quarta-feira, 29 de julho de 2020
Nossos "Eichmann" também serão julgados
Leitura feita sob a máscara do imprecador...
"(...) e quanto a sua consciência, ele se lembrava perfeitamente de que só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam - embarcar milhões de homens, mulheres e crianças para a morte, com grande aplicação e o mais meticuloso cuidado. Isso era mesmo difícil de engolir. Meia dúzia de psiquiatras haviam atestado a sua 'normalidade' - 'pelo menos mais normal do que eu fiquei depois de examiná-lo', teria exclamado um deles, enquanto outros consideravam seu perfil psicológico, sua atitude quanto a esposa e filhos, mãe e pai, irmãos, irmãs e amigos, 'não apenas normal, mas inteiramente desejável'..." (ARENDT, 2019, p. 37)
Refeição Cultural
Negar água para as comunidades indígenas; "passar a boiada" frase dita num contexto de se aproveitar da tragédia humanitária da pandemia de coronavírus para facilitar a destruição da Amazônia; vetar projetos que facilitem o acesso a medicamentos por parte de pessoas do grupo de risco de morte pela Covid-19; não utilizar sequer os recursos disponíveis no orçamento público para combater a pandemia que já infectou 2,5 milhões de pessoas no país, e já matou perto de 88 mil...
São muitas as ações desumanas e criminosas da burocracia do mal que se instalou no poder do país chamado Brasil, um país que sofreu um golpe de Estado para interromper um processo político e democrático que vinha melhorando a vida do povo brasileiro (Gini do Brasil havia melhorado de 58,6 em 2002 para 52,9 em 2013) e havia melhorado a imagem do país perante o mundo.
A soberania nacional e orgulho de ser brasileiro foram destaques da política pacifista de um partido criado nos anos oitenta para representar a classe trabalhadora sem revoluções ou rupturas, um partido criado para apostar na organização das pessoas e a partir de processos eleitorais implantar medidas que incluíssem os pobres no orçamento e na política de municípios, estados e do país. O Partido dos Trabalhadores vinha fortalecendo a democracia como nunca se vira, e em paz, repito.
Não vou me alongar. As pessoas descentes e honestas sabem do que estou falando. Os cínicos vão dizer o que já sabemos... "mas o PT..."
Solto minha imprecação. Os burocratas no poder, que estão praticando o mal contra as pessoas e contra o nosso país, vão pagar pelo que estão fazendo. Nossos "Eichmann" estarão em bancos de réus no amanhã. Afinal, o amanhã sempre vem, enquanto o mundo existe. Após as noites, longas ou curtas, vêm as manhãs...
Aliás, nossos conhecidos que apoiam, endossam, têm gozo ao ver o mal praticado por essa gente no poder, eles também serão julgados. Nem que seja pela história, serão julgados amanhã pelo olhar, pelo desprezo daqueles que saberão que eles apoiaram todo esse mal.
William
O imprecador
Bibliografia:
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. Companhia das Letras, São Paulo, 2019.
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terça-feira, 28 de julho de 2020
Lendo Eichmann em Jerusalém - Hannah Arendt
Leitura feita sob a máscara do imprecador...
Refeição Cultural
Comprei o livro de Hannah Arendt em agosto de 2019. Já estávamos sob o novo regime no Brasil. O subtítulo do livro é "Um relato sobre a banalidade do mal". Não sei por que esse subtítulo me coçou a mão ao ver o livro na livraria. Comprei e comecei a ler. Cheguei a ler três capítulos e parei como faço com tantas obras.
As coisas pioraram muito do ano passado para cá. Se já estávamos sob o regime do mal, agora estamos sob os efeitos do regime do mal e o mundo ainda passou a enfrentar desde o início do ano uma pandemia mundial que piorou drasticamente a vida do povo pobre, do povo explorado e humilde, e as coisas não poderiam ser piores. A pandemia de Covid-19 facilitou a vida dos capitalistas. Ficaram 34 bilhões mais ricos no Brasil nesses meses de pandemia. O povo ficou mais miserável e se lascou com o golpe que tirou o Partido dos Trabalhadores do poder.
O regime do mal no Brasil está avançando com seu projeto e até o momento não se acumularam forças populares internas para barrar o avanço do mal e reverter tudo o que estão destruindo. Direitos trabalhistas e previdenciários foram perdidos. As empresas públicas seguem sob destruição e ameaça de desfazimento. Saúde e educação são alvos preferidos do regime do mal. A Amazônia e outros biomas e os povos indígenas estão sendo extintos.
Esta destruição de tudo é projeto do regime do mal que se instalou no Brasil. A pandemia só veio a facilitar a vida dos fascistas no poder. Ao vermos os desumanos que controlam o novo regime agindo contra as recomendações mundiais de quarentena e isolamento social, vemos que o vírus passou a ser estratégico para o regime: o vírus contamina e mata os segmentos da população que os poderosos mais odeiam: pretos e pobres, doentes e idosos. Não à toa, o governo não usa sequer a verba destinada à pandemia e deixa um país continental sem insumos básicos no Sistema Único de Saúde.
Os índices da pandemia mostram que são os mais pobres e com menores recursos que mais se contaminam e morrem; quanto mais rico e com mais recursos, menos morte. Quem tem plano de saúde privado, tem mais chance; quem depende da saúde pública com orçamento congelado, tem menos chance. Menos de 25% da população tem algum plano de saúde no Brasil. Quanto mais o vírus contaminar e matar pessoas idosas pobres e pessoas afastadas por problemas de saúde, menos gasto o Estado terá com essa parte da população. O vírus se tornou uma oportunidade para o novo regime do mal.
