Almoço no acampamento Marisa Letícia, em solidariedade ao presidente Lula, preso político do estado de exceção pós golpe. |
Refeição Cultural
O mês de abril está terminando. Os tempos para mim são de mudanças.
Ao mesmo tempo em que estou sem nenhuma vontade de falar ou escrever, sinto uma obrigação de falar e de escrever. Dar testemunho, deixar registros dessa época, desse momento de nossa vida, que é pessoal e coletiva. Por isso escrevo neste blog há mais de uma década.
Estou muito decepcionado com o nosso mundo, com o locus onde vivemos como cidadão. Estou trabalhando meu eu interior para uma mudança radical de vida em poucas semanas. Vou me reinventar após quase duas décadas de envolvimento com o movimento sindical e social.
Mas diferente de décadas atrás, minha decepção com o mundo é diferente. Não é totalizadora, não me leva à depressão. Não me leva à desistência de nada. Hoje tenho uma estrutura psicológica mais preparada que no passado. Prezo por mim, sei meu valor e sei de minhas responsabilidades sociais. Por isso vou me reinventar, porque é preciso.
A vida simplesmente é e temos que fazer o que precisa ser feito. Isso vale até para nós mesmos e nossas obrigações com a sobrevivência. Tenho sonhos diversos, e energia interior para novos projetos. E sempre estarei fazendo o bem para a sociedade que habito.
Por duas décadas ajudei a construir a maior central sindical do país, a CUT. Contribuí para organizar uma das categorias mais relevantes da classe trabalhadora brasileira, a bancária. Nela, participei de mais de duas décadas de lutas dos bancários do BB, o maior e mais antigo banco público brasileiro.
Ainda lembrando os mais de vinte anos de história de lutas coletivas, também deixei minhas contribuições em uma das correntes políticas do campo sindical cutista que ajudaram a definir os rumos dos direitos dos trabalhadores brasileiros, a Articulação Sindical.
Agora encerro uma participação na história da maior autogestão em saúde do país, a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Foi um dos mandatos mais desafiadores de minha vida de representação. Temos a convicção e a tranquilidade de consciência que construímos a unidade nacional, fortalecemos o modelo assistencial e a participação social. Mantivemos todos os direitos dos associados no período.
Meu querido país Brasil, e eu amo meu país, está sendo desfeito, dizimado pelos golpistas que rasgaram a Constituição Cidadã de 1988, conquista do período posterior à ditadura civil-militar dos anos sessenta a oitenta. Estão desfazendo o patrimônio público. Os direitos históricos do povo. Na construção do golpe, como ferramenta do processo de manipulação de massas, estimularam o ódio, a intolerância e abriram a Caixa de Pandora. Poucos empresários da comunicação mandam no país, nos poderes instituídos.
"República de Curitiba": no fim da rua, o líder brasileiro e mundial Luiz Inácio Lula da Silva está preso sem crime, numa masmorra ao molde dos séculos passados, na volta da idade média no século 21. |
Nesta semana, quando cumpri agenda de trabalho em Curitiba, senti um aperto no coração e precisava visitar o acampamento da resistência, constituído pelo povo brasileiro, para prestar solidariedade a Lula e lutar contra o absurdo da prisão política da maior figura da história recente do Brasil. O que estão fazendo com ele, encarcerado numa masmorra sem direito a visitas, mostra o momento de degeneração política, social e humana em que nos colocaram pós-golpe de 2016.
O Brasil virou uma coisa, uma terra sem lei, um local onde impera o arbítrio dos poucos poderosos e seus lacaios modernos que tomaram os espaços de poder estatal. Virou a terra de uma casta sem moral, sem ética e sem vergonha, que barbariza contra o povo, contra as massas, contra os trabalhadores e seus líderes e organizações.
Cada um de nós, duzentos milhões de joões, está à mercê do arbítrio do poder e de processos injustos, estranhos, que não ocorreriam num Estado Democrático de Direito. Eu mesmo estou sendo vítima de processo político por ter dado o melhor de mim na defesa da entidade de saúde que geri. E nossa contribuição foi importante para a entidade no período mais difícil de sua história.
É isso. Apesar de muita coisa a dizer sobre vários acontecimentos desse momento bárbaro por que passa nosso país, chega por hoje.
Abraços aos leitores amig@s, e tenham energia e esperança. Não podemos desistir da solidariedade, da justiça, da igualdade, da liberdade, da tolerância entre os povos, da democracia e da política como solução pacífica das controvérsias, da distribuição de rendas e de um mundo mais inclusivo.
Mais uma reflexão: não podemos pactuar com o fascismo, com a violência contra o povo, contra os mais fracos. O estímulo ao fascismo já chegou aos atentados contra nós do campo da esquerda. Estão matando nosso povo. Não é justo nem admissível fatiar um país como o nosso para umas milhares de famílias, uma pequena casta, menos de 1%, e deixar à mercê da miséria total mais de duzentos milhões de brasileiros.
Pensem nisso!
William