nossos familiares e pessoas de relações rompidas por causa do que nós todos nos tornamos após essa tragédia política que se abateu sobre nós.

No coração bate um desejo de rever pessoas afastadas há muito tempo e dar um abraço de solidariedade por tudo o que estamos enfrentando. Talvez o ato de tomar coragem e se preparar para reencontros seja um ato de esperançar, e nada será fácil e simples, pelas diferentes visões de mundo, mas se na palavra defendemos a alteridade e a tolerância, cabe a nós tentarmos exercitar a prática como critério da verdade. Lutemos para que nasça um novo Brasil e uma sociabilidade acolhedora entre nós.

O retorno da sociabilidade entre nós é um pouco do que desejo e do que devo buscar para um novo Brasil, um novo governo e uma nova convivência entre nós, povo brasileiro.

William Mendes

Do Blog Refeitório Cultural

Osasco - SP


quinta-feira, 20 de julho de 2023

Os miseráveis - Victor Hugo (IX)



Refeição Cultural

Osasco, 20 de julho de 2023. Quinta-feira.


Após uma noite fria, levantei-me por volta de onze horas. Estava com fome. Fome? Por acaso, eu sei o que é fome para dizer que estava com fome? Francamente, não sei o que é fome. Toda vez que a barriga rói, algo biológico de meu corpo animal, sinto uma espécie de vergonha porque posso saciar a fome quando e como quiser... milhões de irmãs e irmãos brasileiros não podem. 

Milhões de pessoas no mundo estão com fome neste momento. E não é por falta de comida disponível. É por decisão política dos homens. É o capitalismo, comida não é comida, comida é mercadoria no capitalismo.

Pensei no Henrique, um ser humano que fica pelas ruas aqui da região. Como terá passado a noite? Como saber? Será que já comeu alguma coisa hoje?

Após um banho quente para destravar o corpo, fui buscar pão. Com a moeda, o meio de troca no capitalismo, fui até a padaria adquirir essa mercadoria, pão. O valor de uso do pão é ser alimento, comida. 

Num dos faróis estava aquele senhor dos cachorros. Outro ser humano que fica pelas ruas da região. Ele tem vários cachorros. Hoje, ele está no farol onde normalmente fica outro rapaz pedindo dinheiro com uma plaquinha e um copinho balançando moedas.

Comecei a leitura do livro dois da primeira parte "Fantine", de Os miseráveis. No cenário do romance de Victor Hugo, o capitalismo está em sua primeira fase na França, no período após a Revolução Francesa, a burguesia e os demais grupos de poder disputam espaço. Os pobres, os miseráveis, seguem se ferrando como sempre ao longo dessas disputas de poder na parte de cima da sociedade de reis, nobres, igreja e burguesia.

No cenário frio dos alpes aparece a figura de um andarilho, cabeça raspada, roupas surradas, um saco nas costas, chegando a Digne e tentando se hospedar e comer alguma coisa, está faminto. O narrador diz que ele deve ter pouco menos de 50 anos.

O andarilho tentou se hospedar por três vezes e pagar por um prato de comida. Foi escorraçado e não conseguiu hospedagem nem comida. Está faminto e com frio. O nome do andarilho é Jean Valjean.

"Depois que transpôs a cerca, não sem dificuldade, vendo-se outra vez no meio da rua, só, sem asilo, sem teto, sem abrigo, expulso até daquela cama de palha e daquela miserável casinha de cachorro, mais deixou-se cair do que sentou-se sobre uma pedra, e parece que alguém que passava o ouviu exclamar: 'Nem sequer sou um cão!'" (p. 108)

A fome. Os miseráveis...

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PRIMEIRA PARTE - FANTINE

LIVRO 2: A QUEDA

I. O fim de um dia de caminhada

Este é o capítulo no qual os leitores conhecem Jean Valjean. 

"(...) Era um homem ainda no vigor da idade, robusto, encorpado, de estatura mediana. Poderia ter uns quarenta e seis ou quarenta e oito anos. Escondia-lhe parte do rosto, queimado pelo sol e pelo calor, e banhado de suor, um boné de pala de couro (...) na mão, um enorme cajado nodoso; os pés sem meias calçando sapatos ferrados; a cabeça rapada e uma longa barba." (p. 99)

Já descrevi acima a forma lamentável como foi tratado na cidade de Digne.

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II. A prudência aconselhada pela sabedoria

Neste capítulo, vemos como a igreja e seus dogmas dominaram por séculos a nossa vida, sendo religiosa ou não a pessoa no mundo ocidental.