CONCLUSÃO, o relato acima me leva a crer que os criminosos que estão no poder em nosso país serão julgados e condenados em algum momento da história; é o que penso e ao olhar para a história da humanidade temos vários exemplos de contextos como esse.
O primeiro capítulo do livro de Arendt, descreve o cenário político em que se deu a captura e o julgamento do nazista Adolf Eichmann, quinze anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial. As coisas já estavam meio "pacificadas" em relação aos crimes de guerras e genocídios praticados pelos nazistas. Tinha nazista de alto escalão que só tinha pego 4 anos de prisão por matar 15 mil judeus, 40 mil judeus etc. O julgamento de Eichmann reacendeu a discussão sobre o mal praticado como ato cotidiano por pessoas nas estruturas do poder.
Quando a gente vê frases como aquela do sujeito "ministro" com seus planos de "passar a boiada" e destruir a Amazônia; quando a gente vê aquele outro "ministro" que destruiu a educação do país; quando a gente vê presidente de banco dando carteira de crédito a 10% do valor para o amigo "ministro"... e quando a gente vê as coisas do inumano no poder e as coisas que cercam seu clã...
Uma hora o vento vai virar e o mundo civilizado terá tribunais internacionais existentes ou criados para julgar crimes cometidos na América Latina após a onda de lawfare que derrubou governos democráticos no início do século XXI e instalou regimes de destruição e mortes. Essa gente vai pagar por tudo isso que estão fazendo conosco. É uma imprecação.
Estou fazendo como o imprecador no livro de René-Victor Pilhes. Vou ver esses caras caírem. Serão julgados e condenados por seus crimes contra os índios, contra a natureza, contra o povo, contra o patrimônio nacional.
Mesmo que eu indivíduo não veja, meus pares vão ver, minha geração vai ver esses caras condenados.
William
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domingo, 26 de julho de 2020
Estudo de línguas - Língua Japonesa (IV)
Estamos em julho do ano em que o mundo mudou após o aparecimento de um vírus que se espalhou rapidamente e até o momento alterou a vida em todo o planeta, o novo coronavírus: Covid-19. Ano de 2020.
Dia desses, ao ouvir pela internet uma garota que fala diversas línguas, Anna Murakawa (além de ótima violinista, ela tem vídeos sobre aprendizagem), ela explicava que uma coisa importante para o aprendiz é ter claro o motivo pelo qual ele decidiu aprender um novo idioma.
Ao olhar para trás e fazer o exercício de definir o motivo pelo qual comecei a aprender a língua japonesa, vejo que o motivo não está muito claro, o que não é bom.
Pensei em estudar japonês por ser uma língua bem diferente da minha. Pensei nos desenhos dos ideogramas e entendi que aprender essa linguagem poderia melhorar meu cérebro cinquentenário, exercitar meus neurônios e desenvolver minha inteligência.
Mas isso é suficiente para manter o esforço em aprender japonês? Aparentemente, posso substituir o estudo dessa língua por outras atividades e alcançar o mesmo objetivo. Então, pode ser que meu desejo esteja sendo insuficiente para avançar mais rápido, no sentido inclusive de maior dedicação.
Aprender japonês também pode ser interessante para mim porque passei a assistir animes com nosso filho, uma forma de interagir com ele em época tão difícil de manter contatos com as pessoas, inclusive as mais próximas.
O ser humano está cada vez mais centrado em si mesmo, fisgado pelas coisas virtuais e sem paciência para coisas das épocas mais antigas, quando não havia toda essa tecnologia capturadora de humanos, e os humanos apenas ficavam juntos e conversavam.
Mas o motivo também é insuficiente para manter a energia necessária para esse aprendizado, pois já vemos os animes com legendas.
Eu sonhei em ser poliglota, por ser poliglota, porque dizer que tinha esse desejo para realizar diversas coisas não seria verdade.
Se comparar com antes, sei alguma coisa hoje. Meses atrás não sabia nada. Agora já conheço os alfabetos e sei fazer as lições do curso online que faço. A matéria que passei a fazer na faculdade complicou um pouco minha condição de aprendiz porque eu estava estudando por conta em curso pela internet e o ritmo era o meu.
Na faculdade é tudo programado e tem que ser cumprido. Neste momento em que estamos fechando o semestre, já não estou acompanhando bem o conteúdo. O fato de o curso ser à distância (EAD) não é desculpa nenhuma. Agora eu sei o que sofrem as pessoas que não sabem matemática ou outra matéria e sofrem porque falta a elas o básico que perderam em algum momento para trás.
Enfim, nas dificuldades a gente acaba parando para refletir um pouco sobre os porquês das coisas. Estou meio perdido, mas isso é normal em seres humanos que não são autômatos. Se temos dúvidas, talvez seja porque ainda pensamos. Que bom!
----------------------
Post Scriptum (28/7/20):
Quando falo que comparado com a etapa anterior eu já estou melhor, é porque já identifico sentenças com as estruturas da língua japonesa como as sentenças abaixo, com kanji, hiragana e katakana, com partículas que atuam na sintaxe e influenciam na semântica das expressões; mas ainda me falta autonomia para conseguir me comunicar e expressar pensamentos inteiros. Mas é melhor estar onde estou neste momento do que estar no ponto onde iniciei a jornada, quando não sabia nada.
図書館で漢字の辞書を借りる。
Pego emprestado um dicionário de kanjis na biblioteca.
この [ 新しい 家 ] は広い。
Dia desses, ao ouvir pela internet uma garota que fala diversas línguas, Anna Murakawa (além de ótima violinista, ela tem vídeos sobre aprendizagem), ela explicava que uma coisa importante para o aprendiz é ter claro o motivo pelo qual ele decidiu aprender um novo idioma.