O bispo de Digne reflete sobre um livro chamado "Deveres" e a importância dele para padres e doutores determinarem os deveres de todo mundo na sociedade.

A descrição é de um cenário do início do século 19 na França. O cenário no qual o senhor Myriel demonstra como os dogmas da igreja pautam a sociedade humana daquela época poderia ser repetido para demonstrar que aqueles dogmas ainda valiam para o mundo no qual nasci em 1969 no Brasil. É mole?

"(...) O livro dividia-se em duas partes: a primeira tratava dos deveres de todos, a segunda tratava dos deveres de cada um, segundo a classe a que pertence. Os deveres de todos são os principais. Há quatro que são os indicados por São Mateus: deveres para com Deus (Mt 6), deveres para consigo mesmo (Mt 5, 29-30), deveres para com o próximo (Mt 7, 12), deveres para com as criaturas (Mt 6, 20-25). Quanto aos outros deveres, o bispo os havia encontrado indicados e prescritos em outras fontes; aos soberanos e aos súditos, na Epístola aos Romanos; aos magistrados, às esposas, às mães e aos jovens, em São Pedro; aos maridos, aos pais, aos filhos e aos criados, na Epístola aos Efésios; aos fiéis, na Epístola aos Hebreus; às virgens, na Epístola aos Coríntios. Com todas essas prescrições, ele formava laboriosamente um todo harmônico, que tencionava apresentar às almas." (p. 110)

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III. Heroísmo da obediência passiva

Neste capítulo, Jean Valjean entra na casa do religioso e se apresenta.

"- Bem, meu nome é Jean Valjean. Era presidiário, passei dezenove anos na cadeia. Fui liberado há quatro dias e estou indo para Portarlier, que é meu destino. Quatro dias andando desde Toulon. Hoje andei doze léguas a pé. No fim da tarde, chegando a este lugar, fui a uma hospedaria, mas mandaram-me embora por causa do passaporte amarelo que eu tinha apresentado na prefeitura. Era preciso. Fui a outra pousada; disseram-me: 'Vá embora!' Assim, tenho andado de um lado para o outro, sem que ninguém queira acolher-me. Bati à porta da cadeia, o carcereiro não quis abrir. Entrei numa casinha de cachorro; o cão me mordeu e expulsou como se ele fosse um homem; diriam até que ele sabia quem eu era! (...) Estou muito cansado, doze léguas a pé... e com bastante fome. Posso ficar?" (p. 114)

E ele foi aceito naquela casa, foi convidado a se sentar para cear e a dormir numa cama com lençóis limpos.

No passaporte daquele homem vinha escrito:

"Jean Valjean, condenado libertado, natural de... (isso é indiferente para vocês), passou dezenove anos na prisão. Cinco anos por roubo com arrombamento, catorze por tentar quatro vezes evadir-se. É um homem muito perigoso". (p. 115)

Jean Valjean foi preso e condenado por roubar um pão para alimentar sua irmã viúva e sete crianças pequenas... ele tinha uns 25 anos de idade.

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IV. Pormenores sobre as queijarias de pontarlier

Neste capítulo, a irmã do bispo de Digne, a senhorita Baptistine, troca carta com uma amiga e descreve detalhes do que aconteceu naquela noite na qual Jean Valjean foi acolhido na casa deles.

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V. Tranquilidade

Neste capítulo, o bispo de Digne acompanha o hóspede até seu quarto para descansar numa cama decente, coisa que Jean Valjean não fazia há dezenove anos.

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Comentário

A partir daqui, passamos a acompanhar um dos mais carismáticos personagens da literatura mundial. Um homem simples que passou a maior parte da vida preso por causa de uma côdea de pão subtraída de um estabelecimento comercial para saciar a fome de sobrinhos e da irmã viúva.

Jean Valjean é como uma dessas pessoas de nossa atualidade que acaba sendo presa e condenada por roubar uma barra de chocolate ou um pacote de bolacha. Mais de um terço dos mais de 800 mil presos no Brasil não foram julgados nem condenados. 

Mas são pessoas como Jean Valjean... se chegarem a ser julgadas serão condenadas pois a justiça deve ser implacável no capitalismo com a questão da "corrupção" praticada pelos pobres e miseráveis. Há que se dar o exemplo...

A fome... ontem e hoje. Dois séculos depois do cenário do romance de Victor Hugo, milhões de seres humanos passam fome. 

É o capitalismo que determina por questões políticas que comida não é comida, é mercadoria, é capital.

Que desgraça isso! "Miséria miséria, em qualquer canto..."

William


Post Scriptum - Para ler o texto anterior sobre essa leitura, é só clicar aqui. O comentário seguinte sobre o clássico pode ser lido aqui.


Bibliografia:

HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução de Regina Célia de Oliveira. Edição especial. São Paulo: Martin Claret, 2014.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Viagem a Cuba (VIII)

Capitólio Nacional com sol nascendo
atrás do Gran Teatro Alicia Alonso.
 

Refeição Cultural - Cuba (XXVIII)

Osasco, 18 de julho de 2023. Terça-feira.


Estivemos em Cuba por duas semanas neste ano e a experiência foi marcante para nós. Nosso grupo com oito pessoas ficou a metade do período em Havana e a outra metade da viagem deixamos para conhecer três cidades cubanas: Trinidad, Santa Clara e Varadero.

Nossa estadia foi em casas de cidadãos cubanos, num sistema de hospedagem autorizado pelo governo da Ilha. Nossa hospedagem e suporte para todas as demais estadias e viagens pelo país foi a partir da Casa de Isabel, que fica ao lado do Capitólio Nacional, excelente localização em Havana Velha.

Casa de Isabel, azul, ao lado do Capitólio.

Em Havana, nosso grupo teve a oportunidade de fazer um roteiro cultural com o senhor Luis Caballero por Havana Velha e a experiência foi muito legal. Além da simpatia acolhedora de Luis e de Isabel, no roteiro recebemos informações fundamentais para compreender a história de Cuba e da Revolução que libertou o povo da ditadura de Fulgencio Batista e do imperialismo que dominava a Ilha até 1958.

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Escola onde José Martí estudou.

HAVANA VELHA

Antes de irmos ao Museu da Revolução, andamos por ruas diversas de Havana Velha, fomos à escola onde José Martí estudou quando criança: Escuela Primaria Rafael María de Mendive. Estava fechada naquele momento. 

Paseo del Prado.

Andamos pelo Paseo del Prado, belíssimo! Soubemos que o local era bem mais arborizado, de fora a fora, mas as árvores foram escasseando por idade ou por eventos climáticos e hoje existem menos árvores ao longo do passeio. Ele tem um calçamento lindo. 

Saguão do Hotel Sevilla.

A imagem das crianças uniformizadas conversando ou brincando em grupos é encantadora. A educação e a pedagogia em Cuba são centrais na formação de homens e mulheres. Sem dúvida, o sentimento de cubanidad e a cubanía passam pela educação na Ilha. Aprendi isso lendo o livro da professora Maria Leite.

Eusebio Leal, o Historiador.

Nosso guia, o senhor Luis Caballero, nos levou ao Hotel Sevilla, um dos mais antigos de Cuba e vimos a beleza interna do saguão do hotel. Inaugurado em 1908, situado na Calle Trocadero, região do Paseo del Prado, o local já pertenceu à máfia, antes da Revolução. 

Pátio interno do Palacio de los Generales.

Passamos pela Casa de Gobierno y Palacio Municipal (Palacio de los Capitanes Generales), fortaleza enorme que atualmente é o Museu da Cidade, fortaleza na qual temos na frente a estátua do senhor Eusebio Leal Spengler, historiador importante para Cuba e o regime socialista, defensor da manutenção da história arquitetônica da Ilha.

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Museo de la Revolución.

MUSEO DE LA REVOLUCIÓN

O ponto alto de nosso 6º dia em Havana foi o Museo de la Revolución e todo o complexo ao redor. Esse dia, uma terça-feira após o feriado de 1º de Maio, foi o último dia na cidade antes de partirmos para as outras cidades que iríamos conhecer na semana seguinte.

Artefatos de conquista e defesa da Revolução.

Nos dias anteriores, já havíamos conhecido o Capitólio Nacional, já havíamos conhecido a Fortaleza San Carlos de la Cabaña e a cerimônia "Cañonazo de las nueve", e já havíamos andado sob a orientação do senhor Luis pela região central de Havana Velha. Um dos locais que o nosso grupo visitou e que nos impactou muito foi o Centro Fidel Castro Ruz, quanta história ali! Não deixem de visitá-lo quando forem a Cuba.


O Museu da Revolução e os seus anexos são de visita obrigatória. Infelizmente não pudemos entrar no palácio porque está fechado para reforma. Espero conhecê-lo melhor quando voltar a Cuba.