Ao olhar para trás e fazer o exercício de definir o motivo pelo qual comecei a aprender a língua japonesa, vejo que o motivo não está muito claro, o que não é bom.
Pensei em estudar japonês por ser uma língua bem diferente da minha. Pensei nos desenhos dos ideogramas e entendi que aprender essa linguagem poderia melhorar meu cérebro cinquentenário, exercitar meus neurônios e desenvolver minha inteligência.
Mas isso é suficiente para manter o esforço em aprender japonês? Aparentemente, posso substituir o estudo dessa língua por outras atividades e alcançar o mesmo objetivo. Então, pode ser que meu desejo esteja sendo insuficiente para avançar mais rápido, no sentido inclusive de maior dedicação.
Aprender japonês também pode ser interessante para mim porque passei a assistir animes com nosso filho, uma forma de interagir com ele em época tão difícil de manter contatos com as pessoas, inclusive as mais próximas.
O ser humano está cada vez mais centrado em si mesmo, fisgado pelas coisas virtuais e sem paciência para coisas das épocas mais antigas, quando não havia toda essa tecnologia capturadora de humanos, e os humanos apenas ficavam juntos e conversavam.
Mas o motivo também é insuficiente para manter a energia necessária para esse aprendizado, pois já vemos os animes com legendas.
Eu sonhei em ser poliglota, por ser poliglota, porque dizer que tinha esse desejo para realizar diversas coisas não seria verdade.
Se comparar com antes, sei alguma coisa hoje. Meses atrás não sabia nada. Agora já conheço os alfabetos e sei fazer as lições do curso online que faço. A matéria que passei a fazer na faculdade complicou um pouco minha condição de aprendiz porque eu estava estudando por conta em curso pela internet e o ritmo era o meu.
Na faculdade é tudo programado e tem que ser cumprido. Neste momento em que estamos fechando o semestre, já não estou acompanhando bem o conteúdo. O fato de o curso ser à distância (EAD) não é desculpa nenhuma. Agora eu sei o que sofrem as pessoas que não sabem matemática ou outra matéria e sofrem porque falta a elas o básico que perderam em algum momento para trás.
Enfim, nas dificuldades a gente acaba parando para refletir um pouco sobre os porquês das coisas. Estou meio perdido, mas isso é normal em seres humanos que não são autômatos. Se temos dúvidas, talvez seja porque ainda pensamos. Que bom!
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Post Scriptum (28/7/20):
Quando falo que comparado com a etapa anterior eu já estou melhor, é porque já identifico sentenças com as estruturas da língua japonesa como as sentenças abaixo, com kanji, hiragana e katakana, com partículas que atuam na sintaxe e influenciam na semântica das expressões; mas ainda me falta autonomia para conseguir me comunicar e expressar pensamentos inteiros. Mas é melhor estar onde estou neste momento do que estar no ponto onde iniciei a jornada, quando não sabia nada.
図書館で漢字の辞書を借りる。
Pego emprestado um dicionário de kanjis na biblioteca.
この [ 新しい 家 ] は広い。
(kono atarashii ie wa hiroi)
Esta [casa nova] é espaçosa.
先生と生徒が学校で会う。
Esta [casa nova] é espaçosa.
先生と生徒が学校で会う。
(Sensei to seito ga gakkō de au.)
Professor e aluno se encontram na escola.
家の前に大きな木があった。
Professor e aluno se encontram na escola.
家の前に大きな木があった。
(Ie no mae ni ōkina ki ga atta.)
Havia uma grande árvore em frente à casa.
十一日
Ideograma que significa "dia 11 do mês ou 11º dia" じゅういちにち (a leitura)
自動車 = automóvel (gênero)
/Jidōsha/ じどうしゃ (a leitura em romaji e em hiragana)
新聞 = ideograma que significa jornal
Havia uma grande árvore em frente à casa.
十一日
Ideograma que significa "dia 11 do mês ou 11º dia" じゅういちにち (a leitura)
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しんぶん (a leitura em hiragana)
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William Mendes
sexta-feira, 24 de julho de 2020
Elevadores em tempos de pandemia de Covid-19
Refeição Cultural
(atualizado às 21h47)
Os dois elevadores do prédio têm cartazes avisando que as pessoas devem evitar compartilhar aquele pequeno espaço com outras pessoas, a não ser que sejam membros da mesma família... francamente, parece que a mensagem é feita para cidadãos que moram em qualquer país do mundo, menos no país jabuticaba do bolsonarismo. Falo isso porque o barbarismo venceu! Não existe educação, solidariedade, consciência, respeito e preocupação com o próximo nesta terra.
Abro a porta de casa e encontro no hall um vizinho. Ele havia chamado um dos elevadores. Já de cara chamo o outro e digo uma daquelas frases de puxa-conversa, dizendo que desceria no outro para seguirmos as orientações em tempos de pandemia do novo coronavírus. Como moramos no 17º andar, o tempo de espera exige que os dois mascarados troquem mais algumas frases de puxa-conversa. Chegam os elevadores quase juntos. O vizinho entra em um e eu no outro.
O elevador nem bem começou a descer e já parou. Alguém em outro andar aguardava e nem pestanejou ao entrar no elevador em que eu estava. Eu já disse até para minha esposa que eu não tenho as manhas de pedir para alguém esperar o próximo. A pessoa deveria ter essa consciência. Enfim, a pessoa entrou. Cada um no seu canto no elevador.
O elevador nem embalou e já parou de novo. Uma terceira pessoa não pensou duas vezes e já foi entrando. Agora já estávamos meio que num transporte público. Que dizer? Pra completar, ao chegar lá no térreo, fui passar um álcool em gel nas mãos e imaginem se tinham reposto o produto na parede entre os dois elevadores? Essa cena foi ontem.
Hoje foi diferente. Foi mais incomum que a cena acima, mas a sensação de ser idiota foi a mesma ou pior, porque as pessoas não se importam com regra alguma e as que seguem... pelo menos não são responsáveis pela tragédia que vivemos, afinal de contas, Bolsonaro é presidente! Sem essa de cidadania, educação, respeito pelo outro. Leis e regras gerais para todos é coisa de esquerdista, de socialista, comunista, petista. Regras e ética são para os mortais. Para os apoiadores do mito a regra é a não regra, é a carteirada, é o clientelismo, é o nepotismo. É o "- Sabe com quem tá falando?"
Chamo o elevador de serviço. Estou com sacolas de lixo. Eu não concordo com a classificação imposta a todos ao estabelecer que um prédio tenha um elevador social e outro de serviço. Até pode ser para o caso de mudanças, mas para outras coisas, acho um exagero. Mas quando não tem nenhum elevador parado, porque às vezes só tem um funcionando, tento seguir as regras. O mostrador indicava que ele estava no térreo. Estava demorando... chamei o outro. Nada. Depois de um tempinho, o de serviço começou a subir. Ufa!
Quando me preparava para entrar no elevador, ele passa pelo meu andar e vai para o 18º. Lá vem... ao parar no meu andar, já tinha gente dentro. Era um dos trabalhadores que está fazendo manutenção na pintura do prédio. Acionei minha tecla de paciência e disse que aguardaria a próxima subida do elevador. O outro continuava sem subir, também estava no térreo.
Passados vários minutos depois de sair do apartamento, e ainda no hall, finalmente o elevador de serviços subia para encerrarmos aquele momento de espera. Será? Gente, o elevador não parou no 17º... juro! Foi para o 18º. Ao parar no meu andar, estava nele uma família que mora no andar de cima! Acionei em mim a tecla de mute, fiz um gesto à família, indicando que esperaria para descer depois e deixei a porta fechar de novo. Tchau elevador!
O outro continuava parado no térreo... No instante em que fiquei só de novo olhando para as portas dos elevadores, dei alguns resmungos, tipo - "merda!", "cacete!"... - abri a porta da escada de emergência e desci os 17 andares com as quatro sacolas de lixo. Fala sério!
Chegando lá no térreo, vi que o elevador social estava parado no 17º andar. Percebi, por ver os baldes e panos ainda no hall, que o pessoal estava fazendo a limpeza do elevador social naquele momento em que eu o esperava lá em cima.
Cenas cotidianas em tempos de pandemia. O pior é saber que talvez mais da metade das pessoas desta terra bárbara em que vivemos não está nem aí para a pandemia, o vírus, as 85 mil mortes que já ocorreram até hoje, máscara, isolamento social, higienização, nada disso. Essa tal de Covid-19 não passa de uma "gripezinha".
A gente é meio que idiota, imbecil, meio trouxa misturado com politicamente correto. Sei lá! Acho que tinha que descrever essa cena cotidiana!
Seguimos, pois a vida segue e queremos que as coisas mudem. Essa tortura que sofremos com o país capturado não vai durar para sempre. Não vai. Os comuns estão agindo assim por causa da má referência que nos capturou. O resto da cena foi azar ou coincidência. Normal.
Esses sujeitos que estão cometendo crimes contra o país, destruindo a natureza, matando os índios, roubando o patrimônio público, ferrando o povo e causando mortes e mais mortes serão julgados e condenados em tribunais políticos e penais. Falo dos golpistas e maus políticos. Eles serão julgados. Se não aqui, nos tribunais internacionais.
Estamos firmes! Quero ver essa gente do mal, que capturou o país, julgada e condenada!
William
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quinta-feira, 23 de julho de 2020
Eles serão julgados e condenados por seus crimes
Reflexão
Se uma pessoa atenta contra a vida de outras pessoas de forma consciente e deliberada, essa pessoa é passível de julgamento e condenação. Se pessoas ou grupos de pessoas praticam atos ou deixam de fazer o que deveriam fazer pelas funções que desempenham e pessoas morrem por isso, essas pessoas e grupos também são passíveis de julgamento e condenação.
Se uma pessoa está com uma doença transmissível através de secreções do corpo como, por exemplo, a Aids, cujo vírus pode ser transmitido através de relações sexuais ou através do sangue, e essa pessoa sabe disso, e mesmo assim ela decide sair numa balada e manter relações com uma ou mais pessoas e não usa preservativos, nem alerta as pessoas de sua condição de saúde, essa pessoa pode ser julgada e condenada por atentar contra a vida dos outros.
O Brasil tem neste momento de sua trágica história um sujeito que chegou ao principal cargo público do país através de um processo eleitoral eivado de fraudes e vícios de origem, processo que é de conhecimento de todo o mundo civilizado. O sujeito está no poder há 19 meses e as notícias nos meios de comunicação descrevem atos e fatos cometidos por esse senhor que poderiam ser apreciados, com todo o direito à defesa, por quaisquer fóruns penais do país e do mundo. Fóruns políticos e fóruns da justiça.
Não gasto neurônio algum para citar atos e fatos já praticados pelo sujeito ao longo dos 19 meses no posto de maior importância do país. Todos sabem. Ele ainda não enfrentou nenhum processo porque aqueles que o colocaram lá ainda estão auferindo lucros com isso e seguem com seus projetos pessoais e corporativos que nada interessam ao povo e ao país. Mas quem conhece um pouco de história sabe: nada como um dia após o outro na história humana e das sociedades.