Iate Granma.

O anexo que contém o iate Granma e peças e armas da guerra revolucionária e de defesa da soberania cubana é impactante para os visitantes.

Tanque T-34 usado por Fidel contra os
mercenários na tentativa de invasão (1961)*.

Nosso guia, o senhor Luis Caballero, nos explicou a história de cada artefato presente no pátio do anexo. 

*Tanque T-34 - Considerado el mejor de su tipo en la II Guerra Mundial. Utilizado por Fidel Castro durante las acciones de Playa Girón. Desde él, disparó contra el buque "Houston", una de las naves norteamericanas que dio cobertura a las fuerzas mercenarias. (legenda local)


No Memorial Granma se encontram restos de aparelhos de guerra, inclusive um pedaço de um avião inimigo utilizado na tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 19 de abril de 1961, invasão com mercenários patrocinada pela CIA e burguesia cubana e rebelada pelos revolucionários com o apoio do povo cubano naqueles dias de luta por sua soberania.


A emoção toma conta da gente ao ver de perto o iate Granma que saiu de Tuxpan no México em 2 de dezembro de 1956 e trouxe 82 combatentes revolucionários para iniciar a vitoriosa libertação de Cuba, conquistada em 1º de janeiro de 1959.

Palácio e museu visto a partir da praça.

Depois conhecemos a praça que fica diante do palácio e que por anos recebeu multidões de cubanos ouvindo seus líderes revolucionários, principalmente o Comandante Fidel Castro.

Prédio lateral onde um bandido foi
pego com uma bazuca num comício.

Os imperialistas e os burgueses locais planejaram ao longo de décadas centenas de atentados para assassinar o líder cubano Fidel Castro e felizmente nunca obtiveram êxito. Fidel faleceu aos 90 anos de idade, de causas naturais, após dedicar a vida à libertação e soberania de seu país e seu povo.


O senhor Luis Caballero nos contou algumas tentativas frustradas de atentado contra Fidel Castro. Em uma delas, os bandidos estavam no prédio ao lado do Palacio de la Revolución, de onde Fidel fazia um discurso e seria morto por um tiro de bazuca, mas os bandidos foram descobertos e tudo terminou bem.

José Martí, o Apóstolo.

Na praça do Museu da Revolução temos ainda uma imponente estátua de José Martí. Magnífica! Por onde se vá em Cuba, temos ao nosso lado uma estátua ou busto do Apóstolo, símbolo máximo da liberdade e soberania do povo cubano.

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Nosso querido grupo e o senhor Luis.

Após uma manhã repleta de novos conhecimentos a respeito da história inspiradora do povo cubano, almoçamos no restaurante A Prado y Neptuno, um local de comida boa e com preços acessíveis.

Quando fui para Cuba pensei em conseguir correr ao menos um dia em Havana. A agenda de passeios e roteiros a cumprir dificultou a realização de meu trote de meia hora. Minha ideia inicial era correr no calçadão do Malecón.

Atividade física ao redor do Capitólio.

Como não foi possível correr no Malecón, apesar de termos andado por lá duas vezes, meu filho e eu, só consegui realizar meu desejo de correr em Havana na noite anterior de nossa partida para outras cidades.

Imaginem vocês, que coisa gostosa! Corri ao redor do Capitólio Nacional de Cuba. Corri num calor intenso e úmido na noite de 2 de maio de 2023. Foi um instante legal da viagem.

Alvorada cubana.

No dia seguinte, partimos cedo para Trinidad, onde passaríamos dois dias.

SIGO CONHECENDO CUBA E APOIANDO O POVO CUBANO

Aos poucos, sigo estudando sobre Cuba e os cubanos, e revivendo nossa viagem para buscar compreensão. 

Revolução é...

Já li dois dos livros que trouxe de lá: La historia me absolverá, de Fidel Castro (comentário aqui), e Evocación, de Aleida March (comentário aqui). Tenho uma dúzia de livros de lá para serem lidos ainda. 

Estou lendo o livro esclarecedor da professora Maria Leite - Cuba insurgente: Identidade e Educação. Entendi os conceitos de Cubanidad e Cubanía lendo os ensinamentos da especialista da pedagogia em Cuba.

É isso. Deu um trabalhão fazer essa postagem (risos). A anterior pode ser lida clicando aqui. Os textos sobre Cuba são minha contribuição para as pessoas interessadas no tema.

A postagem posterior, a de nº 9, pode ser lida clicando aqui.

- Fim do bloqueio criminoso, já!

William