Hoje, dia 23 de julho do ano de 2020, o sujeito, que está contaminado pelo vírus que acometeu o mundo com a maior pandemia das últimas décadas, o novo coronavírus (Covid-19), doença que matou até agora no mundo 631.926 pessoas, sendo 84.082 dessas vítimas cidadãs e cidadãos brasileiros; vírus que já contaminou no mundo 15,4 milhões de vítimas... enfim, o sujeito testado positivo para Covid-19, saiu para andar de moto na Capital Federal do país e foi fotografado conversando sem máscara com trabalhadores da limpeza. Detalhe: ele já fez isso outras vezes e o fato é de conhecimento público.
A história nos mostra o que aconteceu com grande parte das pessoas que estiveram no poder em determinadas épocas e sob determinadas circunstâncias e que praticaram livremente qualquer tipo de ação, até aquelas que são e foram consideradas passíveis de julgamento e condenação (crimes). Muitos foram condenados após seus instantes de glória e poder. Alguns foram até justiçados pelo povo (o líder fascista Benito Mussolini é um exemplo). A história é implacável e o mundo que vivemos é um só.
Esse sujeito e seus comparsas não vão se livrar da história. Eles serão julgados e condenados por seus crimes. Acredito que muitos de nós vamos ver isso ainda. Não vai demorar o tempo de nossas vidas. Nossa geração e a vindoura vão presenciar isso. Uma das vantagens do novo século e do novo milênio é que as coisas são bem mais rápidas que no século passado, o século XX, que por sua vez foi mais rápido que os anteriores.
Repito: eles serão julgados e condenados por seus crimes. Nós assistiremos a isso e se fará justiça à destruição do Brasil e às mortes de cidadãos brasileiros!
William Mendes
Fonte de informações sobre os números da pandemia de Covid-19: site da Johns Hopkins University, em 23/7/20.
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William Mendes
terça-feira, 21 de julho de 2020
Em defesa do associativismo e da solidariedade
Os bancos públicos mais antigos do país são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Ambos, mais que centenários, aparecem nos textos políticos, econômicos e literários de grandes autores e personalidades brasileiras desde o século XIX.
O espírito de pertencimento entre os trabalhadores dessas empresas públicas seculares permitiu que ao longo de suas histórias fossem criadas associações com objetivos sempre coletivos e solidários de manutenção da vida, da saúde, dos direitos sociais e da cidadania de forma geral.
Foi assim que os bancários brasileiros, como outras grandes categorias profissionais, criaram no início do século XX associações de organização das lutas reivindicatórias que se transformariam nos sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. Nessas histórias estavam lá os colegas do Banco do Brasil.
Meus colegas do BB criaram em 1904, no dia 16 de abril, a Caixa Montepio dos Funccionarios do Banco da Republica do Brazil, o nosso fundo de pensão Previ, hoje com 116 anos de idade. É belíssima e exemplar a história de unidade, solidariedade e companheirismo dessa comunidade a qual pertencemos, a comunidade de bancários do Banco do Brasil da ativa e aposentados e seus familiares.
Neste momento, estamos em processo eleitoral na Previ para a escolha de parte dos gestores de nossa Caixa de Previdência. O patrocinador, o banco, já indica a metade dos gestores. A outra metade é eleita pelos quase 200 mil associados. Imaginem quanta responsabilidade temos cada um de nós com direito a voto!
São duas chapas concorrentes. Todos os participantes das chapas têm competências técnicas exigidas pela legislação e pelo Estatuto de nossa entidade. O momento econômico, político e social do país é um dos mais complexos na história de nossas vidas, inclusive como membros da comunidade BB, já que os governantes ameaçam nossa existência com a privatização do banco.
Peço a cada colega dessa comunidade que participe do processo democrático conquistado com muita luta. Existem diversas ameaças aos nossos direitos, inclusive ao nosso direito de votar e sermos votados como associados e donos da Previ.
Votei e peço voto na Chapa 1 - Previ para o associado. A Chapa 1 representa essa história de associativismo e solidariedade que descrevemos aqui.
A nossa caixa de previdência tem como missão "Garantir o pagamento de benefícios a todos nós, associados, de forma eficiente, segura e sustentável".
A Chapa 1 conta com o apoio das entidades de classe dos bancários do BB. Ou seja, além das competências técnicas e legais exigidas, ela congrega perspectivas reais de organização de luta na defesa de direitos. Ela é nossa melhor alternativa.
Compartilhem. As eleições são fundamentais para garantirem os nossos direitos de nos expressarmos e decidirmos nossas vidas e de nossos entes queridos.
Abraços fraternos!
William Mendes
Referências:
As informações sobre a Previ foram obtidas no site da Previ.
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sábado, 18 de julho de 2020
Vamos vencer o mal
Algumas cenas marcaram meu sábado e ainda agora no fim da noite me deixam pensativo, taciturno, sem capacidade de concentração para estudos; no entanto, a obrigação de um guerreiro é ter gana de criar, de lutar, de guerrear, de botar pra fora o mal que infestou nosso mundo, mal criado para interromper os processos políticos que estavam melhorando a vida do povo miserável brasileiro.
Uma entrevista com a filósofa Marcia Tiburi no portal Brasil 247 me deixou pensando profundamente em tudo o que estamos enfrentando. Ela mexeu comigo, com meu pensamento. Acho que esse é o papel da filosofia. Pegou na veia a abordagem dela sobre o Brasil e o mundo, sobre Bolsonaro e o bolsonarismo, sobre a questão do "ridículo político" em que nos colocaram, sobre Hannah Arendt e a questão da banalização do mal. Sobre os comuns como Eichmann.
O filme Central do Brasil com Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra e direção de Walter Salles. O filme foi lançado em 1998. Assistimos ao filme meio que por acaso, ao zapear canais na TV. O filme mexeu muito comigo. Ele mostra um Brasil miserável, de gente miserável, um mundo de mentiras, um Brasil dos tucanos, dos partidos que participaram do novo golpe de Estado que interrompeu a melhoria de vida daquele povo miserável retratado no filme; povo sem educação, sem emprego, sem direitos, sem casa, sem cultura, sem esperança.
Entre a posse de Lula e a derrubada de Dilma, a vida daquele povo melhorou como nunca antes na história desgraçada dessa colônia de exploração. E o Brasil também passou a ser referência no mundo. Virou protagonista. O povo nunca havia sido tão feliz. Felicidade gratuita. Nossa autoestima brotava no sorriso dos pretos e dos pardos. As cores se misturavam ao branco dos espaços da casa grande. Hoje, o país voltou a ser aquele de séculos antes dos governos do PT. E somos piores que antes, com raiva, ódio, medo. Bichos feras. Miseráveis ao quadrado.
Encontrei na internet, as cenas gravadas ao vivo do julgamento de Adolf Eichmann, em 1961. Cenas em preto e branco. Burburinho no cenário, a cabine de vidro onde ficou aquele homem que viria a influenciar Hannah Arendt a aperfeiçoar suas ideias filosóficas e legar ao mundo a questão da banalidade do mal. Um homem comum, capaz de participar de um sistema burocrático que praticou as maiores atrocidades que a humanidade conheceu: a eliminação em escala industrial de seres humanos. O holocausto.
Estou com essas cenas na cabeça. Marcia Tiburi apresentando ideias concatenadas sobre o momento que o Brasil atravessa. O Brasil miserável de antes dos governos do PT e do que viramos após a destruição da soberania do país através da Lava Jato e do golpe de Estado, que contou com setores da casa grande lesa-pátria e que odeiam o Brasil e os brasileiros. E a figura daquele homem comum da Alemanha nazista: Adolf Eichmann. Ele poderia tranquilamente ser nos tempos atuais um ministro brasileiro de educação, de direitos humanos, de saúde, de meio ambiente, de economia, de cultura... um presidente de empresa pública...
Não é papel de alguém como eu, que ocupou posições de liderança nos movimentos de lutas da classe trabalhadora, transmitir desânimo, desilusão, ou desesperança aos meus amigos, aos meus pares, ao meu lado da classe, a classe trabalhadora. O que digo ao meu filho, sobrinhos, familiares, amigos, colegas da comunidade Banco do Brasil, conhecidos e leitores que às vezes nos leem?
Nós vamos vencer o mal. O nazismo foi derrotado. Aquele Brasil que maltratava o povo começava a mudar com as eleições de governantes que se importavam com o povo, com a soberania nacional e com a solidariedade de classe. Eu vi e vivi na miséria dos anos 70, 80 e 90. Vimos juntos o Brasil dar oportunidades ao povo e dezenas de milhões de pessoas melhorarem de vida e elas foram mais felizes. Faz poucos anos (leio isso em meus registros de blog) que nossa pauta era aumento real de salários, mais direitos, mais educação, mais saúde, menos horas de trabalho, mais oportunidades.
Ânimo! Vamos vencer o mal! Vamos ver esses canalhas que representam o mal e destroem nosso país em tribunais penais sendo julgados por seus crimes contra o Brasil, crimes contra os brasileiros, crimes contra a natureza, crimes contra os povos indígenas, crimes contra os pobres, crimes contra o patrimônio nacional. Serão julgados por seus crimes contra a vida. Vamos ver esses canalhas nos bancos dos réus ainda.
William Mendes
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William Mendes
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Nunca é tarde para aprender e criar coisas novas
Neste instante em que escrevo, uma manhã fria de quinta-feira, me questiono sobre as coisas que faço. Por que levantei cedo, se poderia ficar no quentinho da cama? Não me faltam os recursos básicos para me deixar levar por tal prazer, o prazer da preguiça, o prazer do instante imediato que insiste em predominar sobre o desejo do novo, do incerto, do criar; o prazer imediato é o senhor supremo de nossas rotinas humanas e só será freado e vencido se nos insurgirmos contra ele. Buscar o novo, aprender algo a mais do que já sabemos, do que achamos que sabemos, é um desafio existencial diário.
Ouço uma jovem que nos ensina como aprender novas línguas. Ela nos dá dicas de como aprender a aprender. Me lembro que décadas atrás já me interessava por técnicas de como aprender melhor as coisas. Na época o interesse eram provas de concursos públicos. Mas aprender a aprender é algo para a vida toda. Se aprendemos técnicas de memorização, de como derrotar a preguiça interna e confortável de nossa mente e de nossos corpos, só teremos a ganhar como seres humanos, seres que são dotados de mais capacidades físicas que outras espécies, principalmente por causa de nossos cérebros.
Os acontecimentos no mundo nos levaram a uma condição quase insustentável de sobrevivência neste instante e no próximo período. Milhões de pessoas estão neste instante com fome, com sede, com frio, com medo, com dor, com dores diversas... e isso não pode ser aceito por um ser humano decente. Costumo dizer a mim mesmo que o imponderável pode mudar tudo de uma hora para outra, penso isso como estratégia mental de enfrentamento ao desânimo que nos dominou. Mas uma coisa é fato: nenhuma mudança em favor de nossa classe social vem sem luta. Nenhuma!
Se um meteoro cair no local onde se reuniam 500 desgraçados que nos dominavam e nos exploravam e faziam nossas vidas um martírio, e se todos eles deixarem de existir naquele instante da catástrofe natural, e se nós não estivermos organizados para mudar a situação que estava colocada antes, outros desgraçados próximos daqueles que nos dominavam farão com que tudo volte ao "normal". Entenderam? Qual "normal" nós queremos após a pandemia de Covid-19, por exemplo? Aquele normal em que 1% acaba com o planeta e nos faz lixo?
Permitimos que o mal avançasse sobre nossa vida cotidiana de forma intolerável, por preguiça, por prazer imediato, pela rotina, por falta de vontade de aprender e criar, permitimos que se tornasse normal mil pessoas morrerem por dia por uma doença que pode ser enfrentada; permitimos que uma pessoa detenha os recursos que seriam suficientes para manter com direitos básicos milhões de outros seres humanos. Permitimos ser normal a mentira dominar a pauta de nossas vidas e não fazemos nada a respeito.
Por que ter interesse em aprender a aprender neste momento do mundo? Porque é o melhor a se fazer. Temos que aprender a usar nossa inteligência para podermos ser criativos e acharmos soluções para essa tragédia social em que nos encontramos. A educação pública está morrendo. A saúde pública está morrendo. Os direitos de cidadania estão morrendo. Vamos morrer sem os direitos básicos de cidadania. Não podemos aceitar como rotina morrermos sem direitos básicos de cidadania. Então temos que superar a preguiça de pensar, de aprender, de criar. Estudar e aprender algo novo é um ato de resistência e de mudança. Mudando a gente, a gente muda o mundo que está nos matando.
Estudem. Façam algo por vocês mesmos. Aprendam alguma coisa nova hoje.
William
sábado, 11 de julho de 2020
Leitura: Decamerão (1353) - Giovanni Boccaccio
Refeição Cultural
"Despedida
(...) Como sabem, amanhã estarão completados quinze dias que nós, para achar alguma forma de entretenimento, e ainda para defender nossa saúde e nossa vida, deixamos Florença; agindo deste modo, fizemos cessar, para nós, a melancolia, a dor e a angústia que perpassavam sem cessar pela nossa cidade, desde que teve início essa época de pestilência..." (p. 761)
Como sabem os leitores que nos acompanham, ontem completaram-se cem dias do início da leitura do Decamerão, ato empreendido como forma de encontrar alguma rotina de prazer e entretenimento, e ainda defender nossa saúde mental, durante a pandemia do vírus Covid-19. Durante a quarentena, não deixamos Osasco, mas lidamos com a melancolia, a dor e a angústia que ainda perpassam pelas nossas cidades, desde o início desta época de pestes e pandemias, a do vírus e a do bolsonarismo, principalmente.
Quando começamos a leitura diária de novelas do Decamerão, no dia 2 de abril (ler postagem aqui), a pandemia do novo coronavírus já havia infectado mais de um milhão de pessoas no mundo. O epicentro da doença era justamente a terra natal de Boccaccio, a Itália, que sensibilizava o mundo diariamente com a imensa quantidade de mortos pela Covid-19. Naquele momento, o mundo contabilizava mais de 60 mil mortos e a doença chegava às Américas. Trump e Bolsonaro faziam pouco caso da doença e diziam que era uma "gripezinha" super avaliada pela imprensa e pelos adversários políticos.
E então cheguei ao final do livro, lidas as cem novelas em dez jornadas e a conclusão do autor, que é muito interessante em termos literários, a pensar que a obra foi escrita em meio à pandemia da Peste Negra, que matou milhões de pessoas em diversos países da Europa no século XIV.
E como estamos neste momento, cem dias após a leitura do Decamerão? Primeiro, estamos vivos aqui em casa, e pudemos atravessar os cem dias com a permissão da Fortuna, que tudo define, como a obra nos mostrou ao longo desse período.
A pandemia do novo coronavírus efetivamente não é uma "gripezinha". Não por acaso, os dois países com o maior número de vítimas, tanto de pessoas infectadas como de pessoas mortas, são justamente os países nos quais suas populações decidiram colocar na presidência homens maus, bárbaros, seres sociopatas, sem empatia com a vida de seres humanos.
O mundo registra neste momento mais de 12 milhões de pessoas infectadas pelo vírus e EUA e Brasil, sozinhos, têm 5 milhões delas. Já morreram mais de 500 mil pessoas, sendo que mais de 200 mil são cidadãos norte-americanos e brasileiros. A terra de Boccaccio começa a retomar a vida. Já o Brasil tem uma das curvas de contágio mais ascendentes do mundo. As coisas ainda vão longe por aqui...
Apesar da curva ascendente de contágio e mortes, nesta terra diferente de tudo, coisa única do mundo, um país jabuticaba, quase não há quarentena, nem distanciamento social, porque os governos estimulam o contrário! Evitar aglomeração e contatos são medidas necessárias para enfrentar a pandemia do Covid-19 porque não há remédio nem vacina para ele.
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Mas aqui... preto vota em racista, mulher vota em machista, funcionário público vota em privatista, crente vota em quem prega ódio, tortura e morte... um moralista vota em bolsonaros... um país jabuticaba.
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O sujeito e seus apoiadores empresários da casa grande venceram o debate e os pobres e pretos são as maiorias absolutas das vítimas da doença. Quanto mais rico e branco, menor a estatística da morte. Quanto mais pobre e preto, maior mortandade.
É isso! Mais um clássico da literatura mundial lido. Espero que a Sorte me permita empreender outras aventuras literárias como essa.
Espero que um dia, uma hora qualquer, algum evento, alguma tomada de consciência, ou algo imponderável, altere a realidade; algo faça com que as pessoas retirem do poder esses bárbaros que tomaram as instituições do nosso país. O ideal é que esses bandidos tenham direito a julgamento justo.
Mas vai saber... do jeito que estimularam o ódio em nosso meio, vai que as massas vitimadas e miseráveis, cansadas dos abusos, façam com os bárbaros daqui o que fizeram com o líder fascista da terra de Boccaccio...
William
Um leitor
Bibliografia:
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Imortais da Literatura Universal, Nova Cultural, São Paulo, 1996.
Informações sobre a pandemia do Covid-19 do site da Johns Hopkins University.
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William Mendes
domingo, 5 de julho de 2020
Café com leitura: Decamerão, lidas 95 novelas
Estou chegando ao fim da leitura das 100 narrativas do Decamerão, de Giovanni Boccaccio. Após 95 dias de leitura, cheguei à 95ª novela, que pertence à 10ª e última jornada das histórias contadas pelas 7 moças e pelos 3 rapazes durante a pandemia da Peste Negra, doença que assolou a Europa no século XIV, matando milhões de pessoas. Boccaccio é um sobrevivente daquela tragédia e o Decamerão tem como pano de fundo a pandemia.
quarta-feira, 1 de julho de 2020
90 contos do Decamerão em tempos de pandemia
Decamerão (1353), de Boccaccio. |
Refeição Cultural
Estamos vivendo sob o advento de uma pandemia mundial que alterou drasticamente a sociedade humana neste ano de 2020. A vida em sociedade já não estava boa antes do aparecimento do novo coronavírus (Covid-19) no início do ano. A crise econômica mundial já era uma realidade por causa do predomínio do necrocapitalismo e neoliberalismo, crise que acentuou como nunca a desigualdade no mundo.
A pandemia surgiu faz seis meses e ainda não temos nem vacina nem remédio contra o vírus. Ao olharmos para trás nesses meses de pandemia e avaliarmos o momento, vemos o quanto estamos longe de um provável recomeço de uma vida minimamente estável para o povo do mundo, aqui falo principalmente no sentido da classe trabalhadora e das classes populares do mundo.
Dos poucos dados que temos, sabemos que o vírus mata mais certos segmentos de seres humanos. Idosos, pessoas com doenças pré-existentes (mas também quem não tinha doenças) e pobres, pobres pretos e pobres que se situam nas camadas populares sem direitos cidadãos e discriminadas pelas elites dos países atingidos pelo vírus.
Foi nesse cenário de pandemia que peguei o livro de Giovanni Boccaccio 90 dias atrás para ler uma novela por dia e desafiar o vírus e a pandemia assim como os personagens do Decamerão buscaram no isolamento e nas narrativas uma fonte de prazer e reflexão. Terminei ontem a 9ª jornada e agora vou para a 10ª e para as 10 narrativas finais. Isso, é claro, se a Sorte me permitir.
Confesso a vocês que a maioria das 90 novelas ou contos ou narrativas não me agradou, não me trouxe prazer ou reflexão. Algumas foram bem divertidas, algumas até excitam o leitor porque são de sexo explícito; mas algumas são tão violentas contra as mulheres e contra pessoas simples que nos causam repulsa.
Eu sei que os críticos de literatura saem em defesa de Boccaccio ou da obra em si, contextualizando o livro e a técnica narrativa como, por exemplo, o uso da ironia. A ironia é de difícil compreensão, ontem e hoje. Aliás, estou influenciado pelos tempos que vivemos, e a forma como as mulheres são tratadas na obra é espelho da regressão atual nos direitos das mulheres. Eu sei que é ficção, mas as novelas com sentenças como essa abaixo me desagradaram bastante.
"A tal respeito, agrada-me narrar-lhes um conselho que Salomão deu, conselho este que é excelente para curar, daquele mal, todas as mulheres que agem assim. A mulher que não se acha merecedora desse castigo nem precisada desse remédio não deve tomar aquele conselho como dirigido a ela mesma. Contudo, deve observar que os homens usam um provérbio que afirma que tanto o cavalo bom como o mau cavalo exigem o uso de espora no tacão, e que tanto a boa mulher como a mulher má necessitam de surra de bastão" (p. 657)
Se eu pegar a novela 89, do exemplo acima, na qual o "conselho" que Salomão deu aos sujeitos protagonistas foi de espancar a mulher como alguns bárbaros espancavam burros e cavalos para amansá-los, imagino que não há técnica narrativa que faça leitores da idade média ou da nova idade média no Brasil do bolsonarismo compreenderem que aquilo é no sentido figurado, é ironia e não deveria ser levado ao pé da letra.
Enfim, tenho comigo que é melhor ler os clássicos do que não ler os clássicos, como nos ensinam os mestres e educadores. Nós não precisamos gostar ou concordar com o que lemos. Muito menos censurar textos literários. A leitura disciplinada e persistente é um ato transformador e deve ser realizado por todos nós.
Como registrei ao longo da jornada do Decamerão o avanço da nova Peste, a do Covid-19, registro que neste momento já morreram 512.114 pessoas no mundo, estando contaminadas 10,5 milhões (dados da Johns Hopkins University). Os dois países com maiores números de contaminados e mortos são os dois nos quais seus governantes, dois seres bárbaros e desprezíveis, trataram o novo coronavírus como uma "gripezinha".
Falo dos Estados Unidos e do Brasil, este com 10% dos mortos no mundo, tendo menos que 3% da população mundial. Já morreram 59.594 brasileir@s e não há política nacional de isolamento social e apoio à quarentena. A pandemia cresce e o bolsonarismo venceu! A ampla maioria da população está nas ruas, está tudo aberto.
Aqui venceu a morte, principalmente a morte dos pobres e pretos e grupos discriminados e miseráveis há séculos, segmentos humanos que já morriam assassinados desde sempre.
Vamos para as 10 novelas finais nos próximos 10 dias. Se a Fortuna me permitir. Para ler outras postagens sobre minha leitura de Boccaccio, em ordem cronológica inversa, clique aqui.
William
Um leitor
Bibliografia:
BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. Imortais da Literatura Universal, Nova Cultural, São Paulo, 1996.
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